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David Bowie, um ícone!
David Bowie: Falece o camaleão do rock!
escrito por Antonio Celso Barbieri
Depois de 18 meses de luta, ontem, o lendário músico David Bowie perdeu sua batalha contra um câncer. Segundo informação oficial, ele faleceu dia 10 de janeiro, em paz e cercado por toda a sua família.
Falar de David Bowie é uma tarefa quase impossível porque, nada do que eu disser será suficiente. Chama-lo de gênio é pouco! Sua influência no universo do rock é inimaginável e sua importância no cenário da música inglesa é monstruosa. A televisão inglesa, em particular a BBC, esta manhã, dedicou grande parte do seu tempo a lembrar o legado musical e a persona deste grande inovador. De Madonna a Igg Pop, de David Cameron, o Primeiro Ministro Inglês, a Tim Peake, o primeiro astronauta britânico em missão na Estação Espacial Internacional, todos prestaram suas homenagens póstumas irrestritas. Realmente o sentimento de perda é geral!
David Bowie maquiando-se e transformando-se em Ziggy Stardust.
Recordei-me imediatamente que em 73 abri juntamente com meu irmão Jorge uma loja de discos no Bairro do Limão chamada Stocking Music Center. Já o nome “stocking” significava “meia de seda” e era uma referência à androgenia de David Bowie, Marc Bolan e Alice Cooper. Mais tarde a distribuidora e atacadista onde eu comprava os discos para revenda presenteou-me com um enorme pôster preto e branco da capa do álbum Bowie Pinups que mostra David Bowie ao lado de uma mulher que achei por muito tempo ser sua primeira esposa Mary Angela “Angie” Barnett. Nesta foto os dois aparecem com uma pintura forte e bem teatral. Na verdade, recentemente descobri que a mulher da foto é a supermodelo Twiggy. Esta foto foi tirada em Paris para ser usada na Revista Vogue mas a pedido de Bowie foi usada na capa do album! Mas voltando à minha loja de discos, nos sábados a loja virava um teatro onde ensaiávamos uma criação coletiva vanguardista chamada A Faca onde fazíamos uso de muitas pinturas faciais, algumas muito semelhantes ao que seria a de Bowie ou mais tarde da banda Kiss. Neste mesmo momento no Brasil a androgenia de David Bowie explodiria na imagem de Ney Matogrosso e sua banda Secos e Molhados e também com , o falecido vocalista Cornélius Lúcifer da banda Made In Brazil. Outra grande influência andrógena brasileira deste período foi o grupo Dzi Croquettes liderado pelo bailarino Lanny Dale. Mais tarde, várias vezes visitei cinemas de arte para ver e rever o filme O Homem que Caiu na Terra (The Man Who Fell to Earth) lançado em 1976 e dirigido por Nicolas Roeg. Um filme, estrelado por Bowie, para a época, muito corajoso que parece ter sido feito sob medida para o grande mestre. Dez anos depois, em 86 Bowie voltaria com Labirinto (Labyrinth) dirigido pro Jin Henson. Mas, musicalmente, até hoje sou fã da sua música usada na trilha sonora do filme a Cat People dirigido por Paul Schrader. Gosto tanto desta música que coloquei-a para tocar no cartório no dia do meu casamento aqui em Londres. |
Capa do álbum Pin Ups |
Bowie, um homem com mil faces!
David Bowie tinha uma beleza inconfundível. Ele transmitia uma fragilidade feminina que somada à estranhes da íris dos seus olhos, cada uma de cada cor, lhe conferia uma identidade quase extraterrestre. Sua voz, quando cantada mais para o grave era de um erotismo enorme… Portanto, não é de se estranhar que ele tenha sido adorado tanto por homens como mulheres.
Bowie revolucionou como artista porque logo sedo reconheceu a importância da imagem, do todo, da integração da imagem com o som, do lado visual. Muito antes do advento do vídeo clip, ele ja estava experimentando. De Madonna a Lady Gaga, todo mundo copia, copiou ou aprendeu com ele.
David Bowie no jogo de forma e conteúdo.
Bowie foi o primeiro a pensar em colocar um álbum para vender ações na bolsa de valores. No seu processo criativo, tanto musical como visual, podemos coloca-lo ao lado de um Picasso ou Salvador Dali e, obviamente o resultado da sua música foi sempre uma surpresa para o público. Seria mentira minha se dissesse que tudo que ele fez foi bom e fácil de degustar. Não! Em termo de gosto e valor estético, à meu ver, houve muitos altos e baixos mas, ele sempre sobe se reinventar e voltar novamente por cima.
Ouvi Bowie experimentando com o Industrial e até com o Drum'n’Bass e ficou claro que ele não conhecia muito bem a coisa. Sempre digo que até para fazer o “brega” você tem que ser brega porque vai soar falso e os bregas saberão que você não faz parte do time deles. É o mesmo que ver o Príncipe Charles tentando dançar samba. Tendo disto isto. Quando Bowie lançava um novo álbum todo mundo queria ouvir porque Bowie era uma criador de tendências, um futurista e se você estava preocupado em atualizar-se, mesmo que não gostasse, tinha que saber o que Bowie andava fazendo.
Recentemente, no Brasil, para mim, possivelmente de forma inconsciente, a última referência a David Bowie que ouvi foi feita pela banda Zé Brasil e os Delinquentes de Saturno com a música Astronauta Victor, um trabalho de primeira que merece ser escutado por todo mundo!
A última oferenda de Bowie foi seu recém lançado álbum Darkstar, quase um presente de despedida para o seu público. O álbum é realmente sombrio e até um pouco premonitório. Vocês poderão ouvi-lo com exclusividade e em primeira mão no link a abaixo. Bom, nem preciso dizer, que meu coração, outra vez está apertado com esta perda! Infelizmente estamos perdendo a referências mais importantes do rock mundial!