Porque, hoje em dia, o "amor" é a última coisa que você precisa quando está tentando subir na parada de sucessos.

no love
"No Love" arte feita pelo Barbieri.

Porque, hoje em dia, o "amor" é a última coisa que você precisa
quando está tentando subir na parada de sucessos.

 De Londres, Jornal The Times 20/03/2014.
Tradução e comentários: Antonio Celso Barbieri
 


Quando os Beatles lançaram, em 1967, o seu compacto All You Need is Love, ele chegou ao número um da parada de sucessos em 9 países e tornou-se referência para o amor livre pregado pelo movimento Flower Power nos anos 60.

Quase 50 anos depois, os ouvintes não estão mais interessados por letras melosas. Um time de pesquisadores que estudaram as letras de todas as canções que chegaram ao topo das paradas de sucessos nos últimos 50 anos descobriram que a palavra "love" (amor) está sendo muito menos usada do que antes. As letras das músicas de hoje em dia falam de "desespero", "ambição" e "dor".

Este estudo descobriu que, no período de 10 anos em que aconteceu o ataque às Torre Gêmeas, uma recessão paralisante e duas guerras no Oriente Médio, as letras das músicas tornaram-se focadas na "ambição" e no "individualismo" esquecendo-se do "amor" e "romance". Estes pesquisadores da Universidade do Estado da Carolina do Norte alimentaram seus computadores com as letras de todas as 100 músicas mais tocadas na listagem da Revista Billboard por muitos e muitos anos acrescentando também o nome dos temas de cada música.

Segundo David Henard, o autor líder deste estudo feito para o Jornal de Pesquisa de Publicidade, ele descobriu que, influências culturais e políticas foram os maiores temas através das décadas. Nos anos 60, "romance" e "rebelião" foram os dois temas comuns, com músicas falando de relações pessoais e temas refletindo o crescimento do movimento Flower Power e também do movimento contra a guerra do Vietnam. Já os anos 70, viram canções ainda falando de amor mas, com letras sem muito entusiasmo falando de "perda" e "rompimentos amorosos".

Nos anos 80, com o advento da New Wave e da Dance Music a palavra "love" ainda era uma das mais usadas mas, outros temas começaram a aparecer incluindo, "confusão" e "aspiração". De qualquer forma durante os anos 80 e 90, décadas em que geralmente são vistas como tempos de abundância pessoal para muitos nos Estados Unidos e Reino Unido, "perda pessoal" foi um dos temas dominantes nas letras. O estudo, sugere que, a música popular em tempos turbulentos, em termos de letras, foca sua atenção menos na perda indivídual e mais na perda coletiva e outros assuntos mais gerais. Nos anos 90, "love" não foi mais a palavra mais usada, com as músicas usando mais a palavra "baby" aparecendo em meio ao crescimento do Rap e Rhythm and Blues.

Na virada do século e nos anos que se seguiram, a palavra "love" não chegou nem entre as 8 músicas mais tocadas das paradas de sucesso que, agora, incluem as palavras "baby" (bebê), "girl"(garota), "man"(homem) e pela primeira vez até um palavrão. Além disso, depois de mais de 40 anos, a palavra "desespero" tornou-se uma palavra chave. David Henard disse que "o tema desespero foi pouco representado até a virada do século mas agora nos anos 2000 ele está dominando e, equivale ao fenômeno acontecido com as palavras "dor" e "desejo" e podem estar associados como ao clima social criado apos 9/11 (ataque terrorista às Torres Gêmeas).

Barbieri Comenta:

Uma das coisas que sempre me atraíram em Bob Dylan e John Lennon foram seus agudos sensos artísticos para retratar o social à sua volta assim como, expor publicamente suas angustias e questionamentos pessoais. Sempre vi o artista como "analistas e comentadores do seu tempo". Sempre achei a arte sem conteúdo, uma atitude burguesa sem razão de ser. Não me entendam mal porque mesmo na pintura, por exemplo, no caso do Cubismo, havia uma grande mensagem refletindo a revolução quântica e, pretendia uma mudança de paradigma onde a representação da realidade havia perdido terreno para a fotografia e, a pintura agora tinha sido libertada para explorar outros ângulos e também o próprio subconsciente do pintor. Bom, no rock nacional, fora Raul Seixas poucos músicos tiveram a coragem de, realmente, continuamente, correrem riscos e discutirem a sua realidade social com tanta força.

Quando ouvia artistas como Roberto Carlos e Rita Lee compondo músicas açucaradas, feitas sob medida para "as ovelhas" e com a única intenção de vender, não os considerava realmente artistas. Na Inglaterra conheci uma frase usada na ginástica que diz "no pain no gain" (sem dor não se ganha). Acho que esta frase também serve muito bem para a arte. Se o compositor/artista, na momento de compor, não olhar para dentro dele mesmo, a sua música parecerá falsa e não terá o poder para realmente chegar no coração das pessoas. No rock brasileiro, cansei-me de ver letras que não passavam de adaptações baratas de clássicos internacionais. Raras são as bandas que buscam no seu dia-a-dia, na sua realidade social, no que está acontecendo no mundo ao seu redor, nas suas perguntas não respondidas, nos seus choques familiares, material para sua arte. Desculpem-me mas, para mim, aquele que fica somente na sua área de conforto, não toma riscos e não discute a realidade, realmente não é um artista!!!

Comments (2)

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Quasi giá não existem artistas livres, compromissados com a arte somente. A arte virou 1 supermercado onde todos os prodottos tem seo preço. E pagasi muito caro para ser 1 prodotto vendavel.<br />O fim desta cadeia é o ouvinte, q recebe 1...

Quasi giá não existem artistas livres, compromissados com a arte somente. A arte virou 1 supermercado onde todos os prodottos tem seo preço. E pagasi muito caro para ser 1 prodotto vendavel.<br />O fim desta cadeia é o ouvinte, q recebe 1 prodotto com direcionamento, com carencia d atitude e opinião, q o leva a somente pensar a respeito d seo tema. Formasi ai 1a massa d manobra au desegio do q o mercado quer q seja cultura.<br />Sem artistas livres é impossivel ter arte.<br />Nossos livros d storia giá contavam q trovadores somente cantavam as bravatas da realeza. Somente.

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Amoras Junior
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Ol,<br />tudo q li nesta postagge tem referencia a 1 fenomeno anticquo poco recorrente nos dias d oggi: formação d opinião. Falo da opinião transformadora da qual eram capazes Dylan e Lennon, q em meio a 1 tutbilhão conseguiam compor obras-primas...

Ol,<br />tudo q li nesta postagge tem referencia a 1 fenomeno anticquo poco recorrente nos dias d oggi: formação d opinião. Falo da opinião transformadora da qual eram capazes Dylan e Lennon, q em meio a 1 tutbilhão conseguiam compor obras-primas sobre amor e ódio, transformando o pensamento d toda 1a geração.<br />Em dias atuais, vejo a troca do tema "amor" pelos temas "ambição, incerteza, medo, solidão" como o reflexo da sociedade scravizada pelo momento e incapaz d tentar afirmar alternativas. Nossos "artistas" são formatados para o mercado e somente isso.

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Amoras Junior
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Comentários

jayme firro posted a comment in Rock Brasileiro (1974/1976): Parte III
Oi Gil. Boa lembrança !. O Alpha Centaury era formado pelo Edu Rocha - percussão , (Ex Brasões), pelo Sergio Bandeira - Violão e voz (ex Albatroz) e mais duas vocalistas. ( Creio que atuaram no grupo a Clarita , Walkíria e Vera Lúcia mas não lembro a ordem de participação delas.) Assisti uma apresentação do grupo em 73 ou 74 levado pelo Edu Rocha. Eles tocavam música progressiva de altíssima qualidade entre elas lembro de uma chamada "Tunel dos Ventos" Na época eu frequentava um restaurante e antiquário chamado " Solar Dom João V " no Itaim Bibi, onde o Edu Rocha ir jantar com a Bibi Vogel que era sua parceira em um trabalho paralelo de música sul americana. Tinha um palco com piano e instrumentos onde os clientes podiam tocar após o jantar. Além da bateria e percussão ele tocava violão e assisti canjas dele nessa casa e apresentações em casas noturnas do Bexiga. Seu trabalho individual era também de altíssima qualidade assim como o do Sergio, enfim, vamos pedir para que a música deles não se perca na névoa do tempo e surja algum registro da época. Um abraço a você e a todos.
Joomla Article about 2 years ago
Barbieri, querido! Muito obrigado pelas palavras de incentivo. Super abraço do amigo Pevê.
Joomla Article about 3 years ago
Excelente lembrança Barbieri! Apesar de minha geração ter sido “a próxima da fila” sinto me beneficiado pelo movimento pro rock que esta discussão causou. Pra galera que curte as histórias e desdobramentos, e pq não dizer “desbravamentos” desta época vale recomendar o seu livro auto biográfico e o obviamente, o Livro Oculto do Rock.
Joomla Article about 3 years ago
Legal a matéria, mas Baribieri toquei no Kafka de 85 a 90 não eramos "pop rock" e nem tinhamos amigos influentes ...rs ! abrx
Joomla Article about 3 years ago
o pepe melhorou muito (TSC!) essa semana ele estava propagando (sim, de propaganda) que o talibá é a grande força anti-imperialista e revolucionária de toda história moderna... um verdadeiro fantoche de neo-fascistas euroasianos. Só uma pessoa desonesta intelectualmente defende talibã para contrapor imperialismo americano. e ele faz isso porque recebe muito bem de seus patrões de mídias estatais chinesas. Que não passam de um outro império, e este tem campos de concentração e vigilância digital totalitária sem precedentes
Joomla Article about 3 years ago
Jefferson Ribeiro Basilio posted a comment in Soul of Honor
Muito muito louco esse som amigos,tenho o cd que comprei numa loja de CDs usados a uns 20 anos atrás,nunca cansei de escutar essa sonzeira mano, que que isso cara !!! Sem palavras para esse cd,som pensarão guitarra arrastada,bateria empolgante , vocal show muito show mesmo....
Joomla Article about 4 years ago
O cd "As cores de Maria" veio num lote de cd´s misturados... como brinde. Escutei hoje e achei sensacional esse trabalho.
Joomla Article about 4 years ago
Gostei muito da história dela, cheguei até essa página porque achei o tarot dela na rua, e fui investigar de quem era. Parabéns
Joomla Article about 4 years ago
Dimensões parelalas podem existir, estamos mais perto de descobrir do que nunca
Joomla Article about 4 years ago
Penso muito parecido com voce. Sempre bom de ouvir e ler!
Joomla Article about 4 years ago
Muito bom esse material sobre essa grande banda brasileira!!! Goste muito,sensacional!! longa vida ao rock progressivo brasileiro!!!
Joomla Article about 4 years ago
Roberto Giovani posted a comment in Karisma
Um sonho so e bom quando se sonha junto. Ola Heli! Ola Rudi! Realmente vocês foram the best! Beijos e abraços de seu eterno amigo Roberto!! Rock & Roll jamais morrera pois o Karisma é uma das bandas que não deixam isso acontecer ! PAZ & AMOR SEMPRE!!!!
Joomla Article about 4 years ago
Gil Souto posted a comment in Rock Brasileiro (1974/1976): Parte III
Muito bom ! Quero ler e reler . Importantíssimos registros! Tava procurando algo sobre o Sérgio Bandeira ( do Bexiga e me deu o primeiro ácido! ) e de uma Banda que se chamava Alpha Centauri !!! Bons tempos de intensa e prazerosa loucura!
Joomla Article about 4 years ago
Caras.... estudei com ele no início dos anos 90 e com certeza um grande músico e mestre , tive a honra de acompanhar algumas sessões de gravação de seu primeiro CD e foram lições de profissionalismo e talento!!!!! Abraço Indio Manuel Marquez Prior
Joomla Article about 5 years ago
Rodolfo Ayres Braga posted a comment in Raimundo Vigna: Memórias de um b(r)oqueiro
Querido Irmão Vigna conterrâneo,amigo desde 1970...Superb batera!
Joomla Article about 5 years ago
Ouvi pela primeira vez aos 16 anos ( em uma fita k-7 que foi copiada pela molecada roqueira da cidade de Cataguases, no começo dos anos 90). Quatro anos depois consegui um CD também pirata... somente hoje aos 44 anos consegui o CD original ( presente atrasado do dia dos pais - meu filho tem 17 anos)... Simplesmente fantástico, talvez o mais rock and roll de tudo que já foi lançado no Brasil...
Joomla Article about 5 years ago
Nathan Bomilcar posted a comment in Scarlet Sky
Saudoso primo Guto Marialva. Deixou sua marca!
Joomla Article about 5 years ago
Eliana posted a comment in Tony Osanah: Um argentino bem brasileiro
Olha só... A Internet é uma mãe... Eu era superfã da Banda Raíces de América... Sou coetânea do Tony. Não sabia que ele tem essa história de vida tão linda. Eu gostaria de desenvolver um projeto desse tipo mas não sou boa o suficiente nisso. Fiquei emocionada com a história dele dando aula de música para os jovens presos. A música faz esse milagre. É por isso que amo uma boa música e, se eu pudesse, seria uma... Deus o abençoe!
Joomla Article about 5 years ago
Matéria bacana! Uma pena perder material das bandas e do evento...
Joomla Article about 5 years ago
Meu nome é Sérgio, eu sou o baterista da banda Vienna ( atualmente BLACK VIBE) e gravamos a música Sexo Arrogante, que foi feita 2 horas antes de entrarmos na sala de gravação.
Joomla Article about 5 years ago
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