Síria: Uma guerra de mentiras e hipocrisia!
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Bashar al-Assad (Síria) e Mahmoud Ahmadinejad (Iran)
Síria: Uma guerra de mentiras e hipocrisia!
Neste caso, o alvo de real do Ocidente não é o regime brutal de Assad mas seu aliado, Irã e suas alegadas armas nucleares.
Escrito por Robert Fisk e publicado no jornal inglês The Independent no dia 29/07/2012
Traduzido por Antonio Celso Barbieri
Já houve uma guerra no Oriente tão hipócrita? Uma guerra com tanta covardia e tanta falta de moralidade, com uma retórica tão falsa e tanta humilhação pública? Eu não estou falando das vítimas da tragédia Síria. Refiro-me as mentiras absolutas e a falsidade de nossos governantes e nossa própria opinião pública – Oriental e Ocidental – em resposta à matança, uma pantomima viciosa mais digna de uma sátira do que de um Tolstoi ou Shakespeare.
Enquanto, para derrubar a ditadura do Bashar al-Assad (Alauitas/Shia-Baathist) Qatar e Arábia Saudita armam e financiam os rebeldes da Síria, Washington fica mudo e não emite uma só palavra de crítica contra eles. O Presidente Barack Obama e sua Secretária de Estado, Hillary Clinton, dizem que querem uma democracia na Síria. Mas o Qatar é uma autocracia e, a Arábia Saudita é uma das mais perniciosas ditaduras de califas do mundo árabe. Os governantes de ambos os países herdaram o poder de suas famílias – assim como aconteceu com o presidente da Síria – e a Arábia Saudita é um dos aliados dos rebeldes Salafista-Wahabi na Síria, assim como foi o mais fervoroso defensor do Taliban medieval durante a idade das trevas do Afeganistão.
Na verdade, 15 dos 19 sequestradores assassinos responsáveis pelos ataques às Torres Gemeas, acontecido em 11 de setembro de 2001, veio da Arábia Saudita – após o que, naturalmente, o Iraque e o Afeganistão foram invadidos. Os sauditas estão reprimindo sua própria minoria Xiita da mesma forma que, agora querem destruir a minoria Xiita Alauita da Síria. E, acreditamos que a Arábia Saudita quer a criação de uma democracia na Síria?
Então, nós temos o Partido/Força Armada Xiita Hezbollah no Líbano, que é a mão direita do Shia Irã e apoiador do regime Sírio de Bashar al-Assad. Há 30 anos, o Hezbollah defendeu os oprimidos Xiitas do Sul do Líbano contra a agressão israelense. Eles apresentaram-se como os defensores dos direitos palestinos na Cisjordânia e em Gaza. Mas, confrontado com o colapso lento do seu aliado implacável na Síria, eles perderam sua língua. Nem uma palavra têm sido proferida sobre os estupros e assassinatos em massa de civis sírios pelos soldados e milícias "Shabiha"do Presidente Sírio.
Em seguida, temos os heróis da América - Hilary Clinton, o Secretário de defesa Leon Panetta e o próprio Obama. Clinton emite uma "advertência" para Assad. Panetta – o mesmo homem que repetiu no Iraque a velha mentira sobre a conexão de Saddam com 9/11 – anuncia que, na Síria, as coisas estão "em espiral, fora de controle". A coisa está ficando fora de controle pelo menos pelos últimos seis meses. Só agora que ele percebeu?
Será que a administração norte americana realmente gostaria de ver os atrozes arquivos de tortura da Síria abertos à opinião pública? Por que, poucos anos atrás, a administração de Bush enviava muçulmanos para Damasco para que os torturadores do Presidente Bashar arrancassem suas unhas para obterem informações. Os muçulmanos ficavam presos a pedido do governo dos EUA no mesmo buraco do inferno que os rebeldes sírios explodiram em pedaços na semana passada. Embaixadas ocidentais obedientemente forneciam aos torturadosres dos prisioneiros as perguntas para serem feitas às vítimas. O Presidente Bashar, como vocês podem perceber, era um alidado dos Norte Americanos.
Então há esse país vizinho, que nos deve tanta gratidão: Iraque. Este país, na semana passada, sofreu em apenas um dia 29 ataques com bombas em 19 cidades, matando 111 civis e ferindo outros 235. No mesmo dia, o banho de sangue da Síria consumiou aproximadamente o mesmo número de inocentes. Mas, o Iraque foi "varrido para debaixo do tapete" da Síria, porque, é claro, que os Estados Unidos e seu aliados deram liberdade ao Iraque, democracia jeffersoniana, etc, etc, não é? Então esta matança no leste da Síria não tem o mesmo impacto, não é mesmo? Nada que os Estados Unidos e seu aliados fizeram em 2003 levaram o Iraque à sofrer hoje. Certo?
E falando de jornalismo, quem na BBC World News decidiu que, mesmo os preparativos para os Jogos Olímpicos deveriam prevalecer toda a semana passada sobre atrocidades sírias? Os jornais britânicos e a BBC na Grã-Bretanha naturalmente dariam maior atenção aos Jogos Olímpicos por ser uma história local. Mas numa decisão lamentável na BBC, o departamento que faz a radiodifusão para o mundo todo, decidiu também que a passagem da chama olímpica era mais importante do que crianças sírias morrendo, isto mesmo levando em consideração que a BBC tem seus próprios repórteres corajosos enviando seus despachos diretamente de Aleppo.
Então, naturalmente, existe nós, com nosso querido senso liberal, que somos tão rápidos para encher as ruas de Londres em protesto contra o ataque dos israelenses contra os palestinos. Aliás, muito certo é claro, porque, quando nossos líderes políticos ficam felizes em condenar árabes pela sua selvageria, mas tímidos demais para pronunciar uma palavra de crítica mais suave quando o exército israelense comete crimes contra a humanidade – ou observam seus aliados a fazê-lo no Líbano – pessoas comuns tem que lembrar ao mundo que eles não são tão tímidos como os políticos. Mas, quando os indicadores de morte na Síria atingem 15.000 ou 19.000 mortes – talvez 14 vezes mais mortes do que o ataque selvagem de Israel à Gaza em 2008-2009 - dificilmente um único manifestante, exceto por sírios exilados no exterior, caminham pelas ruas para condenar estes crimes contra a humanidade. Crimes de Israel não foram nesta escala desde 1948. Com ou sem razão, a mensagem que sai é simples: exigimos justiça e o direito à vida para árabes, quando eles são massacrados pelo oeste e seus aliados israelenses; mas não quando eles estão sendo massacrados por seus colegas árabes.
E, enquanto isto, esquecemos a "grande" verdade. Que esta é uma tentativa de esmagar a ditadura Síria não por causa de nosso amor por sírios ou nosso ódio do nosso antigo amigo Bashar al-Assad, ou por causa de nossa indignação com a Rússia, cujo lugar no panteão dos hipócritas é claro quando assistimos a sua reação à todos os pequenos Stalingrads que existiam por toda a Síria. Não, isso é tudo sobre o Irã e o desejo dos Norte Americanos e seus aliados em esmagar a República Islâmica e seus planos nucleares infernais – se é que eles existem – e não tem nada a ver com direitos humanos ou o direito de vida ou a morte de bebês sírios. Não se iludam, o Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é o real alvo dos Estados Unidos!
Enquanto, para derrubar a ditadura do Bashar al-Assad (Alauitas/Shia-Baathist) Qatar e Arábia Saudita armam e financiam os rebeldes da Síria, Washington fica mudo e não emite uma só palavra de crítica contra eles. O Presidente Barack Obama e sua Secretária de Estado, Hillary Clinton, dizem que querem uma democracia na Síria. Mas o Qatar é uma autocracia e, a Arábia Saudita é uma das mais perniciosas ditaduras de califas do mundo árabe. Os governantes de ambos os países herdaram o poder de suas famílias – assim como aconteceu com o presidente da Síria – e a Arábia Saudita é um dos aliados dos rebeldes Salafista-Wahabi na Síria, assim como foi o mais fervoroso defensor do Taliban medieval durante a idade das trevas do Afeganistão.
Na verdade, 15 dos 19 sequestradores assassinos responsáveis pelos ataques às Torres Gemeas, acontecido em 11 de setembro de 2001, veio da Arábia Saudita – após o que, naturalmente, o Iraque e o Afeganistão foram invadidos. Os sauditas estão reprimindo sua própria minoria Xiita da mesma forma que, agora querem destruir a minoria Xiita Alauita da Síria. E, acreditamos que a Arábia Saudita quer a criação de uma democracia na Síria?
Então, nós temos o Partido/Força Armada Xiita Hezbollah no Líbano, que é a mão direita do Shia Irã e apoiador do regime Sírio de Bashar al-Assad. Há 30 anos, o Hezbollah defendeu os oprimidos Xiitas do Sul do Líbano contra a agressão israelense. Eles apresentaram-se como os defensores dos direitos palestinos na Cisjordânia e em Gaza. Mas, confrontado com o colapso lento do seu aliado implacável na Síria, eles perderam sua língua. Nem uma palavra têm sido proferida sobre os estupros e assassinatos em massa de civis sírios pelos soldados e milícias "Shabiha"do Presidente Sírio.
Em seguida, temos os heróis da América - Hilary Clinton, o Secretário de defesa Leon Panetta e o próprio Obama. Clinton emite uma "advertência" para Assad. Panetta – o mesmo homem que repetiu no Iraque a velha mentira sobre a conexão de Saddam com 9/11 – anuncia que, na Síria, as coisas estão "em espiral, fora de controle". A coisa está ficando fora de controle pelo menos pelos últimos seis meses. Só agora que ele percebeu?
Será que a administração norte americana realmente gostaria de ver os atrozes arquivos de tortura da Síria abertos à opinião pública? Por que, poucos anos atrás, a administração de Bush enviava muçulmanos para Damasco para que os torturadores do Presidente Bashar arrancassem suas unhas para obterem informações. Os muçulmanos ficavam presos a pedido do governo dos EUA no mesmo buraco do inferno que os rebeldes sírios explodiram em pedaços na semana passada. Embaixadas ocidentais obedientemente forneciam aos torturadosres dos prisioneiros as perguntas para serem feitas às vítimas. O Presidente Bashar, como vocês podem perceber, era um alidado dos Norte Americanos.
Aliado saudito: Hillary Clinton em uma conferência com o Ministro dos Negócios Estrangeiros Saudita
discutindo planos para a instalação no Golfo de um escudo de mísseis contra os iranianos.
Então há esse país vizinho, que nos deve tanta gratidão: Iraque. Este país, na semana passada, sofreu em apenas um dia 29 ataques com bombas em 19 cidades, matando 111 civis e ferindo outros 235. No mesmo dia, o banho de sangue da Síria consumiou aproximadamente o mesmo número de inocentes. Mas, o Iraque foi "varrido para debaixo do tapete" da Síria, porque, é claro, que os Estados Unidos e seu aliados deram liberdade ao Iraque, democracia jeffersoniana, etc, etc, não é? Então esta matança no leste da Síria não tem o mesmo impacto, não é mesmo? Nada que os Estados Unidos e seu aliados fizeram em 2003 levaram o Iraque à sofrer hoje. Certo?
E falando de jornalismo, quem na BBC World News decidiu que, mesmo os preparativos para os Jogos Olímpicos deveriam prevalecer toda a semana passada sobre atrocidades sírias? Os jornais britânicos e a BBC na Grã-Bretanha naturalmente dariam maior atenção aos Jogos Olímpicos por ser uma história local. Mas numa decisão lamentável na BBC, o departamento que faz a radiodifusão para o mundo todo, decidiu também que a passagem da chama olímpica era mais importante do que crianças sírias morrendo, isto mesmo levando em consideração que a BBC tem seus próprios repórteres corajosos enviando seus despachos diretamente de Aleppo.
Então, naturalmente, existe nós, com nosso querido senso liberal, que somos tão rápidos para encher as ruas de Londres em protesto contra o ataque dos israelenses contra os palestinos. Aliás, muito certo é claro, porque, quando nossos líderes políticos ficam felizes em condenar árabes pela sua selvageria, mas tímidos demais para pronunciar uma palavra de crítica mais suave quando o exército israelense comete crimes contra a humanidade – ou observam seus aliados a fazê-lo no Líbano – pessoas comuns tem que lembrar ao mundo que eles não são tão tímidos como os políticos. Mas, quando os indicadores de morte na Síria atingem 15.000 ou 19.000 mortes – talvez 14 vezes mais mortes do que o ataque selvagem de Israel à Gaza em 2008-2009 - dificilmente um único manifestante, exceto por sírios exilados no exterior, caminham pelas ruas para condenar estes crimes contra a humanidade. Crimes de Israel não foram nesta escala desde 1948. Com ou sem razão, a mensagem que sai é simples: exigimos justiça e o direito à vida para árabes, quando eles são massacrados pelo oeste e seus aliados israelenses; mas não quando eles estão sendo massacrados por seus colegas árabes.
E, enquanto isto, esquecemos a "grande" verdade. Que esta é uma tentativa de esmagar a ditadura Síria não por causa de nosso amor por sírios ou nosso ódio do nosso antigo amigo Bashar al-Assad, ou por causa de nossa indignação com a Rússia, cujo lugar no panteão dos hipócritas é claro quando assistimos a sua reação à todos os pequenos Stalingrads que existiam por toda a Síria. Não, isso é tudo sobre o Irã e o desejo dos Norte Americanos e seus aliados em esmagar a República Islâmica e seus planos nucleares infernais – se é que eles existem – e não tem nada a ver com direitos humanos ou o direito de vida ou a morte de bebês sírios. Não se iludam, o Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é o real alvo dos Estados Unidos!
Robert Fisk é o correspondente para Oriente Médio do jornal The Independent. Ele é autor de vários livros sobre a região, incluindo A Grande Guerra para a Civilização: A Conquista do Oriente Médio. |