O Teorema Zero, Buracos Negros e o Big Bang
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The Zero Theorem, filme dirigido por Terry Gillian.
O Teorema Zero, Buracos Negros e o Big Bang
escrito por Antonio Celso Barbieri
Confesso que sou um viciado por cinema. Principalmente pelo gênero ficção científica. Nestes filmes, fico sempre querendo "tomar aquela dose" que me leve para um lugar novo ou me revele uma ideia que me ajude à entender esta realidade em que vivo. Como sou obviamente um ser finito, e sei que minha perspectiva de vida, com muito otimismo, poderá durar mais ou menos apenas uns 30 anos no futuro (minha médica diz que estou probabilisticamente entre os que morrerão nos próximos 10 anos), estes filmes de ficção científica, para mim, servem como uma janela para que eu possa ver o que está por vir depois de minha morte. É minha forma de driblar o inevitável, é como usar a curvatura do espaço e, através de um "wormhole" (buraco de verme ou buraco de minhoca), pegar um atalho no tempo. Nestes filmes vemos a possibilidade de termos um futuro dominado por uma inteligência artificial ou por uma inteligência alienígena. Vemos um futuro onde poderemos descobrir que esta realidade é apenas um programa rodando dentro de um computador quântico ou que este universo é apenas um grão de pó no paletó de alguém andando em outro universo ou então, somos apenas o sonho ou pesadelo de um Deus ou superinteligência. À vezes estes filmes são um alerta, retratando um futuro pós apocalíptico, causado pela colisão de um gigantesco meteoro com nosso planeta ou causado pela nossa própria arrogância e estupidez.
Nos livros de ficção científica, acredito que o escritor Phillip K Dick foi um gênio, um profeta dos novos tempos. Ninguém supera este escritor quando se trata de descrever um cidadão, como eu ou você, absolutamente normal discutindo ou duvidando da sua própria realidade. Será tudo isto que vivemos apenas um sonho? Será o resultado de alguma droga alucinógena? Será tudo apenas uma grande conspiração? Somos controlados o tempo todo por forças desconhecidas ou governos?
A realidade é que nos últimos 30 anos, as ideias de Phillip K Dick tem sido, no cinema, usadas e abusadas. O universo de Phillip K Dick é pessimista, psicótico e basicamente desumano mas, sempre no final deixa uma porta aberta para a redenção onde vislumbramos o nosso poder para sobreviver às catástrofes mais terríveis. Outro admirador de Phillip K Dick é o famoso diretor de cinema Terry Gillian.
Na minha busca pelo novo, pelo futuro, pela verdade, o primeiro diretor à causar-me um choque intelectual foi Stanley Kubrick com seu clássico 2001: A Space Odyssey (2001: Uma Odisseia no Espaço) lançado em 1968 e baseado numa história chamada The Sentinel (O Sentinela) escrita por Arthur C. Clarke, um outro profeta da ficção científica. Stanley Kubrick ainda nos brindaria com outros filmes excelentes mas foi só em 1982 que o próximo filme à conquistar meu intelecto apareceu chamado Blade Runner (Blade Runner: O Caçador de Androides) e, baseado no excelente livro de Phillip K Dick intitulado Do Androids Dream of Electric Sheep? Muito embora filmes como Alien (1979) e Terminator (1984) sejam clássicos, foi só muito tempo depois, com o primeiro filme da série Matrix dirigido pelos irmãos The Wachowski que alguém discutiu a natureza da realidade de forma tão impactante. Infelizmente, no caso particular do filme Matrix, nesta trilogia, os dois outros filmes que se seguiram, bem ao estilo de Hollywood, apenas serviram para destruir e ridiculizar as propostas do primeiro.
Bom, só mesmo o grande Terry Gillian, responsável por filmes clássicos como Time Bandits (1981), Brazil (1985), The Fisher King (1991), Twelve Monkeys (1995), Fear and Loathing in Las Vegas (1998) seria capaz de nos brindar com um filme como The Zero Theorem (2013).
Assisti este filme ontem e, fui dormir com a cabeça à mil. Acordei esta manhã com as ideias do filme ainda girando na minha cabeça e devo dizer que fazia tempo que um filme não causava-me uma agitação mental tão grande.
Mas do que se trata este filme? O Teorema Zero um filme é baseado no screenplay escrito por Pat Rushin um professor de escrita criativa do Departamento de Inglês da University of Central Florida e, basicamente é uma fantasia futurística onde o multitalentoso ator Christoph Waltz aparece como um hacker de computadores bem antissocial, um tipo de nerd com uma pitada de autismo, buscando pelo significado da vida, pelo significado da sua realidade ou existência através da tentativa de resolver um problema matemático insolúvel. O filme mistura temas como sofrimento e angústia existencial, controle e proliferação das grandes corporações e o quebra-cabeças da possibilidade de que tudo na verdade, todo o esforço da nossa existência resulte em nada, em apenas um grande zero! Para aqueles que já familiares com o estilo de Terry Gillian, reconhecerão imediatamente neste filme seu estilo "kitsch pós apocalíptico" que aliás foi muito bem absorvido, polido, embelezado e usado no filme Hunger Games (Jogos Vorazes). Seu estilo tem sido tão copiado à ponto de que alguns críticos acusaram Terry Gillian de estar se repetindo, copiando à si mesmo.
Mas, voltando ao filme, uma das imagens centrais desta película é a de um Black Hole (Buraco Negro). É aí que a coisa realmente me tocou. Questionar a nossa realidade, nossa existência à partir de um Black Hole, para mim, é uma ideia nova que explica muita coisa.
Vejam bem, quando a comunidade científica aceita como viável a criação do nosso Universo como resultado de uma gigantesca explosão tendemos pela nossa ignorância cosmológica simplesmente concordar baixando a cabeça afirmativamente. Mas o que é um Buraco Negro? Primeiro devemos aceitar a ideia de que toda massa é sujeita aos efeitos da gravidade e que em condições especiais a maciça concentração desta massa num certo ponto, criará um campo gravitacional tão forte que, destruirá sua própria estrutura atômica e nem a luz será capaz de escapar. Dizemos que quando esta massa chega à este ponto extremo de concentração a física clássica não será mais capaz de explica-la e, este ponto passará a ser uma "singularidade". Este Buraco Negro resultante, como um remoinho, atrairá tudo que se aproximar do seu "horizonte de eventos". Hoje já se sabe que praticamente toda galáxia (até a nossa Via Láctea) abriga no seu centro um Buraco Negro. Sabe-se também que ele pode criar um ponto de equilíbrio e não engolir toda a galáxia (sorte nossa!). Para onde vai toda esta matéria absorvida pelo Buraco Negro? Do ponto de vista da física nada se perde portando não podemos dizer que milhões de estrelas simplesmente foram engolidas e desapareceram. Alguns cientistas especulam que Buracos Negros sejam postais interdimensionais ou portais para outros Universos.
Outra cena do filme The Zero Theorem dirigido por Terry Gillian.
Mas voltando ao Big Bang e a criação do nosso Universo, a ideia é que o nosso antigo Universo comprimiu-se até o tamanho de uma bola de tênis e explodiu. Desculpe-me mas, minha intuição diz que ele viraria uma singularidade, um Buraco Negro antes disso acontecer! Dentro de um racionalismo simplista, se o o Big Bang realmente aconteceu, esta grande explosão junto com a expansão expeliu a sopa cósmica em todas as direções e, seguindo a Lei de Newton continuaria expandindo mas perdendo velocidade gradativamente devido a gravidade. A expansão então, em um futuro distante, encontraria o seu ponto de equilíbrio, pararia e lentamente começaria a comprimir-se novamente. Esta ideia propõem um Universo cíclico e predeterminado com começo meio e fim. Esta explicação de certa forma atende as nossas necessidades de sabermos de onde vimos e para onde vamos.
Entretanto, no momento já existem vários cientistas que acreditam que a expansão não terá fim, o que implica que o Big Ban não é um fenômeno cíclico, parecendo ser um evento único. Este tipo de solução parece criar mais perguntas do que respostas.
Esta manhã acordei com esta ideia de que, é bem possível que Buracos Negros não sejam passagens ou corredores mas sim criadores de Universos. Imagine o nosso Universo como uma gigantesca bolha de sabão que em determinado momento cria pelo lado de dentro na sua parede um Buraco Negro que começará à atrair a matéria e expeli-la criando uma outra pequena bolha pelo lado de fora, bolha esta que irá crescendo até um dia libertar-se do Buraco Negro que a criou e tornar-se em outro universo.
Do mesmo jeito, podemos imaginar que o nosso Universo também foi criado da mesma forma, como resultado de uma "sopa cósmica" expulsa por um Black Hole. Esta "sopa cósmica" foi expelida e, no processo adquiriu velocidade e causou a expansão que criou o nosso Universo.
Obviamente estou sendo muito simplista mas, no mínimo, todo este texto serviu para mostrar o impacto que causou-me o filme O Teorema Zero.
Professor Pat Rushin, autor do screenplay para The Zero Theorem, numa entrevista, disse que a ideia para seu script foi inspirada no livro Eclesiastes da Bíblia. "Vazio, vazio, vazio, tudo está vazio". É Pat Rushin quem diz:
"Quem falou isto foi Koheleth que é de onde tirei o nome "Cohen" para o meu ator principal. Basicamente, ele está murmurando e lamentando o fato de que não existe vida após a morte. O que é que o homem ganha por viver uma vida de bondade ou qualquer tipo de vida? Acredito que esta seja a primeira reclamação do Velho Testamento: querer um tipo de vida após a morte!"
Bom, Eu, por mim, acho que o meu pagamento deveria ser a revelação da "verdade" e, depois disto nunca mais ser enganado!
Nota final: Gostaria de desculpar-me por não citar aqui dezenas e dezenas de filmes realmente criativos e interessantes que marcaram a minha existência e talvêz a de muitos dos caros leitores! Para falar de todos estes filmes certamente teria que escrever um livro chamado Barbieri e a Ficção Científica. :-)
Antonio Celso Barbieri
The Zero Theorem, caindo no Buraco Negro!