London Calling Número 14
London Falling
Recentemente, para variar, eu recebi outra visita. Desta vez foi a do baixista Joni Anglister da banda brasileira Hammer of Gods. O Joni chegou aqui vindo de Nova York, tendo passado também por Los Angeles, onde agendou alguns show para sua banda, que faz um metal melodioso com pitadas de grunge, bem competente. Coisa mais para o público norte americano do que o europeu, devo admitir. Bom, o Joni que é roqueiro veterano, que era o dono da casa noturna Garage em Samoa, além de ter estado envolvido com a produção de palco para os Mamonas Assassinas, até o trágico final da banda. Quando chegou aqui, já no segundo dia, não podia esconder o seu desapontamento, pois encontrou uma cidade sem vida para o rock pesado. Eu bem que o tinha avisado que a coisa aqui estava meio morta mas, sabe como é que é, ele quis ver com os próprios olhos.
Quando os Rolling Stones resolvem não tocar em Londres preferindo Paris; quando festivais tão famosos como o Phoenix Festival e Castle Donington cancelam suas datas de verão; quando uma prestigiosa revista inglesa declara que o rock está morto, é porque a coisa está preta mesmo. E não é só isto, as gravadoras não param de reclamar que estão vendendo menos, que estão perdendo dinheiro enquanto que o chamado BritPop parece ter chegado a um beco sem saída. Os grandes expoentes tais como Oasis, The Verve, Manic Streat Preachers e Charlatans, parecem estar copiando um ao outro, seguidos de uma legião de pequenas bandas fazendo o mesmo, numa repetição de dar dó. O único nome que realmente acrescenta alguma coisa no momento é o Radiohead.
Muito embora, musicalmente, a fronteira entre Estados Unidos e Inglaterra esteja cada vez mais difícil de ser distinguida, ainda assim bandas como Garbage e Smashing Pumpkins dão de dez em criatividade e inovação.
Moral da história: Você, que tem banda, antes de partir para cá, primeiro não acredite no que as revistas "compradas" dizem e segundo pergunte-se qual foi a banda brasileira, francesa, espanhola, etc.. que conseguiu um contrato com uma gravadora grande na Inglaterra.. (nenhuma). Acredite-me, qualidade não falta na Inglaterra, mas parece que o povo por aqui tem um gosto meio dúbio.
Sepultura em Londres
Até que enfim pudemos ter uma idéia do novo Sepultura pós-Max. O Igor, Andreas e Paulo juntamente com seu novo vocalista Derrick Green estiveram aqui na Virgin Megastore para um prolongada sessão de autógrafos. Pela fila quilométrica, a fama deles pareceu intacta. Coincidindo com a chegada da moçada, a Kerrang! Magazine, na sua revista semanal brindou-nos com mais uma bolachinha prateada cheia de petiscos sonoros, incluindo uma faixa do novo álbum Against intitulada Choke. Confesso que, apesar da inegável competência da banda, esta faixa, assim como o álbum em si, não me impressionou muito, mostrando um thrash demolidor mas tradicional e previsível. Talvez eu estivesse esperando demais. O Igor até andou gravando com os percussionistas japoneses... Desculpem-me mas eu estava interessado em ouvir alguma coisa mais experimental e vanguardista.
O Rat e o Ratos
A banda Ratos de Porão esteve por aqui quebrando tudo. A entrevista completa com João Gordo está na página dedicada à banda (clique aqui). Umas das bandas que abriu o show para o RDP foi o legendário The Varukers, cujo vocalista Rat (rato) participou em duas músicas na gravação do último álbum da banda Dorsal Atlântica. Depois do show, pude levar um papinho com o moicano de cabelos vermelhos.
Barbieri: "-Foi uma boa experiência gravar com o Dorsal?"
Rat: "-Sim, com certeza." Falou num tom meio mau humorado, meio desconfiado tipicamente punk.
Barbieri: "-Você já escutou o álbum deles?"
Rat: "-Sim, não é meu estilo mas soa bem. Eu recebi este telefonema falando de uma banda brasileira que queria gravar comigo. Eu aceitei na hora."
Barbieri: "-E esta tournée, você já conhecia o RDP?"
Rat: "-Só de alguns discos. Eu não conhecia em profundidade. Quem estava mais por dentro era o meu baixista que gosta mais de metal, você me entende?"
Ele referia-se mais ao punk tradicional em comparação com punk fundido com thrash metal.
Rat: "-Aliás, foi ele que acertou esta toro pela Inglaterra com o RDP."
Barbieri: "-O Varukers existe há bastante tempo..."
Rat: Nós começamos em 1979, junto com todo mundo. Lançamos cinco singles, quatro LPs e a inclusão em algumas coletâneas. No momento nós estamos com um novo LP chamado Murder, produzido por nós mesmos.
Barbieri: "-E o Brasil?"
Rat: "-Nós gostaríamos muito de tocar por lá. Uma vez alguém ligou perguntando se a gente queria tocar lá mais, infelizmente nunca ligaram de volta. A gente não tem contatos. Se alguém acertar os shows, nós vamos!"
Barbieri: "-João Gordo do RDP disse que para ele é uma honra estar tocando na mesma tournée com você..."
Rat: "-Eu sinto o mesmo, o respeito é recíproco."
Curtas...
Rob Zombie lançou Hellbilly Deluxe e não deixou um tijolo em pé com 13 faixas de pura insanidade na busca do que ele mesmo define como "funkadelic metal". O álbum traz participações especiais de Tommy Lee e membros do Nine Inch Nails, com produção de Scott "Metallica" Humphrey.
A banda punk Discharge relança o álbum Why, incluindo os seus antigos singles em 12 bonus tracks. Definitivamente trata-se de compra obrigatória para os fãs do gênero.
Que mais? Bom, tem um monte de coisas para contar mas por questões de espaço fica para o próximo número...
See you! Oi! "péra" aí tem mais uma! O Mike da banda Beastie Boys apareceu na Melody Maker com esta teoria impossível:
"-Tem um monte de gente tentando incriminar os aliens que é só para eles terem umas vidas miseráveis". (he he he)
Bom, gostaria de terminar tristemente dedicando esta coluna ao meu amigo, o cantor e guitarrista Juliano Nascimento que, conforme noticiado aqui na edição 32, foi atropelado aqui em Londres. O rapaz conseguiu sair do coma mas, depois de algumas semanas, quando já de volta à sua cidade no interior do estado SP, devido a gravidade do traumatismo craniano não resistiu e faleceu. O meu coração assim como o de todos os seus amigos aqui em Londres compartilha com a família Nascimento esta perda irreparável.
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