London Calling Número 05
Ritmos brasileiros influenciam o mundo
Até há poucos anos, a visão mundial do que é ritmo brasileiro limitava-se à Bossa Nova, um tipo de Samba Jazz para exportação que, para mim, mais parece a forma que os ricos brasileiros acharam para justificar que eles também escutam música do povão, fazendo um tipo de samba "inteligente", mas muito chato. Um tipo de música que combina mais com whisky do que com cerveja e caipirinha como deveria. Outro ritmo brasileiro bem conhecido aqui é a batucada da escola de samba que sempre aparece como pano de fundo nas transmissões televisivas do famoso carnaval do Rio e é responsável por criar uma imagem exótica do Brasil no exterior. A verdade, é que nós sempre fomos respeitados como percussionistas, entretanto com uma atuação mais limitada ao Jazz.
Os ritmos brasileiros começaram a ganhar maior importância depois que o músico e compositor Paul Simon gravou o seu disco usando músicos e ritmos brasileiros. Como Paul tinha experimentado grande sucesso com seu disco anterior chamado Graceland, seu então novo trabalho despertou muita atenção. Na seqüência, David Byrne (ex-Talking Heads) lançou seu trabalho baseado em nossos ritmos, além de uma coletânea com alguns dos nossos músicos pelo seu selo.
Mais recentemente, Michael Jackson popularizou o ritmo Olodum maciçamente em música e vídeo, o que provavelmente inspirou a banda Pet Shop Boys a lançar a música chamada Bilingual, onde nela o Olodum deixa, sem sombra de dúvidas, sua marca rítmica. A dance music e o industrial nos últimos anos tem dado prioridade para o ritmo, tomando uma atitude praticamente tribal onde às vezes, a batucada sampleada ou programada eletronicamente serve como suporte para baixos e mais baixos numa orgia rítmica.
No momento, a maior contribuição à popularização dos ritmos brasileiros nos exterior é feita, inegavelmente, pela banda Sepultura, que no seu último álbum, Roots, continuou sua saga musical, onde diluiu os nossos ritmos com o rock mais brutal possível. Para mim, não foi grande surpresa ver o grande interesse despertado pela tournée da baterista e percussionista Vera Figueiredo por estas terras pois, os europeus e os ingleses, em particular, sabem que o Brasil é uma fonte inesgotável de inspiração e que o segredo é misturar tudo (Peter Gabriel que o diga!).. Só falta a gente fazer o mesmo...
Para as bandas brasileiras com medo de serem acusadas de ir na cola do Sepultura, sinceramente eu sugiro às mesmas a não darem bola a torcida e seguirem o caminho criativo que mais lhes convierem. O próprio Sepultura foi acusado de copiar os seus primos pobres, o Overdose, que já haviam feito uma "fusion" semelhante anteriormente.
A verdadeira arte de hoje em dia consiste na recombinação dos sons e estilos, onde não existe nenhuma regra ou norma pré-estabelecida, onde tudo é possível desde que você não infrinja a lei do "copyright". Não deixa de ser curioso ouvir o que parece ser um berimbau na introdução da música No Place To Hide da banda Korn tirada do seu recente álbum Life Is Peachy e antes que eu me esqueça, aí vão duas sugestões interessantes: Procure escutar o álbum da banda Tubarões Voadores (especialmente a primeira música chamada Hermeto Paschoal) e a quinta faixa do CD do Madame Butterfly, chamada Uarana Sesé (pena que o álbum todo não seguiu esta linha).
Só para terminar, fiquem sabendo que eu me inspirei a escrever esta matéria depois de ouvir uma batucada de escola de samba, com o apito e tudo, numa vinheta publicitária feita pelo Science Fiction Channel (TV a cabo), onde o locutor com uma voz soturna, modelo Vincent Price, deu a programação de domingo..
Lições de 96 Mas, já que esta é minha primeira coluna de 1997, eu gostaria de deixar o "druming" para lá e aproveitar a oportunidade para desejar a todos os leitores um ano novo cheio de saúde e realizações, na virada do ano a gente sempre olha para trás para ver o que aconteceu de bom musicalmente..
Acho obvio dizer que, o Sepultura foi a banda que mais inovou e merecidamente vem em primeiro lugar com o álbum Roots mas, nunca é demais ressaltar. O Korzus vem em segundo com KZS, tecnicamente o melhor álbum gravado no Brasil e na minha opinião, muito bom. Eu fiquei feliz com três revelações: Oloman, Skilo e The Pills. Três bandas talentosas em discos bem gravados. No rock cantado em português, eu tiro meu chapéu para o Tubarões Voadores que para mim foi melhor que o último dos Titãs. O ano passado também viu as bandas Dorsal Atlântica e Prime Mover saírem para gravar no exterior, o que promete ser um caminho que será seguido por muita gente.
Em termos de bandas e artistas internacionais, eu confesso que, depois de ouvir dezenas e dezenas de álbuns e ser bombardeado pela MTV européia, acho difícil citar nomes. O Marlyn Manson impressionou-me com seus vídeos, mas já está cansado; o Korn ainda não convenceu-me; o som do Type O Negative é muito velho até para mim, prefiro ouvir foi o Nico, do Blind Mellon. No eletrônico, Future Sound Of London, Ragga and the Jack Magic Orchestra e a coletânia brasileira chamada Clash & Behavior foram os mais ouvidos. É lógico que eu, como todo mundo, tenho sempre aqueles álbuns antigos que escuto, escuto e escuto. Entretanto obrigo-me também a escutar várias vezes coisas que não entendo ou não gosto, pois acho que só podemos fazer uma crítica daquilo que conhecemos bem. Em matéria de shows, os pontos altos para mim foram: a minha primeira visita ao Castle Donington Festival, o emocionante show da volta do Sex Pistols e o show da Tina Turner no Wembley Arena em dezembro. O show da Tina foi fabuloso, fantástico e inesquecível e eu o ponho no topo da lista das minhas boas memórias. Foi assim, digamos, meu presente de fim de ano.
Eu, além de passar o ano de 96 ocupadíssimo escrevendo para a Dynamite e On&Off, fazendo visitas a feiras e fábricas de instrumentos musicais, ainda achei tempo para viajar com a baterista Vera Figueiredo pela Escócia e Irlanda, receber visitas ou hospedar um monte de bandas ou músicos e realizar um sonho antigo abrindo meu próprio selo chamado Brain2 Records, que espero ajude a propagar o rock brasileiro na Europa. Também comecei a empresariar bandas através da minha empresa chamada 2B Star Management e trazer bandas daí para gravar aqui através da Barbieri Enterprises. Além disso tudo, ainda consegui finalizar o álbum do meu projeto The Brain Sexy Diet (TBSD). Quer dizer, não posso reclamar.. O mais importante foi que fiz mais amigos que inimigos (espero!) e conheci um monte de gente bacana como a Helen da Rhythm Magazine e mantive a mente ocupada (que é a melhor terapia contra a loucura!).
Só para terminar as reflexões a respeito do ano passado, eu gostaria de deixar claro que para mim nada disto teria acontecido sem o estimulo e encorajamento do meu amigo e editor André "Pomba" Cagni, que teve paciência e agüentou as minha broncas o ano todo. Thanks Pomba! E vê se corta menos as minhas matérias em 97!
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