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A banda radiohead. Foto: Lee Jenkins
Entrevista com Thom Yorke em 1998
A glória e o reconhecimento invariavemente são fruto de muito trabalho. Em se tratando de uma banda de rock isto significa tocar, tocar e tocar até a exaustão. O Radiohead seguiu esta receita com obstinação. O Thom Yorke que eu encontrei não escondia o cansaço de estar tanto tempo “on the road” e deixou claro que, quando a fama chega, não é todo mundo está preparado para enfrentá-la emocionalmente. Por isso mesmo, nada de planos pra vir ao Brasil, a banda encontra-se em férias, sem planos para um futuro próximo..
Barbieri: Oi! Como você está se sentindo?
Thom: Eu só quero ir para casa. Foram umas semanas bem difíceis. Mas , ao mesmo tempo, nós estamos realmente satisfeitos. É estimulante! Foi um período cheio de altos e baixos e um real teste para as nossas convicções.
Barbieri: Quais foram os pontos baixos?
Thom: Ficar doente e ser simpático para as pessoas. Eu não sou muito bom para estas coisas. Se o povo me dá bebida suficiente eu normalmente me comporto bem.
Barbieri: Você deve estar interessado em empurrar o álbum até o máximo que ele puder ir…
gente fazer o mesmo de novo porque no final o dano é óbvio.
Barbieri: Certamente a banda é sua vida, fazer turnês é sua vida. Você não precisa de outra..
Thom: Isto não é verdade senão vocês não teriam merda nenhuma para escrever!
Barbieri: Você vive, você encontra-se com pessoas, você poderia escrever canções em quartos de hotel. O senso de alienação seria o mesmo.
Thom: Ser uma banda “on tour” e ser boa nisso não é tudo para mim. É um trabalho.. você percebeu? A idéia de gravar me atrai mais. Eu admiro o Oasis por tocar sem parar. Nós fizemos isto para o lançamento do “Creep” e no final desgastou a gente profundamente. Levou mais de um ano e meio para gente se encontrar de novo emocionalmente e poder encarar a situação novamente. Basicamente nós somos uns fracos. O que faz a gente continuar é aceitação das pessoas. Então não fica difícil escutar e gostar do que o resto da banda está tocando. De repente parece que o trabalho explodiu e tudo se abriu. Nós começamos a escrever mais e a coisa começou a fazer mais sentido.
Barbieri: Quer dizer que medo de não conseguir nada foi um dos fatores…
Thom: Sim e eu não tenho mais este problema. Nós temos sido embaraçosamente bem recebidos. Nós até que poderíamos começar a amar isto. A melhor coisa é ficar quietinho. Especialmente quando estou em casa. Eu realmente não gosto da idéia de gente circulando envolta da minha casa, vindo bater na minha porta só para olhar para mim.
Thom Yorke ao vivo. Foto: Barry Brecheisen
Barbieri: Você parece muito mais confiante…
Thom: eu sinto muito mais confiança no meu trabalho e eu acho que nós temos muito mais segurança para não acabar fazendo uns aos outros em pedaços destruindo as coisas mesmo antes de fazê-las. Eu não acho que eu fiquei mais iluminado ou coisas parecida mas acho que eu encontrei um caminho que quero seguir. É bem encorajador para mim. Por isso que eu estou evitando a imprensa. O lado confiante das coisas é muito importante para mim porque eu justamente não sou uma pessoa muito autoconfiante. Eu não quero expor demais a banda porque isto no final poderá acabar com a gente.
Barbieri: Você tem desconfiança da imprensa?
Thom: Eu não leio nada disso e de qualquer forma eu não acho que minha vida seja suficientemente curiosa e que o que nós fazemos seja interessante o suficiente para eles. Nós não somos uma banda Pop no mesmo sentido que, por exemplo, o Pulp é. Eu não vou em programas de auditório, eu não sou uma personalidade.
Barbieri: Considerando o que você acaba de dizer, você acha que você tem algo em comum com Michael Stipe (REM)?
Thom: Eu admiro a forma como que ele enfrentou aquele período da sua vida em torno do álbum “Automatic For The People” com os rumores de que ele tinha AIDS. Ele simplesmente não respondeu até que eventualmente a coisa passou..
Barbieri: Você não ê a importância comercial dos programas de auditório?
Thom: Eu não consigo. Nós não queremos ser personalidade, nós não somos bom nisso. A coisa mais importante das nossas vidas é tentar manter o máximo de controle sobre elas para que nós possamos continuar sendo criativos.
Barbieri: Escrevendo muito?
Thom: Eu estou escrevendo muito “on tour” mas como a mente caminha em diferentes velocidades não dá para julgar a qualidade. O negócio é levar as anotações e gravações para casa. Esta é a natureza do meu processo criativo. Existe sempre aquela liberdade de passar, vamos dizer, uma semana trabalhando em alguma coisa para depois jogá-la fora.
Barbieri: Você preocupa-se com os seus fãs, se eles vão identificar-se com as músicas?
Thom: Eu escrevo um monte de palavras desconexas. É como se fosse uma praga onde o povo escuta minhas músicas e pensa que tudo que eu digo é importante. Eu acho tudo isto muito incrível. Se você escrever as palavras num papel elas soam realmente ridículas.
Barbieri: Verdade. Você pode ouvir as palavras de “Fake Plastic Trees” claramente mas não dá para ter idéia do que você que dizer.
Thom: Sim, para mim também. Para mim o negócio não era em torno das palavras mas sim da melodia delas. As palavras foram tratadas mais como ruído com exceção talvez do último verso que significa alguma coisa para mim. O resto é apenas balbuciar e não tem relevância.
Barbieri: Pensando a respeito desta “cultura do desespero” que anda por aí você não se pergunta se você pode estar influenciando mau alguma pessoas?
Thom: Qualquer artista que fica se preocupando c a reação da sua audiência é tapado. Sim, tem gente que acusa a gente de ficar resmungando e depressivo e por aí afora mas, quem vai nos nossos shows entende que não é a respeito disso e sim a respeito nossa música transcendendo a depressão do momento em que eu escrevi a mesma. Mas, para os familiares sim é como se fosse Joy Division.
Barbieri: Você se sente isolado? Deve ser estranho ser conduzido em limusines de hotel para o aeroporto e hotéis.
Thom: Eu sempre me sinto assim quando vou para Los Angeles. O povo sempre recebe a mensagem de que a gente não que ser cuidado mas é como eu tentar enganar a mim mesmo. Eu fico mais abalado com a idéia de que eu estou andando pelo mundo tão rápido que tudo aparece com flashes nos meus olhos. Você sabe daquele momento em que você está morrendo e toda sua vida começa passar por você "flashing" pelos seus olhos? Eu pareço que tenho isso o tempo todo.
Barbieri: Qual o seu maior medo com a banda?
Thom: Fazer um álbum de merda.
Barbieri: Ir para um estádio e fazer shows de merda eu acho pior.
Thom: Eu acho que não é o nosso caso. De qualquer forma eu prefiro ficar em casa e gravar um álbum no fundo do quintal e não fazer turnês. Que nem o Tom Waits.
Barbieri: Mas não é tudo parte do processo. Você fica em grandes hotéis, toca em grande estádios e depois fica acomodado.
Thom: É por isso que a coisa mais importante na minha vida no momento é conseguir construir alguma coisa fora disto tudo, eu estou tentando pegar minha vida de volta.
Esta matéria é de autoria do Barbieri e foi originalmente escrita para a Revista Dynamite, tendo sido publicada na sua edição de outubro/dezembro 1998.
Copy Desk Andrea Falcão
Diagramação, Revisão e Atualização A. C. Barbieri |