Contracultura: A outra face da sociedade moderna!

peace signO simbolo da paz, foi criado e usado pela primeira vez no Reino Unido, na Campanha Para o Desarmamento Nuclear e acabou transformando-se no mais importante símbolo da contracultura nos anos 60. Nos Estados Unidos e Canadá este símbolo também virou sinónimo de oposição à Guerra do Vietnam


Por uma Nova Contracultura
escrito por Antonio Celso Barbieri

O que é contracultura?

Muito embora, na minha juventude eu tenha sentido “na pele” o que foi a contracultura, nunca tive a necessidade de explica-la, de transformar em palavras o seu significado. Exemplos de nomes de músicos, escritores  e personagens da contracultura nunca me faltaram mas, com o tempo, percebi que o conceito de contracultura  acabou fundindo-se de forma leviana com a do Movimento Hippie. Portanto, suponho que este problema de transformar a nossa experiência em palavras não seja um problema só meu. Minha geração viveu a contracultura, são veteranos e portanto provavelmente não sentem a necessidade de falar sobre ela, mesmo porque, aos olhos desta nova geração que está aí, somos “os dinossauros” os “velhos hippies”. Bom, para criticar, temos que conhecer primeiro! Acho importante reconhecermos que o movimento contracultural mundial foi realmente revolucionário e suas marcas estão presentes até hoje. 

Este artigo que transcrevo abaixo, surpreendentemente foi publicado no Brasil em junho de 1974 no auge da Ditadura Militar. É incrível que ele tenha conseguido ser publicado. Também, o leitor perceberá que não existe nenhuma referência ao comunismo e até a palavra capitalismo não é citada. 

Hoje em dia, uma visão sociológica da contracultura certamente usaria a palavra “processo” dentro de uma visão quântica porque certamente a contracultura como mostra o artigo abaixo não surgiu do nada.



Precisamos de uma  Nova Contracultura?

Sim! Acredito que nossa rápida entrada neste “universo online” acelerou o processo da perda da individualidade, perda da privacidade, criou uma demanda viciante por tecnologia e certamente causará uma baixa do nível intelectual da população. Como recentemente declarou os escritor e mestre de semiótica Umberto Eco, estamos vivendo apenas com a “memória de curto prazo”. O passado não tem mais relevância e infelizmente sem o conhecimento do passado nunca criaremos um futuro melhor. O problema hoje em dia não é “informação”. Com o advento da Internet, informação é o que não falta! O duro é filtrar esta quantidade absurda de informação para encontrarmos nela “o conhecimento” que nós permitirá evoluir como Seres Humanos.



Infelizmente a ganância capitalista pelo lucro fácil, transformou os meios de comunicação numa cultura de celebridades sem nenhum valor cultural. Os alunos das universidades viraram apenas fonte de renda e milhares e milhares de profissionais de baixo nível são formados e colocados no mercado de trabalho todos os anos. Este profissionais sem cultura, acabaram chegando nas áreas de comunicação de massa e obviamente gerando conteúdo de baixa qualidade que por sua vez participará da formação de uma nova geração de incompetentes e assim por diante numa espiral negativa sem fim. Desta forma, a idiotocracia virou uma instituição. À um bom tempo atrás quando entrevistei Alice Cooper perguntei para ele como estava a arte de chocar. Sua resposta foi: "Como posso chocar álguem quando todo dia a CNN mostra filas de gente morta esticada pelo chão. Os artistas hoje vivem do rumor e do culto da celebridade!"

Pense desta forma: Olhe em volta e veja tudo ao seu redor. Esta tela que você esta usando para ler esta matéria foi primeiramente “pensada”, concebida dentro do cérebro de alguém antes de ser criada, a roupa que você veste, a casa onde você mora, os prédios, carros nas ruas e até as próprias ruas, etc. Foi tudo antes pensando. imaginado primeiro por pelos Seres Humanos. Quer dizer, só com o poder da nossa mente construímos o mundo em que vivemos. Agora, não satisfeitos com o “mundo real” estamos construindo um “mundo virtual digitalizado”. Para nos adaptarmos à este novo mundo, estamos mudando, com implicações não muito claras quanto ao nosso futuro e a evolução da nossa sociedade neste planeta. Fico até pensando se o “mundo real” é real mesmo!



Nunca achei que a solução para os nossos problemas seja colocar um freio no progresso. Muito pelo contrário mas, acho que é importantíssimo manter uma visão e atitude dialética onde possamos manter sempre a sociedade em cheque para nunca, de forma nenhuma, perdermos a nossa humanidade. Considere esta matéria abaixo como mais uma pequena contribuição minha para que tenhamos um futuro melhor.







Antonio Celso Barbieri

hippie art
Arte Hippie ou Arte Pop?

Contracultura
A outra face da sociedade moderna

Texto publicado no “fascículo de Cultura Moderna da revista MM em junho de 1974


O repúdio das gerações jovens à “coisificação” do indivíduo produzida pela sociedade de massas, origina o fenômeno da “contracultura”, fascinante e contraditório, que aspira configurar uma nova “consciência”.

Quando a geração mais jovem começou produzir sua própria realidade, procurando diferenciar-se de seus pais, a contracultura se transformou numa verdadeira recusa de toda a ordem social existente, levantando bandeiras políticas e colocando nas formas econômicas a causa da alienação e infelicidade humanas. Esses propósitos foram veementemente manifestados nas grandes concentrações públicas, que conseguiram reunir milhares de jovens de todo o mundo.

Se um traço parece ser distinto entre a década passada (nota do Barbieri: a matéria provavelmente refere-se aos anos 60) e o começo da década presente (anos 70) é aquele que como regra geral tem sido chamado de “rebelião juvenil”. Esse conceito, amplo e ambíguo, define uma das problemáticas mais palpáveis da realidade contemporânea e se explica por meio de dois fenômenos simultâneos em sua manifestação e justapostos em suas consequências: a nova consciência e a contracultura.

Atrás dessas denominações genéricas e um tanto difusas há, todavia, uma realidade inquestionável e um denominador comum: a repulsa das gerações mais jovens a tudo aquilo que seja tradição, padrões estabelecidos, normas inflexíveis, valores universais e definitivamente válidos.

Como forma peculiar de manifestar sua oposição ao sistema vigente, a juventude começou a produzir uma série de fenômenos  que, em termos antropológicos entram no amplo campo da cultura: anarquia no vestir (as primeiras tentativas de cabelo comprido e roupa desmazelada realizadas pelos jovens norte-americanos da década de 50), relaxamento dos costumes e das relações (expressas plenamente com o movimento  hippy, também conhecido como “hippie”), ruptura com os padrões artísticos aceitos por anos (aparecimento da “pop”, da “op” e outras anárquicas expressões de arte contemporânea) e, por último, questionamento da ordem social e econômica imperante (a crítica social do alemão Herbert Marcuse, que fundamentou as rebeliões estudantis de Paris em 1968).

Em síntese, a contracultura procura, de uma forma ou de outra, colocar um fim na ordem aprazível, na qual se havia encastelado o mundo ocidental e abrir-se em relação a um universo de dimensões e proporções desconhecidas, que ao mesmo tempo atrai e repugna. 

vietnan protest
Protesto contra a Guerra do Vietnam os jovens passam a contestar!

Tecnocracia e contestação



Logo ao término da Segundo Guerra Mundial, à medida que se afirmava a hegemonia internacional dos Estados Unidos, os padrões culturais dessa poderosa nação começaram a reger os desejos de todo o mundo ocidental. Assim, os ideias de “progresso sustentado”, “modernização constante”, “racionalização plena”, “planejamento absoluto” e outros similares, converteram-se em imperativos, indissoluvelmente ligados às esperanças de segurança social, felicidade individual, adequada relação entre homens e recursos, em suma, às esperanças que despertaram o fim dos horrores da guerra. 

O formidável desenvolvimento tecnológico e os assombrosos feitos da ciência, assim como o elevado nível de vida e a esplêndida satisfação de necessidades 
  de que desfrutou a população norte-americana durante os primeiros anos da década de 50, fizeram supor que aqueles ideias estavam a ponto de serem alcançados e que havia um único caminho para isto: a recém-institucionalização tecnocrática. Em termos sociológicos, esta é a forma em que a sociedade industrial avançada concebe todo o seu sistema organizativo. 

Segundo Theodore Roszak, o grande segredo da cega aceitação que durante muitos anos provocou a tecnocracia é a sua capacidade de convencer, sobre a verdade de três premissas que são fundamentais:

1. As necessidades vitais do homem são de caráter puramente técnico. Os requisitos da condição humana, portanto, podem ser adequadamente entendidos e resolvidos por meio de um sistema de análises e de um método operativo que se sustenta nesta afirmação.

2. A análise e a interpretação das necessidades do homem, assim como a sua satisfação programada, resultam infalíveis em 99% dos casos. Desta maneira, a tecnocracia instaura o princípio de que unicamente submetendo-se a seus ditados o homem encontrará progresso, segurança e bem-estar, inclusive ao preço de uma progressiva despersonalização e perda de responsabilidade.

3. Os especialistas da tecnocracia – habitualmente chamados tecnocratas, fazem parte de uma espécie de céu de eleitos que lhes possibilita não apenas o conhecimento das leis sociais, mas, também, e isso talvez seja o mais importante, uma elevada posição dentro do “status” existente. É fundamental, pois, alcançar, de qualquer forma, esta posição de privilégio.

Apesar do êxito inicial que tiveram esses postulados, logo a seguir algumas mentes começaram a assinalar, de forma isolada e até quase incoerente, os perigos que semelhante ordem social acarretava: perda da individualidade, alienação em função de um consumo crescente e desnecessário, incapacidade de tomar determinações pessoais e absoluta desvinculação dos centros de poder com a  massa da população.

Não obstante essas advertências, formuladas por pensadores como Norman Mailer, Herbert Marcuse, Henry Lefebre e Jean Paul Sartre, entre outros, os adultos dos anos 50 aceitaram passivamente a nova realidade social que se lhes estava impondo e deixaram a função de denúncia nas mãos de reduzidos grupos de intelectuais ou universitários. 

Alguns focos de rebeldia, marcados sobretudo pelo existencialismo sartreano começaram, não obstante, a propagar-se pelos países mais devastados da Europa e pelas cidades mais populosas dos Estados Unidos. Quem foram estes rebeldes? Como manifestaram sua insatisfação? Basicamente se tratou de artistas que que utilizaram diversos meios de expressão para tornar público seu desagrado, seu “fastio intelectual” como diziam alguns.

Na França, por exemplo, o movimento existencialista encontrou seu expoente máximo na cantora Juliette Greco que, sem nenhuma maquiagem ou vestuário especial, cantava temas onde o sonho de um mundo sem guerras e livre de opressões econômicas era um tema constante.  Nos Estados Unidos, o novelista Jack Keruac e o poeta Allan Ginsberg  postularam uma possibilidade redentora através da cultura oriental, até então completamente ignorada no ocidente.

Outros nomes, mais ou menos memoráveis, poderiam ainda serem citados. O jovem James Dean, por exemplo, construiu dentro do mundo cinematográfico o paradigma do inconformismo para muitos jovens do mundo todo. Outro ator, Marlon Brando, instaurou do mesmo modo a violência incontrolável como meio de manifestar repugnância em relação à sociedade norte-americana. O quase adolescente Andy Warholl, por seu lado, destruiu os clássicos moldes da expressão plástica e inaugurou um caminho que ainda transita com singular popularidade.

Todos, entretanto, não chegaram a se constituir em mais do que precursores do que apenas 20 anos depois seria um fenômeno de dimensões universais e de proporções incontroláveis: a contracultura em nível massivo e popular. Qual era – e qual é – seu objetivo primordial? Pode-se resumir nos seguintes postulados: 

“Opor à arregimentação da tecnocracia um mundo mais espontâneo, onde os indivíduos tenham um amplo campo de esclarecimento, onde as responsabilidades individuais e sociais sejam plenamente assumidas, onde o consumo deixe de ser o centro da vida de milhões de pessoas, onde os sentimentos humanos possam ser expressos livremente, onde os instintos do homem, finalmente, possam ser satisfeitos, sem nenhum tipo de condicionamento cultural.”

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Festival de Woodstock em 1969 ajuda a revelar para o mundo uma nova sexualidade.

Eros e civilização

Com efeito, desde que Sigmund Freud afirmou ser a base de toda a organização social o controle do “princípio do prazer” em nome da civilização, foram muitos os estudiosos que postularam a necessidade de que o homem, para ser autenticamente tal, devia livrar-se das pressões provocadas pelas sociedades que ele mesmo criara. 

Assim, o psicanalista, Wilhem Reich foi um dos primeiros, da década de 30, em insistir sobre a necessidade  de uma absoluta liberdade sexual: abolição da relação por casal, substituindo-a pela relação múltipla; ruptura com tabus sobre adultério e virgindade; liberação das travas que, através do sexo, a sociedade impõe, obstruindo o desenvolvimento da mulher; e reconhecimento humanitário da homossexualidade e bissexualidade em lugar de puni-las legalmente. Em suma, um catálogo de propostas de liberdade irrestrita na ordem erótica que, segundo afirmava Reich, haviam de conduzir à libertação total do ser humano.
Outro adulto, científico também, formado muito intimamente com a escola freudiana, é o alemão Herbert Marcuse, que recuperou como centro de seus estudos a oposição entre Eros e a Civilização  e cujos escritos políticos foram a bandeira teórica das rebeliões estudantis de Paris em 1968.


Mas, seria na volumosa obra de Jean Paul Sartre que essas – e outras – afirmações contra um regime social que os estudiosos consideram injusto, encontraria sua mais explosiva formulação e seus primeiros resultados práticos.

A força com que essas teorias se afirmaram entre a juventude dos anos 50 foi expressa por meio de profundas cabeleiras masculinas, os primeiros sinais de descuido no vestir, os tímidos intentos de uma moral menos puritana e mais liberal, o nascimento dos movimentos femininos de liberação e, muito especialmente, as expressões artísticas que denunciavam como complacentes e alienadas tudo o que havia sido feito até então.

Autores como Jean Genet, Albert Camus, Eugene Ionesco, Samuel Becket e os já mencionados Keruac e Ginsberg, expressaram através de suas obras teatrais, seus poemas e suas novelas, essa sensação de absurdo e essa espécie de insatisfação total ante os termos em que se concebia a vida na sociedade ocidental. Em todas as produções, como aríete, o sexo era o tema dominante.

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O congestionamento para chegar ao Festival de Woodstock.

A explosão juvenil



Mas, em mais de um sentido, essa atividade contra cultural continuava sendo eminentemente “cultural”. Eram produzidas por homens adultos e consumidas por intelectuais sofisticados. De fato, permanecia marginalizada em cenáculos de especialistas e não alcançavam nenhum tipo de transcendência massiva.

Foi necessário, pois,  que a geração mais jovem, a que nasceu por volta de 1940, começasse a produzir sua própria realidade, procurando diferenciar-se de seus pais. Nesse momento a contracultura se transformou numa verdadeira recusa de toda a ordem social existente, mas não fez, como no caso do existencialismo, em nome de um mero protesto individual, mas sim levantando bandeiras políticas e colocando nas formas econômicas a causa da alienação e infelicidade humana.

A quase ingênua rebeldia do Rock’n’Roll deixou lugar à revolução musical simbolizada pelos Beatles. Sons novos, ritmos incoerentes, bailes sem normas, canções com letras onde o amor livre e o relacionamento com a natureza eram uma constante, identificaram-se com o uso de roupas  não convencionais, com impressionantes cabeleiras e com atitudes desconcertantes.

Ao mesmo tempo, os setores mais inconformistas  procuraram segregar-se do corpo social que com relativa elasticidade havia acabado por aceitar e absorver aquilo tudo simbolizado pelos Beatles, formando pequenas comunidades, de autonomia autossuficiente, onde colocavam em prática uma série muito confusa de noções que caíram sob o denominador comum de “hippismo”.

Simultaneamente, também o mundo da arte acadêmica rompia as comportas e os movimentos radicais (pop, op, cinético, etc.) começaram a suceder-se vertiginosamente. As drogas como estimulantes na obtenção de sensações desconhecidas e a busca de verdades absolutas nas tradições orientais do budismo e a cultura foram, finalmente, os pontos culminantes e unificadores dessas tendências díspares. 



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Um dos muitos ônibus psicodélicos dos anos 60 sugerindo a vida em comunidade.

Um balanço revelador



Que é, em suma, o que trouxe de novo a contracultura?



Em tal sentido, o Institute of Social Research (Instituto de Pesquisa Social), de Nova York elaborou o seguinte esquema que, a título de balanço provisório, tenta traçar um sintético panorama das regaras abarcadas pela contracultura e seus efeitos mais visíveis na vida cotidiana:

1. Uma arte em caos permanente.
À convencional visão da arte ordenada e organizativa, a contracultura apôs, com melhores resultados, a noção da anarquia e o caos como fundamentos da produção artística.

2. Uma moral psicodélica.
Nada do que foi dito teria sido possível sem o prévio aparecimento de uma nova moral, mas essa também não teria se consolidado se não tivesse havido no terreno artístico a experiência psicodélica. A utilização consciente das drogas, a investigação a fundo dos sentidos, a ruptura do mundo das formas, cores e sons, permitiram aos contestatários suspeitar que a moral devia estar regida por valores em constante movimento.

3. O sexo como instrumento político.
A partir de Freud e de acordo com as investigações de vários psicanalistas, considerou-se que a repressão sexual da sociedade ocidental encobria sob suas normas morais e religiosas uma verdadeira repressão ideológica. A contra cultura arremeteu, através da defesa de todo tipo de sexualidade e, especialmente, dos movimentos de liberação feminina, contra a concepção, afirmando-se inequivocamente a “a função política do sexo”.

4. A busca do infinito perdido.
Tanto a análise do interior da sociedade como as informações oferecidas por especialistas em cultura oriental permitiram que a contra cultura levantasse como bandeira de luta a necessidade de admitir a existência de um vazio “de um infinito aterrador, onde o homem encontra a medida de si mesmo e dá um sentido verdadeiro à vida”.

5. A economia a serviço do homem.
Este é possivelmente o campo onde a contracultura logrou menos resultados diretos. Com efeito, nem as comunidades hippies, nem os atos de rebeldia estudantil, propuseram um sistema econômico que substituísse os existentes, limitando-se a criticar os resultados que estes motivam. Em troca, essa crítica radical e violenta originou uma série de revisões nos planos de economia mundial que, a título provisório, parecem indicar uma tendência generalizada em direção à “humanização” da economia. (Nota do Barbieri: como hoje bem sabemos o capitalismo reagiu e os neo conservadores no poder estão conseguindo anular todas as conquistas liberais deste período!)

6. Desmistificação da cultura.
Este item, segundo os especialistas, foi onde “se alcançou os resultados mais eficazes e revolucionários”. Contra o que consideram uma noção elitizante da chamada Alta Cultura, o movimento juvenil, dizem, “impôs, uma  concepção definitivamente democrática onde a cultura sem letra maiúscula e sem qualificativos é patrimônio comum a todos os homens”. Não se trata, acrescentam, da conhecida “cultura de massas” mas, pelo contrário, “de uma cultura destinada a satisfazer autenticamente as necessidades expressivas do ser humano”.

7. Objetividade contra mitologia.
Como resultado total da tarefa destruidora empreendida pela contracultura, a objetividade aparece como a contrapartida dialética da mitologia fundamentada na tecnocracia. Assim, enquanto as gerações adultas continuam crescendo em eficácia, no progresso constante, nas vantagens de uma crescente industrialização, a gente jovem renega não apenas essas crenças; consideram-nas “mitos modernos”, que ocultam a dinâmica da história, subtraem do indivíduo a capacidade de fabricar seu próprio destino, oferecem uma visão pessimista da realidade. 







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Foto emblemática do Festival de Woodstock que acontece no auge do Movimento Hippie.

Exploração da utopia



Como todo movimento social que se define no curso da ação social e que justifica, “a posteriori”, sua inexistente base ideológica, a contracultura alcançou uma espécie de clímax em que tudo parecia possível e começou logo a declinar, a retrair-se em seus próprios efeitos. Esse momento culminante foi o marcado pelas rebeliões estudantis ocorridas na Europa durante 1968 e cujos ecos tardios (por exemplo o festival de Avándaro) na América Latina, apenas lograram ocultar o acaso de uma década marcada  a fogo pela ideia da revolução.

Depois deste estalo brutal, a contracultura começou a depurar suas próprias filas, a integrar-se pacificamente no sistema que combate e ao qual impôs, sem dúvida, radicais transformações. Chegou então a hora dos balanços, do acerto de contas. E é nesse processo que se encontram atualmente seus teóricos mais importantes. Herbert Marcuse, por exemplo, dono de uma atividade criadora assombrosa, foi o primeiro a revisar muitas de suas concepções e a formular novas propostas a favor de um mundo melhor. Os radicais norte-americanos deixaram para trás o arrebatamento de Ginsberg e procuraram, através dos trabalhos de Noam Chomsky, uma base teórica que torne operativa a contracultura espontânea de estudantes e gente jovem em geral. Os artistas, que com tanto fervor romperam fronteiras durante a década passada, começaram a fixar novas metas e, a moral, tão ferozmente combatida, parece renascer sobre a base de conteúdos diferentes e formas originais.



Tudo indica, em seu conjunto, a síntese das experiências vividas e a formulação, partindo delas, de objetivos transformadores em escala mundial. O processo se verifica à margem de organismos oficiais e de sistemas institucionalizados, não reconhece nenhuma orientação precisa e se identifica, em todas as partes, como uma nova e vigorosa exploração da utopia.

Texto publicado no
fascículo de Cultura Moderna
da revista MM em junho de 1974

woodstock poster
O cartaz do Festival de Woodstock

Comments (1)

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Barbieri, saberia dizer quem foi o autor deste artigo?<br />Obrigado<br /><br />Barbieri Responde:<br />Oi Rafael<br /><br />A introdução do texto é minha. O texto principal chamado Contracultura - A outra face da sociedade moderna foi...

Barbieri, saberia dizer quem foi o autor deste artigo?<br />Obrigado<br /><br />Barbieri Responde:<br />Oi Rafael<br /><br />A introdução do texto é minha. O texto principal chamado Contracultura - A outra face da sociedade moderna foi originalmente publicado no fascículo de Cultura Moderna da revista MM em junho de 1974. O texto não mencionava o autor portanto só posso supor que tenha sido do editor da revista que, infelizmente não tenho o nome… Talvez se você buscar pela revista MM. <br /><br />Este texto, guardei no meio de um livro e só muitos anos depois que reencontrei-o novamente. <br /><br />Se quer reproduzi-lo não me oponho e nem acho que os autores farão alguma oposição.<br /><br />Obrigado pelo interesse!<br /><br />Um abraço<br /><br />Celso Barbieri

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Rafael
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Comentários

jayme firro posted a comment in Rock Brasileiro (1974/1976): Parte III
Oi Gil. Boa lembrança !. O Alpha Centaury era formado pelo Edu Rocha - percussão , (Ex Brasões), pelo Sergio Bandeira - Violão e voz (ex Albatroz) e mais duas vocalistas. ( Creio que atuaram no grupo a Clarita , Walkíria e Vera Lúcia mas não lembro a ordem de participação delas.) Assisti uma apresentação do grupo em 73 ou 74 levado pelo Edu Rocha. Eles tocavam música progressiva de altíssima qualidade entre elas lembro de uma chamada "Tunel dos Ventos" Na época eu frequentava um restaurante e antiquário chamado " Solar Dom João V " no Itaim Bibi, onde o Edu Rocha ir jantar com a Bibi Vogel que era sua parceira em um trabalho paralelo de música sul americana. Tinha um palco com piano e instrumentos onde os clientes podiam tocar após o jantar. Além da bateria e percussão ele tocava violão e assisti canjas dele nessa casa e apresentações em casas noturnas do Bexiga. Seu trabalho individual era também de altíssima qualidade assim como o do Sergio, enfim, vamos pedir para que a música deles não se perca na névoa do tempo e surja algum registro da época. Um abraço a você e a todos.
Joomla Article about 2 years ago
Barbieri, querido! Muito obrigado pelas palavras de incentivo. Super abraço do amigo Pevê.
Joomla Article about 3 years ago
Excelente lembrança Barbieri! Apesar de minha geração ter sido “a próxima da fila” sinto me beneficiado pelo movimento pro rock que esta discussão causou. Pra galera que curte as histórias e desdobramentos, e pq não dizer “desbravamentos” desta época vale recomendar o seu livro auto biográfico e o obviamente, o Livro Oculto do Rock.
Joomla Article about 3 years ago
Legal a matéria, mas Baribieri toquei no Kafka de 85 a 90 não eramos "pop rock" e nem tinhamos amigos influentes ...rs ! abrx
Joomla Article about 3 years ago
o pepe melhorou muito (TSC!) essa semana ele estava propagando (sim, de propaganda) que o talibá é a grande força anti-imperialista e revolucionária de toda história moderna... um verdadeiro fantoche de neo-fascistas euroasianos. Só uma pessoa desonesta intelectualmente defende talibã para contrapor imperialismo americano. e ele faz isso porque recebe muito bem de seus patrões de mídias estatais chinesas. Que não passam de um outro império, e este tem campos de concentração e vigilância digital totalitária sem precedentes
Joomla Article about 3 years ago
Jefferson Ribeiro Basilio posted a comment in Soul of Honor
Muito muito louco esse som amigos,tenho o cd que comprei numa loja de CDs usados a uns 20 anos atrás,nunca cansei de escutar essa sonzeira mano, que que isso cara !!! Sem palavras para esse cd,som pensarão guitarra arrastada,bateria empolgante , vocal show muito show mesmo....
Joomla Article about 4 years ago
O cd "As cores de Maria" veio num lote de cd´s misturados... como brinde. Escutei hoje e achei sensacional esse trabalho.
Joomla Article about 4 years ago
Gostei muito da história dela, cheguei até essa página porque achei o tarot dela na rua, e fui investigar de quem era. Parabéns
Joomla Article about 4 years ago
Dimensões parelalas podem existir, estamos mais perto de descobrir do que nunca
Joomla Article about 4 years ago
Penso muito parecido com voce. Sempre bom de ouvir e ler!
Joomla Article about 4 years ago
Muito bom esse material sobre essa grande banda brasileira!!! Goste muito,sensacional!! longa vida ao rock progressivo brasileiro!!!
Joomla Article about 4 years ago
Roberto Giovani posted a comment in Karisma
Um sonho so e bom quando se sonha junto. Ola Heli! Ola Rudi! Realmente vocês foram the best! Beijos e abraços de seu eterno amigo Roberto!! Rock & Roll jamais morrera pois o Karisma é uma das bandas que não deixam isso acontecer ! PAZ & AMOR SEMPRE!!!!
Joomla Article about 4 years ago
Gil Souto posted a comment in Rock Brasileiro (1974/1976): Parte III
Muito bom ! Quero ler e reler . Importantíssimos registros! Tava procurando algo sobre o Sérgio Bandeira ( do Bexiga e me deu o primeiro ácido! ) e de uma Banda que se chamava Alpha Centauri !!! Bons tempos de intensa e prazerosa loucura!
Joomla Article about 4 years ago
Caras.... estudei com ele no início dos anos 90 e com certeza um grande músico e mestre , tive a honra de acompanhar algumas sessões de gravação de seu primeiro CD e foram lições de profissionalismo e talento!!!!! Abraço Indio Manuel Marquez Prior
Joomla Article about 5 years ago
Rodolfo Ayres Braga posted a comment in Raimundo Vigna: Memórias de um b(r)oqueiro
Querido Irmão Vigna conterrâneo,amigo desde 1970...Superb batera!
Joomla Article about 5 years ago
Ouvi pela primeira vez aos 16 anos ( em uma fita k-7 que foi copiada pela molecada roqueira da cidade de Cataguases, no começo dos anos 90). Quatro anos depois consegui um CD também pirata... somente hoje aos 44 anos consegui o CD original ( presente atrasado do dia dos pais - meu filho tem 17 anos)... Simplesmente fantástico, talvez o mais rock and roll de tudo que já foi lançado no Brasil...
Joomla Article about 5 years ago
Nathan Bomilcar posted a comment in Scarlet Sky
Saudoso primo Guto Marialva. Deixou sua marca!
Joomla Article about 5 years ago
Eliana posted a comment in Tony Osanah: Um argentino bem brasileiro
Olha só... A Internet é uma mãe... Eu era superfã da Banda Raíces de América... Sou coetânea do Tony. Não sabia que ele tem essa história de vida tão linda. Eu gostaria de desenvolver um projeto desse tipo mas não sou boa o suficiente nisso. Fiquei emocionada com a história dele dando aula de música para os jovens presos. A música faz esse milagre. É por isso que amo uma boa música e, se eu pudesse, seria uma... Deus o abençoe!
Joomla Article about 5 years ago
Matéria bacana! Uma pena perder material das bandas e do evento...
Joomla Article about 5 years ago
Meu nome é Sérgio, eu sou o baterista da banda Vienna ( atualmente BLACK VIBE) e gravamos a música Sexo Arrogante, que foi feita 2 horas antes de entrarmos na sala de gravação.
Joomla Article about 5 years ago
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