Vai parecer incrível mas, as camisetas de rock tão popularmente conhecidas no nosso país foram introduzidas no mercado brasileiro aqui pelo Barbieri.
Eu escolhi o nome Rocker para a marca (logo) das minhas camisetas porque para mim ser Rocker não é apenas ser um roqueiro e sim ser um líder no palco, uma figura carismática, uma lenda. Eu gostava do visual e do som do Marc Bolan (T. Rex) e portanto, escolhi uma foto dele. A foto usada é a da capa do álbum The Slider. Mais tarde, abriria a loja Rocker usando o mesmo logo.
Eu sempre quis ter uma camiseta do Led Zeppelin. Eu era fã de carterinha do Robert Plant e achava o selo da gravadora Swan Song, aquele com um tipo de ícaro (um homem alado), o máximo. Na época eu estava muito envolvido com fotografia e fui fazer um curso na escola Imagem-Ação que existia na Avenida 9 de Julho. Lá aprendi a revelar e ampliar meus próprios filmes. Logo já tinha meu quarto escuro montado. Mais tarde aprendi a ampliar em folhas (filmes) de auto contraste, os chamados fotolitos. A próxima etapa foi aprender serigrafia (silkscreen). As primeiras camisetas que fiz foram: Robert Plant (Led Zeppelin), Janis Jopplin e Jimi Hendrix. Rapidamente já tinha mais de 10 estampas e achei que as lojas de discos e sebos iriam ficar muito interessadas no meu produto. Engano meu! A idéia de vender “roupas” numa loja de discos era inaceitável para aquela época. Fui recebido até com deboche.
Não desisti, comprei um pano preto e, num sábado, estendi o pano na calçada da Avenida São João exatamente em frente das Grandes Galerias, hoje Galeria do Rock. Nem acabei de colocar minhas camisetas no chão e foi o maior tumulto, vendi as 50 camisetas que tinha em 10 minutos. Não existia absolutamente ninguém para concorrer comigo. Minhas estampas eram feitas com fotolitos baseados em fotos tiradas de revistas importadas ou de capas de discos. Eu usava só tinta de qualidade e camisetas Hering. É lógico que na próxima semana eu estava lá e o público cada vez maior. No começo eu reinvestia todo dinheiro ganho em mais material e logo já tinha mais de 100 estampas.
Algumas lojas perceberam imediatamente o potencial ainda mais porque, eu deixava as camisetas em consignação com os lojistas. As lojas Woodstock, Punk Rock discos e Devil Discos foram os meus primeiros clientes. O dinheiro entrava rápido mas eu gastava tudo em “pizza” e discos sem nunca pensar realmente no futuro. A minha alegria e orgulho era ver todo mundo nas ruas usando minhas camisetas.
Foi vendendo camisetas na Avenida São João que acabei fazendo amizade com Paulo Rossi que mais para frente viria ser o vocalista da banda Avenger, banda que acabei sendo o empresário.
As primeiras camisetas de rock nacional que eu fiz foram obviamente para o Avenger e também para as bandas punk Cólera e Inocentes para serem vendidas na loja Punk Rock Discos. Na subsolo da Galeria do Rock eu supria as lojas dos "blacks" com camisetas do Bob Marley, James Brown, Michael Jackson e Jimi Hendrix. Eu tinha também meu preço para o atacado e tinha vendedores espalhados por várias cidades do interior de São Paulo, principalmente no ABC.
O show do Queen
A minha boa sorte praticamente mudou do dia para a noite com o show do Queen no Brasil. Quando cheguei na frente do estádio centenas de pessoas estavam vendendo camisetas. Vendiam quase pela metade do preço. Tecido de baixa qualidade, camisetas feitas em algum galpão da periferia. O tipo de camiseta que você lava uma vez e já era. O pior é que o design era muitas vezes igualzinho ao meu. O povo devia ter comprado uma camiseta minha colocado um papel vegetal encima e copiado. Minhas camisetas apresentavam imagens reticuladas e as dos concorrentes imagens modelo borrão! O povo não estava nem aí...
Outro fator negativo que aconteceu neste período foi o surgimento das camisetas pretas. Para imprimir num tecido preto a tela tem que ser em negativo. Portanto eu teria que fazer todas as minhas telas novamente. Eu fui me adaptando e mudando mas a concorrência era grande e eu já não tinha o mesmo entusiasmo.
John Lennon
Eu recordo-me que um dia logo de manhã o telefone tocou para me avisarem para ligar o rádio. As rádios não paravam de tocar John Lennon, pois ele acabara de falecer. Fiquei chocado e ao mesmo tempo imediatamente comecei estampar camisetas dele, pois eu já tinha a estampa à algum tempo. Aquela noite eu passei estampado camisetas. Sozinho, embriagado pelo sono, fazendo o rosto do John Lennon aparecer numa camiseta atrás da outra, senti-me mal, culpado, era uma coisa contraditória ganhar dinheiro com a morte de uma pessoa que eu admirava tanto. Era uma contradição muito grande mas, vergonhosamente o dinheiro falou mais forte e acabei vendendo umas 1000 camisetas naquela semana. Eu sei o que vocês estão pensando: Direitos autorais era uma palavra quase desconhecida nesta época. De qualquer forma, se eu morrer amanhã vocês podem vender quantas camisetas quiseram com a minha cara estampada! :-)
O show do Van Halen
Outro momento que guardo na lembrança foi na frente do Ginásio do Ibirapuera antes do show do Van Halen. Eu já sabia da fama do empresário do Led Zeppelin que tinha o habito de ir lá fora do teatro, destruir as coisas e bater em qualquer um que estivesse vendendo “merchandise” ilegal. Portanto, quando vi os Norte Americanos cabeludos do pessoal da produção do Van Halen vindo na minha direção, engoli seco. No final de tudo, fiquei surpreendido que a banda tenha instruído a produção à ir lá fora e “comprar” uma camiseta de cada vendedor para levar como souvenir.
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Barbieri em Julho 1983 usando a camiseta da Mountain Productions Concert Staging
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