London Calling
Número 03

Herói ou heroína?

No caso, a heroína a que me refiro é a tal droga, que muito embora tenham noticiado na imprensa a venda de uma variante muito, mas muito mais forte, ainda assim tem tonto que quer experimentar. O Sr. Phill Anselmo (Pantera) declarou na TV, fazendo aquela cara de pato:

"-É meu, eu quis andar por cima da água e acabei me afundando. Nunca mais! Que vergonha!".

Lamentavelmente os últimos meses foram palco de overdoses, mortes e prisões. E tudo por causa da merda da droga. Esta situação não limita-se somente  ao campo da música, pois na área do cinema as coisas estão do mesmo jeito.

Eu não quero ser o paizinho de ninguém e nem dar uma de religioso babaca, mas está escrito em algum lugar que no final dos tempos o diabo vai estar entre nós e a gente vai até achar ele um cara legal.

A minha opinião é que, nesta transformação do diabo em anjinho, a imprensa é a maior responsável. Eu me recordo quando o punk surgiu em São Paulo, a violência imperava na periferia, onde eles estavam até matando gente. A nossa imprensa fechava os olhos para isso e idolatrava o Sid Vicious que, cá entre nós, não contribuiu em nada como músico. Diga-me se existe alguém neste planeta copiando a técnica de tocar baixo dele. O mesmo não posso dizer de Jimi Hendrix, cuja sua morte é independente do seu legado artístico. Não é saudosismo não, é pura avaliação consciente.

Este assunto mórbido leva-me à outro que é o suicídio. Parodiando uma antiga publicidade de sabonete eu lhes digo:

"-Nove entre dez estrelas do rock suicidas usam heroína".

O que eu quero dizer com esta história é que a onda agora é glorificar o diabólico, o mau e o imoral. O cara tem grana mata a mulher e sai livre de todas. O outro abusa de crianças e continua na boa fazendo seus shows. O cara toma drogas até pela orelha suicida-se e virá herói. E a gente engolindo tudo como cordeirinhos...

Vamos ser francos onde está o heroísmo? Por favor não me diga que a sociedade é a única culpada e que o cara era um santinho inocente. Eu nunca vi tanta hipocrisia na minha vida!

O lance agora é vir à público e dizer que você era bandido. O Ice T fala com orgulho que veio de uma vida de crimes, e a nova onda agora são os bad boys da banda BritPop Oasis, cujos líderes declararam em entrevistas que andaram metidos com a marginalidade antes de estourar como banda. Eles provam que qualidade musical não significa necessariamente nível intelectual. Conheci, tanto aqui quanto aí no Brasil, músicos com Q.I. de dinossauro, mas a burrice desses caras ganha o recorde. O inglês que os caras falam é tão precário, que nos EUA certas emissoras de TV decidiram legendar as entrevistas, onde os irmãos Galagher aparecem com um sotaque horrível e uma fala ofensiva, onde ninguém entende nada, a não ser talvêz os malandros da rua deles. O vocalista do Oasis, na minha opinião ganhou o troféu que pertencia ao Axel Rose como o mais pretensioso. Ao vivo suas atitudes de mau gosto prevalecem, como quando ele, usando um terninho à lá Beatles (por que será?), ficou em pé babando e deixando o cuspe chegar lentamente até o chão. Alguém por aí pode me explicar qual é a validade estética desta atitude porca?

OK! Você deve estar pensando: "Mas que cara chato!". Desculpe-me, mas enquanto o resto da imprensa prefere ficar de joelhos e curvar-se com as mãos para frente dizendo  "Eu não mereço, eu não mereço...", eu prefiro acender as luzes brancas no palco, abrir as cortinas e mostrar a real.

E por falar em real, a MTV inglesa transmitiu entrevista feita no topo do hotel Maksoud Plaza com o Iron Maiden, além de mostrar alguns takes do show em São Paulo. Os desafinos de Blaze Bailey eram flagrantes, e na entrevista a sua preocupação era dizer que ele estava melhorando seu vocal. Para mim ainda falta muito..

Em visita recente à Premier, um dos mais prestigiosos fabricantes de baterias acústicas da Europa, o diretor me confidenciou que o Brasil é o maior mercado do Iron Maiden. Ainda falando de Iron, os reis do Metal, para comemorar os seus 20 anos de estrada lançaram pela EMI um CD duplo chamado The Best Of The Beast com as melhores músicas desde o começo da sua longa carreira e uma faixa inédita, Vírus, em que a banda ataca a imprensa inglesa. Os três vocalistas estão presentes.

Falando em Premier, eles revelaram com exclusividade para a Dynamite que estão organizando uma tournée pela Inglaterra envolvendo trinta shows com a baterista  e percussionista brasileira Vera Figueiredo. Que tal as outras marcas internacionais seguirem este maravilhoso exemplo e apadrinharem uma talento brasileiro?

E por falar de Brasil, além de receber a visita do Luiz, guitarrista do Prime Mover, também recebi a visita do Márcio (guitarra) e da Cristiane (teclados) da banda The Pills. O Prime Mover grava o seu próximo CD por aqui em Londres e o The Pills está seriamente considerando esta hipótese. Recebi também CDs das bandas Madame Butterfly (obrigado Dalan!) e do Strangulation além de um cassete da banda Tiroteio.

Ainda no tema Brasil, outro dia eu vasculhava um sebo londrino quando deparei-me com uma raridade. Achei um álbum do Vulcano, o Retrace lançado pela gravadora Metalcore inglesa. A caixa do CD estava quebrada mas eu comprei no ato.. Minhas lembranças foram lá para o Zhema, guitarrista desta banda porrada e legendária nos bons tempos do Teatro Lira Paulistana.

Para que ainda não sabe, o Max (Sepultura) cortou careca e, segundo se fala, foi por conselho da sua mãe que disse que ele andava com muita energia negativa nos cabelos.. Pode?

A gravadora Geffen pegou o público de calças curtas antecipando em um mês o lançamento do tão esperado álbum From the Muddy Banks of the Wishkah gravado ao vivo pela banda Nirvana. O álbum que promete ser um dos bestsellers deste ano, foi lançado aqui oficialmente dia 30 de setembro, e foi organizado pelos membros sobreviventes Dave Grohl e Krist Novoselic, com o produtor Andy Wallace (Sepultura entre outros) remixando cinco músicas.

Só para acabar, despeço-me de vocês com um pouco de humor negro:

"-O cara cansado de ter a casa assaltada, descobriu uma solução: pôs uma placa bem grande na porta da sua casa dizendo Delegacia de Polícia. Sua casa nunca mais foi assaltada. A única coisa diferente é que agora, sempre alguém é espancado na cozinha."