Ivan Barasnevicius Trio: Continuum, somos brindados com mais um álbum competente!
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CONTINUUM
Ivan Barasnevicius trio nos brinda com novo álbum chamado Continuum contendo 6 faixas instrumentais, como sempre, muito competentes onde dão vazão ao seu Jazz temperado com pitadas retiradas da música brasileira onde a banda constroi um universo musical todo seu!
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Não resisti a tentação de usar a música Pé de Bode como trilha sonora para uma animação para um dos episódios da série Rapsódia Arzak (Arzak Rhapsody) criada pelo artista francês Moebius. Aliás já tinha usado três destes episódios para animar músicas do falecido baixista Rene Seabra.
Sou um grande fã de ficção científica e do artista gráfico Jean Giraud em particular. Giraud é mais conhecido no mundo da ficção científica pelo nome artístico Moebius. Então em 2008, quando tive a oportunidade de ver pela primeria vez, as animações baseadas na sua série Rapsódia Arzak (Arzak Rhapsody) mostrando um universo fantástico e hipnótico, não resisti a idéia de juntar a música de Renê Seabra com este maravilhoso mundo visual que só mesmo Moebius poderia ter criado.
Achei também que seria uma oportunidade excelente para introduzir ao povo brasileiro que ainda não conhece a genialidade deste artista gráfico francês nascido em 1938.
Sua influência no cinema é importantíssima e, de uma forma ou de outra seu nome está ligado à filmes clássicos como Alien (1979), The Time Masters (1982), Tron (1982), Blade Runner (1982), Masters of the Universe (1987), Willow (1988), The Abiss (1989), The Fifth Element (1997).
Muito embora nenhum crédito tenha sido dado, a sua influência no filme Avatar é óbvia.
Bom, neste novo álbum de Ivan Barasnevicius Trio senti que sua música serviria muito bem como trilha sonora para mais um deste episódios, hoje considerados raros e muito cult. Portanto, divirtam-se!
Antonio Celso Barbieri
Barbieri entrevista Ivan Barasnevicius à respeito do álbum Continuum
Barbieri: Como foi a produção do Continuum?
Ivan: Sobre a produção do disco, os arranjos foram escritos antes, mas apesar disso, muitas vezes tanto a Dé como o Thiago acrescentaram suas sugestões e interpretações. Outro fator bastante relevante também foi o fato de termos tocado por um longo tempo estas composições antes de gravar. Boa parte dos arranjos já existia à época em que gravamos o Síntese, embora foram amadurecendo à medida que íamos tocando. Com relação à composições, vale lembrar que Groove pra Dé, Bizuca e Granizo são minhas. Hipnose é de um grande amigo meu, Luciano Nobre, compositor e guitarrista. Tocamos essa música em muitas canjas que fizemos na minha escola, a Venegas Music. Desde a primeira vez em que ele me mostrou esta música, sempre gostei muito de sua estrutura diferente, com a parte A em compasso quaternário e o B compasso ternário. Acalanto é uma composição da Dé Bermudez. Cheguei um dia em casa e ela estava com a minha SG nas mãos tocando a melodia e anotando tudo numa folha pautada. Não pude deixar de reparar na beleza daquela melodia. Dei umas ideias para a elaboração do arranjo, passamos algumas vezes com o Thiago e ela já estava formatada. A Pé de bode é do Luciano Magno, e toquei ela pela primeira vez quando o entrevistei na Venegas Music TV, em setembro de 2011. Aí depois não conseguia mais parar de estudar aquela melodia sofisticada, que era baião, jazz e rock, tudo ao mesmo tempo. Foi inevitável trazer o arranjo de Pé de bode para o repertório do trio, assim como era essencial que ela estivesse no Continuum. Da maneira geral, o arranjo dela é um dos mais "soltos" do disco, pois apesar de ter me preocupado com as convenções rítmicas para o arranjo de base, deixei a parte dos improvisos bem livre. Em Granizo, melódica e harmonicamente ela é toda construída a partir da escala de tons inteiros. Fiz esta música numa época em que estava bastante interessado na sonoridade desta escala, e treinava diversas progressões e exercícios com este material, tendo pesquisado em diversas fontes. Assim surgiram várias das ideias que compõem Granizo. Esteticamente, procurei misturar riffs pesados de guitarra com levadas de samba-jazz. Assim, esta música mostra claramente qual é a proposta do trio, afinal ela traz elementos bastante inusitados dentro de uma mesma composição.
Além das citadas acima, escrevi também um arranjo para Minuano (Pat Metheny/ Lyle Mays), sendo que gostei demais do resultado do arranjo. Gosto muito de pegar uma composição de outro autor com a qual eu me identifique, mas dar a ela outra roupagem, muitas vezes alterando bastante as intenções originais da peça. Ela será lançada separadamente em um EP, por questões de direitos autorais e restrições territoriais de distribuição digital. Sobre a Groove pra Dé, de certa forma a música "cresceu" à medida em que fomos tocando ela. Como falei anteriormente, este repertório foi bastante tocando em apresentações antes de ser gravado, então as coisas foram mudando ao longo do tempo, fomos experimentando várias coisas.
Acredito que em Continuum em alguns momentos utilizei mais distorção e mais peso. Mas também acrescentei o violão de aço em Acalanto, e a sonoridade da guitarra acústica em Hipnose, coisas que não tinha feito em Síntese. Assim, procurei aprofundar as diferenças entre os climas, de forma a deixar mais evidente o principal objetivo musical do trio, que é promover a junção de elementos bem díspares em um mesmo trabalho. Talvez a mais evidente diferença com relação ao primeiro disco seja a inclusão de mais arranjos para peças de outros compositores. Assino apenas metade das composições, porém todos os arranjos. Mas certamente isso se deve ao fato de que sempre me interessei bastante por esta disciplina. Ao longo dos anos, já fiz inúmeros estudos de arranjo escrevendo para diferentes formações, então é natural que este tipo de situação aconteça também no trabalho do trio.
Temos as mais diversas influências, e isso é nada mais do que um reflexo de toda a nossa vida musical: começamos tocando metal (eu no Violent Hate, como você bem sabe) e posteriormente travamos contato com o jazz e a improvisação. Os ritmos brasileiros sempre estiveram em nosso entorno, mesmo em épocas de nossas vidas onde esse não era o nosso principal interesse. Assim, buscamos utilizar em nossa música diversos elementos, sem preconceitos de estilo. Nossa proposta é promover a junção de elementos muitas vezes conflitantes em uma mesma música, o que muitas vezes causa estranheza para quem ouve... :-) Conseguir equilibrar estas sonoridades é um grande desafio, ainda mais quando se trata de um "power trio". Normalmente, os técnicos de som ficam malucos, principalmente colocamos samba-jazz e heavy metal em uma mesma faixa... :-) Conforme o André Ferraz me disse pessoalmente, é como se fosse necessário mixar duas ou três bandas diferentes em uma mesma música. E ele não foi o primeiro a reclamar... :-)
Acredito que a principal ideia do trabalho é não ter preconceitos de estilo. Não fico pensando em fazer algo tecnicamente sensacional, ou em fazer solos mirabolantes. "Técnica" pode significar uma série de coisas, sendo que "fluência" é apenas um dos seus aspectos. O que deve-se ressaltar também é o fato de o Thiago e a Dé serem músicos excelentes. Posso escrever para eles sem me preocupar. Dá muito gosto trabalhar assim, pois posso testar diversas ideias sem limitações musicais.
Para esta gravação, os equipamentos foram mais variados do que em Síntese, embora sejam coisas relativamente simples. Acredito que a sonoridade está antes de qualquer coisa nas mãos do próprio músico. Não fico testando dezenas de equipamentos. Mas testo dezenas de possibilidades para os arranjos... :-) Mas de qualquer forma, utilizei a SG + Um Marshall Valvestate bem antigo nas faixas Granizo e Groove pra Dé, usei também uma Telecaster com um P90 no braço plugada em um Fender Deluxe para gravar Bizuca e as partes com distorção de Groove pra Dé, e também uma guitarra acústica com cordas flat plugada em um Fender Ultimate Chorus para "Hipnose", "Acalanto" e a faixa-bônus Minuano, que conforme falei será lançada posteriormente. Sem contar um violão canadense de cordas de aço emprestado do André Ferraz para gravar Acalanto e que não me lembro o nome, e do meu violão de nylon Caltram '98 para Minuano.
Barbieri: O nascimento da sua filha influenciou na gravação?
Ivan: Foi um negócio muito louco, porque boa parte das gravações dos baixos a Dé fez com a Pietra chutando na barriga! Algumas gravações foram desmarcadas devido aos enjoos! Certamente guardaremos com muito carinho estas lembranças! E ela, quando puder entender, acredito que irá achar bem curioso de, de certa forma, ter participado das gravações. :-) E Sem dúvida, ela veio para nos dar ainda mais força e vontade de tocar!
Barbieri: Você gravou no mesmo estúdio?
Ivan: Desta vez mudamos de estúdio. E vale ressaltar a feliz escolha do estúdio do André Ferraz para a realização desta gravação, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. É um lugar que certamente eu recomendo para os amigos músicos que ainda não o conheçam. O cuidado que ele teve com o nosso trabalho claramente refletiu no resultado final. É muito importante quando o profissional envolvido na gravação e mixagem consegue captar a essência da banda da melhor maneira possível, pesquisando sempre as melhores opções em todas as etapas, buscando orientar o processo mas sem interferir na proposta do trio.
Barbieri: Quais os planos para 2015?
Ivan: Neste momento, estou preparando mais um disco, desta vez um duo de guitarras com meu parceiro Rodrigo Chenta. O nome do disco será Novos Caminhos. Iniciamos as atividades do duo em 2013. Procuramos Desenvolver técnicas de arranjo, composição, improvisação e interação musical, utilizando assim, apenas duas guitarras acústicas.
Em nosso repertório procuramos trabalhar composições próprias onde poucas músicas caminham por ambientes como a balada, a bossa nova, o jazz e o groove. A maioria dos temas compostos pelo duo demonstram grande originalidade ao não se enquadrarem em gêneros e estilos musicais já formatados e difundidos.
Barbieri: Ouve alguma repercução sobre a matéria que fiz para o seu álbum anterior chamado Síntese?
Ivan: Sim, a matéria foi duplicada no site Combate Rock e pude verificar muitas curtidas no facebook e também rolaram muitos "plays" no soundcloud à época da matéria no seu blog. E como disse anteriormente, este tipo de divulgação é de grande importância para quem, como nós, trabalha de forma independente. Portanto, só tenho que agradecer e parabenizar sua iniciativa, Barbieri!