Homosinteses - Uma introdução para uma ideia...
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HOMOSSÍNTESES
Escrito por A. C. Barbieri em julho de 2008
(baseado em uma ideia de 1986)
Revisado por ChatGPT em março de 2023
Introdução
Desde que me lembro, sou fã de histórias de ficção científica.
Portanto, não será surpresa saberem que concebi este conto, por volta de 1986, logo após ler um livro do grande escritor Isaac Asimov.
Este seu livro continha uma coletânea de sua autoria cheia de pequenos contos em ordem cronológica nos dando uma visão evolutiva dos seus primeiros trabalhos. Neste livro, antes de cada conto, o escritor explicava qual tinha sido a sua motivação ou ideia que o levou a escrever aquela história em particular.
Nem preciso dizer que, para mim, essa leitura foi como se fosse, uma aula de redação.
Então, antes de um conto, em um dos seus comentários, Isaac Asimov conta que, gostava de pegar uma situação ou problema real, como, por exemplo, a Guerra Fria que, estava acontecendo naquele período, entre EUA e União Soviética e, extrapola-la para um sistema planetário, criando assim, um conflito interplanetário.
Muito embora Isaac Asimov tenha escrito muitas obras clássicas de ficção científica que se passam no espaço e envolvem aventuras épicas, contendo disputas entre planetas (da mesma forma que aqui na Terra temos disputas entre países) como a sua série Fundação, ele não é considerado o pai da ópera ou epopeia galáctica. Este termo é geralmente atribuído a E. E. "Doc" Smith, autor de obras como a série Lensman, que foi publicada antes das obras de Asimov. No entanto, como ele também explorou bastante este gênero Isaac Asimov também é considerado um dos pais deste estilo. Assim, a série Star Wars e muitos outros filmes e livros que foram lançados depois também bebem desta ideia inicialmente criada por E. E. "Doc" Smith e Isaac Asimov.
Bom, resolvi fazer o mesmo. O que o leitor lerá nesta página é apenas uma breve introdução. O texto completo nunca foi escrito e continua aqui dentro da minha cabeça. O interessante é que, do jeito rápido que a ciência avança, logo minha ideia inicial será ultrapassada.
Para mim, pessoalmente, este conto que escrevi tem uma relevância maior porque discute rapidamente alguns assuntos que acho fundamentais na minha existência. Este conto também tem um caráter premonitório no sentido de que o lago descrito no começo do conto é muito semelhante ao pequeno lago circular que encontrei quando visitei o Hyde Park aqui em Londres. E, para mim, a questão das coisas iguais, da repetição, tem muito a ver com a arquitetura inglesa, cujo uso intensivo do tijolo aparente, dá às suas casas uma aparência sempre muito repetitiva. Acontece que, por volta de 1986, eu não tinha ideia, nunca poderia imaginar que um dia acabaria morando em Londres.
Minha proposta para esta história inacabada, seria mostrar que não importa o sexo ou a sexualidade do ser humano. Homem, mulher ou homossexual (em qualquer das suas possibilidades), quando conseguem poder absoluto, assim como sugeriu Friedrich Nietzsche, correm sério risco de se transformarem em monstros genocidas.
HOMOSSÍNTESES
Escrito por A. C. Barbieri
Que bom! Nada como respirar a brisa fresca da manhã, ar puro com cheiro de verde...
Olhando para o céu, de um azul sem mancha, sem uma única nuvem, buscava um pontinho, uma cor diferente que destruísse aquele senso de perfeição. Aquele azul absolutamente perfeito parecia duvidoso e fazia com que a palavra "irreal" tomasse conta da minha mente, fazendo-me desconfiar dos meus próprios sentidos e, por isso mesmo, fazendo com que a realidade daquele céu parecesse brutalmente palpável, como se a Terra estivesse cercada por uma frágil redoma de vidro azulado, pronta para se partir e cair sobre a minha cabeça, numa chuva de cacos azulados e perigosos.
De repente, perturbado pelo súbito despertar à realidade física ao meu redor, deparei-me sentado em um banco de madeira, contemplando um lago com cerca de um quilômetro de diâmetro. O lago, com sua forma circular absolutamente perfeita, possuía em torno dele um pequeno anel de asfalto negro que, na margem do lago, perdia-se dentro da água. No limite, separando o asfalto negro da grama verde, encontravam-se os bancos de madeira, todos iguais e separados por intervalos precisos, como se marcassem os minutos de um gigantesco relógio. No gramado, mais para o fundo, as árvores, todas da mesma espécie, pontiagudas, indicando para o céu, pareciam ter sido plantadas todas no mesmo dia ou clonadas uma das outras. A água do lago, estática, sem uma onda, sem uma impureza, sequer um gravetinho flutuante, refletia o azul do céu como se fosse um espelho. Duas fatias de pão azulado me sanduichando no meio!
Quebrando essa imobilidade, mas, ao mesmo tempo, aumentando o senso de repetição e continuidade, do outro lado do lago, um grupo de seis pessoas prosseguia lentamente e metodicamente em sua corrida pelo asfalto em torno do lago, alcançando cada banco como se fossem os ponteiros do relógio.
Tique, taque, tique, taque...
O lago, um "círculo perfeito". Meu antigo professor de geometria, muito tempo atrás, me ensinou que um círculo perfeito não pode ser produzido, pois é, apenas uma abstração geométrica que só existe em nossa mente.
Então, nesta minha eterna busca pela essência e significado da vida, não posso deixar de sentir que o círculo está impregnado em tudo. A esfera não deixa de ser um círculo tridimensional. Desta forma, o universo é esférico, assim como as estrelas e os planetas com suas trajetórias elípticas circulares. No mundo subatômico, tudo indica que as partículas também estão presas às suas órbitas circulares. Não podemos esquecer do óvulo, que é a mãe da humanidade. Um dos aspectos do círculo que mais me fascina e que sinto dentro de mim, talvez seja o elemento mais importante, é a questão da continuidade, do “loop”, da repetição. E se há repetição, há movimento, frequência e, de certa forma, é vida que não tem começo e nem fim. Infinito. Eternidade.
Próximo aos meus pés, vejo no chão duas folhas verdes e amareladas nas pontas. Como elas chegaram ali, não sei, pois não as tinha notado antes. Curvo-me para a frente e observo-as atentamente, notando que são desagradavelmente iguais. O amarelo envelhecido obedece padrões idênticos, as veias alastrando-se pelas folhas seguindo em ambas os mesmos caminhos, como se estivessem tentando irrigar dois cérebros, ainda um pouco esverdeados, porém já mortos.
Que incrível! Tudo é tão estranho e irreal, sintético mesmo. Tão perfeito que machuca. E perfeição é outra coisa que só existe na mente. Um círculo perfeito. Será que Deus é um círculo, uma força em movimento, algo sem começo e sem fim? Algo que só existe na mente, preciso como uma fórmula matemática. Perfeito em sua intransigência contra a imperfeição, no radicalismo do não retorno. Perfeito na impossibilidade da compreensão...
Como absorver a perfeição dentro de algo tão imperfeito e finito como nós?
Mergulhado no silêncio dos meus pensamentos, mas com as veias esverdeadas daquelas folhas alastrando-se no meu cérebro, buscando caminhos como a água da chuva na terra seca, sou lentamente trazido à tona pelo som da cadência rítmica dos corredores que se aproximam.
Tique, taque, tique, taque...
Como um pequeno comando militar, cinco homens um atrás do outro, com um sexto correndo paralelamente junto do último da fila, aproximam-se em passos largos, mas lentos, muito lentos. Mais parecem astronautas num balé coreografado andando na superfície da Lua. Seus braços em movimento sincronizado, como as engrenagens de uma antiga locomotiva com todas as suas rodas girando ao mesmo tempo. Partes de uma máquina invisível. Os homens todos nus e iguais, sem nenhum cabelo no corpo, todos com uma gota de suor na testa, escorrendo exatamente no mesmo lugar. Sem expressão, os olhos vidrados, fixados num ponto distante e inatingível. Embora eu tenha chegado a ficar à um metro deles, o grupo passou por mim sem notar a minha presença.
Estes corredores me lembraram seis manequins de vitrine, nus, esperando para serem vestidos e personalizados.
Serão Deuses? Serão todos apenas um? Músculos em movimento, correndo para completar a volta, o círculo. Deus... Círculo...
"- Dash!"
Deus... Círculo... Deus... Círculo... Deus... Círc...
"- Dash!" Repetiu a voz em sua cabeça.
Hum... Humm... Loop... Repetir... Círculo... Deus... Deus... De...
"Dash! Acorde!" repetiu a voz com mais ênfase.
Com dificuldade, como se estivesse saindo de um estado de coma, Dash reconheceu a voz melódica, tranquila e assexuada de sua SI (Servo Inteligência).
"O que você quer?" Com um amargor na boca, como se ainda estivesse preso naquele estranho sonho, Dash falou com dificuldade e mau humor.
"Não sou eu que quero. Fui instruído por você mesmo a acordá-lo exatamente às 10 horas da manhã, pois você me disse ontem que tinha que mudar seus hábitos. Você também disse que tinha chegado à conclusão de que dormir o dia todo era uma forma de fuga da realidad..."
"X, faça o favor de me deixar em paz!" Dash interrompeu sua SI bruscamente e rudemente.
Ao lado de seu colchão antigravidade, X, o nome escolhido por Dash, ficou em silêncio. X não tinha braços nem pernas e sua forma cônica, terminando com uma esfera na ponta, lembrava uma daquelas antigas esculturas funcionais feitas pelos antigos seguidores da Bauhaus. Na sua base, a mesma tecnologia usada no colchão era usada para criar um pequeno campo antigravitacional que o mantinha a poucos centímetros do solo. Movimentava-se silenciosamente de um lado para outro e sempre estava à mão para qualquer dúvida ou bate-papo. X vivia conectado permanentemente via MegaNet com a BET (Biblioteca Eletrônica Terrestre). A BET incorporava todo tipo de informação, tanto gráfica, visual como sonora. Desde a unificação da Terra, a BET, assim como a MegaNet, ganharam importância sem precedentes na distribuição de informação e conhecimento.
A verdade é que agora Dash não conseguia mais dormir. O silêncio de repente ficou insuportável e a presença muda da SI ali parada e imóvel era perturbadora. Dash observou aquela bola sem expressão e teve pena. Afinal de contas, X por meses tinha sido sua única companhia diária.
"X, me perdoe?" Dash tentou recompor-se, limpou a garganta e continuou:
"Você sabe..." E, usando sua frase favorita, acrescentou:
"Alguém tem que pagar por isso!" Dash deu uma pausa para meditar e continuou falando como se estivesse falando consigo mesmo:
"Estou aqui trancafiado há meses, só acumulando tensão, e acabo desabafando em quem está mais próximo. Se eu não espernear, ficarei louco!"
"Eu entendo." Respondeu X, acrescentando filosoficamente:
"A liberdade é uma necessidade fundamental para todos os seres humanos."
"O que você entende sobre liberdade?", Dash explodiu indignado. E, sentindo-se como uma ilha, continuou:
"Você não passa de uma..."
"...Servo Inteligência?", X interrompeu candidamente e continuou: "Percebo que você está deprimido, o que é bem natural diante das circunstâncias. Eu não sei se este é um bom momento para uma discussão intelectual, entretanto, devo salientar que uma rápida passada de olhos pelos bancos da BET mostra que antes da Grande Unificação os povos lutaram muito em busca de liberdade."
"X, você não vê que tudo é relativo! O que é "liberdade e segurança? para uns sempre representará "repressão e pobreza" para outros! De qualquer forma, você não tem ideia de como me sinto." Dash cobriu o rosto com as mãos, encolhendo-se todo ao mesmo tempo que seu corpo se virou no espaço para, em suspensão, dar as costas para X.
"Dash, com todo respeito, você está cometendo um engano. Certamente eu nunca vou poder experimentar as mesmas emoções que você. Aliás, nenhum ser humano ou mesmo SI pode. Um escritor chamado Aldous Huxley escreveu há muito tempo atrás que 'Os amantes procuram em vão unir seus êxtases isolados'. Ele também disse que 'Os mártires penetram na arena de mãos dadas, mas morrem sozinhos'. Eu acho que essas frases exemplificam muito bem o problema da transmissão de nossa experiência ou emoção para os outros. Nunca experimentarei seu sofrimento ou seu prazer, mas posso comparar com o dos outros e ter uma ideia. É mais ou menos o que vocês humanos definem como sendo ter 'empatia'."
"Tudo bem, tudo bem X. Você tem razão. Desculpe-me novamente." Dash sentia-se como um perdedor.
"Anime-se! Eu tenho a solução para o seu problema imediato", continuou X como se nada tivesse acontecido. "Dash, o que você precisa é de um bom café da manhã!"
X tinha razão, e Dash sabia disso.