Karisma
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A banda Karisma foi a realização dos sonhos roqueiros dos irmãos Helmut e Rudolf Leschonski. Helmut e Rudolf são, por parte de mãe, bisnetos de alemães. O sobrenome Leschonski é polonês mas, os ancestrais do seu avô, já moravam na Alemanha à centenas de anos. Como aconteceu com muitos europeus, seu avô fugindo da guerra estabeleceu-se no Brasil. Já no Brasil ele conheceu sua esposa que também tinha vindo da Alemanha e casaram-se.
PARA OUVIR ESTA GRAVAÇÃO RARA!
O Começo
Podemos dizer que, a história da banda Karisma, a primeira banda Heavy brasileira a lançar um álbum totalmente cantado la língua inglesa, teve suas origens lá pelo ano de 1974 em Santo André (SP), terra natal de Helmut Fritz Leschonski (09/04/1959) e Rudolf Leschonski (28/02/1961).
Helmut | Rudolf |
Naquela época, os dois irmãos mais os amigos Roberto e Edward desejavam formar uma banda bem na linha da banda britânica Pink Floyd.
Helmut: “Foi engraçada a forma como que cada um de nós escolheu tocar seu instrumento. Até então, além de jogar futebol e curtir Pink Floyd, Kiss, B.T.O. Status Quo e outros, nenhum de nós sabia distinguir um contra-baixo de uma guitarra. O Edward já tinha começado estudar piano e, então foi sorteado que Roberto tocaria a guitarra. Eu escolhi o contra-baixo e para o meu irmão sobrou a bateria."
O nome escolhido para a banda foi Arco-íris mas, na verdade o grupo não passava de reuniões de amigos que não possuíam, nem sequer, os instrumentos. O ano de 1974 se foi e nada de novo aconteceu até que Helmut ganhou seu primeiro violão e começou praticar sozinho.
Helmut: “Eu me lembro muito bem que quando eu afinava meu violão, eu afinava todas as cordas na quinta casa do braço. Foi meu avô que um certo dia me alertou que a corda SI era afinada na quarta casa. Depois disso, resolvi que seria melhor pegar umas aulas para aprender pelo menos o básico." (risos)
Enquanto os dois irmãos cada vez mais alimentavam a idéia de algum dia montar uma grande banda de rock, seus amigos Roberto e Edward mudavam de idéia e saiam do grupo.
Helmut: “Era cômico! Eu ligava Meu violão, que possuía um captador, no amplificador da nossa vitrolinha enquanto meu irmão tocava furiosamente em um amontoado de latas de diversos tamanhos, com plásticos esticados e amarrados como se fossem peles”.
Em 1976 os dois irmãos conseguiram uma melhora no equipamento, mudaram o nome da banda para Harpia, começaram compor suas próprias músicas e ensaiá-las nos fins de semana.
Helmut: “Neste ano consegui comprar minha primeira guitarra, uma Snake acústica cor de vinho que me custou caro.”
Apesar de sempre ensaiarem, o Harpia nunca passou de um sonho pois, os dois irmãos nunca conseguiram arrumar um baixista para acompanha-los. Mesmo assim, sem baixista, os ensaios eram sagrados e, enquanto Helmut desenvolvia os solos Rudolf evoluía gradativamente na bateria.
No começo de 1977, Helmut e Rudolf juntaram-se à dois conhecidos do bairro onde moravam e montaram um grupo para participar de um festival de escola. Depois de vários ensaios descobriram que os outros dois estavam apenas tirando proveito do equipamento e, para total decepção dos rapazes, no dia do festival estes “amigos” tocaram com outros dois músicos.
Helmut: “Apesar da decepção, a apresentação deles foi ridícula e consistiu num cover mal feito de uma música da banda The Animals do Eric Burdon com o baterista deles cantando muito mal e o guitarrista chapado, encostado no amplificador morrendo de vergonha.”
Nem tudo estava perdido porque através deste dois traidores, conheceram o vocalista Osíris que era super fã do Robert Plant (Led Zeppelin) e procurava imitá-lo.
Juntamente com Osíris, Helmut e Rudolf mais o baixista João (conseguido através de um anúncio na revista Música), montaram outro grupo. A partir daí, apesar de algumas diferenças de opiniões, o grupo seguiu tocando composições próprias e covers de bandas como Kiss, Uriah Heep, Status Quo, Bad Company, etc. Após vários ensaios, ficou decidido que o nome da banda seria Luz del Fuego. O nome foi sugerido por Osíris que considerava o nome sensual, refletindo a linha do grupo.
Helmut: “O primeiro show foi na festa de casamento da minha prima. A família detestou, não tinham idéia de que tipo de música estávamos tocando. O segundo show foi num churrasco de fim de ano de uma tecelagem onde o povo só queria ouvir samba. Fomos também tocar num festival de igreja onde durante a apresentação de uma banda todo o equipamento queimou e nós não pudemos nem tocar.”.
Depois de várias decepções, o grupo começou desentender-se. A última apresentação com o nome Luz del Fuego aconteceu no Fofinho tocando com a banda Extremos. No Extremos tocava o Gilmar que tinha vindo da banda Mammoth. Num futuro não muito distante, da banda Mammoth sairia o guitarrista Cesar Achon para tocar no Karisma. Neste show ouve um desentendimento com o vocalista Osíris e no dia seguinte a banda Luz del Fuego acabou definitivamente.
Foi só lá pelo fim de 1979 que os irmãos Leschonski começaram uma nova banda. O nome, escolhido de uma grande lista de sugestões, foi Karisma. A banda desta vez era um power trio. Nem tudo estava ainda perfeito e vários baixistas passaram pela banda. Teve o Hamilton que ficou poucos dias, o Gelson que além de baixista tornou-se um grande amigo e acompanhou a banda mesmo depois de ter sido dispensado para a entrada de Reinaldo que era um grande músico e também permaneceu na banda por um bom tempo. Seu irmão Ricardo que era baterista viria juntar-se a banda tempos depois quando da saída do Rudolf.
A Banda continuou trocando de membros com a entrada do vocalista Indio (Ave de Veludo) que foi dispensado porque faltava muito aos ensaios.
Em 1982, entra o baixista Nelson Otho Fountain (14/07/64) e mais um guitarra base chamado Daniel. O Daniel era gente boa mas a banda não adaptou-se com duas guitarras e decidiram ficar como power trio por mais um tempo.
Em 1983, passaram por uma fase rock’n’roll com Daniel de novo na guitarra base e depois, por uma fase meia Rush cantada em português já sem o guitarrista.
Depois deste período de busca e aperfeiçoamento, já com um repertório totalmente novo composto exclusivamente de músicas cantadas em Inglês no estilo Heavy Metal a banda Karisma partiu para o estúdio para as gravações do que mais tarde seria o LP Sweet Revenge.
LP Sweet Revenge - Frente | LP Sweet Revenge - Verso |
Em 1986, Karisma continuava tocando regularmente e já até tinham um demo tape com músicas destinadas ao segundo LP. Foi nesta época que entrou para a banda o guitarrista César Achon (Mammoth e Performances).
Rudolf deixa a banda
Neste período, num show, depois de um desentendimento, Rudolf deixa a banda e é substituído por Ricardo Moreno que por sua vez, meses depois, é substituído por Fábio Fleury. A banda tocou com esta formação até aproximadamente 1990 quando resolveram encerrar suas atividades.
Aqui na nossa rádio online o leitor poderá escutar, na sua íntegra, o álbum Sweet Revenge e também com exclusividade o show dado pela banda no Projeto Metal, Rock & Cia.
Entrevista com Rudolf Leschonski
Barbieri: “Gostaria de saber mais detalhes sobre a gravação do álbum Sweet Revenge.”
Rudolf: “A gravação foi feita no Estúdio São Quixote em Santo André de propriedade de Cláudio Lucci, músico de MPB. Este estúdio, mais tarde mudou de nome para Cameratti. O LP foi gravado praticamente ao vivo e em apenas 12 horas. O Helmut, na gravação, já solava as músicas e depois acrescentou algumas bases. Não houve tempo para consertar nada e, infelizmente pode-se notar alguns erros aqui e ali. Os vocais foram gravados por último e, praticamente numa passada só. Foi muito difícil conseguir um resultado final parecido com o das gravações internacionais. A produção do disco foi inteiramente nossa. Não queríamos nenhum produtor impondo o que deveríamos fazer no estúdio. Nas gravações, não mudamos os arranjos nem o estilo. Aliás, depois do lançamento do Sweet Revenge, até recusamos uma oferta de um produtor que queria que cantássemos em português e usássemos uma bateria eletrônica, é mole?” (risos)
Barbieri: “Quem criou o logo da banda, quem fez a arte da capa do álbum Sweet Revenge e qual a participação da Gravadora Baratos afins no lançamento deste LP?”
Rudolf: “O logo foi criado pelo nosso amigo de infância e colaborador Sérgio Faccio. Foi o Sérgio quem fez a arte da capa, menos a parte escrita na contra-capa que foi feita pelo Helmut. Quanto à Baratos Afins, o nosso dinheiro tinha acabado e, uma vez que a arte da capa estava pronta, a única coisa que o Luís Calanca, dono da gravadora fez, foi pagar pela impressão da capa. (Nós pagamos o serviço com parte da prensagem. O Luis ficou com 200 cópias e nós com 800. Quero deixar claro que, apesar da capa do álbum Sweet Revenge conter o logo da Gravadora Baratos Afins no mesmo, os direitos de produção deste álbum pertencem à banda.”
Barbieri: "Falando de design, que você achou do novo logo (no topo da página) que fiz para a banda?"a
Rudolf: "Muito legal, bem Metal."
Barbieri: "Quando produzi no clube Radar Tan Tan o Projeto Cometa Rock Festival juntamente com Oswaldo Vechione da banda Made in Brazil, antes do show, notei que vocês estavam muito nervosos e fiquei com medo de ser agredido no camarim. Este festival que contava com os shows das bandas Platina, Alta Tensão (de Minas Gerais) e Made in Brazil tinha como objetivo fazer o lançamento dos seus álbuns. 3 bandas independentes lançando álbuns ao mesmo tempo era um fato tão raro com a passagem do Cometa Halley naquele ano. Daí o nome Cometa Rock Festival. Convidar a banda Karisma para abrir o show foi uma idéia do Oswaldo que tinha visto a banda em outro projeto meu chamado Metal, Rock & Cia. No Radar Tan Tan, eu organizei no clube um coquetel para a imprensa 1 hora antes de abrir as portas para o público. Como Karisma não estava lançando nenhum álbum ficou de fora. Foi este o motivo do seu nervosismo? Bom, nunca é tarde para pedir desculpas pelo mal entendido... Quando a gente está no meio do barco, envolvido e preocupado com um monte de coisas (naquele dia, dei uma entrevista para a TV Manchete e falei com um monte de gente da imprensa pelo telefone), acaba esquecendo de preocupar-se com a sensibilidade das pessoas que estão por perto. Bom, eu também era jovem e também estava aprendendo. Se fosse hoje juro que faria tudo diferente."
Rudolf: (risos) “Você não tem que pedir desculpas não, talvez nós que teríamos que nos desculpar pelo que fizemos, o motivo da nossa raiva, na época, foi porque o combinado com o Osvaldo Vechione era que ganharíamos 5% do lucro do show e ele disse que o show deu prejuízo. Bom, deu no que deu… Na época éramos muito imaturos, eu acho que o Cézar Achon até já deve ter conversado com o Osvaldo sobre isso, pois depois ele chegou a tocar no Made. Lembrando agora da história acho até engraçado, podia até ter dado a maior briga, porrada mesmo, hahaha...Qualquer coisa desculpa aí, falou?”
Quando comentei com Cézar Achon este episódio esta foi a sua resposta:
Cézar Achon: “Bom de minha parte eu não percebi nada disto, inclusive tive uma boa reportagem na Revista Metal me indicando como um dos melhores guitarristas da noite. O que lembro naquele dia é que houve uma discussão entre os dois irmãos Helmut e Rudolf e que depois disto a banda seguiu com o Ricardo Moreno (ex Performance’s) na bateria. Quanto a qualquer briga com você eu realmente não vi nada e, isto pra mim é novidade. Fizemos um puta som lá e depois disto fui convidado para integrar o Made in Brazil, parece que o Oswaldo naquele dia ficou impressionado comigo, aposto que o Helmut e o Rudolf nem lembram de nada daquele dia.”
Barbieri: “Da minha parte, não guardo ressentimentos! Quem fazia a roupas para serem usadas nos shows?”
Rudolf: “Nós mesmos improvisávamos tudo. Fazíamos buracos em camisetas e aplicávamos os rebites nas roupas. Também pedíamos para alguém costurar os patches quando necessário. Tudo bem ao contrário dos dias de hoje onde algumas bandas até posam com roupas de couro para fazer propaganda da confecção. Eu acho que isso já foge um pouco do espírito da coisa. Bom, quem sou eu para falar! Agora, os tempos são outros.”
Barbieri: “ Quando editei a fita do show do Projeto Metal, Rock & Cia, percebi pela primeira vez umas pitadas de Judas Priest e AC/DC no som de vocês. Percebi também como o som de vocês assemelhava-se com o do Avenger e Excalibur, duas bandas que também produzi muitos shows. Você concorda com esta avaliação?
Rudolf: “De fato o Judas e AC/DC foram grandes influências naquela fase da banda. Más nosso gosto pela música abrangia muitos estilos e muitas bandas de Rock que vão de Pink Floyd, Kiss, Alice Cooper até o gênio Frank Zappa. Só para ter uma idéia, uma banda atual que gostamos muito é o System Of A Down. Deixando os modismos e mídia pra lá, os caras tem muita atitude e sabem compor como pouca gente hoje em dia. De fato, o vocal do meu irmão ao vivo lembra Rob Halford, e me lembrava muito também o vocal da banda Raven, só que no estúdio nós pedimos pro meu irmão baixar o tom e em certos momentos me lembra um pouco Alice Cooper.”
Barbieri: “Porque cantar em inglês?”
Rudof: “A razão porque cantamos em inglês é a mesma da banda Scorpions. Nós não queríamos soar como uma banda brasileira e eles não queriam soar como uma banda alemã. Com poucas excessões como por exemplo o álbum Snegs do Som Nosso de Cada Dia e o álbum Tudo Foi Feito Pelo Sol dos Mutantes na sua última formação mais progressiva, nós só gostávamos de bandas que cantavam na língua inglesa. Não gostamos de como soa o rock cantado em português da mesma forma que não gostamos do rock cantado em francês, espanhol e provavelmente japonês (risos). Tudo é uma questão de preferência mas, achamos que o rock fica bem melhor cantado em inglês. Outro motivo por que cantávamos em inglês é porque obviamente estávamos interessados em conquistar o mercado externo, coisa que o Sepultura conseguiu fazer muito bem. Aliás, mudamos o estilo para Heavy Metal porque na época andávamos muito revoltados e ouvíamos muito Judas e Motorhead. ”
Barbieri: “Na época, qual foi a receptividade do álbum Sweet Revenge?"
Rudolf: A receptividade foi muito melhor do que imaginávamos. Quando tocamos no Carbono 14 num show produzido pela Rock Brigade, teve gente até pedindo autógrafos. Fomos pegos de surpresa! Você imagina fazer o show e, depois encontrar fãs na saída esperando para pedir autógrafos. Foi muito gratificante sentir que seu trabalho estava sendo apreciado. A Rádio FM 97, naquela época situada em Santo André, bem perto da nossa casa, nos deu muita força no seu programa Sessão Rocambole do “Capitão de Aço Beto Peninha”. Participamos de muitos shows organizados por ele. Shows que incluíam muitas bandas importantes da época como Chave do Sol, Korzus, Vírus, Performance’s e muitas outras. Peninha foi um grande fã e amigo! Devemos muito à ele. Vendemos também muitos LPs pelo correio graças a uma matéria que saiu na Revista Música."
Barbieri: “E esta foto com o Dee Snider?”
Rudolf: “Meu irmão Helmut e o Nelson, foram dar uma entrevista no programa Sessão Rocambole do Beto Peninha. Aproveitaram e levaram um LP e uma camiseta para presentear Dee Snider vocalista da banda Twisted Sister que também estaria lá. Dee Snider mostrou-se um cara muito legal e prometeu que se a banda tocasse no Brasil nos convidaria para abrir o show. Coisa que, infelizmente nunca aconteceu.
Barbieri: “Quem são as garotas das fotos?”
Rudolf: (risos) “As garotas das fotos eram de um grupo de teatro que atuou junto conosco no Adrenalina em São Bernardo do Campo. Elas fizeram o papel de dançarinas no show, dentro de gaiolas e tudo mais, foi o maior barato, o público ficou louco, e pelo que você viu nas fotos nós também (risos) pois, dividimos o camarim com as mesmas, uma loucura, coisas que dão muita saudades...”
Cesar Reinaldo Achon comenta sua estada como guitarrista na banda Karisma e faz uma homenagem à banda:
Cesar: “Tive o privilégio de tocar na banda Karisma por volta de 1985/1986. Foi uma aula de bom gosto em Rock! Os irmão Helmut e Rudolf nunca tiveram o merecido respeito por parte desta mídia que esta ai até hoje, mas graças a tecnologia, nós que batalhamos dia a dia para vender nosso peixe, temos a Internet como um lugar para perpetuar as boas idéias. Infelizmente neste nosso pais, muito teremos que sofrer para conseguir um espaço digno, o respeito pela dedicação que cada um de nós que nos auto intitulamos músicos merecemos. Nós brasileiros, não devemos absolutamente nada aos de fora, e sempre que estamos nos esforçando para mostrar algum bom trabalho algumas pessoas ainda torcem para que este sonho desmorone. Enquanto houver uma boa ideia, a arte esta salva, mesmo que para poucos. É um privilegio poder mostrar um pouco de nosso trabalho, é melhor ainda quando destacamos outras pessoas que fazem ou fizeram por merecer a admiração que procurei descrever com minha versão instrumental de You Know Why música maravilhosa de Helmut Leschonski. Fica aqui registrado para sempre o respeito por estes dois irmãos que fizeram parte da historia do Rock de São Paulo e ainda fazem. Espero que gostem.”
Na época que escrevi esta matéria, Cesar Achon participava da banda Tarkus.