Metal, Rock & Cia: Lembrando um evento histórico acontecido em 1985!
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Metal, Rock e Cia
Metais em brasa pela paz mundial
Artigo escrito por Bruno de André e publicado na Folha da Tarde (Show)
São Paulo, sábado, 27 de julho de 1985
Começou ontem, no Sesc-Pompéia, o “Metal, Rock e Cia” que reúne 19 bandas.
Elas acham que a violência dos grupos “heavy metal” atrapalha.
Desde ontem, com os grupos Mammouth, Ave de Veludo e Karisma, oitenta roqueiros paulistanos começaram descarregar seu raivoso e energético som metal no Teatro Sesc-Pompéia. Foi o primeiro dos seis dias da mostra “Metal, Rock e Cia” cujo programa ocupará as sextas-feiras, sábados e domingos desta e da próxima semana. Serão 19 bandas, a maioria conhecida apenas por um público pequeno mas fiel, que desfilarão suas músicas “heavy metal”, “power metal”, “black metal” e “jazz rock”.
A mostra foi ideia de Celso Barbieri, ex-bancário “há vinte anos envolvido com um trabalho de base com os grupos paulistas de rock” e um dos organizadores do festival “SP Metal” no Teatro Lira Paulistana. “Há muito tempo que recebemos propostas isoladas de bandas que querem se apresentar em nosso espaço”, conta Toni Letsch, 21, administrador e programador do teatro. “Agora, Celso nos trouxe o projeto de uma mostra abrangente e pudemos afinal oferecer às bandas as condições para se apresentarem com um equipamento de som e iluminação de alta qualidade e nossa capacidade de organização e divulgação”. Um importante passo, especialmente levando-se em conta que as mais de cinquenta bandas paulistanas de rock espalhadas pelos bairros do Jabaquara, Pompéia, Vila Mariana, Santana, Casa Verde e Ipiranga – tradicionais bolsões do movimento “metal” -, só tem suas casas e garagens para ensaiar e, para se apresentarem dependem dos festivais colegiais e do interesse e da boa vontade dos donos de clubes noturnos de periferia.
O Teatro Sesc-Pompéia, uma obra de arte criada pela arquiteta Lina Bo Bardi.
Violência atrapalha
É opinião unânime entre os roqueiros que muitas das dificuldades que enfrentam para atingir o público se deve à imagem de violência emanada pelo visual agressivo de suas roupas de couro pretas, seus braceletes metálicos e cintos cravejados de tachas. “Precisamos demolir esse folclore de violência, porque nosso trabalho é sério”. Afirma Marco Antonio, 18, que usa um aparelho nos dentes e é o guitarrista do grupo de heavy metal Spectrus. “Quando falamos em nossas músicas de demônios e bruxarias, isso é uma máscara para contarmos o que está acontecendo no mundo. Letras que, por exemplo, mencionam explosões e revoltas no inferno, estão criticando a guerra nuclear que poderá acontecer se não fizermos nada contra ela”. E todos rechaçam com vigor o termo “metaleiro” que, como explica o guitarrista, “é um termo imposto pela Globo através do Rock in Rio. A gente não costuma aceitar muita coisa que querem nos impor”.
A imagem de violência que têm perante o grande público parece ser mesmo o principal empecilho para que as bandas conquistem seu espaço e possam chegar à profissionalização. E todos os grupos se esforçam para atingi-la, desde o Viper – com seus cinco integrantes entre os treze e os dezessete anos -, até o mais conhecido A Chave do Sol, quatro rapazes de 22 à 25 anos, que já contam com um LP gravado pelo selo independente Baratos Afins. Por exemplo, uma banda como Excalibur formada por quatro músicos entre 22 e 23 anos, que se diz influenciada pelos conjuntos heavy ingleses Judas Priest e Iron Maden, se inspira em termos de letras, em textos de poetas como malditos do século 19 como Rimbaud, Baudelaire, Lautréamont e Poe, e suas apresentações acompanham uma concepção teatral baseadas nos trabalhos do francês Antonin Artaud. Em músicas que falam de mitologia e de fascinação pela morte e pelo terror em uma realidade sobrenatural, o Excalibur propõem que sua representação do Demônio seja vista, como diz o vocalista e compositor Beto, como “a de um ser rebelde que luta contra as convenções para se libertar. “Lúcifer”, em grego, significa “portador da luz”.
Uma vista da entrada do Teatro Sesc-Pompéia (são aquelas três portas ao fundo).
Idade não é documento
Estudantes, office-boys, comerciários ou simplesmente músicos, os roqueiros paulistanos dedicam todo o tempo que podem ao trabalho de pesquisa e elaboração técnica necessárias para sentirem “a energia e a vibração” de que fala Rubens Gióia, 22, guitarrista e vocalista do A Chave do Sol, que toca jazz rock e blues. Ou, como o grupo heavy Abutre, para seguir o lema “Tocar alto, bem alto e fazer a moçada agitar”. O black metal do Korzus, o blues do Ave de Veludo, o power metal do Mammouth e do Viper, o heavy metal do Salário Mínimo, do Lixo de Luxo e do Vírus teriam certamente encontrado um lugar nas concorridas sessões do “Fábrica do Som”, programa que usava semanalmente o mesmo palco do Sesc-Pompéia e foi transmitido pela TV Cultura de março de 83 à junho de 84. Mas o programa que se transformara em “espaço aberto à experimentação e à apresentação de sons, um exercício pleno da democracia nos meios de comunicação” – como define seu apresentador, o radialista e diretor de TV Tadeu Jungle, 29 -, foi interrompido pela Fundação Padre Anchieta que administrava a emissora . “Mas são iniciativas como esta da mostra “Metal, Rock e Cia”, que mantém a ideia acesa”, diz Jungle. “O Fábrica do Som” não morreu, só saiu do ar, e acabará voltando com outros nomes, feito por outras pessoas, porque o que temos de metal conhecido é muito precário e esses grupos novos que estão surgindo com novas ideias já estão pressionando, junto com o público, para a criação deste espaço.
Metal, Rock e Cia – Mostra musical de dezenove bandas paulistanas de rock no Teatro Sesc-Pompéia (Rua Clélia, 93 – Pompéia – zona oeste da cidade). Hoje, às 21 horas, Viper, Excalibur e Chave do Sol. Amanhã, às 19 horas, Salário Mínimo, Nostradamos e Korzus. Dia 2 de agosto, sexta-feira, às 21 horas, Improviso, Performance’s e Spectros. Dia 3, às 21 horas, Lixo de Luxo, Platina, Centúrias e Made in Brazil. Dia 4, domingo, às 19 horas, Mephisto, Abutre e Vírus. Ingressos: Cr$ 5 mil e Cr$ 3 mil para comerciários (sexta-feira e domingo) e Cr$ 7 mil e Cr$ 4 mil para comerciários (sábado). |
Barbieri Comenta
Este foi um dos grandes momentos de minha carreira como Produtor Cultural que guardo com grande orgulho. Foi um show com aparelhagem de palco importada e iluminação de primeira onde até o departamento de carpintaria do Sesc foi ativado para construir um palco especial para o evento e, como os leitores certamente devem ter notado pelo texto acima, a imprensa foi receptiva, amiga e principalmente, responsável. Para muitas destas bandas talvez este tenha sido o momento nas suas carreiras em que receberam o melhor tratamento como músicos. Este projeto levou quase um mês para ser organizado e, neste período Toni Letsch o diretor do teatro alocou-me uma mesa com telefone e ganhei vales para o restaurante do Sesc. Considerando-se que este foi, para mim, um tempo muito dificil tanto econômicamente quanto em termos de respeito profissional, realmente poucas vezes fui tratado com tamanho respeito e profissionalismo. Obrigado Sesc-Pompéia, obrigado caro Toni Letsch, sem sua ajuda nada teria sido possível! (gostaria de ter notícias suas!)
Gravações ao vivo raras e exclusivas em poder do Barbieri |
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Metal, Rock & Cia
Datas: 26, 27 e 28 de Julho e 02, 03 e 04 de Agosto de 1985 (Shows sexta, sábado e domingo por duas semanas) Local: Teatro Sesc Fábrica Pompéia Produção: Celso Barbieri Realização: Sesc-Pompéia Cheque abaixo, na coluna da direita para saber quais são os shows que já estão disponíveis para escuta. |
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Primeiro fim de semana
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Sexta-Feira
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Nome da Banda
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Data do Show
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Está disponível?
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Mammoth |
26-07-85
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Ave de Veludo |
ainda não
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Karisma | ||
Sábado
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Viper |
27-07-85
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ainda não
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Excalibur |
Fita Perdida
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A Chave do Sol |
Fita Perdida
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Domingo
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Salário Mínimo |
28-07-85
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Fita Perdida
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Nostradamus | ||
Korzus | ||
Segundo fim de semana
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Sexta-Feira
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Improviso |
02-08-1985
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ainda não
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Performance's |
ainda não
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Spectrus |
ainda não
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Sábado
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Lixo de Luxo |
03-08-1985
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Centúrias | ||
Platina | ||
Made in Brazil | ||
Domingo
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Mephisto |
04-08-1985
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Fita Perdida
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Abutre |
Fita Perdida
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Vírus |
Fita Perdida
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Fitas Desaparecidas
Outra razão para o desaparecimento de algumas fitas é que, na época, depois dos shows, fiz a besteira de empresta-las para as bandas ou produtores de rádio que, nunca me devolveram.
Além da lista mencionada acima, existem mais de 10 fitas de bandas que não sei se são relativas à shows do projeto SP Metal ou do Projeto São Power e portanto não as menciono nas listagens abaixo. Assim que o tempo me permitir acrescentarei aqui o nome destas bandas!
O Passado Destruído
Na época que produzí todos estes shows, eu era uma pessoa muito organizada e possuia um arquivo de aço de 3 gavetas com pastas suspensas onde cada show ou projeto ganhava uma pasta. A pasta continha:
- Release, fotos e endereço de contato fornecido pelas bandas.
- Documentação do show (recibos, taxas, requerimentos e alvarás).
- Release, panfletos e material publicitário do show.
- Recortes de jornais e revistas (críticas e comentários) registrando o evento.
Portanto, se alguém ainda possuir algum panfleto destes eventos contendo toda a programação, incluindo o nome das bandas e datas, ficaria muito agradecido em receber esta informação para que eu possa acrescentar no site!
Também estou buscando por panfletos, cartazes e vídeos deste período.
Antonio Celso Barbieri