London Calling Número 07
O Brasil na boca do povo
A recente eleição do candidato trabalhista Tony Blair, aqui na Inglaterra, me fez sentir uma similaridade com a vitória de Fernando Henrique Cardoso aí no Brasil. O Blair fez alianças com a burguesia (entenda-se abriu as pernas) pra poder receber certas concessões em troca para governar e ir um pouco pra frente.
Confesso que ver a forma humilhante com que a turma da Tatcher foi escorraçada do poder depois de tanto tempo foi maravilhoso. Mas não é com esse tipo de comparação que quero justificar o título da minha matéria.
A Tina Turner, em recente entrevista, quando perguntada quais os lugares no planeta que ela gostou mais, a resposta foi rápida: Rio, Paris e Londres. O pessoal da banda Pet Shop Boys numa entrevista cedida pela EMI confirmou o que nós realmente já sabíamos, admitindo que eles samplearam o Olodum para fazer a música Bylingual. Sem contar que seu último hit chama Se a Vida é (em português mesmo!). Já quando entrevistei recentemente a cantora Lisa Stansfield, a gata declarou que uns dos pontos altos da sua carreira foi quando ela se apresentou no Rock in Rio para aproximadamente 150.000 pessoas e acrescentou que estava nervosíssima e tremia como uma vara verde.
Recentemente tenho descoberto um monte de brasileiros fazendo MPB fora do Brasil. Tem o Tadeu Barbosa, músico e compositor, que se esconde atrás do nome T B Kobna, e produziu aqui em Londres um trabalho instrumental muito interessante chamado Brazilian Project. Tem a banda Jabuti com o álbum chamado Outro Ar e a banda Xiame com o álbum The Shadow Of My Soul, ambos lançados pelo selo Traumton Records (Internet:http//members/aol.com/traumton/) de Berlin e com músicas cantadas em português. Falando ainda na língua mãe, uma ninfa chamada Nina Miranda, segundo se fala, inglesa filha de brasileiros, emplacou na parada inglesa com uma música sensual, parte cantada em português e parte cantada em inglês. O feito deveu-se em muito ao fato desta música ter sido escolhida como trilha sonora para uma publicidade da Levi's. A publicidade gira em torno de um rapaz que numa tempestade no meio do oceano cai do barco e, debaixo d'água, é encontrado por umas sereias gostosas. E, por falar em gostosas, o pessoal do Fun Lovin Criminals para lançamento do single da música King Of New York, inspirou-se na capa do álbum Electric Ladyland do Jimi Hendrix convidando mais de 20 gatinhas para posarem nuas. A banda que talvez seja a mais importante de rap branco da atualidade, logo nos primeiros acordes mostra que Hendrix também serviu de inspiração na criação do "groove" básico da música. Eu também fui falar com a Gillian Anderson, a gatinha do Arquivo X e aguardem para a próxima Dynamite uma entrevista exclusiva (paciência moçada!).
Felicidade! Felicidade!
Uma das minhas bandas preferidas está de disco novo. É o Die Krupps com o álbum Paradise Now pela gravadora Music For Nations. Formada em 81, esta banda alemã, controversialmente, inspirou seu nome no Krupps Industrial Plant que desempenhou um papel fundamental na máquina de guerra Alemã da II Guerra Mundial e são uns dos pioneiros no campo da música eletrônica e industrial mixando tudo ao vivo com guitarras foderosas. O Die Krupps foi incluído na coletânea Killing Cuts 2, cujo Cd foi fornecido gratuitamente na capa da revista Metal Hammer do mês de abril onde, a moçada detona com a música The Gods Of Void. Aliás nesta coletânea, estão em boa companhia, seguido da pauleira brutal do Dave Lombardo e sua banda Grip Inc, com a música Pathetic Liar (Steamhammer/SPV) tirado do álbum Nemesis. Eu sugiro à moçada que gosta do gênero sair atrás desta revista pois tem muita coisa boa neste CD.
Em toda a Europa os fãs do rock pesado estão putos com a MTV que tirou do ar o famoso programa Headbanger Ball. Cartas de protesto choveram e o povo escreveu para as revistas pedindo que todo mundo escreva para a MTV protestando. A verdade é que sem MTV o metal vai virar lamentavelmente uma atividade underground. Eu, por meses, já vinha notando uma queda de qualidade na programação deste programa que tinha empanelado e só mostrava Pantera, Metállica e mais meia dúzia de bandas.
Quer dizer, nada contra estas bandas, mas o programa não dava espaço para novos talentos e raramente mostrava uma banda nova tocando ao vivo no seus estúdios.
Paradoxalmente, enquanto parece que o rock pesado está em declínio, duas bandas pops, ao mesmo tempo, detonam com singles pesadíssimos. O Blur com a música Song 2 derruba tudo, e o Supergrass com Richard III, põe para baixo aquilo que , por ventura, ainda tenha ficado em pé. E, nem tudo está perdido ... O Supergrass com o seu novo disco In It For The Money parece uma borboleta que voltou para dentro do casulo e virou uma lagarta feia outra vez. A imagem que eles tinham de garotos adolescentes engraçadinhos, bonitinhos e pré-fabricados era nauseante e sempre me espantou para longe da banda. Tudo indica que a moçada amadureceu tanto visualmente quanto no som...
Como os amigos mais chegados sabem, o mês de abril foi muito difícil para mim. Usando as palavras do Pomba, "my friend" e editor, foi um "inferno astral" danado. Eu suponho que eu não seja muito diferente de vocês e, quando a depressão desce, eu encontro na música o meu refúgio ideal. Portanto, dentre os inúmeros lançamentos que recebi, foram apenas dois álbuns que me ajudaram a superar a minha crise e que, de coração, indico, aos caros leitores. São dois álbuns muito positivos, bem gravados e cujo conteúdo musical certamente resistirá ao tempo. O primeiro é chamado Attack Of The Grey Lantern e pertence à banda Mansun. Trata-se de pop de primeira qualidade com arranjos cheios de lirismo e, passando um astral muito bom. O segundo é o álbum da volta do Supertramp chamado Some Things Never Change. Sem ligar-se à nenhum modismo, a banda Supertramp volta com a qualidade, swing, letras bem humoradas e inteligentes, mostrando para as novas gerações como é que se faz boa música. A palavra que me vem à cabeça é uma só: Cool!
Bom, deixa eu ver se tem mais algum pedacinho de papel nos meus bolsos com alguma palavra chave do que eu tenho que dizer. Hum... Hum... Talvez no bolso de trás da calça... Arroz, cebola, óleo... Epa! Esta é minha lista de compras do mercado!
Até mais então...
Nota: Eu gostaria de dedicar esta matéria com amor para Dona Helena Moyses Barbieri, minha mãe, que dormiu para sempre dia 03 de abril de 1997.
"-Never say good bye, say hello!"
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