SP ROCK 70 IMAGEM: Mostra no Sesc Belenzinho relembra os anos 70!
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Mutantes (1972) - Foto: Leila Lisboa.
SP ROCK 70 IMAGEM
Mostra no Sesc Belenzinho relembra os anos 70!
Escrito por Marcelo Moreira, Especial para o Estado
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Tarde quente no sujo centro de São Paulo neste finzinho de 2012. Três homens aparentando mais de 50 anos entram na Galeria do Rock e vão direto a uma das lojas mais importantes e antigas dali. Cumprimentam a todos e abraçam o dono, empresário que já bancou gravações e LPs de boa parte do underground paulista dos anos 70 e 80. (Nota do Barbieri: O dono da loja é o lendário Luiz Calanca!)
Um garoto olha para os homens e fica intrigado com o de chapéu preto, óculos escuros e camiseta preta. "Será que o cara acha que é cantor de rock?", brinca inocentemente com a amiga de iguais 18 ou 19 anos. Após algum tempo, Oswaldo Vecchione, ao lado do irmão Celso e do amigo Vespaciano Ayala, vão embora. Percebendo a curiosidade do garoto, ainda fitando Vecchione, que usava o chapéu, um frequentador assíduo da loja Baratos Afins, falou alto para todo mundo ouvir: "Adoro Made in Brazil. Foi muito legal conversar com os integrantes." O casal de garotos empalideceu e saiu atrás dos músicos em seguida.
Som Nosso de Cada Dia - Foto: Carlos Hyra
A cena ilustra um incipiente e súbito interesse por grupos brasileiros de rock dos anos 70 do século passado em algumas das mais cultuadas lojas de CDs e LPs que sobrevivem na capital paulista. Lojistas comentam que cresceu em 2012 o número de interessados em álbuns do Tutti Frutti (ex-banda de Rita Lee e com o produtor Luís Carlini participando da formação atual), Mutantes da fase progressiva, Som Nosso de Cada Dia, O Terço e outros nomes importantes da época.
E o interesse deve aumentar este mês com a abertura da mostra SP_Rock_70_Imagem, no Sesc Belenzinho. Do dia 19 até março, o evento reunirá a mais expressa mostra de imagem do rock feito especialmente em São Paulo há 40 anos. Fotos raras e inéditas de artistas nos palcos e na intimidade são destaque, mas o painel de capas de LPs não fica atrás, cortesia do curador da exposição, o músico, compositor, jornalista e pesquisador Moisés Santana.
Sérgio Magrão (O Terço) - Foto: Carlos Hyra.
"Sou de Salvador e vivenciei toda a cena musical dos anos 70, sei como era difícil ter acesso a LPs e shows das bandas importantes na Bahia. O rock nacional transbordava criatividade e inteligência, mas não teve o reconhecimento merecido por conta da época difícil em que o Brasil vivia, ainda no regime militar e com pouco interesse das grandes gravadoras e redes de TV", diz Santana.
Algumas capas e fotos foram feitas por artistas, também jovens na época, como Juarez Machado, Carlos Vergara, Antonio Peticov, Bicalho, Waltercio Caldas, Miguel Rio Branco, André Peticov, Alain Voss, David Drew Zing. O time de fotógrafos com trabalhos incluídos na mostra é de primeira: Ana Arantes, Antonio Freitas, Carlos Hyra, Flavia Lobo, Hermano Penna, Leila Lisboa, Márcia Rebello, Mario Luiz Thompson e Vânia Toledo.
Apokalypsis (1975) - Foto: Carlos Hyra.
O evento multimídia envolve também palestras, exibição de trechos do documentário SP_Rock_70_Doc, de Moisés Santana e recheado de entrevistas com músicos, e shows nos fins de semana. A primeira atração é o Made in Brazil, dos irmãos Vecchione, que entram no 46.º ano de atividade tocando na íntegra o seu clássico álbum Jack, o Estripador.
Outro nome imperdível é Próspero Albanese, com o show A Voz do Joelho, interpretando músicas de sua carreira solo e do seu Joelho de Porco. O resgate do rock setentista trará pérolas como Terreno Baldio, Casa das Máquinas, Patrulha do Espaço e Tutti Frutti, além da banda 70 de nOvo, que reúne músicos de bandas da época. Da safra atual, também há atrações interessantes, todos influenciados pelo som da época. O Pedra talvez seja o grupo que mais demonstra e se orgulha de beber nas bandas setentistas. Em alguns momentos, é quase um cruzamento de Mutantes, Tutti Frutti e Patrulha do Espaço. O Baranga e o Carro Bomba fazem um rock mais pesado, incorporando muito do hard rock inglês da época, mas com nítidas influências de bandas brasileiras.
Papa Poluição (1976) - Foto: J Tomas.
Moisés Santana não gosta do termo revival. Prefere dizer que SP_Rock_70_Imagem retrata parte importante da história musical e cultural do País, já que reúne trabalhos de artistas dos mais notórios da fotografia e artes plásticas, sem falar na música em si.
"A exposição revela que artística e culturalmente o rock dos 70 foi muito expressivo, apesar de pouco reconhecido. Fala-se muito, e com razão, de Mutantes, Raul Seixas, Rita Lee, Novos Baianos e Secos & Molhados, mas havia mais do que isso, existia uma cena prolífica, que produziu ótimas obras revelou músicos de boa qualidade, que não puderam desfrutar as boas condições político-culturais que o rock dos anos 80 teve", diz Santana.
Liminha, o então baixista dos Mutantes - hoje produtor - é flagrado em 1972, antes de um show - Foto: Divulgação
O curador faz questão de ressaltar a importância do visual nos trabalhos das bandas, que mostraram a alta qualidade de artistas que se transformariam em nomes de ponta. "Os fotógrafos, artistas gráficos e plásticos queriam se redescobrir e inventar a partir do som. Boa parte deles, ainda em formação profissional, usava e abusava de suas câmeras, pranchetas, réguas e pincéis como instrumentos ‘musicais’."
As técnicas eram semelhantes às de artistas importantes estrangeiros, como os ingleses Roger Dean (desenhista das capas de Yes e Uriah Heep, entre outros) e Storm Thorgerson (da empresa Hypgnosis, das capas do Pink Floyd): criava-se imagens a partir dos sons e, completando o ciclo, influenciando também a música.
Cilibrinas do Éden (Rita Lee e Lucinha Turnbull) 1973 - Foto: Leila Lisboa.
"Com isso, inventaram uma linguagem. No caso do LP, os 30 cm² de capa e contracapa eram suficientes para uma expressão artística com alcance superior ao de uma galeria de arte", diz Santana.
Zé Brasil, um dos mentores da banda setentista Apokalypsis e do combo 70 de nOvo, está mais empenhado em resgatar e reviver a cena roqueira da época. Ele cita as dificuldades de se fazer música mais elaborada, com letras de protesto, na ditadura militar. "É evidente que o rock era mais visado, não havia abertura nem muito espaço para expormos nossos trabalhos. eram dificuldades além das naturais, como falta de instrumentos e equipamentos de qualidade e produtores e executivos que entendessem o que era rock."
SP_ROCK_ 70_IMAGEM
Sesc Belenzinho
Rua Padre Adelino, 1.000, 2076-9700. 3ª a 6ª, 10 h/ 21 h; sáb. e dom., 10 h/ 18 h. Grátis. De 19/1 a 10/3/2013.
www.sescsp.org.br/Belenzinho.
Aproveito para incluir uma foto rara que não estará nesta exposição.
Arnaldo Baptista apresentando-se no Teatro Bandeirantes em 1973. Foto: Antonio Celso Barbieri
Som Nosso de Cada Dia - Snegs (1974
Atenção: Não resisti à tentação de fazer uma pequena homenagem ao querido Manito e também à sua antiga banda Os Incríveis, acrescentando aqui, no começo do álbum Snegs, uma música dos Incríveis chamada Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones. Esta música prova que Manito já era bem ativo muito antes dos anos 70. |