Loja Rocker, Clube Rainbow São Paulo & banda Attack
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Loja Rocker, Clube Rainbow São Paulo & banda Attack
Escrito por Antonio Celso Barbieri
ROCKER Em novembro de 1980, abri uma loja na Rua João Cachoeira, no bairro do Itaim Bibi em São Paulo. Como já, à algum tempo, usando a marca Rocker, estampava camisetas de rock, naturalmente abri a loja usando o mesmo nome. Rocker era uma lojinha bem minúscula que ficava dentro de uma galeria que, na verdade, não passava de um corredor cheio de cubículos, um ao lado do outro, sempre do lado esquerdo. Quando, de manhã, abria a loja o que tinha à minha frente, o dia inteiro, era apenas um grande paredão sem janelas. Depois de algum tempo descobri que tinha caído numa cilada. Aquele ponto era um lugar morto onde pequenos lojistas, inocentes, vinham tentar a sorte para acabarem sempre perdendo tudo. Arrependi-me, profundamente, não ter aberto minha loja nas Grandes Galerias, hoje mais conhecida como Galeria do Rock. Na minha lojinha, eu vendia além de camisetas de rock, discos e moda jovem. Minha inexperiência com comércio aliada à situação da economia brasileira, com uma inflação galopante e sem controle, condenou meu sonhos à falência. Meu amigo Lido Valente, companheiro de várias aventuras anteriores, era meu companheiro de todos os dias. Ele era um tipo de sócio honorário que passava o dia comigo na loja, ajudava em tudo que era possível sem, nenhuma remuneração. Ele sabia que a minha situação e a da loja era muito difícil para poder pagar um salário para ele. A garotada roqueira preferia ir no Shopping Center Iguatemi do que ir na João Cachoeira que era um lugar mais voltado à moda feminina. Assim mesmo lá recebemos algumas visitas ilustres como Arnaldo Baptista (Ex Mutantes), Junior (Patrulha do Espaço) e Oswaldo (Made in Brazil).
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Um panfleto do Rainbow São Paulo (Agosto de 1981) |
RAINBOW SÃO PAULO Neste período inicial de luta para criar uma clientela, descobrimos que o primeiro andar da galeria estava todo vago. Aparentemente o dono da galeria não tinha tido dinheiro para finalizar a obra. Imediatamente percebi o potencial do lugar para criar um salão de rock. Como existia em USA um clube chamado Rainbow, resolvi criar um chamado Rainbow São Paulo. Seria alguma coisa bem rústica e improvisada. Basicamente rock e um lugar para dançar. Arnaldo Baptista e Barbieri no Teatro Augusta em 1981. Foto Lido Valente ATTACK Foi meu amigo Lido Valente quem sugeriu montarmos uma banda de rock para inaugurar o lugar. Eu escolhi o nome Attack. Lido, que já tocava bateria chamou seus amigos Alfredo (Fred) para a guitarra e Clovis para o baixo. O equipamento era todo nacional. A bateria foi emprestada da banda Made in Brazil e era uma Goppe de acrílico laranja que estava encostada lá no porão da casa dele. A guitarra e o baixo eram da marca Giannini. A gravação que pode ser ouvida aqui no site, a única em existência, foi feita uma semana antes da inauguração da casa. Tocamos esta música apenas 3 vezes e já gravamos, foi uma coisa crua, quase sem ensaio, à seco mesmo.
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À muito tempo, já tinha consciência das minhas limitações vocais. Justamente por isto, tinha uma certa atração pelo punk onde a técnica não era tão importante quanto a mensagem. Meu pensamento na época era simples: Se até Kid Vinil podia cantar então eu também poderia :-) O punk naquela época já estava evoluindo e lançando outros estilos como por exemplo o Ska e o New Wave. Novas banda surgiram e uma delas destacou-se pela criatividade, era a banda B52. Então naquele período ouvíamos não só muito Hard Rock, nacional e internacional, mas também, o Punk, principalmente o da banda Ramones e, o New Wave do B52. Meu vocal foi escancaradamente, tiradas as devidas proporções, cantado na linha do B52. PENDURADO NO TREM A música Pendurado no Trem é um comentário relatando minhas memórias pois, venho de uma família de ferroviários. Meu avo, alguns tios, meu pai e até meus irmãos trabalharam na antiga Estrada de Ferro Sorocabana. Viajei muito, todos os dias em trens lotados, os chamados “subúrbios”. Estes trens viajavam tão lotados que muita gente viajava pendurada do lado de fora das portas ou até sentados encima dos carros. Era, e ainda é, a vida dura do povo da periferia vindo todos os dias para trabalhar no centro de São Paulo. |
Attack: Barbieri, Clovis, Lido e Fred (1981). |
Attack: Clovis, Lido e Fred (1981) |
ATTACK Letra A.C. Barbieri Já para acordar é um sufoco Quase perco pescoço Com este trem que é um arrocho Meu dinheiro é muito pouco Solo Deste jeito muito louco E ela da bola para outro Vou fugir se não eu não agüento |
É Lido Valente quem comenta: "… aquele show que fizemos na Rocker com você cantando, eu na bateria, Alfredo na guitarra, Clovis no baixo, tenho até hoje as fotos (são as fotos aqui mostradas), custei para encontrá-las mas achei-as! Pena que a pessoa que as tirou não tinha a mínima idéia do que estava fazendo, mas não tem como negar que é você (a dita gravatinha e o colete). Obrigado por enviar-me o som do Attack, para uma gravação com quase 30 anos, está bem melhor do que imaginei! Tem atitude, o que falta hoje em dia em muita banda… ATTACK - "PENDURADO NO TREM" Escutei mais de 20 vezes a gravação (copiei no Itunes e depois no Ipod): A guitarra realmente foi Punk, com um riff característico de deboche no final dos acordes. A guitarra não era uma Fender ou Gibson, era uma Giannini estridente mesmo. O baixo com notas clássicas de rock anos 50 segurou em muitos momentos a melodia. O baixo, também foi um modelo nacional e fez bem seu papel. A bateria, se não foi boa também não foi “chá com pão”, ela faz uma entrada tipo, “banda de fuzileiros navais” que não lembro de ter ouvido antes, repetindo o feito no meio da música. A bateria emprestada, pega lá no porão do Made in Brazil, talvez precisa-se de uma afinação e ajustes mas era laranja da cor da bateria do Nazareth na época :-) O vocal combina com a letra e, o estado de “acordar muito louco” se não foi super afinado entrou na hora certa dando um ar de B52 bem diferente. O microfone Shure talvez precisasse de mais médio e agudo faltou um pouco de eco no PA sei lá. Não houve ensaio, não fizemos várias gravações para escolher a melhor, o lugar não era o recomendado para se fazer uma gravação, o gravador não passava de um pequeno gravador mono portátil que usava aquelas fitas bem pequenas cuja finalidade principal era apenas gravar entrevistas. Se não bastasse isto o mesmo ainda tinha problemas no motor com flutuação na velocidade. Resumindo, considerando-se todas as limitações, cada um de nós deu o melhor de si, deu o que sentia no coração e a música teve começo, meio e fim. O final, com a guitarra depois da bateria, achei o mais inovador, se nós tivéssemos tido chance de ensaiar certamente Attack teria sido uma grande banda. …sabe foi um tempo muito feliz… de todo meu coração obrigado, por resgatar a nossa vida.." - Lido Valente |
Attack: Lido na bateria (1981) |
Barbieri dá o nome para o Rainbow Bar!
Lamentavelmente, problemas com a polícia e vizinhança obrigaram-me à fechar o Rainbow São Paulo que não durou nem dois meses. Algum tempo depois Roberto Cruz que viria ser o vocalista da banda Chave do Sol pediria permissão para usar o nome Rainbow para uma casa de rock no Jabaquara chamada Rainbow Bar. Esta sim durou muito tempo com centenas e centenas de bandas tocando neste lugar. Alguns meses depois de fecharmos o Rainbow São Paulo, foi a vez da loja Rocker bater as botas e falir.
Antonio Celso Barbieri
Lido Valente e Alfredo P.Vercaska (Fred) em 1979.
(Qualquer semelhança do guitarrista Fred com o guitarrista Brian May é pura coincidência!)
Lido Valente em 2011.
Alfredo P.Vercaska (Fred) muito bem acompanhado no Rock in Rio Lisboa.
Tudo indica ele continua um verdadeirto rocker!