Barbieri e Devil Discos
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O logo da Gravadora Devil Discos
Escrito por Antonio Celso Barbieri
Ano 1986
No segundo andar das Grandes Galerias, hoje, mais conhecida como Galeria do Rock em São Paulo, entre as muitas lojas de discos alí existentes, duas lojas lideravam as vendas.
Em primeiro lugar vinha a loja Baratos Afins do Luis Carlos Calanca e em segundo a Devil Discos do Francisco Domingos de Souza, mais conhecido como Chicão. Vivíamos o tempo do vinil onde os "sebos" de disco tinham evoluído para "lojas de vendas de discos novos e usados".
No tempo dos sebos realmente tínhamos a chance de achar muitas raridades por preços baixos. Mas com os anos, os vendedores ficaram especializados e, o comércio das bolachonas pretas virou a arte do comércio onde o truque era comprar as raridades baratas e vendê-las por preços salgados. Lojistas, usando outras pessoas, chegavam até à comprar os discos raros uns do outros para vede-los depois com preços salgados.
Quer dizer, existia uma forte competição entre os lojistas da galeria e, naturalmente muitas destas lojas sonhavam em tornarem-se gravadoras. Era a evolução lógica esperada e, a loja Baratos Afins foi a primeira que deu este grande passo. É claro que Chicão da Devil Discos obviamente não queria ficar para trás!
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Clique no fone de ouvido para escutar este álbum!
Era na Galeria do Rock, principalmente na Devil Discos e Baratos Afins, onde eu fazia contato e arrigimentava as bandas para os meus projetos (Projeto SP Metal, Projeto Metal, Rock & Cia, Projeto São Power, etc). Eu era um produtor/empresário sem escrítório e nem telefone que vivia perambulando de uma loja à outra na galeria. No meu íntimo eu tinha um título para mim mesmo; "O mestre da corda banda!"
Sabendo das intenções do Chicão, propuz o lançamento de uma coletânea de bandas baseadas em gravações de shows que eu possuia. Eram gravações pobres, feitas em fita K7 e gravadas nos shows direto mesa de som, geralmente usando uma saída de retorno para o palco.
Então, em 1986 o primeiro lançamento do selo Devil Discos chamado São Power mostrando 8 bandas paulistas de rock pesaso foi preparado. As bandas Viper e Korzus foram convidadas mas recusaram-se a participar. Claramente meu projeto não estava à altura de bandas do calíbre do Viper e Korzus mesmo porque a idéia era documentar algumas bandas que praticamente já haviam acabado.
Korzus & Devil Discos
Bom, a tiragem do album São Power foi limitada à 1.000 cópias e, as vendas mostraram-se muito fracas (hoje o album está esgotado e fora de catálogo) e, numa tarde, Chicão desabafou: "Se a gente tivesse incluído o Korzus, ja teríamos vendido tudo!"
Então, sugerí ao Chicão que oferecessemos ao Korzus um album só deles. O Korzus tinha participado com duas músicas no LP coletânea SP Metal II lançada em 1985 pela Baratos Afins. O Korzus estava "engavetado" na Baratos Afins com esperança da promeça do lançamento de um album pela gravadora.
À meu ver, estava claro que o Luiz Carlos Calanca preferia investir no metal clássico do que no black metal radical e demoníaco que a banda fazia na época. A verdade é que a imprensa estava (e está) infiltrada pelos "poposos" e o rock pesado nunca teve espaço nos jornais, nas rádios e TVs (com raras excessões!).
Convencí o Chicão que o futuro álbum Korzus ao Vivo deveria ser um lançamento para preencher um espaço vago, mantendo a chama da banda acesa até que ela tivesse tempo para gravar seu primeiro albúm de forma correta.
Disse que certamente Korzus aceitaria lançar o album Korzus ao Vivo se, além de um incentivo financeiro, apresentássemos a proposta como parte de um pacote maior onde a banda tivesse perspectiva de crescimento. Entrei em contato com a banda. Passamos por um período de negociação que culminou com a assinatura do contrato na minha casa com a presença de todos os envolvidos mais o advogado do Chicão. Convem lembrar que, obviamente a cerimónia terminou com o povo selando a coisa com a famosa passagem na roda do "cachimbo da paz".
A arte da capa do album Korzus ao Vivo também é de minha autoria e foi baseada num detalhe de uma ilustração feita por E. M. Clifton-Day também extraída da revista inglesa Science Fiction publicada em 1974.
Korzus ao Vivo foi o primeiro de vários albuns lançados pelo Korzus neste selo. Foi com o álbum Korzus ao Vivo que ganhei pela primeira vez algum dinheiro com rock. Foi o suficiente para eu comprar minha passagem para a Europa e cair fora.
Publicidade publicada em 1986 na Revista Metal (Número 22)
O logo da Gravadora Devil Discos.
Barbieri cria a arte do selo!
Quase ninguém sabe que o selo da gravadora Devil Discos foi criado por mim quando do lançamento do albúm São Power em 1986. O selo foi fruto de uma colagem que fiz mostrando uma mão que usa no pulso um bracelete de tachas e, segura uma furadeira elétrica que, por sua vez, perfura a letra "D". A mão empunhando a furadeira elétrica foi recortada de uma foto do Robert Halford (Judas Priest) onde ele aparece vestido com uma jaqueta com uma gola semelhante à de um padre (priest) e, apontando a furadeira para a sua própria cabeça num gesto insano. O trabalho de tipografia foi feito usando Letraset (decalques gráficos transferíveis). Este selo, depois ganhou mais popularidade porque Chicão acabou adotando-o como sua marca, pintado-o na placa na frente da sua loja. A idéia de incorporar ruídos feitos por máquinas no rock ainda não tinha acontecido como um estilo definido. Só mais para frente, bandas como Ministry e Nine Inch Nails viriam a popularizar esta vertente do rock que ficaria conhecida como Rock Industrial. Portanto acho que este logo foi um tanto quanto profético para época que foi criado.
Antonio Celso Barbieri
Robert Halford (Judas Priest)