Pacheco & Barbieri: Uma parceria amiga que gerou 1 milhão de frutos positivos!
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Antonio Celso Barbieri e Mario Sergio Pacheco dos Santos em Brasília (2009). Foto: Andrea Falcão
Pacheco & Barbieri: Uma parceria amiga que gerou frutos positivos!
por Antonio Celso Barbieri
Em 2007 recebi pela primeira vez, e-mails do grande Mario Sergio Pacheco dos Santos. Eram e-mails sempre abordando temas muito interessantes focados principalmente no universo do rock, pintura, literatura, cinema e contracultura em geral. Seus artigos pareciam terem sido extraídos do inconsciente coletivo de pessoas que viveram o finzinho dos anos 60, curtiram os anos 70 e solidificaram suas ideias nos anos 80. Percebia-se claramente que sua história como propagador de textos e informações culturais já vinha de longa data. Mais tarde fiquei sabendo que Pacheco tinha sido um editor de fanzines desde os tempos dos antigos mimeógrafos e, sua casa mais parecia um museu cheio de jornais, revistas, livros, pinturas e muita música rara. Outra coisa que percebi imediatamente, foi que Pacheco era uma pessoa devotada e sem interesses econômicos, um verdadeiro idealista. Nem preciso dizer que identifiquei-me muito com o trabalho dele.
Pacheco, na época, já possuia um website chamado DoPróprioBol$o (http://www.dopropriobolso.com.br/), cujo próprio nome já espelhava seu jeito de pensar. À meu ver, só havia um problema. Se em termos de conteúdo seu site era muito bom, a apresentação do seu material era muito “do próprio bolso” para o meu gosto. Achava que a diagramação e design caótico das matérias batia de frente com o texto no sentido de que tirava o profissionalismo e seriedade da coisa toda. Sinceramente achava que Pacheco merecia algo melhor. Ele precisava de uma ajuda amiga para que, não só pudesse cativar mais audiência mas como também facilitasse seu trabalho.
Pacheco precisava de um outro tipo de website, um Sistema de Controle de Conteúdo (CMS). Um CMS não é o tipo site fácil de operar, a curva é lenta para aqueles sem muita experiência e às vezes pode até assustar os incautos. Pacheco, no entanto, aceitou o desafio e permitiu que eu, como webmaster, tomasse controle da coisa toda.
O site foi reestruturado e começou funcionar de forma bem básica. Não queria afogar o Pacheco com muita informação. Conforme os meses foram passando e Pacheco foi dominando o sistema, fui introduzindo mais recursos para o site. Viabilizei a possibilidade, dos visitantes postarem comentários nas matérias assim como darem notas. Acrescentei uma pequena janela “bate-papo” (chat) na primeira página. Depois, entramos de sola no lado multimídia com a contratação dos serviços de uma empresa para fazer a transmissão de música e vídeo. Até hoje não conheço, tirando meu próprio site (www.celsobarbieri.co.uk) e o DoPróprioBol$o outro site que tenha uma rádio e coloque música para tocar nas matérias da forma que fazemos, onde o leitor pode escolher a música que quer ouvir assim como ouvir um álbum na sua totalidade. Desde a sua implementação o site passou por várias mudanças, algumas cosméticas e outras técnicas até chegar no visual presente.
Recentemente, vítima do seu próprio sucesso, DoPróprioBol$o teve que mudar de provedor. Segundo afirmação da antiga empresa que abrigava este site, o excesso de visitantes, estava comprometendo e reduzindo a velocidade do server. Então, DoPróprioBol$o começou 2012 de casa nova e, ultrapassando esta marca histórica.
Para finalizar, quero dizer que, minha colaboração com Pacheco sempre foi amiga e sem fins lucrativos e confesso que, nunca poderia imaginar que DoPróprioBol$o chegaria à receber 1 milhão de acessos. Este histórico número é uma recompensa bem merecida ao trabalho devotado de Mario Pacheco.
PARABÉNS PACHECO! PARABÉNS DOPRÓPRIOBOL$O!
Antonio Celso Barbieri
Pacheco
Pazcheco é entrevistado pelo Zine Oficial! A grana do Conic não é menos limpa que a de outros locais. Talvez por saber que um bom programa tem seu preço, o astuto Mário Pacheco, figura ímpar do underground candango, fez do Conic a base de operações da "Do Próprio Bolso" produções. A entrevista Fellipe: Mário Pacheco, confesso, de todo coração, que sempre sonhei em fazer uma entrevista contigo, mas nunca fiz porque meus fanzines, todos eles, são impressos em fotocópia (maioria esmagadora) ou são feitas em gráfica, logo, você tem assunto para caralho, ia falar pelos cotovelos e eu ia me foder para pagar sozinho um fanzine de quase mil folhas. Então, valendo-me desse novo formato, o tal do e-zine, vamos à sabatina. Para começar, quando você virou roqueiro nem toca disco tinha no Brasil, portanto, como fazia para ouvir seus bolachões? |
Pazcheco |
Pazcheco: Eu menino tinha bolachões e não tinha som! Destruí o som da família ligando 110V em 220V. Naqueles idos o aparelho de som não era descartável e custava uma fábula. Passei muito tempo guardando meus discos no guarda-roupas, admirando as capas...
Fellipe: Qual foi o seu primeiro vinil? Dos seus LPs atuais, qual o mais antigo? E o mais raro?
Pazcheco: Um compacto duplo com A HARD DAY’S NIGHT , de 1975. Tenho até hoje! Os mais raros: 3 bootlegs duplos dos Beatles, um picture disc do John Lennon, mais bootlegs de Pink Floyd, Stones e Hendrix. E a maioria absoluta da coleção é de bolachas importadas. Era muito mais fácil que hoje!
Fellipe: Muitos abandonaram o Rock, você, pelo contrário, continua firme e forte. Na sua opinião, quais os motivos que levam uma pessoa a abandonar um estilo de música tão saudável quanto o Rock?
Pazcheco: Rock é PNC todo dia! O rock é igual à um bagulho que você engole e ele curte com a sua cara. Você pensa que tá legal e de repente vai latrina abaixo. Rock pra mim são altos e baixos. Um dia vil, outro vivo.
Fellipe: Várias perguntas em uma. Vamos lá! Por que começou a editar fanzine? Quando editou o seu primeiro impresso marginal e qual o nome dele? Ainda tem uma cópia do mesmo?
Pazcheco: Tenho originais de tudo que realizei! Toneladas de arquivos! Guardei tudo o que eu toquei e guardei absolutamente tudo que vi li e ganhei. O primeiro zine (THE BEATLES OLDIES BUT GOLDIES) saiu em 1982. Já no número 3, como JORNAL DO ROCK, chamou a atenção do programa de TV SOM POP, dos jornais locais e do Renato Manfredini.
Fellipe: Quantos fanzines editou em sua vida antes de chegar aos seus livros? Quanto tempo, em média, durou cada fanzine seu?
Pazcheco: Fiz zines entre 1982-87, foram 19 edições. A onda era trimestral. Quando tudo amargava eu soltava uma edição em meio ao show do Barão Vermelho ou dava uma festa. Dei muita festa por aí, pegava a Kombi do senhor Ivan (meu pai e maior incentivador, que me comprou muito disco). Ia na casa do Júnior e levava o som pra rolar na casa do Edvar. Lancei discos do Motorhead, ‘A Nice Pair’ do Pink Floyd, Júpiter Maçã, Mopho... Todas estas bandas os caras ouviram lá em casa. Daniel Matos (produtor) me passava os discos. Todo mundo quando comprava um disco que não gostava e queria trocá-lo me procurava! Eu, Luiz Punk, Ricardo Lima... Barbudos com carteira fichada correndo atrás de vinis e as mães dos garotões: “- Vocês não trabalham?” “Tamos de férias, dona Maria!”
Fellipe: Olha, sei que o Rolldão o ajudou em um zine sobre o Black Sabbath. Foi um grande trabalho. Sei porque tenho um exemplar guardado, mas não lembro o nome e não vou perder tempo procurando, pois sou um arquivista de merda e não vou ficar preso a esse detalhe. Vou ser rápido como um bom gancho de direita: como era mesmo o nome do abençoada publicação e como descolavam as matérias e decidiam quais iam entrar?
Pazcheco: Sleeping Village Sabbath Rock Club! Rolldão, além de patrocinador, era o impressor da parada, garantindo uma excelente qualidade. Guilherme ‘Iommi’, um grande colecionador de São Paulo, mandava as matérias que eram traduzidas pelo Antonio Carlos e editadas ou datilografadas pelo Maurício Melo, nas capas vinham artistas fenomenais, tipo Rogério ‘Punk’, William ‘Macha’, Pedro Bala, Diogo... esses revezavam-se... Caralho! Eu tinha mais amigos... Outro cara, outro sócio que não pode ser esquecido, é o Révero Frank. Me ajudou a trazer a Patrulha do Espaço! Révero trabalhou nos fanzines desde o início. Até hoje ele e o Rogério ‘Punk’ participam. 26 anos juntos! Mais tempo do que o meu casamento.
Fellipe: O poeta Nicolas Behr era zineiro e lançou livros, você era(é) zineiro e também lançou livros. O futuro de todo zineiro persistente é lançar um livro?
Pazcheco: Eu nunca fui da geração mimeógrafo e sim da geração coca-cola. Nicolas Behr (que eu tenho um livrinho) não é parâmetro de produção alternativa. É mais um dos caras que se locupletaram com essa onda de ser enquadrado na lei de segurança nacional, assim como filho de diplomata. Só é capaz de realizar um livro tendo sido zineiro. O cara mais absurdamente generoso e surreal é o Kleber da Da Anta Casa Editora do Antarquismo. O único anarquista que eu pus os olhos, e olhe que quando você rotula alguém ele deixa de ser.
Fellipe: Mesmo sabendo de todas as dificuldades, por que decidiu lançar um livro?
Pazcheco: Eu fazia o 3º grau e escrevia no JOSÉ (Jornal da Semana Inteira). Fazer Balada do Louco foi como uma tese. Ninguém entendia porque eu preferia andar com o livro debaixo do braço do que num Fusca.
Fellipe: Nada mais natural que o tema de seu primeiro livro versasse sobre Mutantes / Arnaldo Batpsta. Afinal, quando começou esse romance, essa amizade musical entre Pacheco / Arnaldo? Você considera que a Rita Lee foi para os Mutantes o que a Yoko foi para a Beatles?
Pazcheco: Imagine! John Lennon fazendo todas aquelas músicas pra IOKO! Arnaldo também passou a fazer músicas para sua musa e eu que estava num abismo emocional. Conheci sua obra e sentimentos dilacerantes. E fui bater um papo com ele, a primeira entrevista em cinco anos! Arnaldo me recebeu e queimamos fumo juntos, tudo numa pessoa só. Eu também queimei fumo com Lobão no camarim e queimei fumo e filme com muita gente! Queimar fumo é arte... Só não gosto de hipócritas e hipocondríacos.
Fellipe: Fale um pouco sobre o livro “Balada do Louco” (produção, tiragem, críticas, vendagens, satisfação, etc)
Pazcheco: Balada do Louco é eterno, quase mil cópias esgotadas, 17 anos depois vai virar PDF. Foi reescrito em parceria com Cláudio César Dias Baptista (o mais velho dos Mutantes) e virou “ALIENBALADA”. Eu só tenho que agradecer a Deus, aos gráficos, aos leitores, aos fãs e sempre toda aquela gente que de alguma maneira sempre me ajudou e acreditou. A Lucinha (musa atual do Arnaldo), a Fabiana, empresária; os críticos, os jornalistas de todo o Brasil que me deram força, desde o Correio Braziliense (Carlos Marcelo) JB, à Folha de SP, Folha da Tarde. Até hoje falam do livro.
Fellipe: E o segundo livro, como pintou a idéia? Do que fala a 2ª cria? Pergunto porque esse eu não tenho...
Pazcheco: “Aventura Sem Dublê” é um título gay dado pelo Hebert! Apesar de eu estar ‘bebaço e loucaço’ querendo traçar Molly Smith! É cinema, é Beat generation. Na minha obra há dualidades e situações libertinas. Eu não sou homofóbico e sempre vou ser grato a esse cara pelo título. Vou contar só pra você: eu comi a Molly e foi o dia mais feliz da minha vida. Ela era groupie dessas bandas de filho de diplomata e eu a desejava desde aqueles idos. Um dia fui feliz e numa sentada só fiz o livro. Há a Molly que é a mulher loira da minha vida e a Loretta Lyn que é gay e pensava que iria casar com o canalha do Pat Zimmerman, mas ele ficou com a Molly e ela no sanatório. No meu delírio eu imagino a Loretta Lyn vestida de noiva cruzando o Eixo (Eixão Rodoviário) em alta velocidade ouvindo Arnaldo Baptista. No baixo Conic, dia desses, eu vi Loretta Lyn e pensei ele/ela é ideal para o papel. Se quer ser “ele”, ser quer ser “ela”, foda-se! Eu não entro nessa. O meu negócio é “roquenrou”, rebeldia, sexo, drogas e Conic. Desobediência civil já é uma retórica manjada mas eu já paguei um alto preço! Eu rompi com as pessoas e fui rompido! Nêgo acha que eu tô brincando e eu briguei com muito amigo que pensa que isto é coisa da minha imaginação. Ninguém me agüentou: a família, o emprego, os amigos... Sempre fui desajustado. Quando casei deixei de escrever porque tudo era verdade.
Fellipe: No sentido literário, podemos esperar algo novo do senhor Pacheco?
Pazcheco: Cara! Meu último livro se chama “LAPSO” saiu em CD-ROM, esteve no site e etc. Graças à generosidade de Napoleão Valadares eu estou na página 130 do DICIONÁRIO DE ESCRITORES DE BRASÍLIA! Eu me sinto imortal! Também devo a outro ato de exarcebada generosidade do Ronaldo Cagiano, minha participação da coletânea “Todas Gerações – O Conto Brasiliense Contemporâneo”. Lá você lê: “A prova sempre estará na lixeira”, que faz parte de LAPSO! O livro foi lançado na feira do livro em 2006! Outro cara que eu devo a vida é o “Fala Zé!” (Zé Vieira), do Correio Braziliense, o Ivaldo Cavalcante e o Sérgio Maggio, então a gente é pedra pequena, mas brilha! Outro dia participei do programa de TV “Cênicos”. Numa rápida ponta eu falo do Paulo Iolovitch, o pintor de quadras. Quer um melhor amigo do que esse?
Fellipe: E sobre o CD tributo à Mutantes, produzido por você. O que houve na época que dificultou o lançamento do mesmo? Soube que o Arnaldo adorou. Particularmente, considero o melhor tributo que já ouvi dos Mutantes. Sabia que até hoje a banda Khallice toca, e com muito sucesso, a música que gravaram para o tributo?
Pazcheco: “Madman’s Lullaby”... O título foi presente do amigo Aniviel Vicente que morou nos EUA nos anos 60, e o vocalista editou este título como sendo dele... Com contrato assinado a gravadora põe o disco na geladeira, espera que uma banda ‘estoure’ esse é o procedimento. Só neguinho incipiente não sabe dessa, e o meu disco saiu! E quanto aos discos dessas bandas que nunca saíram? Neguinho é canalha, é despeitado. O disco teve resenha pra caramba! Fez sucesso em San Francisco e é vendido on line em vários sites e eu nunca recebi um centavo. O disco saiu pelo trabalho de produção empresarial do Felipe Caduco (VERNON WALTERS) e também pela verba do próprio bolso dele e das bandas, éramos ingênuos, pensávamos que a coisa poderia funcionar a$$im...
Fellipe: E a idéia do “Do Próprio Bolso”, quando nasceu? Como está o site?
Pazcheco: Um dia eu saquei que tudo vinha do próprio bol$o! Agora o editor sênior do site é o Celso Barbieri (afamado mestre do rock paulista). Outro colaborador porreta é o Paulão de Varadero (Rádio Câmara). O site é considerado, consultado e vistoriado. É tudo que eu faço, é a minha vida, e não vou ficar nessa sempre.
Fellipe: O Rock brasileiro ainda tem muito a oferecer? Das novas bandas, quais ousaria destacar? E dos medalhões tupiniquins, quais recomenda para que uma pessoa adquira a qualquer custo?
Pazcheco: O único cara do rock nacional que merece respeito é o Rolando Castello Jr., o resto é merda. Também gosto do Lobão. Eu gosto mais das bandas radicais “Cadela no Cio” do que qualquer outra coisa.
Fellipe: O que você acha do atual momento Rock em Brasília?
Pazcheco: Rock em Brasília! É o Ronam, a Berlin Discos, VOCÊ! E o Nathal Batyera, da banda Ummaghumma!
Fellipe: Kid Vinil lançou um livro há pouco tempo. Você já viu? Leu? O que achou?
Pazcheco: Tenho lido entrevistas do Kid Vinil. Não aconselho nada que envolva ‘mainstream’, mercado e etc. Gostei dele tirar o prêmio daquele imbecil do EFÊ (f de FHC, de FMI, e por aí você se Fode com um F bem grande!).
Fellipe: Você já foi ao Porão do Rock? O que acha do festival?
Pazcheco: Você me disse que o Gil, que tinha um estúdio, reclama que esse nome era dele. Gil Gilberto dormiu de touca na cidade maravilhosa e quando voltou viu que a semente dele estava plantada em outra lavoura.
Fellipe: Eu o considero uma verdadeira enciclopédia do rock e eu estou muito satisfeito que o Zine Oficial tenha me dado o espaço para que fizesse uma entrevista contigo. Estou, sinceramente, comovido e lisonjeado. Por isso, quando o Tomaz me falou do projeto da rádio Zine Oficial, uma das primeiras pessoas que me veio à cabeça para ter um programa on line foi você. Como vai encarar essa nova empreitada e o que pretende durante essas horas ao vivo? Já definiu o nome do programa?
Pazcheco: Hora do Rock! Se chama HORA DO ROCK! No primeiro será Badfinger, depois Arnaldo e Patrulha do Espaço e a gente vai tocar os amigos...
Fellipe: Acho que é isso. Emita, por gentileza, suas últimas palavras (nessa entrevista...).
Pazcheco: Meu irmão! Eu gosto de vocês que estão lendo esta entrevista, dessa oportunidade de expressar – a idéia é nada deixar em pé, ignorar os canalhas e bater de frente, atropelar e fugir from hell, aquelas coisas que eles estão falando nos discos do ACDC... Não seja mais um FDP que acha que a coisa tem que ser daquele jeitinho que fede. É isso: vote no cão!