Carta aberta à Jack Santiago
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Jack Santiago
Carta aberta à Jack Santiago
Escrito por Antonio Celso Barbieri
Introdução
Para quem não sabe, Jack Santiago foi o competente vocalista da banda Harppia, na sua primeira formação em 1985. Nesta primeira formação, além de Jack Santiago, a banda contava com o trabalho dos guitarristas Hélcio Aguirra e Marcos Patriota, do baterista Tibério Correa e Ricardo Ravache no baixo.
Jack Santiago teve seu vocal imortalizado no seminal álbum A Ferro e Fogo lançado naquele período pela gravadora Baratos Afins. Poucos meses depois do lançamento deste álbum, irresponsavelmente a banda acabou. É típico! A gravadora investe na banda, lança um álbum e a banda acaba. É lamentável porque em 85 os custos de produção eram muito mais caros do que nos dias de hoje. Foi também uma pena porque a banda tinha muito potencial e estava em um momento importante da sua carreira.
Neste período ainda com Jack no vocal eles participaram da Praça do Rock no Parque da Aclimação, evento no qual eu era o apresentador. Na verdade não tive nenhum poder de decisão na escolha das bandas onde, o guitarrista Hélcio Aguirra era um dos organizadores do evento.
Portanto, quero deixar claro desde já que nunca produzi um show do Harppia com Jack Santiago e, para falar a verdade, nunca tivemos a oportunidade de bater um papo que fosse.
O fim da primeira formação do Harppia foi uma surpresa para todos nós. Na época correu o boato de que Jack Santiago não queria mais cantar e sim, dedicar-se ao esoterismo, estudando os trabalhos de Alex Crowley.
Eu, por outro lado já havia tido uma série de pequenos problemas com o Sr. Hélcio Aguirra.
Explico: Quando produzi o Projeto SP Metal no finado Teatro Lira Paulistana, meu acordo com o teatro envolvia usar o espaço nas segundas e terças que, eram os dias que o teatro não dava lucro, e portanto, ficava fechado. O acordo técnico e financeiro consistia no teatro fornecer o espaço, o P.A. do som, a iluminação, um técnico de som, um técnico de luz, um bilheteiro e pagar as taxas da prefeitura. O meu trabalho era arregimentar as bandas, fazer a publicidade e manter o controle logístico da situação. O bilheteiro no final do show fazia uma prestação de contas comigo e tirava do bruto 50% para o teatro.
Dentro do meu espírito socialista, dividia o resto equitativamente com os membros da banda, do qual eu também fazia parte. Quer dizer, se a banda tivesse 5 elementos então dividíamos por 6. Se a banda tivesse 4 elementos dividíamos por 5 e assim por diante.
No acordo que fiz com o teatro, dentro da minha proposta para melhorar a qualidade das bandas, nenhuma banda que participasse do projeto pagava para entrar nos shows das outras. Façam as contas: 10 bandas com 5 componentes cada são 50 músicos entrando em todos os shows sem pagar. O teatro Lira Paulistana era um teatro bem pequeno. Ele estava sempre lotado pois a metade do teatro era composta de músicos não pagantes. Vocês tem que entender que, os roqueiros brasileiros gastam uma fortuna para ir em um show de uma banda internacional mas não pagam o preço de uma cerveja para assistir uma banda nova.
Meu objetivo era permitir que uma banda tocasse dois dias seguidos (coisa rara nesta época), fosse vista e julgada por outros músicos e, ao mesmo tempo ajudasse na criação do movimento underground de São Paulo.
Recordo-me do Sr. Hélcio Aguirra insistindo para colocar a namorada dele para dentro gratuitamente. Sinto muito mas, eu já estava forçando a barra com a administração do teatro e se abrisse uma exceção para ele teria que abrir para todo mundo. Este foi o começo dos meus problemas com Hélcio.
Nunca me considerei “empresário” porque este termo foi, durante os anos desgastado, onde foi vendida a imagem de que “empresário” é tudo ladrão, abutres que vivem das bandas que estão lutando para sobreviver. Eu sempre me considerei um Produtor Artístico, mesmo porque, sempre preferi criar projetos onde muitas bandas pudessem participar.
Honestamente, eu morava sozinho e quando eu pegava a minha sexta parte, da metade da bilheteria, eu voltava de madrugada à pé de Pinheiros à Barra Funda porque o pouco que eu ganhava mal dava para pagar dois almoços simples. Eu tive que vender muitos dos meus discos queridos para poder comer. Perguntem para o Luiz Calanca!
Quando produzi o Projeto Metal, Rock e Cia no Sesc Fábrica Pompéia foi maravilhoso. O projeto levou um mês para ser organizado e, o Sesc alocou-me uma mesa com telefone e, eu ganhei um passe com validade de 1 mês para almoçar no refeitório. Neste projeto, coloquei 19 bandas para tocar e portanto ganhei 19 comissões. Tudo dentro da justiça e honestidade.
Apesar de Hélcio ser uma pessoa dificílima para trabalhar, eu liguei para e convidei-o para participar deste projeto mas, ele que obviamente se colocava como líder da banda, negou-se veementemente.
Mais tarde, quando organizei o Projeto São Power no Espaço Mambembe perto do Centro Cultural, a sua nova banda Golpe de Estado confirmou presença mas, quando Hélcio percebeu que no cartaz do show, bem pequeno estava escrito “Produção Celso Barbieri, Candidato à Deputado Estadual pelo PCB”, ele ligou para mim e disse que estava cancelando o show porque “não tocava em show de comunista”. Depois que disse, que não tinha problema porque tinha muita gente querendo tocar e que a divulgação já estava feita e a única coisa que eu poderia fazer seria colocar outra banda e, antes do show, subir no palco e repetir, palavra por palavra, exatamente o que ele tinha me dito, Hélcio relutantemente resolveu apresentar-se. Esta foi a última vez que tive qualquer contado com este músico.
Aliás, no mundo das artes e do rock em particular o que não falta é ego fora de controle. Nunca fui convidado para uma cervejinha depois do show por nenhuma banda. Fui sempre tratado como o dono da agência funerária :-)
Podemos resumir a coisa assim: Se o teatro está cheio é porque a banda é boa. Agora, se o teatro está vazio é o porque o produtor é ruim e, de qualquer forma, a banda sempre achará que o número de espectadores é o dobro do que realmente é. Muito embora eu sugerisse, nunca uma banda trouxe um membro da família para ficar na bilheteria e assim confirmar os valores.
Bom, mas, voltando ao Harppia, lá pelo final de 85 quando a banda acabou, Tibério Correa, também conhecido como Tibério Luthier, o baterista da primeira formação e também fabricante das famosas Baterias Luthier, como um Phenix ressuscitou a banda trazendo para o grupo dois guitarristas competentíssimos; Flávio Gutok e Xando Zupo. Para o baixo ele trouxe a marcação firme do Cláudio Cruz e para o vocal, nada mais nada menos, que o veterano Percy Weiss. Harppia tinha nesta nova formação, um escalão de músicos de primeira ordem, na minha opinião, bem melhores do que os músicos da primeira formação.
A verdade é que Jack Santiago, apesar de ser um competente vocalista, veterano do metal paulista, nos seus quase 30 anos de carreira é famoso apenas por uma música chamada Salém (A Cidade das Bruxas). Lamentavelmente para ele Percy Weiss é uma lenda do rock brasileiro onde seu curriculum nos seus 40 anos ou mais de rock daria para encher este site inteiro. Percy tem não só a técnica como a experiência de muitos anos na estrada.
Então, foi com esta formação maravilhosa que, no começo de 87, tive a honra de trabalhar produzindo 3 semanas de shows envolvendo 3 teatros da Prefeitura Municipal de São Paulo. Foi minha última produção antes de viajar para a Europa.
A polêmica
Sou perfeito? Claro que não! Como todo ser humano também tenho minhas falhas e limitações. Tento corrigi-las? Claro! A perfeição não existe e portanto todo dia procuro melhorar um pouco…
Tenho quase 600 “amigos” no Facebook, a nata do rock brasileiro e, recentemente passei dois dias traduzindo da revista inglesa Metal Hammer uma matéria sobre o início da carreira da banda Sepultura onde, incluí fotos raras e gravações exclusivas de minha autoria. Coloquei este material no Facebook e 3 dias depois apenas 4 pessoas tinham visitado (uma foi minha esposa e outra o amigo Marcos Rossini que, esteve lá comigo no histórico show do The Marquee Club). Naturalmente fiquei frustrado.
Bom, dias passaram e recebi com exclusividade as primeiras gravações da banda ubatubense Alanis na Cadeia. Esta banda, a qual quero deixar claro, não conheço nenhum dos seus músicos, mostrou respeito, humildade, dedicação e seu trabalho realmente ficou bom portanto, como sempre faço, ajudei-a criando uma página aqui no site e, também aproveitei a oportunidade para criar um vídeo para a sua música chamada Dança dos Fantoches. Fiz tudo por amor ao rock brasileiro e sem nenhum interesse em particular.
Mais tarde, visitei no Facebook o grupo “Metal Friends” e postei a material. Ninguém foi ver. Então postei novamente e fiz um desabafo dizendo que “não entendia o pessoal do Metal Friends que ficava “pagando um sapo” para as bandas internacionais e não prestigiava o rock nacional. Disse que, eles não deveriam reclamar que o rock nacional está morrendo porque a culpa era deles mesmos.”
Parece que meu desabafo tocou na “ferida” porque várias pessoas apareceram se defendendo. Retruquei que, o Youtube não mentia. Que era só visitar o vídeo que tinha postado no Youtube e ver o número de visitas para provar o que estava dizendo.
Não é atoa que o criador do Facebook disse que o Brasil é o país que mais polui o Facebook. O povo vai no Youtube acha algum medalhão do rock e, em 30 segundos posta no Facebook. Eles ficam trocando figurinhas mas na verdade apenas uns gatos pingados clicam nos links e realmente veem os vídeos. Eu sugeri que todo mundo adotasse uma banda brasileira e desse uma força. Na minha opinião, os roqueiros brasileiros preferem ficar fazendo comparações destrutivas ou então pecam por omissão preferindo simplesmente ignorar o rock nacional. Eu sei que que existem excessões mas, no geral, a coisa é assim mesmo!
Bom, lá no Facebook no meio da discussão, para minha surpresa, uma pessoa colocou que a razão porque ninguém clicava nos meus links era porque eu era um “arrogante e presunçoso”.
Confesso que foi como um tapa na cara. Eu nunca tinha pensado em mim desta forma. Sempre apertei a mão de todo mundo, sempre tentei ajudar à todos e abri minhas portas para muita gente, sempre me guiei por um grande senso de honestidade justiça. É lógico que quando acho que estou certo, sou cabeçudo e brigo pelas minhas ideias mas, arrogância e presunção acho que não são adjetivos que cabem neste caso. Nos meus textos tento ser sempre didático e sempre deixo um espaço em todas as matérias para receber os comentários dos leitores. Portanto, prove que eu estou errado e eu corrigirei o texto. Acreditem-me que, com quase 600.000 visitantes em todos estes anos nunca recebi uma crítica.
Foi aí que, inesperadamente, do nada, Jack Santiago entrou na conversa e começou postar comentários tipo: “Barbieri e um canastrão, ele é aquele “empresário” que roubou as bandas!”, e continuou “Veja, ele nem tem coragem de responder!”. Outro participante já acrescentou: “Jesus! Malha ele!”. Confesso que fiquei em shock paralisado e, quando tentei responder o administrador do grupo já havia me bloqueado…
Meu irmão Jorge me disse que eu não deveria me preocupar pois quando começam falar mal de alguém é porque esta pessoa já está famosa. :-)
Amigos mais íntimos sugeriram que a inveja corre solta, outros sugeriram que Jack Santiago deve ser bipolar mas, eu já acho que, neste mundo, tem gente que é simplesmente má mesmo. O que é mais assustador é perceber o poder que a Internet tem para espalhar rumores e destruir a reputação das pessoas.
Ao povo em geral e ao Jack Santiago em particular quero deixar claro:
Não sou rico, moro em Londres onde, por muitos anos desde que cheguei, fiz todo tipo de trabalho duro e comi o pão que o diabo amassou. Não tenho culpa que minha história de amor ao rock brasileiro acabou sendo resumida neste site que é a única forma que encontrei de perpetuar a minha história num país famoso por não ter memória.
Confesso à todos vocês que virei produtor de shows porque queria tocar numa banda. Infelizmente, não tinha dinheiro para comprar um instrumento e nem pagar uma escolar de música. A grande maioria dos músicos com quem trabalhei estavam sempre em melhor situação financeira do que eu. Nunca trabalhei com rock por dinheiro, sempre foi por idealismo e amor. Se, alguma vez ganhei algum foi merecido e resultado do meu trabalho! Se hoje estou bem, tenham certeza que não é devido ao rock! Minha história no rock, como a da maioria dos roqueiros brasileiros foi a de ter sempre nadado contra correnteza, ter sido mal compreendido e, no meu caso sofrido para cassete! (desculpem-me o vocabulário)
Só posso deixar aqui a minha eterna gratidão à Itália que me deu um passaporte, à Inglaterra que me abrigou, me deu uma casa, cuidou da minha saúde e deu-me condições de montar um estúdio e comprar os instrumentos que sempre sonhei. Finalmente deixo aqui registrado o meu carinho e amor à minha esposa Andrea que sinto no coração, realmente me ama.
Quanto ao Brasil, eu amo pois é a minha pátria mas, tenho que deixar claro que, nunca me deu o apoio para que eu pudesse crescer e fazer aquilo que eu realmente gostava. Às vezes sinto-me como sendo um exilado cultural!
Estou com 60 anos e, gostaria de chegar ao final da minha existência sem nenhum inimigo.
Caro Jack Santiago, ou qualquer outra pessoa que ache que tem algum assunto não resolvido comigo. Entrem em contato, mandem seus números de telefone e vamos conversar.
Nós somos seres humanos adultos! Será que, não podemos por uma pedra no passado e vivermos todos como amigos?
Antonio Celso Barbieri