Barbieri - Memórias do Rock Brasileiro - Posters e Panfletos
Barbieri se despede do querido Celso Vecchione!
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BARBIERI SE DESPEDE DO QUERIDO CELSO VECCHIONE!
Ontem, 21 de outubro, perto da meia-noite, após nossa visita ao Instituto Bolívia Rock onde fomos calorosamente recebidos pela querida Cátia Rock, quando chegamos em casa e estava prestes a abrir meu laptop, Andrea, minha esposa, com seu celular na mão, com expressão chocada, me disse:
"Recebi uma notícia de falecimento muito triste e impactante. Melhor você ver por si mesmo."
Enquanto ligava o laptop, confesso que vários nomes passaram pela minha mente, mas ao descobrir que era o meu xará, o querido Celso Vecchione, o lendário guitarrista e um dos fundadores da não menos lendária banda Made in Brazil, fiquei incrédulo e imediatamente, lembrei-me das suas últimas fotos, em que ele parecia já bem debilitado e, assim como seu irmão Oswaldo, também estava sentado numa cadeira de rodas.
A morte, em sua natureza, é sempre uma tragédia, mas quando se trata de alguém que conhecemos, o impacto é ainda muito mais profundo.
Lembrei-me também de que, horas antes, ainda no Instituto Bolívia Rock, ao ver uma pintura do falecido Andre "Pomba" Cagni, tive que segurar as lágrimas. Além disso, no local, ver as muitas fotos de autoria do também falecido Bolívia Rock retratando bandas e músicos, muitos que conhecia e até produzi shows, só serviram para intensificar a minha sensação de aperto no coração, de ter aquela sensação de fim de uma era que se foi e não voltará nunca mais.
Mas, em apenas um segundo, já estava de volta, pensando em Celso Vecchione, e imaginando que toda aquela emoção que senti no Instituto Bolívia Rock tinha sido um tipo de premonição do que sentiria quando voltasse para casa e ficasse sabendo do seu falecimento!
Celso Vecchione
Para mim, Celso Vecchione é e será sempre uma marca indelével, inesquecível e emblemática do Rock Paulista!
Num universo musical onde muitos artistas buscam os holofotes e a extravagância, Celso destacava-se pela modéstia, sempre focado apenas em tocar o que era melhor para a música e a sua banda como um todo. Ele brilhava mais nas sombras do palco do que debaixo dos holofotes, ele foi uma verdadeira anti-estrela.
Confeço que ao pensar em Celso, senti o desejo de escrever esta despedida, mas parte de mim também desejou manter um silêncio respeitoso. Digo isto porque o Celso que conheci foi sempre uma figura serena e silenciosa, cujo sorriso só era perceptível apenas para aqueles que conseguiam realmente se aproximar dele. Ele nunca almejou o centro do palco, preferindo a sombra de seu irmão Oswaldo, que sempre teve uma personalidade mais dominante. Mas, talvez, tenha sido justamente este seu comportamento mais tímido que fazia de Celso uma figura tão amada e respeitada.
Celso Vecchione
Inspirado pelos Rolling Stones, ele foi o nosso Keith Richards. Sua expressão séria e distante poderia parecer intimidante, mas não para mim que, durante o pouco tempo em que trabalhei com o Made in Brazil, tivemos oportunidade para várias conversas profundas. Conversas em que ele, mostrando o seu bom caráter, nunca se queixou de seu irmão e muito menos de qualquer membro da banda.
Por outro lado, seu irmão, Oswaldo Vecchione sempre se preocupou com seus hábitos alcoólicos com destaque para sua predileção pelo conhaque mas, com o tempo e a idade, Celso mostrou-se mais sábio e comedido.
A última vez que o vi, foi num show do Made, há alguns anos, no Teatro Martins Penna, na Penha em SP. Mostrando a sua fragilidade e o peso da idade, ele tocou alguns trechos sentado. Depois do show, mostrando sinais de cansaço, em direção ao camarim, coloquei meu braço em seu ombro e caminhamos juntos. Com sua expressão sempre séria, ele lançou um olhar à minha barriga e, com um sorriso discreto, comentou:
"A vida está boa, hein? Olha só essa barriguinha!"
Adeus, Celso Vecchione! Descanse em paz!
Os dois Celsos, o Barbieri e o Veccchione, nos bastidores do Teatro Martins Penna em SP.
Fotógrafa: Andrea Falcao Barbieri