O Peso - Uma das melhores bandas brasileiras de todos os tempos!
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O Peso: "Uma banda lendária que gravou apenas um álbum, teve vida curta mas, nunca deveria ser esquecida! O Peso está, na minha opinião, entre as 10 mais importantes bandas brasileiras!" - Antonio Celso Barbieri
O Peso - Em Busca do Tempo Perdido (1975)
Escrito por Mairon Machado para Consultoria do Rock
Um dos grandes grupos de rock brasileiro dos anos 70 que, teve uma carreira meteórica, deixou saudades e, principalmente, uma música honesta e cheia feeling!
Tudo começou em 1972, quando Luiz Carlos Porto (voz) e um amigo, chamado Antônio Fernando Gordo, compuseram diversas músicas, e, dentre elas, escolheram "O Pente" para ser apresentada em festivais. Um destes festivais foi o VII Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro, o mesmo que revelou Raul Seixas com "Let Me Sing, Let Me Sing", onde os Mutantes fizeram sua derradeira apresentação com Rita Lee tocando "Mande um Abraço pra Velha", e Sérgio Sampaio emplacou "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua", todas faixas que podem ser conferidas no raríssimo vinil do festival. Porém, a canção não ficou entre as classificadas para a final, principalmente pela forte alusão à maconha, com o seu refrão "pente, pente, pente, pente pra poder fechar", levando ao retorno para o Ceará e a dissolução da dupla Luís Carlos Porto/Gordo, mas deixando Porto com vários contatos na Cidade Maravilhosa, principalmente pelo seu carisma e simpatia, o que permitiu que assinasse um contrato de três LPs com a Phillips, de onde saiu apenas o compacto de "O Pente", ao lado de Gordo. Dessa época ficou também a canção "Mundo Sol", em colaboração com o poeta Cristiano Lisboa, que infelizmente ainda não foi lançada para nós, mortais. |
Raro LP do VII Festival Internacional da Canção, com a música "O Pente". |
O Peso: Carlinhos Scart, Luis Carlos Porto, Constant Papineanu, Gabriel O'Meara & Geraldo D'arbilly.
Foto tirada durante um break da gravação do LP "Em Busca do Tempo Perdido", 1975, Polygram.
Todas as fotos da banda colocadas nesta matéria foram fornecidas por Soninha Darbilly e
passaram, nas mão do Barbieri, por um meticuloso trabalho de restauração.
Em 1974, Porto retornou ao Rio, e dessa vez começa a procurar pessoas para montar uma banda nos moldes de Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd. Assim, funda o grupo O Peso, ao lado de Gabriel O'Meara (guitarra), Carlos Scart (baixo), Constant Papineau (piano) e Geraldo D'arbilly (bateria). O grupo passa a participar de shows, sendo a banda de apoio para Zé Ramalho na temporada que o mesmo fez na Urca em 1974.
Luiz Carlos Porto também conheceu produtores em sua primeira passagem pelo Rio, e na banda, O'Meara já tinha seus contatos, principalmente por ter participado do Projeto Salva-Terra de Erasmo Carlos, o que levou facilmente o Peso a assinar com a Polydor em 1975. O contrato com a Polydor rendeu um convite para participar do primeiro Hollywood Rock, onde o grupo apresentou toda sua energia para as mais de dez mil pessoas que enfrentaram o embarrado estádio de General Severiano no Rio de Janeiro, pertencente ao clube da estrela solitária. Entre nomes como Mutantes, Rita Lee & Tutti Frutti, Erasmo Carlos, Celly Campelo e Raul Seixas, o Peso foi uma sensação, virando a banda revelação do evento, ao lado dos também novatos do Vímana.
O sucesso no Hollywood Rock fez com que a gravadora lançasse o primeiro LP. Assim, em meados de 1975 chegava às lojas o álbum Em Busca do Tempo Perdido, uma obra-prima do rock nacional.
O Peso: Luis Carlos Porto, Carlinhos Coppos, Geraldo D'arbilly, Serginho, Leca e Mario Jansen (Santa Teresa, Rio de Janeiro). |
O disco traz uma sonoridade similar ao Led Zeppelin, com refrãos praticamente chupados dos clássicos da banda de Jimmy Page, e conseguiu vencer inclusive a censura, mesmo falando de sexo e drogas e com uma capa no mínimo estranha, onde o grupo aparece escondido dentro de um banheiro com um hipopótamo ao fundo farejando atrás daqueles cabeludos bem trajados. O Peso no início de carreira O disco abre com "Sou Louco por Você", com bateria, guitarras, baixo e piano entrando aos poucos, trazendo os vocais fortes de Porto em um rock bem anos 70. "Não Fique Triste" começa com violões que lembram "Thank You" do Led Zeppelin, tocando a melodia que acompanha os vocais. O órgão de Papineau se faz presente, sendo que o mesmo executa um belo tema ao piano, um dos pontos principais dessa balada. Outra balada surge em "Me Chama de Amor", com um clima bem anos 60. Essa canção conta ainda com um inspiradíssimo solo de O'Meara. O rock pesado é retomado em "Só Agora", onde piano e guitarra comandam um grande som para animar festas. Os vocais são acompanhados por vocalizações cheias de yeah-yeah-yeahs, no melhor estilo de Robert Plant, com um refrão fortíssimo. Essa faixa conta com um solo de gaita feito por Zé da Gaita, e é uma excelente canção para festas universitárias. |
O lado A encerra com "Eu Não Sei de Nada", onde O'Meara mostra todo o seu talento. O riff é do nível das grandes bandas de hard americanas, com os vocais de Porto rasgando as caixas de som. Uma viajante sessão é apresentada durante a canção, onde a bateria acompanha um crescendo do órgão, teclado e guitarra, dando sequência a um funk construído pela base de Scart e por riffs de O'Meara, retomando o refrão. Essa canção contou com a presença de Carlos Graça na bateria, ao invés de D'arbilly.
Luis Carlos Porto, Carlinhos Coppos, Geraldo D'arbilly, Serginho, Leca e Mario Jansen (Santa Teresa, Rio de Janeiro).
"Blues" abre o lado B seguindo a dicotomia natural (doze compassos, três acordes, bemóis e muito feeling). A guitarra de O'Meara introduz a canção para Papineau viajar ao piano, com uma levada da cozinha que nos faz pensar estarmos em um bar americano cercado por negros rindo e bebendo, até Zé da Gaita entrar acompanhando os vocais de Porto.
Um blues arrastado, com uma grande letra ("Se eu fosse um homem rico, será que você gostaria mais de mim? Meu amor dou de graça, mas você cobra tudo mesmo assim!"), que vai crescendo aos poucos. O solo de gaita leva ao solo de guitarra, onde O'Meara abusa de palhetadas Pageanas, e até as viradas de D'arbilly lembram Bonham, bem como o acompanhamento de Scart lembra John Paul Jones em "You Shook Me". Após o primeiro solo de guitarra, a canção muda o ritmo, tornando-se um rock de primeira, com solos alternando entre gaita e guitarra. Um clássico brazuca com muito tempero pra norte-americano nenhum botar defeito.
O Peso: Na duas fotos - Luis Carlos Porto, Carlinhos Coppos, Geraldo D'arbilly, Serginho, Leca e Mario Jansen (Santa Teresa, Rio de Janeiro).
Outra pedrada surge com "Lúcifer", a mais zeppeliana das canções do Peso, com várias citações ao Led. O início da faixa traz mais um grande riff de O'Meara, e aqui Porto está fantástico, gritando como o personagem que dá nome a canção. É impossível não lembrar dos solos de "The Song Remains the Same" e "Celebration Day" quando O'Meara começa seus dois solos. Após o segundo solo de guitarra, as batidas do segundo riff principal de "Black Dog" são ouvidas, com O'Meara executando um terceiro solo antes de uma sessão percussiva, onde Scart comanda a viagem e o encerramento da faixa.
O slide guitar introduz "Boca Louca", mais um grande rock com O'Meara solando muito e com acordes vibrantes no encerramento. A chapante "Cabeça Feita" foi uma das mais populares. Falando sobre o uso da maconha, se tornou um clássico entre os admiradores do grupo (e da erva). O disco encerra com a acústica faixa-título, também contando com Garça na bateria. Com muitos teclados e violões, é mais uma que lembra bastante o Led de "Ramble On", principalmente pela levada do violão e pelo solo de O'Meara.
O Peso: Luis Carlos Porto, Carlinhos Coppos, Geraldo D'arbilly, Serginho, Leca e Mario Jansen (Santa Teresa, Rio de Janeiro).
Porém, o sucesso esperado pela banda acabou esbarrando na própria gravadora, que lançou uma tiragem pequena do álbum - trazendo inclusive um belo encarte com fotos dos integrantes -, que não atingiu números interessantes de venda. Mesmo assim, lançam um compacto com as músicas "Eu Sou Louco Por Você / Me Chama de Amor", que também não obteve sucesso.
O Peso: Fotos tiradas durante as Gravações do álbum Em Busca do Tempo Perdido. (1975)
Em Busca do Tempo Perdido foi relançado em CD na década passada, trazendo como bônus a canção "O Pente". Várias formações passaram a fazer parte do grupo, contando com Mario Jansen, Geraldo D'arbilly, Carlos Scart, Serginho e Porto, e também como sexteto, com Porto, Carlos Scart, Geraldo D'arbilly, Serginho, Leca e Mario Jansen, inclusive com a saída de Porto, sendo substituído por Zé da Gaita nos vocais, culminando no encerramento das atividades no final da década de 70. |
Álbum solo homônimo de Luis Carlos Porto. |
Luiz Carlos Porto chegou a gravar três LPs pela Phillips que acabaram não saindo da gaveta, já que o cantor não aprovou o resultado final dos mesmos. Em 1983, lançou, pela Polygram, seu primeiro e único álbum solo, intitulado apenas com seu nome e contando com a participação dos músicos Peninha (bateria), Roberto Darbill (baixo), Marcelo Sussekind (guitarra), Julinho (piano, teclados), Marinho (saxofone) e as vocalizações de Regina, Rosana, Gracinha, Guarnieri, João Carlos e André Melito.
Em 1984, o Peso retornou a ativa, tendo o último show daquela mini-turnê sido realizado na Danceteria Quitandinha em Petrópolis, que repercutiu bastante na mídia especializada da época. O Peso tinha na formação Luis Carlos Porto, Ricardo Almeida (guitarras), George Gordo (baixo) e Carlinhos Graça (bateria).
O Peso: Fotos tiradas no intervado de gravação do disco Em Busca do Tempo Perdido. (1975)
Porto manteve o Peso por mais alguns anos, até que em 1986, após um show em Fortaleza, envolveu-se em um grave acidente de moto, passando a sofrer de esquizofrenia e sendo obrigado a abandonar os palcos.
No dia 26 de agosto de 2005, Darliby, Scart e Papineau se reencontraram 30 anos depois da gravação de Em Busca do Tempo Perdido, e alguns registros foram feitos. A volta do Peso para alguns shows foi cogitada, mas o problema de saúde de Porto impediu (e impede) que tenhamos nos palcos uma das mais importantes bandas do rock brazuca dos anos 70, que ao rodar na vitrola tornava impossível segurar o tesão que cada faixa passava.
Coloque a agulha no ponto, apague as luzes, arranque a roupa da mulher e deixe que Luiz Carlos Porto e companhia comandem seu cérebro para uma noite de muita loucura e gritos de yeah-yeah-yeah!
Barbieri comenta: Mesmo no final dos anos 70, conseguir este álbum era muito difícil. Eu comprei uma cópia usada, nas Grandes Galerias (hoje Galeria do Rock) e ainda recordo que foi por um precinho bem salgado. Para uma banda brasileira de rock pesado lá do meio dos anos 70, ela era perfeita. Possuía um vocalista de primeira e uma banda inquestionavelmente de qualidade. Conseguir alguma informação sobre a história desta banda era impossível e a capa era, no mínimo, enigmática. Bom, tudo isto ajudava à criar uma aura de mistério em torno da banda. Seu fim, nos brindando com apenas um álbum deixou-nos com água na boca e, querendo mais! O fato de este álbum ser tão pouco conhecido e celebrado sempre causou-me perplexidade porque O Peso é, na minha opinião, uma banda que deveria estar sempre na lista das melhores bandas brasileiras de todos os tempos! No álbum Em Busca do Tempo Perdido a minha música preferida é a música chamada Lúcifer, uma música muito corajosa para a época que foi gravada pois, vivíamos o auge da Ditadura Militar e, dentro de tanto puritanismo barato, é surpreendente o fato da mesma não ter sido censurada.
Lúcifer
Em Busca Do Tempo Perdido
O Peso (1975)
Estou no mundo mas
minha alma está longe daqui
Eu venho do fundo da terra mas
mesmo assim
pode deixar comigo
que eu me encarrego da
tua felicidade
Eu vou tirar tuas magoas
em troca quero tua alma
vou espalhar pela agua
agua preta do fundo do mar
A vida é curta
mas curta
é para curtir
Você irá longe mas
longe perto de mim
Pode deixar comigo
que eu tomo conta de
todos os meus amigos
Lúcifer reina no mundo
Lúcifer reina no fundo
do coração de todos vocês!
Carlinhos Scart, Geraldo D'arbilly e Constant Papineanu em 2005.
O Peso em 2005 só faltando Luis Carlos Porto: Constant Papineanu, Gabriel O'Meara, Geraldo D'arbilly e Carlinhos Scart.
Mais umas fotos raras da banda ao vivo:
O Peso: Luis Carlso e Darbilly no MAM. (1976)
O Peso: Ao vivo no Museu de Arte Moderna, RJ. Mario Jansen, Sergio, Darbilly, LCP, Carlos Coppos e Leca. (1977)
O Peso: Darbilly e Constant , ensaio. (1974)
O Peso: Darbilly ao vivo. (1976)
O Peso: Darbilly, ao vivo. (1976)
O Peso: Darbilly, ensaio. (1974)