Caio, Jian, Ludi & Gi
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Caio, Jian, Ludi & Gi
Caio = Conrado Ruiz (Mona, Joelho de Porco) |
Na segunda metade dos anos 70 havia uma forte influência da música eletrônica, que explodia nas discotecas e danceterias. Uma geração de músicos criava novos rumos, trazendo sua bagagem do rock & roll, do rock progressivo, do blues, e da folk music. O gosto pelo canto, e as raízes urbanas de uma juventude em São Paulo deram o colorido especial a esta mescla quando quatro destes músicos se uniram.
Egidio Conde (Som Nosso de Cada Dia, Moto Perpétuo) e eu, Conrado Ruiz (Mona, Joelho de Porco) havíamos criado um convívio de amizade e parceria em encontros anteriores, e já sabíamos de nossa forte afinidade musical. Era fácil compor músicas sinceras, às vezes descrevendo situações que nem todos poderiam ver, como aquela tarde de verão em que a chuva refletia os tons de um sol dourado nos prédios, parques e avenidas. Dedicamos aquela música “para bancários e balconistas”. Muitas outras assim nasceram.
Oswaldo Fagnani (Premeditando o Breque) foi uma aquisição natural. Havia tocado contrabaixo com Egídio, e tinha características que imediatamente o colocavam neste caldeirão. Era compositor, poeta e cantor, e questionava de modo particular as situações da vida, até mesmo a exatidão do significado da palavra amor. Trazia sempre novos ângulos para qualquer questão supostamente mais banal. Descobri mais tarde que partilhava comigo um gosto especial por batatas fritas com todos os temperos disponíveis.
As músicas nasciam, e já tinham uma personalidade. Sabíamos como deveriam ser cantadas e tocadas. Eram poesias, e deveriam ser claras, mas nunca singelas. Traziam a profundidade de nossos dias de sonhos e juventude.
João Carlos Kurkjian (Terreno Baldio) cantava como um anjo. Havia cantado antes com o Egídio e comigo, quando pouco nos conhecíamos. Além das qualidades de músico, agregava valores de amizade que faziam parte de nossos fundamentos. Reconhecemos nele alguém que deveria participar da formação vocal que queríamos, claramente inspirados em “Crosby, Stills & Nash”, e “Fleetwood Mac”.
Em um pequeno estúdio na Rua Alfonso Bovero, montado na escola de música do professor Fausto “Brilhante”, começamos as gravações. Tudo era pilotado por nós, muito em especial pelo Egidio. Se a amizade já era importante, aí então ganhou destaque de primeiro plano. Sem recursos, com um gravador Tascam de 4 canais, os milagres do Egídio começaram a acontecer, enquanto outros amigos se juntavam ao grupo. O “grande“ Ivo Barreto na técnica, Robert, Paschoal e Rogério na percussão, Dino Vicente no piano, e muitos outros que assistiam, opinavam e tocavam nas gravações, apenas pelo prazer de participar da criação de algo novo, sem similares até então.
De uma certa forma, antecipávamos o que hoje é moda com o nome de “unplugged”. As músicas se sustentavam em arranjos limpos, destacando letras, melodias e harmonias. Os grupos vocais vieram a fazer sucesso posteriormente, e para nosso prazer pessoal, com material que não se aproximaria jamais do “Caio, Jian, Ludi & Gi”. Tínhamos aquela certeza, que se tem quando se é jovem, de que éramos os melhores.
Pois bem, já se passaram tantos anos, e há muito tempo não somos jovens, mas ainda acho que estávamos certos. Éramos os melhores, em uma das melhores épocas de nossas vidas. Quem tiver a oportunidade de ouvir estas músicas poderá partilhar desta opinião comigo. Ouvirá os sons da chuva, das noites, da cidade e do interior. Fará uma viagem a um tempo precioso, em que tínhamos tanto a dizer.
É muito bom poder ouvir hoje o resultado deste encontro, mais uma vez graças ao Egídio. Sinto novamente o prazer de ter vivido tudo isto. Mais ainda, sinto orgulho.
Conrado Ruiz
2 de janeiro de 1998
Duas pérolas que merecem ser ouvidas!