Laerte Vicente: Um Poeta e "Andarilho Cultural"!
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Laerte Vicente. Digital Arte: Barbieri.
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Laerte Vicente
Um poeta e "andarilho cultural"
escrito por Antonio Celso Barbieri
Entre março e abril de 2013 em um de meus passeios pelo centro de São Paulo, quando saia da Galeria do Rock, caminhando pela Avenida São João, ao acaso, encontrei-me com uma figura histórica desta capital, um batalhador anônimo e sofredor que dedicou toda sua vida ao mundo das artes. Trata-se de uma pessoa que faz uma tarefa difícil, quase sempre pouco remunerada e, sem reconhecimento algum, cuja atividade principal é a de, praticamente de mão em mão, divulgar um show ou evento. Estou falando de Laerte Vicente.
Lá pelo começo dos anos 80, recordo-me que, Laerte podia ser visto quase todos os dias e, até altas horas da noites perambulando pelas ruas e barzinhos da cidade. Do Bexiga à Vila Madalena, da Lapa à Santo Amaro, do Jabaquara à Santana, passando por tudo quanto é teatro, clube de rock e espaço de show lá estava Laerte com uma bolsa enorme, panfletando e colando seus cartazes. Era muito comum entrarmos nos bares, restaurantes ou pizzarias e vermos uma parede repleta de cartazes anunciando shows, peças de teatros e eventos de todo tipo. Fiquem certos de que, muitos destes cartazes tinham sido ali colados pelo próprio Laerte.
Para ele, não havia serviço muito grande e nem muito pequeno para divulgar. Mesmo quando meu orçamento era tão pouco que mal dava para minha própria subsistência Laerte sempre dava um jeitinho de distribuir meus panfletos.
Portanto, encontra-lo ali na São João depois de tantos anos foi emocionante. Aquela pessoa à minha frente era parte do meu próprio passado, nostalgicamente voltando de súbito. Aliás, sempre que ando pelo centro de São Paulo sinto uma mistura de tristeza e nostalgia. Tristeza por ver uma São Paulo decadente e abandonada e nostalgia por sentir saudades de um tempo que desde já, sei que não voltará mais.
Ali na rua, durante nossa conversa, fiquei lutado para achar palavras, ainda mais porque Laerte parecia muito diferente. Laerte sempre foi um homem de poucas palavras, um tipo caladão. Mas, agora sua expressão facial além de mostrar uma dor, daquelas que parecia vir da alma, fisicamente seu rosto parecia que havia passado por um traumatismo muito forte. Foi então, que Laerte contou-me que tinha passado momentos muito difíceis. Disse que não se lembrava muito bem do ocorrido e que só podia dizer que, uma noite, voltando para casa, de repente acordou numa cama de hospital depois de passar vários dias em estado de coma. Os ossos do seu rosto estavam todos quebrados e ele teve que passar por uma cirurgia para reconstruir a sua face. Até os médicos do hospital ficaram chocados com a crueldade com que ele foi tratado pelo bandido ou bandidos. Aparentemente ele foi golpeado na cabeça pelas costas e ainda inconsciente continuou sendo agredido, tudo para roubarem uns poucos reais que ele carregava nos bolsos.
Laerte Vicente e Barbieri. Um encontro depois de 26 anos! Foto: Jorge Barbieri
(olhem nos meus olhos e vocês poderão sentir a minha dor e indignação com a maldade das pessoas)
Bom, apesar desta história muito triste, Laerte conseguiu recuperar-se e voltar à ativa. Ele continua fazendo o que sempre fez e, ao mesmo tempo, continuou dando vazão à uma paixão antiga, escrever.
O livro de poemas
No final da nossa conversa, fui presenteado com seu último trabalho, um livro de poesias intitulado Andarilho Cultural lançado pela Editora Nova Alexandria em 2010. Trata-se de um livreto bem impresso com 63 páginas e muitos poemas. Abaixo, tomo a liberdade e reproduzir dois depoimentos encontrados na capa deste livro:
“Laerte Vicente é um poeta andarilho que resiste à todos os ventos; pertence ao rol dos seres humanos que pensam ao ar livre. É poeta sem um ofício que venha fazer sombra nas suas intenções; um anti especialista. Um cidadão sensível que segue nu na cidade uniformizada, tecendo seus versos por entre o concreto e as buzinas. Wandi Doratiotto
Laert Sarrumor |
Andarilho Cultural
Eu sempre andei
e sempre estou caminhando
por minha Sampa
divulgando arte
produzida pelos músicos
por atores
que por Sampa passam
Sempre eu levo para os moradores
da minha cidade
Os melhores cantores
As melhores bandas
As cantoras que encantam o público
a peça teatral
Para as pessoas que gostam
do que há de melhor
na encenação teatral brasileira
Eu ganhei pela minha dedicação
o apelido de Andarilho Cultural
que eu adotei com carinho
e levo esse apelido com muito orgulho
Eu continuo fazendo o melhor
para levar a arte pro povo
que pelas ruas me encontram
Eu levo também a minha poesia
nos meus cartazes
em meus folhetos
Eu vou levando o meu livro de poesias
Andarilho Cultural
um dia eu serei quem sabe
muito mais que um Andarilho Cultural
Eu serei quem sabe
um best seller, da poesia mundial
Eu sei que um dia minha poesia
poderá ser muito amada
pelos povos do mundo
Laerte Vicente