Sepultura: Lançamento do álbum Roots e show da banda em Londres (1996)
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Sepultura
Lançamento do álbum Roots e show da banda em Londres (1996)
O ano de 95 virou e juntamente com o mês de janeiro, Londres foi invadida pela febre Sepulturiana. No início de 96, Sepultura apareceu na votação das revistas especializadas, em praticamente todas as categorias, entre os dez melhores álbuns de 1995. Obviamente, o novo álbum Roots que estava para ser lançado, nascia debaixo de muito expectativa e publicidade.
Eu já tinha tido a oportunidade de escuta-lo e tinha, cá comigo, minhas reservas achando que a idéia de usar rítmos indígenas tinha sido apenas uma jogada puramente cosmética onde a banda tinha perdido uma oportunidade muito boa de fazer um trabalho realmente sério e inovador. De qualquer forma eu sabia que o álbum venderia muito bem pois ele continha pelo menos, umas cinco músicas devastadoras capazes de satisfazerem até os fãs mais exigentes.
Bom, o trabalho da gravadora foi muito eficiente e, uma a uma todas as revistas de rock inglesas foram dando suas capas ao Sepultura. Numa revista Max aparecia empunhando uma pistola com silenciador. Em outra, ele aparecia todo molhado parecendo que tinham jogado um balde de água na cabeça dele (será que foi por isso que ele pegou aquela gripe danada?!).
A Gravadora Roadrunnner colocou todo seu peso investindo uma grana louca em publicidade. Surgiram páginas bem produzidas e inteiramente coloridas em tudo quanto era revista. Ao mesmo tempo as lojas de discos, principalmente as megastores bombardeavam nossos olhos por todos os lados com fotos da capa do disco em todos os tamanhos imagináveis.
A capa do álbum Roots
Se aquele índio da capa ganhasse um dolar por cada aparição, certamente ele já estaria rico!
No meio desta ofensiva publicitária milionária, o single contendo a música Roots Bloody Roots foi lançado em duas versões, uma delas em digipak com fotos internas mostrando o quê? Favelas! Como se fazer publicidade da nossa pobreza fosse por si só, resolver o problema brasileiro!
Num domingo, dia 26 de fevereiro, foi o dia escolhido para o show em Londres. Este show fazia parte da turnê Terrrorist Dates, um tipo de turnê de aquecimento européia, realizada só em locais pequenos. Infelizmente, não consegui minha credencial, pois a filial da Gravadora Roadrunner inglesa disse que só estava credenciando a imprensa importante (?). Acontece que, descobri um jornalista que escrevia para um jornal de Telaviv e que tinha sido credenciado (não me digam que existem mais roqueiros em Telaviv do que no Brasil!).
Enfim o dia do show chegou e, para minha surpresa, encontramos um cartaz afixado na frente do teatro avisando que o show havia sido cancelado por motivo de doença (Max estava com uma forte gripe e sem voz). O show agora seria realizado na próxima quarta-feira (29 de fevereiro).
Do fundo para a frente: Igor, Paulo e Andreas. Fotos: A. C. Barbieri
Um cartaz na porta do Astoria II informava que o show tinha sido adiado mas, a noite de autógrafos continuava em pé. |
Numa noite fria a galera pacientemente esperava para poder compar o álbum Roots e pegar os autógrafos com a banda. |
Os membros restantes da banda compareceriam na Virgin Megastore para a sessão de autógrafos à meia-noite. Naquele dia, coincidentemente, qaundo passei as seis da tarde em frente da Virgin retornando para casa, já haviam umas cem pessoas numa fila improvisada na entrada da loja. Entretanto, quando voltei lá pelas onze da noite, o tumulto já estava montado, com milhares de jovens acotovelados, tomando todo um lado da calçada. Do outro lado da rua estavam posicionadas três viaturas da polícia e uma ambulância, enquanto que a segurança direta era efetuada por uma companhia especializada.
Naquela noite, estava fazendo um frio danado e, algumas garotas contratadas pela produção do evento, andavam pela fila distribuindo gratuitamente copos de sopa quente, bem ao estilo do Exército da Salvação. Nem preciso dizer que o clima estava fantástico com o povo todo gritando e uivando o nome da banda o tempo todo.
Já numa área reservada aos fotógrafos pude observar Andreas, Paulo e Igor atendendo aos seus fãs. Ao ver a aparência da moçada fiquei meio chocado, pois via músicos cansados e envelhecidos, muito diferentes das fotos do single onde apareciam como garotos sadios. Porém, o aparente cansaço não impediu que distribuíssem sorrisos aos fotógrafos e fãs.
Como dizem, “the show must go on!” e, capas do álbum Roots foram autografadas por horas. Nada surpreendente, uma vez que, aquele álbum, estava sendo vendido ali na loja, pela primeira vez. Posters, fotos, jaquetas, pernas de calças, guitarras e suas caixas, compactos, discos antigos da banda eram autografados pela moçada numa atividade que parecia nunca ter fim. A realidade é que roqueiro é a mesma coisa em qualquer parte do mundo. Trata-se de um fenômeno mundial. Apareceu até um fã louco, todo pintado de vermelho como um índio.
Como a mesa usada pela banda era coberta por um pano vermelho, entre cada autógrafo, Igor ia desenhando no pano uma ave (fiquei com a impressão de que era o periquito palmeirense) que depois de horas apareceu com um pênis enorme. Quando a fila acabou e o povo todo foi embora, a banda foi presenteada pela Virgin com alguns CDs, que eles puderam escolher livremente pela gigantesca loja. Posso adiantar que Paulo pegou dois da banda Dead Can Dance. Antes da sessão de autógrafos a banda encontrou-se com o pessoal da banda Doesal Atlântica. Clique aqui para ver as fotos históricas tiradas neste dia assim como saber tudo sobre a vinda do Dorsal até Londres.
O show
A frente do Astoria II ficou tomada pela multidão e até a imprensa teve que entrar na fila para poder assistir ao show. O show estava com a lotação esgotada e os cambistas aproveitavam para vender ingressos a sessenta dólares cada. Aqueles fãs que tiveram paciência e, esperaram quase até a hora do show que começou lá pelas nove e meia da noite, conseguiram barganhar um ingresso por mais ou menos quinze dólares (um preço bem justo). A banda de abertura foi uma tal de SSP, que eu nunca tinha ouvido falar e que fazia um som tipo Biohazard. A platéia estava em clima de festa, dançando o tempo todo e, para deleite de todos os presentes, Max subiu ao palco para tocar uma música junto com o pessoal do SSP.
No horário programado, Sepultura entrou no palco debaixo de uma ovação geral! Todos os integrantes da banda pareciam recobrados da energia perdida. Começaram o show sem perda de tempo, executando algumas músicas antigas e, depois, atacaram com o repertório novo.
A integração das músicas velhas com as novas foi perfeita. Apesar do local ser pequeno o som estava ótimo e feito com profissionalismo. O show correu como um relógio, sem nenhum incidente digno de menção. Entre uma ou outra música rolou um som pré-gravado com música indígena e no final do show o pessoal do SSP voltou ao palco para junto com Sepultura executarem o hit Polícia. Resumindo, foi um excelente show onde até o Paulo, que sempre passou-me aquela idéia de outsider, parecia totalmente integrado.
Esta matéria é de autoria do Barbieri e foi originalmente escrita para a Revista Dynamite, tendo sido publicada na sua edição de Maio/junho 1996.
Copy Desk Andrea Falcão
Diagramação, Revisão e Atualização A. C. Barbieri |