Made in Brazil
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MADE IN BRAZIL
Escito por Leopoldo Rey
São 50 anos de uma banda MADE IN BRAZIL só para tocar Rock ’n’ Roll, completados em 2017.
A rebeldia jovem existe desde que o mundo é mundo. No entanto, a trilha sonora para essa rebeldia surgiu nos anos 50, quando a mistura de country (em sua variante mais caipira, o hillbilly) com o negro Blues começou a ser tocada em rádios dos EUA pelo DJ pioneiro em música jovem, Alan Freed, que a batizou com o nome de Rock'n'Roll. Essa palavra ele criou para definir música feita especialmente para jovem. Uma palavra de duplo sentido que tanto podia significar ‘divirta-se’ quanto ‘deite e role’, ou ainda, ‘transe para valer’. Essa música acompanhou nos últimos 40 anos todos os movimentos de protesto jovem, desde os tempos dos cabelos brilhantinados e com topete, até as roupas coloridas, ou extravagantes, de hoje em dia. O que era no inicio apenas moda, ritmo para dançar e namorar acabou virando comportamento, estilo de vida escolhido pelos jovens para demonstrar suas insatisfações para com uma sociedade que não sabia para onde ir após uma grande guerra.
No Brasil a coisa não foi diferente, embora com outras proporções. E com o Made in Brazil, tudo começou na Meca do Rock paulistano, o bairro da Pompéia, em 1967, quando os irmãos Oswaldo e Celso Vecchione, apaixonados pelo Rock'n'Roll, se juntaram a alguns amigos para formar um grupo do estilo.
De lá até aqui, a banda teve muitas formações e atravessou os mais variados movimentos como o ‘pop’, ‘beat’, ‘flower power’, ‘glitter’, ‘tropicalismo’, ‘psicodelismo’, ‘punk’, ‘hard’, ‘heavy’, entre outros. Também enfrentou os muitos modismos como ‘discotheque’, ‘dance’, ´ lambada´, ‘house’, ‘techno’, etc. E nunca se prostituiu, sempre esteve fiel ao Rock. Em seu repertório sempre constaram músicas influenciadas, ou ‘covers’, de gente como Animals, Rolling Stones, Chuck Berry, Bill Haley, Muddy Waters, Howlin Wolf e tantos outros Blues rockers. Por volta de 1973, Made passou a fazer shows com repertório totalmente cantado em português, especialmente com composições próprias. Em 74 foram contratados pela RCA Victor, que os manteve sob contrato até 1980. Nesse período lançaram seus primeiros álbuns, sempre de muita aceitação do público rockeiro, o que acabou por lhes angariar enorme número de seguidores: ”Made in Brazil” (74), “Jack. O Estripador” (76), “Paulicéia Desvairada” (78), “Minha Vida é o Rock ‘n’ Roll” (80) e participação na coletânea de 75, “Implosão do Rock”. |
Capa do primeiro album (frente) |
Em 85, o grupo passou para a RGE, onde lançou mais três álbuns: - “Deus Salva e o Rock Alivia” (85), “Made Pirata- Volumes I e II (86); e fez uma participação super especial na coletânea” “Metal Rock” 85”. |
Em 97, a RGE relançou em CD “MADE - Pirata, juntando em um mesmo CD os dois discos. Até então foram 10 álbuns, participações em antologias e coletâneas, 13 discos no total. .
Em 98 para comemorar todos esses anos de estrada, o Made lançou pelo seu próprio selo, o Made in Brazil Records, seu 10º álbum , o CD “Sexo Blues & Rock ‘n’ Roll”. Foram dois anos de gravações, 250 horas em estúdio de 24 canais. Tudo digital. São 14 novas composições do mais alto nível, sempre contando com letras que tem sido a marca registrada do estilo de vida de todos que tem passado pela banda. Com especial destaque para “Rock da Pompéia”, “Remédio Para Dormir”, “Blues da Madrugada”, “Comi Uma Sereia”, “Sexo, Timão e Rock ‘n’ Roll”, “Um Beijo”, “Vai Trabalhar Vagabundo” (com letra do crítico Leopoldo Rey) e “Novamente na Estrada”.
O álbum traz a formação atual do Made:- Oswaldo ‘Rock’ Vecchione - vocal, baixo, gaita e guitarra; Celso ‘Kim’ Vecchione - guitarra, baixo e teclados; Deborah Carvalho - percussão e back vocal e Rick Vecchione - bateria (filho de Oswaldo).
Capa do primeiro album (verso) |
Nas gravações o grupo contou ainda com as colaborações guitarrísticas de Serafim Buontempi, Antônio Medeiros “Babalú”, (um membro especial do grupo) e Alejandro Marjanov. Atuaram também Wander Issa Mafra nos teclados e baixo e Octavio Lopez o “Bangla”no sax.
O disco traz ainda a participação de muitos convidados, entre eles Sérgio Dias Baptista, Charles Gavin, André Christóvam, luiz Carlini, Nasi, Roger, Clemente, ao todo, participaram 23 amigos, verdadeiras “feras” do Rock nacional !!!!!!!!! E com esse disco, o Made in Brazil caiu na estrada novamente com a turnê “ Heróis do Rock’ (onde também participam varias bandas dos anos 70 como O Terço, Tutti Fruti, Pholhas, Bicho da Seda, Blindagem, Patrulha do Espaço, Casa das Máquinas e outros ...) e com o show ”Sexo, Blues & Rock ´n´ Roll “ pelo Brasil. Em Fevereiro de 99 o MADE começou as gravações ao vivo de seu novo trabalho o CD Acústico na cidade de Campinas. Em março a gravadora BMG relançou dois CD com os quatro primeiros álbuns da década de 70, no formato dois LPs em um CD. Até então foram 10 álbuns e mais a participação em 3 coletâneas, 13 discos no total, sendo que só o disco “Deus Salva, o Rock Alivia” (85) ainda não foi relançado em CD. |
Em Setembro de 2000, o MADE completou as gravações do novo CD “Fogo na Madeira” - Acústico, gravando o show realizado com muito sucesso no Bourbon Street em São Paulo, um dos mais importantes espaços dedicados ao Blues no Brasil. O lançamento oficial aconteceu no mês de outubro de 2000, e rapidamente vendeu duas prensagens, já estando na terceira fornada. O sucesso e a repercussão foram tão grandes que o MADE gravou um 2o volume no Teatro SESI, também ao vivo, com a participação especial de vários amigos como: Netinho (Incríveis), Wander Taffo (ex: Made, Ex: Rádio Táxi), Hélcio Aguirra e Paulo Zinner (ambos do Golpe de Estado),
Caio (Velhas Virgens), Edu Ardanui (Dr. Sin), Roberto Lazarrini (ex: Made), Luiz Carlini (Tutty Fruti) , Cornelius , Caio Flavio e outros grandes músicos que aturaram no passado na banda. O CD Fogo na Madeira vol. 2 foi lançado em dezembro de 2001 com uma ótima aceitação por boa parte dos críticos de Rock brazucas e com uma tiragem inicial de 3000 CDs. |
Capa do álbum Minha Vida é Rock'n'roll (frente) |
Capa do álbum Minha Vida é Rock'n'roll (verso) |
Em 2005 o MADE IN BRAZIL viajou pelo Brasil – Tour 2005 com dois shows diferentes, o show tradicional no formato elétrico e também com o Show “FOGO NA MADEIRA” no formato Acústico. Pelo MADE passaram mais de 80 músicos de altíssimo nível “rockeiro & musical”,em quase 140ª formações oficiais. O MADE é com certeza o grupo de maior atividade na área. Sempre manteve acesa a chama do Rock e do Blues no Brasil, e em toda a América latina. |
Afinal de contas, é uma banda Made in Brazil, feita para tocar o puro Rock ’n’ Roll com muita adrenalina, muita garra, e muito tesão. E se “Deus Salva, o Rock Alivia...”, quem gosta de “Rock de Verdade” dificilmente envelhece na cabeça.
Leopoldo Rey é Radialista, jornalista, crítico musical.
Detalhe da capa do álbum Minha Vida é o Rock'n'Roll com a dedicatória do Oswaldo Vecchione
Made in Brazil: As Memórias do Barbieri
Trabalhei com a banda Made in Brazil lá pela primeira metade dos anos 80.
Tudo começou um dia lá pelo início de 1981 quando inesperadamente Oswaldo apareceu na Rocker que era a minha lojinha que vendia discos e camisetas lá no Itaim Bibi em São Paulo. Como não fazia muito tempo que havia patrocinado uns cartazes para um show da banda Patrulha do Espaço, me pareceu que ele tinha vindo para sondar o território na busca de patrocinadores.
Acabei fazendo iluminação e efeitos especiais para vários shows do Made. Neste mesmo período minha vida passou por uma reviravolta tremenda onde, a Rocker faliu deixando-me numa crise financeira danada, ao mesmo tempo que, vivia minha primeira separação matrimonial. Foi diante deste cenário difícil que entrei de sola na produção de shows.
Alguns momentos significativos que tive com o Made:
• Rock Horizonte (Minas Gerais) no Estádio do Cruzeiro em Belo Horizonte com a participação de muita gente boa destacando-se Raul Seixas e Jorge Benjor. Estive lá apenas para, eletronicamente, detonar uma explosões no palco e acender uns fogos de artifício. Foi a primeira vez na minha vida que viajei de avião e também a primeira vez que aproveitei um pouco as mordomias reservadas aos artistas ficando hospedado junto com as bandas em um dos melhores hoteis da cidade. Leai também: Lembranças do Gigante em um festival em Forianópolis (SC) Barbieri e Judy Spencer no Palco do Rock Horizonte Mônica Lisboa era a empresária e Judy fazia iluminação da Rita Lee e Tutti Frutti no começo da história da banda em 1973. Um pouco depois, judy também virou produtora em sociedade com Mônica e, as duas deixaram Rita e foram trabalhar com outros artistas como Simone, As Frenéticas, etc. • Rock Capital (Santa Catarina) festival para mais de 20.000 pessoas num estádio de futebol no final de 1985 em Florianópolis (na ilha) onde levei o Made e também a banda Excalibur. A banda RPM encerrou o show do sábado precedida pelo Excalibur e o Made encerrou o show do domingo. O show do sábado da banda Excalibur foi tão bom que foi convidada a abrir os shows de domingo. Neste evento, surpreedentemente, acabei no placo liderando a coisa toda e virando o apresentador do evento. |
Barbieri e Judy Spencer no palco do Rock Horizonte |
• Cometa Rock Festival (São Paulo) no Clube Radar Tantan com as bandas Made in Brazil, Alta Tensão, Platina, Vulcano e Karisma. As três primeiras bandas lançavam albuns simultaneamente neste show. Um evento tão raro no Brasil quanto a passagem que acontecia do Cometa Halley. Made, uma banda controversa? Para quem não sabe, O Made in Brazil e o Oswaldo Vecchione, baxista e vocalista, são a mesma coisa. É indivisível. No meu tempo, o Made carregava uma aura de maldito. Tinha sido sempre uma banda que despertava extremas emoções. Era a típica banda que, ou se amava ou se odiava. Me parece que esta imagem ainda perdura entre parte do público antigo e principalmente na comunidade musical. Eu nunca tive nenhum problema sério com o Oswaldo. Talvez simplesmente porque desde o principio coloquei minhas condições de trabalho: • Sempre viajei no mesmo carro que o Oswaldo. O Oswaldo sempre foi um roqueiro 100% do tempo. Para viver exclusivamente de rock no Brasil ele teve que fazer um "malabarismo" danado e muitas vezes agiu na sua relação com os outros músicos de sua banda de uma forma que, considero questionável. Não é àtoa que o Made é a banda que mais teve trocas de integrantes no Brasil. |
Poster do Projeto Cometa Rock Festival acontecido em 1985. Arte: Barbieri |
Poster do Projeto Metal, Rock & Cia acontecido em 1985. Arte Sesc |
Eu sempre me perguntei como era possível que mesmo depois de situações muitas vezes totalmente inaceitáveis os músicos sempre acabavam voltando para o Made. Bom, à meu ver, vários podem ser os motivos: • Naquele tempo o Made era uma das únicas bandas de rock que conseguiam tocar várias vezes por mês. Se o músico não tinha a satisfação financeira pelo menos tinha a profissional! O Oswaldo sempre foi Sex and Rock'n'roll. Nunca tinha conhecido um cara tão enrolado com as mulheres. Sempre com mais de uma e criando a maior confusão. Mais de uma vez sobrou até para mim que tive que, para salvar a situação e para não prejudicar o show, distrair uma enquanto ele estava com a outra. Era sempre assim, acabavamos todos envolvidos com os problemas sentimentais do lider da banda. :-) Na minha opinião, não obstante os problemas "off stage", a banda Made in Brazil deve ser lembrada pela sua consistência e legado roqueiro, perseverança e poder de fogo. O Oswaldo com todas as suas imperfeições está na minha lista das 10 mais importantes figuras do rock nacional. Antonio Celso Barbieri |
A banda Made in Brazil apresentando-se ao vivo no Projeto Metal, Rock & Cia acontecido no Teatro Sesc Fábrica Pompéia em São Paulo, no dia 03 de agosto de 1985, numa apresentação surpreendente. Este projeto foi mais um projeto criado pelo Barbieri e esta gravação exclusiva foi retirada do seu "baú" de raridades! |