Isabel Monteiro (Drugstore): Entrevista em Londres (1995)
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Isabel Monteiro ao vivo em Birmingham (UK) em 2001.
Drugstore
"Por favor escutem esta música no escuro, bem isolados do resto do mundo e com seus fones de ouvidos no máximo. Não se trata apenas de música contemporânea mas sim de um tempo que existe somente dentro da sua cabeça." Isabel Monteiro.
White Magic For Lovers é o nome do novo álbum da banda inglesa Drugstore que conta com a musa Isabel Monteiro nos vocais. Isabel, lá pela virada dos anos 90, saiu de São Paulo para estabelecer-se em Londres.
Quando, em março de 1995 a banda lançou seu primeiro álbum homônimo a reação da crítica inglesa foi excelente. As revistas Melody Maker e New Music Express não pouparam elogios chegando a comparar Isabel com Nico e Marianne Faithful. Este primeiro álbum trazia uma atmosfera mórbida e suicida onde a voz de Isabel aparecia sensual e adolescente ao mesmo tempo que desafiadora, deixando transparecer uma aura sutil de melancolia. A qualidade da gravação, o cuidado com a produção do disco além das reconhecidas habilidades vocais de Isabel apontavam para o sucesso imediato.
Daron Robinson Guitarra e Vocais |
Matt Aulich Guitarra |
Ian Burdge Violoncelo |
Mike Chylinski Bateria |
A banda nasceu em 92 quando Isabel e o baterista americano Mike Chylinsk começaram a dividir um apartamento na capital inglesa. Em março de 93, em vez de mandarem demos para as gravadoras, preferiram produzir e prensar 500 cópias do seu primeiro single chamado Alive distribuindo-os através do seu próprio selo Honey. Não só eles conseguiram vender todos os CDs, como também foram premiados pela Melody Maker com o título de melhor single da semana o que, resultou na assinatura de um contrato com uma gravadora alguns meses depois. Muitos singles e muitos shows seguiram-se onde Drugstore acabou tocando junto com Smashing Pumpkins, Lemonheads e Echobelly, entre muitos outros grandes nomes. Em 95 seu primeiro álbum chegou nas prateleiras das lojas de disco e foi seguido por incontáveis turnês pela America do Norte e Europa. Na Europa a banda apresentou-se nos mais importantes festivais tais como Phoenix e Reading.
No finalzinho de 97 a poeira estava começando a baixar... Então, já na virada do ano, em 98, a banda deu uma guinada, mudou de gravadora assinando com a Roadrunner (Sepultura e Soulfly entre outros) lançando seu novo e tão esperado segundo álbum chamado White Magic For Lovers que inclui na faixa El President um dueto em parceria com nada mais nada menos que Thom Yorke cantor da banda Radiohead e um dos músicos mais respeitados da cena inglesa. Essa música entrou, na semana de lançamento, diretamente no quinto lugar da parada e catapultou o Drugstore para o estrelado imediato. Isabel e sua turma tem sido assediadas pela imprensa , seus shows andam com lotação esgotada e eles estão tendo tido tudo que tem direito. O novo álbum é ótimo e, ao contrário do anterior, apesar de manter a sensualidade vocal de Isabel, é muito mais positivo e alegre nas composições e certamente reflete o estado de espírito atual da vocalista.
Isabel Monteiro ao vivo em Birmingham (UK) em 2001
Todas as fotos acima são de autoria de Adrian "The Rock"
A entrevista com Isabel Monteiro
Bom, foi num clima assim acrescido da emoção do início da Copa do Mundo de futebol que eu tive a chance de bater um papo informal com a Isabel Monteiro…
Barbieri: Num dos singles lançados para promover o álbum anterior você incluiu a música Devil cantada em francês, lembra? Na época eu me perguntei por que você não fez também uma versão em português.
Isabel: Brazilian Devil? ! Diabo brasileiro é o Zagalo! (risos)
Barbieri: Por falar em Zagalo, você assistiu o jogo ontem? (Foi o primeiro jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo)
Isabel: Claro que assisti.
Barbieri: Queriam que eu ligasse para você na hora do jogo e eu imaginei que você não ia querer falar comigo…
Isabel: Eu recebi a programação do nosso empresário ontem com um monte de entrevistas programadas com o Brasil durante o jogo. Eu também falei para ele que não acreditava que o povo quisesse falar comigo.
Barbieri: Para falar a verdade eu também não queria, ia ficar meio difícil.
Isabel: É, jogo da seleção é sagrado.
Barbieri: Eu queria saber alguma coisa das suas influências. Eu tenho a impressão de que você andou ouvindo muito The Doors.
Isabel: Claro, claro, meu pai foi um grande colecionador de discos de rock, sabe? Então, eu cresci num ambiente cheio de discos de gente com Rolling Stones, The Who, Velvet Underground, The Doors entre outros. Já minha mãe escutava Jazz e tinha um gosto mais sofisticadinho. Mas, eu vim parar em Londres há uns 10 anos atrás sem ter a menor idéia de que eu ia acabar tocando e cantando numa banda.
Barbieri: No novo álbum você continua com aquela voz adolescente mas ao mesmo tempo refletindo aquela coisa tipo desespero de fim de mundo?
Isabel: Ho! Não.. meu astral hoje em dia é mais positivo. Este meu segundo álbum é mais confiante, menos introspectivo e bem mais alegre que o anterior. Quando gravamos o primeiro álbuns, o astral da banda estava muito depressivo, meio triste. Eu acho que certa forma refletiu o fato de eu estar aqui isolada e sem amigos como a maioria do povo que vem para o estrangeiro. Quer dizer, demora um tempão para você se entrosar e fazer amigos.. Agora, minha voz mudou muito porque o primeiro álbum foi gravado há 3 anos atrás e eu devo ter fumado depois disso uns 3.000 cigarros. (risos)
Barbieri: Você acha difícil para uma garota vir para cá e chegar até onde você chegou? Você tem algum conselho para as garotas brasileiras que queriam tentar a sorte?
Isabel: A história da Drugstore é tão cheia de surpresas, tão pessoal que é difícil de dizer mas, eu acho que a experiência de morar no exterior é interessante... é muito boa. Você é forçado á aprender uma língua, você é forçado a lidar com situações difíceis todo dia.
Barbieri: Você começou esta aventura dividindo um apartamento com o baterista?
Isabel: Sim o Mike Chylinski. Imagina, um baterista norte americano estudando filosofia em Londres. Eu acho que foi o pique dele que levou a banda para frente. Ele não quis esperar, não quis fazer demo tape. Já no comecinho ele sugeriu para juntarmos uma grana e lançarmos nosso próprio compacto. Juntamos uns 1.000 dólares e imprimimos 500 cópias. Quase sem distribuição nenhuma, a gente mesmo levava os discos lá nas lojas. Foi assim que as portas foram se abrindo.
Barbieri: Você levava na Sister Ray lá no Soho? (A Sister Ray é uma loja onde você sempre encontra coisas mais alternativas).
Isabel: Sister Ray! Isso mesmo! Me lembro muito bem quando nós vendemos nossas primeira 3 cópias… Uau!
Barbieri: Eu fiquei surpreso em ver o Drugstore na gravadora Roadrunner. Uma gravadora mais conhecida pela sua associação com bandas pesadas tipo Sepultura e Soulfly. Como que você vê isso?
Isabel: Bom é meio estranho mas, eu também não acho que é o selo que faz a banda e sim a banda que faz o selo. Não é mesmo?
Barbieri: O Green Day que o diga!
Isabel: A Roadrunner está abrindo para outros estilos. A gravadora, o ano passado, viu a gente tocando no Phoenix Festival e apaixonou-se pela banda. A Roadrunner tem uma atitude super para frente, super positiva e para mim eu não quero nem saber quem está financiando a banda desde que tenha alguém dando aquela força.
Barbieri: E show no Brasil?
Isabel: Nós estamos loucos para tocar lá. A nossa agenda está bem puxada com turnês pela Europa e USA onde nossa música está sendo bem executada nas rádios. Quer dizer, se tudo der certo nós tocaremos no Brasil em dezembro.
Barbieri: Como aconteceu esta parceria com o Thom Yorke (Radiohead)?
Isabel: 2 anos atrás quando o Radiohead estava fazendo a turnê de lançamento do álbum Bend, eles convidaram a Drugstore para abrir os shows deles nos USA. Então nós passamos 1 mês lá e neste período fizemos a maior amizade. Eles são super gente boa, sem pretensão, sem frescura nenhuma. Acabamos depois disso fazendo com eles uma outra turnê pela Europa e a amizade ficou. Quando eu compus EI President eu compus sem pensar que seria um dueto. Quando no estúdio, pensei que talvez o Thom gostaria de cantar um pouquinho na canção..
Barbieri: Foi bem esperto da sua parte!
Isabel: Foi muita generosidade da parte dele porque, ele não precisa fazer dueto com ninguém.
Dynamite: Você acha que este é o ano da Drugstore?
Isabel: (rindo) Eu acho que o ano 2.000 é que será o ano do Drugstore.
Barbieri: Muita gente diz que o terceiro álbum é o álbum que define tudo. É onde a banda acaba por descobrir o seu som único…
Isabel: É possível.. Para ser sincera com você, nós estamos tão contentes de estar podendo fazer turnês, do álbum estar nas lojas. Eu não tenho mil ambições. Se puder continuar fazendo música já estou feliz.
Barbieri: Como é seu processo criativo. Você enche a banheira d’água, põem uns sais e fica lá meditando?
Isabel: (rindo) Entro na banheira! Não! Eu componho na cozinha mesmo, sentada na minha cadeirinha em frente da minha mesinha. Normalmente eu componho quando estou sozinha e é uma coisa tipo espontânea, sabe eu não consigo escolher um tema ou trabalhar em cima de uma nota musical ou coisa assim. Geralmente a canção já vem pronta.
Barbieri: Você é que nem aqueles escritores que sofrem aqueles desejos e impulsos para escrever?
Isabel: Exatamente. Só que infelizmente não acontece todo dia. Às vezes eu tenho esta necessidade de pegar a guitarra e cantar esta canção que já vem pronta. Não é um processo muito sério, premeditado, é uma coisa natural e espontânea.
Barbieri: O Oasis parece que pega um monte de músicas dos Beatles picota os melhores pedaços, depois junta tudo e faz uma nova que é apenas uma colagem dos originais…
Isabel: Eu não posso negar que tudo que fazemos musicalmente é a soma das nossas influencias anteriores mas, eu não posso realmente apontar uma banda como sendo a nossa maior influência. Existe de tudo um pouco..
Barbieri: E a família? Você tem irmãos?
Isabel: Eu tenho uma irmã mais velha e um irmão mais novo. Eu ando um pouco afastada da minha família..
Barbieri: Você é a ovelha negra. Aquela que saiu para o mundo…
Isabel: Sem dúvida! Quando me mandaram para cá, me mandaram com passagem só de ida! (risos)
White Magic for Lovers (CD, 1997) |
Fader (CD Single, 1995) |
Aqui na nossa rádio online o leitor poderá ouvir 3 músicas. Duas do álbum White Magic for Lovers, uma chamada Say Hello e a outra a clássica El President executada num dueto de Isabel Monteiro com Thom Yorke (Radiohead). A terceira música, cantada em francês, é chamada French Devil e foi retirada do single Fader.
Esta matéria é de autoria do Barbieri e foi originalmente escrita para a Revista Dynamite, tendo sido publicada na sua edição de outubro/dezembro 1998.
Copy Desk Andrea Falcão
Diagramação, Revisão e Atualização A. C. Barbieri |