Divagações holísticas sobre arte e ciência
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Divagações holísticas sobre arte e ciência
Por Antonio Celso Barbieri
Por toda minha existência, venho colecionando ideias e conceitos e, usando estas ideias e conceitos para tentar entender a realidade à minha volta. Sempre procurei analisar e filtrar toda informação que me chega, buscando ler até nas entrelinhas da minha própria razão, questionando tudo e eu mesmo, buscando sempre alguma mensagem, algum código que sintetize e explique “o porque” de tudo, porque as coisas são do jeito que são.
Adquirir conhecimento, acredito, é o único desafio válido de ser perseguido durante nossa curta existência por este planeta. Aprender sempre, este é o objetivo máximo que me guia.
Sinto que quanto mais sábio, mais consciente da minha própria ignorância fico. Então, é com grande senso de humildade e respeito que tomo a liberdade de compartilhar com o caro leitor algumas das minhas descobertas batendo cabeça por esta curta e frágil existência por este planeta.
Vocês perceberão que pularei de um assunto à outro e, até parecerá que estou meio louco mas, tenham paciência e continuem comigo pois descobrirão que o uso no título desta matéria da palavra “holística” não foi em vão.
Infelizmente, por mais que tenha me dedicado, aprender música nunca foi uma tarefa natural e que pudesse ser assimilada com facilidade. Sinto-me como um “daltônico” musical. Não consigo saber se uma nota está subindo ou descendo em relação à outra. Não consigo nem assobiar uma música depois de ouvi-la. Minha memória musical é zero. Lamento que muitos professores de música nunca tenham levado à sério este problema. Quantas vezes insistiram que a solução era simples, só fazer um curso de sensibilização musical! No meu caso foi só frustração e tempo perdido!
Matemática sempre foi meu outro grande desafio. Apesar do meu interesse, só consegui acompanhar até um certo ponto. Depois disto a coisa vira um labirinto, fico perdido e não consigo mais seguir mentalmente.
Acredito que, justamente por ser um grande desafio, é que sou muito interessado em música, matemática e ciência.
Música e Ciência
Música e Ciência caminham de mãos dadas. As duas usam para descrevê-la, a mesma linguagem, aceita no mundo todo, independente de raça ou religião. Convém esclarecer que, no caso da música, além da notação musical, matemática é, de forma invisível, usada o tempo todo na definição das relações entre os tons das notas musicais.
O som é gerado pelo deslocamento do ar. Se este deslocamento de ar for repetido várias vezes por segundo gerará um tom contínuo. Usando um osciloscópio podemos medir a frequência e ver a representação da onda gerada por uma nota em particular que, como disse, é um deslocamento do ar repetido várias vezes por segundo gerando um tom contínuo. Por exemplo a nota C (Dó) média tem uma frequência de 262 Hz. Quero dizer, esta nota vibra, (oscila ou repete) 262 vezes por segundo. São 262 pulsos de deslocamento de ar separados que, nosso cérebro entende como sendo um som contínuo. Curiosamente a lâmpada que ilumina a sua sala neste momento está oscilando 60 vezes por segundo (60 Hz). Ela pisca tão rápido que não conseguimos perceber. Aqui em Londres ela pisca 50 vezes por segundo (50 Hz).
Modernismo e Pós-modernismo
Podemos dizer que em termos de “infraestrutura”, na arte, o Modernismo começou por volta de 1890 com seu pique acontecendo nos primeiros 20 anos do século que se seguiu (1900). Este foi um tempo em que a humanidade experimentou gigantescas inovações tecnológicas.
Abaixo segue uma lista mostrando a segunda onda da Revolução Industrial que tinha começado quase um século antes.
Novas Tecnologias:
• Combustão interna e motores movidos à diesel. Geradores de eletricidade movidos à turbinas a vapor.
• Eletricidade e petróleo como novas fontes de energia.
• O automóvel, o ônibus, o trator e o avião.
• O telefone, a máquina de escrever e o gravador (como as bases do escritório moderno e dos sistemas de controle).
• A produção de materiais sintéticos através da criação das industrias químicas com a fabricação de tintas, fibras e plásticos.
• A nova engenharia de materiais com o desenvolvimento do concreto reforçado, alumínio e ligas de cromo.
Comunicação de Massa e Diversões:
• Publicidade e jornais de circulação em massa (1890s).
• O gramofone (avô do toca-discos em 1877), o cinema (invenção creditada aos irmãos Lumière) e o telégrafo sem fio (inventado por Marconi em 1895, no que tudo indica, usou ideias chupadas do grande Tesla).
• Marconi e sua primeira transmissão de ondas de Rádio em 1901.
• O primeiro cinema chamado Pittsburgh Nickelodeon aberto em 1905.
Ciência:
• A genética é criada (1900s).
• Freud lança a psicanálise.
• Becquerel e o casal Curie (1897-9) descobrem a radioatividade do Urânio e Rádio.
• Rutherford derruba a física clássica do período com a criação de um modelo novo e revolucionário do átomo.
• Max Planck revela sua Teoria Quântica de energia (1900) que é revisada por Neils Bohr e Rutherford em 1913.
• Einstein lança a Teoria Especial da Relatividade em 1905 e a Teoria Geral da Relatividade em 1916.
Pensem bem, hoje nos maravilhamos muito com as inovações tecnológicas ao nosso dispor e ficamos até com a sensação de que “o futuro é agora”. Na verdade, a grandiosidade dos descobrimentos e inovações tecnológicas do princípio de 1900 foram, para o povo daquela época, tão brutais que fariam hoje os iPhones e iPads parecerem insignificantes em comparação.
Não fica difícil perceber como estas inovações do começo do século passado logicamente caminharam para desenvolvimentos pós-modernistas.
Moderno e Pós-moderno
A palavra “moderno” deriva do Latim “modo” que significa alguma coisa como “agora mesmo” portanto “pós–moderno” poderia ser entendido como “depois do agora mesmo”. Gostaria de lembrar que, é da natureza do “moderno” estar em conflito com o que veio antes. O “moderno” procura negar-se a si mesmo auto intitulando-se “pós-moderno”. Confuso né?
Bom, deixando esta discussão semântica modernista de lado, como acabei de dizer, estas inovações do começo do século passado, logicamente caminharam para desenvolvimentos pós-modernos culminando neste período com:
1) As fundações da cosmologia pós-moderna que incluem a Teoria Atômica, a Teoria Quântica e a Teoria da Relatividade que foram criadas entre 1890 e 1916.
2) O cabo de cobre telefônico sendo substituído pelo cabo de fibra ótica aumentando 250.000 vezes a capacidade de transmissão de informação possibilitando, por exemplo a transmissão de todo conteúdo da biblioteca Bodleian de Oxford em apenas 42 segundos!
Com esta infraestrutura tecnológica, o Modernismo ocupa, no mesmo período, no começo de 1900, sua primeira fase heroica de experimentação nas áreas da literatura, música, artes visuais e arquitetura.
Albert Einstein e Marx Planck
Einstein e a Teoria Geral da Relatividade
A verdade é que os cientistas, como monges, meditaram por muitos anos sobre este koan. Vejam bem o dilema, se a luz é uma partícula, então ela tem massa e, se tem massa ela é atraída pela gravidade, pode ser medida e obedece à toda uma série de leis bem conhecidas. Por outro lado, se a luz é uma onda, então ela vibra, oscila numa certa frequência e deve obedecer à uma outra série de leis relativas à uma área cientifica diversa. Aos olhos da ciência, uma coisa não poderia ser, ao mesmo tempo, duas coisas totalmente diferentes!
É interessante notar que no Ocidente, tendemos à separar as coisas nos seus elementos básicos para analisá-los. É como, assim dizer, que o conhecimento caminha da “parte” para o “todo”. Por exemplo, de forma simples, para sabermos se a água de um lago está contaminada, tiramos algumas amostras e levamos as mesmas para serem analisadas. Se aquelas amostras não estiverem contaminadas, então, concluímos que toda água do lado não está contaminada. Então, fomos da “parte(s)” para o “todo”.
Na religião Ocidental acontece uma coisa similar. Todos olhamos em direção à um Deus que está fora de nós em algum lugar distante. Porque toda nossa atenção está voltada para algo fora de nós, nos isolamos e não prestamos atenção à quem está ao nosso lado. As religiões Ocidentais pregam o individualismo. Já no Oriente, Deus está em todos os lugares, residindo dentro das pessoas. Uma pessoa sem Deus cria um desequilíbrio nesta sociedade que prega sempre a harmonia onde o equilíbrio interno e da sociedade em geral é a meta principal. Neste caso o todo é mais importante do que a parte.
Mas, voltando ao desafio colocado por Einstein e sua Teoria Geral da Relatividade, foi a Teoria Quântica quem colocou os pingos nos “is”. Sem aprofundar-me muito e cometer o erro de falar besteira, Marx Planck postulou que quando observávamos a luz, estávamos esquecendo o espaço por onde a luz transitava e, até esquecendo que nós também fazíamos parte desta experiência. Então, segundo Planck, quando a luz atravessava um “campo” ela liberava um “quantum” de energia explicando assim a dualidade partícula/onda. Ele defendia uma visão de todo, uma visão Holística do Universo.
Como nada é simples, Marx Planck também acrescentou o seu próprio Koan. Ele disse que no mundo do muito, muito pequeno, no mundo subatômico, não se pode saber exatamente onde encontra-se uma partícula. É impossível saber-se exatamente onde encontra-se por exemplo, o elétron, na sua orbita em torno do próton. Pode-se apenas dizer que “estatisticamente” ele pode estar aqui ou ali, ou em todo lugar ao mesmo tempo.
Einstein não gostou nada porque seu universo físico era “determinista”. Tudo já estava determinado. Einstein num momento de nervos desabafou: “Deus não joga dados!”
Bom, ele teve que comer seu chapéu! Pois Deus não só joga dados como deve ser viciado nisto!
Hans-Joachim Koellreutter e Arnold Schoenberg
Hans-Joachim Koellreutter
Lá por volta de 1984 ou 85, consegui entrar escondido, como aluno, num curso de pós-graduação para alunos da PUC em São Paulo. O professor foi nada mais nada menos que o gênio responsável pela introdução da música moderna no Brasil, Hans-Joachim Koellreutter. Ele nos brindou com o serialismo dodecafônico de Arnold Schoenberg e seguiu sua jornada musical direcionando-nos pelos caminhos sempre controversos da música moderna. Nesta sua jornada ele fez adoradores e inimigos nas mesmas proporções. Ele inspirou uma nova geração de músicos que ainda hoje o veneram e continuam levando para frente sua música e seus ensinamentos. Seu falecimento certamente deixou uma lacuna impossível de ser preenchida.
Uma das coisas que me marcaram muito foi que Koellreutter, apesar de ser um gênio vivo, era muito acessível e não carregava aquela atitude pedante que poderia ser esperada. O Barbieri aqui, musicalmente um quase leigo, pode conversar com ele sem nenhum problema. Para ser franco, o difícil foi conseguir espaço e, atravessar a barreira criada pelo grupo de estudantes que o seguiam por todos os lugares em que ele fosse dar palestra. Estes sim, eram um grupo formado na maior parte, por músicos petulantes e pretensiosos.
Neste curso de pós-graduação, no primeiro dia de aula, Koellreutter, para minha surpresa, considerando-se que seu curso era de música, nos indicou dois livros para leitura muito especiais. Um foi o Tao da Física (Tao significa caminho) do escritor Fritjof Capra e o outro o I Ching, O Livro das Mutações traduzido para o inglês pelo escritor Richard Wilhelm com prefácio de Carl Jung. Convém lembrar que, estes dois livros podem ser encontrados traduzidos para o nosso idioma.
O primeiro é uma pérola que compara várias religiões do Oriente com as descobertas da física moderna, mostrando que, os antigos através de suas religiões já tinham o entendimento da realidade (insight) que só agora a física das partículas está descobrindo.
O I Ching, é um tipo de oráculo milenar que responde às perguntas feitas usando moedas. Na verdade, simplesmente medito sobre o que quero saber ou então deixo que o livro decida por mim abrindo o mesmo aleatoriamente. Deixo que a “sincronicidade”, faça seu trabalho...
Sua forma de ver música era algo que podemos dizer holístico e ele não diferenciava de forma elitista nenhum tipo de música. Ele era interessado em todo tipo de música. Tanto de música étnica, especialmente da Índia como também feita por máquinas e instrumentos exóticos. Ele também naturalmente estava interessado em novas formas de partituras e notações assim como novas formas de fazer música.
Para ele, qualquer ser humano poderia fazer música e, na sua frente senti que minhas limitações musicais poderiam ser contornadas facilmente usando outras técnicas e ideias.
Recordo-me de, naquela época, tê-lo visitado na sua residência na Avenida São Luiz em São Paulo. Foi uma visita rapidíssima e não deu nem para um bom bate-papo. Mais tarde assisti uma apresentação sua com sua esposa nos vocais, misturando, ao mesmo tempo, algo lírico e vanguardista. Mais da metade do teatro era composto por alunos dele que tinham sido orientados à levar para o teatro rádios de pilhas e gravadores. Durante a apresentação desta peça num dado momento, Koellreutter que era o maestro virou para a plateia e começou reger uma sinfonia de sons que começou surgir de todas as partes do teatro numa cacofonia sonora. O efeito foi muito interessante mas, nem por isto deixou de gerar a costumeira controvérsia com alguns “puristas”, como protesto, levantando-se e abandonando o teatro.
Sempre fui bem eclético musicalmente e muito interessado nas ideias e processos por de trás do rock e da música eletrônica. Minha busca por sons estranhos ou diferentes vem de longa data. Nesta busca passei por Pink Floyd, Kraftwerk, Jean Michael Jarre, Peter Gabriel, Brian Eno, Laurie Anderson, Nina Hagen, Meredith Monk, etc. No Brasil, Mutantes abriu caminhos praticamente sozinho. Existia também o pessoal da Tropicália que explorou de forma interessante as possibilidades linguísticas mas que musicalmente, se não fosse a participação do maestro Rogério Duprat e da própria banda Mutantes, certamente não teria tido o impacto que teve. Quase como uma exceção, nós também tivemos, o trabalho marcante, criativo e muito interessante de grande Arrigo Barnabé que, à meu ver foi a única coisa realmente nova que surgiu no Brasil nos últimos 50 anos. Até hoje seu álbum Clara Crocodilo me emociona. |
Antonio Celso Barbieri
Não aprecio também alguns estilos musicais que rodam por este nosso Brasil afora, rítmos que considero de baixo nível e mau gosto.
Viajei de carona muitas vezes e os caminhoneiros sempre tocavam música sertaneja. Apesar de não ouvir em casa, sentia que esta música tinha uma história e era verdadeira da mesma forma que o Blues é. O mesmo posso dizer do samba original. Portanto respeito a música sertaneja e o samba feito pelos veteranos do passado. Entendam que, entre respeitar e ouvir em casa existe uma distância muito grande. Mas, voltando à holística e, minha busca por uma visão global das coisas vamos dar um pulo até o Cubismo. |
Plabo Picasso e Paul Cezanne
Como foi descrito aqui, o começo do século passado foi marcado por fantásticas descobertas científicas. Mesmo assim, com a descoberta do telefone, telegrafo e muitas outros avanços, uma olhada em 1907 nos faria pensar que esta época estava muito longe da “modernidade”. Nada poderia preparar o povo desta época para a primeira pintura verdadeiramente modernista, a pintura de Picasso intitulada Les Demoiselles d’Avingnon (1907).
Les Demoiselles d’Avingnon pintado por Pablo Picasso
Esta pintura, através de deformidades angulares encabeçadas por mascaras africanas mostram cinco prostitutas e, em realidade expressam o pânico de Picasso com relação à sífilis. Entretanto, o mais importante nesta pintura é que, ela proclama um modelo de anti-representação da (de)form(ação).
A verdade é que, com o surgimento da fotografia, a representação da forma passou por uma crise. A invenção da fotografia tirou a autoridade da pintura para representar a natureza. Pintar a “realidade” de repente, ficou obsoleto.
A inovação da infraestrutura tecnológica passou por cima das tradições artísticas da superestrutura. A produção em massa (fotografia) substituiu a arte feita à mão. A crise, na verdade, foi mais profunda do que este simples mas, efetivo cenário sugere. A doutrina do próprio movimento chamado Realismo estava chegando ao seu fim.
O Realismo dependia de uma teoria que espelhasse a realidade. Quer dizer, os objetos que existem fora da mente seriam representados ou reproduzidos por um conceito ou trabalho de arte de forma que o mesmo seja adequado, acurado e verdadeiro, em outras palavras, um espelho da realidade.
Cézanne: A vista contém o observador
Paul Cézanne (1839-1906) não descartou o Realismo mas, incluiu o conceito de “incerteza” nas sua percepção das coisas. A representação deveria levar em consideração a interação entre o observador e o objeto. As variações do ponto de vista e as possibilidades de dúvidas no que se vê. Cézanne tomou uma nova direção bem revolucionária pintando não a realidade mas sim a forma como percebemos a realidade.
The Great Pine pintado por Paul Cezanne
Kant Desculpem-me mas, tenho que dar uma pequena pausa aqui para falar de Kant. Muitos filósofos tentaram explicar a realidade social produzindo vários modelos sociais em trabalhos literários de caráter filosófico dando inicio à sociologia. Descartes desconfiou dos seus próprios sentidos, reconheceu a sua falibilidade e concluiu que a única certeza que ele tinha era a dúvida. Que, quando ele duvidava ele sabia que estava vivo e nos brindou com a frase Cogito Ergo Sum (Penso, Logo Existo). Com a evolução da biologia alguns pensadores passaram a ver a sociedade como um grande organismo vivo e com a Revolução Industrial outros acharam que os seres humanos nada mais eram que partes da grande máquina social. Os seres humanos deveriam encaixar-se como peças de uma engrenagem no gigantesco relógio social. Foi Kant quem virou mesa. O pensamento de Kant não é fácil de entender mas, vou tentar resumir de forma bem básica sua ideia: Ele disse que estes pensadores estavam perdendo seu tempo tentando interpretar a realidade porque a realidade é intocável. Ninguém consegue tocar na realidade pois ela existe fora de nós. Quando por exemplo olhamos para uma cadeira. Como é que identificamos este objeto como sendo uma cadeira? |
Como que, por exemplo, mesmo que esta cadeira tenha apenas um pé, ou três, ou cinco, seja de palha, de madeira, de plástico, de metal, revestida de couro ou não, em infinitos formatos, ainda assim, a reconheçamos como sendo uma cadeira? É porque temos na mente um arquétipo da “mãe” de todas as cadeiras. Este arquétipo é o resultado da “história” da cadeira de cada observador. Quer dizer, quando olhamos uma cadeira não vemos a realidade, vemos apenas a nossa história particular deste objeto. Então, quando o leitor olha para uma cadeira esta cadeira é para ele única porque é a soma de todas as cadeiras que ele viu na sua vida inteira. |
De certa forma, acho muito triste reconhecer que somos todos umas ilhas. Já dizia Huxley na introdução do seu livro Entre o Céu e o Inferno, as Fronteiras da Percepção: “Os amantes tentam em vão unir seus êxtases isolados. Os mártires penetram na arena de mãos dadas mas morrem sozinhos.”
Portanto, voltando ao Cézanne, ele tomou uma nova direção bem revolucionária pintando não a realidade mas sim a forma como percebemos a realidade. A verdade é que pintar a realidade da forma que ele percebia era a única forma válida porque como disse, segundo Kant, a realidade é intocável e a única coisa que existe é a história que é feita pelos homens (e mulheres).
O Impressionismo tinha mostrado como as aparências mudavam com a luz e eram afetadas por movimentos rápidos. Mas, isto não era suficiente. Nós não vemos as coisas como fixas mas em constante mudança. Uma arvore muda consideravelmente com uma simples e tênue mudança do angulo de visão.
Cézanne não estava somente interessado em reproduzir uma visão fragmentada e subjetiva da realidade. Ele buscava depois de criar uma fundação básica, uma teoria de campo unificada que obrigatoriamente salientasse a variação da percepção. Para isto, ele passou a usar os elementos geométricos sólidos. Na sua famosa carta de 1904 ele aconselhava: “…represente a natureza usando o cilindro, a esfera e o cone”.
Principio de Incerteza? Uma Teoria de Campo Unificado? Perceberam que Cézanne mais parecia um físico moderno!
O Principio de Incerteza foi descoberto por Werner Heisenberg (1901-1976) e formulado em 1927 como consequência da Mecânica Quântica e em simples termos diz que em medições simultâneas da posição de uma partícula sempre haverá incerteza (trata-se daquele Koan do Marx Planck a que me referi anteriormente!).
Conseguir uma Teoria do Campo Unificado foi o sonho carregado por Albert Einstein por toda a sua vida. Ele buscava demonstrar como todas as forças da natureza derivavam de uma unidade comum, uma única e última lei de ação.
Cézanne não foi um físico e, nem foram seus sucessores e herdeiros os Cubistas. O que nós temos aqui, é um daqueles raros momentos da história em que a ciência e arte chegaram, de uma forma independente, à descobrir as mesmas verdades (Insights).
Bom, por hoje é só! Não deixem de ler minha segunda parte desta matéria chamada Divagações holísticas sobre ciência e sincronicidadeonde onde procuro colocar uma luz no evento chamado Sincronicidade (clique aqui)
Atenção: Não foi minha intenção esgotar este assunto e nem tenho a pretenção de ser o dono da verdade! Por favor encarem este texto como um tipo de introdução, apenas o topo do iceberg. Adoraria saber o que vocês pensam sobre este assunto. Concordam? Discordam? Querem acrescentar alguma coisa? Desde já abro este espaço para os leitores contribuirem com suas idéias!