Korzus: Barbieri posta vídeo, na íntegra, do show acontecido em Londres, no The Marquee Club, 21 anos atrás!
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Tudo começou no princípio de 1992 quando fui contatado em Londres pelo Silvio Golfetti, guitarrista da banda.
Primeiro um pouco de história
Em 1987 quando cheguei em Londres vindo da Espanha, trouxe comigo mais de 100 LPs do álbum Korzus ao Vivo que havia produzido em conjunção com Devil Discos pertencente ao Chicão. (clique aqui para saber mais sobre a colaboração do Barbieri com Devil Discos)
Antes de embarcar para Londres conversei com Walcir dono da loja Woodstock Discos e também o maior comprador do recém lançado Korzus ao Vivo (a Woodstock comprou 1.000 álbuns em pouco mais de um mês). Walcir viajava constantemente para Londres e portanto fui pedir-lhe algumas dicas. Ele me passou o endereço de uma loja de discos chamada Shades, basicamente localizada num porão, numa ruela não muito distante da Oxford Street no coração de Londres.
Então, quando cheguei em Londres imediatamente visitei a Shades. Havia entrado em Londres com pouco mais de 40 libras no bolso o que, na época, não dava para sobreviver dois dias nesta cidade que era (e ainda é) considerada uma das mais caras do mundo. Precisava de dinheiro com urgência e vender os LPs da banda que trazia era essencial.
Com um vocabulário muito limitado, minha visita à Shades pareceu mais com Tarzan comunicando-se na floresta: “Me Tarzan you Jane”.
A loja Shades não era muito diferente da Woodstock. A diferença estava nos atendentes com suas roupas muito loucas, tatuagens e cabelos longos nas cores vermelha ou verde. Eu entrei na loja puxando num carrinho com dificuldade os LPs e, fiquei discretamente olhando os LPs à venda, sondando o ambiente e esperando um momento propício para conversar com o responsável. Enquanto olhava os LPs à venda, deparei-me com uma divisória cheia de LPs de bandas brasileiras. Para minha grande surpresa, o Korzus ao Vivo já estava lá em exposição. Meu coração bateu forte de emoção! Imaginem só, um álbum que eu tinha produzido baseado numas gravações ao vivo feitas em fita cassete dos shows que produzi nos Teatros Lira Paulistana e Sesc Fábrica Pompéia acabou sendo vendido em Londres! Em 1987, para mim isto era um feito fantástico. Mais fantástico ainda foi ver este senhor italiano entrar na loja e, na minha frente, mostrar um bilhete com o nome do álbum Korzus ao Vivo escrito. Pelo que entendi era uma compra para seu filho.
O meu encontro com o dono da Shades foi meio monossilábico. Inicialmente ele não quis negociar comigo dizendo que só negociava com Walcir da Woodstock. Walcir estava fazendo um excelente negócio trocando à 1 por 1 com a Shades. Imaginem só, um LP do Korzus que ele comprou à preço de atacado no Brasil trocado por um LP do, vamos dizer, Metallica versão inglesa que obviamente seria vendido na sua loja por preços salgados.
O dono da Shades só mudou o tom da conversa quando provei, mostrando o meu passaporte, que conforme informava a capa do LP, eu era o produtor do álbum. Na verdade tive que deixar os discos em consignação e voltei para casa apenas com um recibo no bolso.
Tendo chegado em Londres sem dinheiro, peguei o primeiro trabalho que encontrei. Lá fui eu preparar hamburgers numa lanchonete tipo McDonalds chamada Wimpy. Em Londres muitos lugares pagam semanalmente. Quer dizer, logo já tinha algum dinheiro e fui assistir meu primeiro concerto de rock. Fui ver Manowar no Hammersmith Odeon. A banda que abriu Manowar foi Chariot. Quando o show do Chariot acabou, enquanto os técnicos tiravam o equipamento, eu vi o dono da Shades andando pelo palco. Depois, mais tarde, encontrei-me com ele na saída do show. Fiquei sabendo que ele era também o empresário do Chariot e que Chariot não tinha álbum lançado em Londres mas tinha lançado um no Brasil através do Walcir. O Walcir realmente era uma raposa velha e estava fazendo bons negócios.
Durante os próximos 5 anos continuei fazendo visitas esporádicas à Shades. Procurando sempre manter uma linha de contato. Neste período que se seguiu Sepultura tocou com sucesso no Marquee abrindo para o Sodon. Na minha primeira visita ao Brasil depois de 3 anos, cheguei em São Paulo à tempo de assistir o famoso concerto gratuíto do Sepultura em frente do Estádio do Pacaembu. No sábado depois do show fiz uma visita ao Espaço Retro, uma casa noturna que ficava perto da casa do meu pai não muito longe do Largo Santa Cecília.
Lá, encontrei o João Gordo da banda Ratos de Porão juntamente com o Max Cavalera. Eu já era um antigo conhecido do Gordo e através dele fui apresentado para Max que foi muito agradável e disse que já me conhecia de nome. Quando falei que morava em Londres, Max me informou que ele tocaria no Marquee novamente e, agora como banda principal. O show seria um dia depois da minha volta. Max então, convidou-me para assistir o show.
Quando voltei à Londres, no outro dia fui ao show. Max veio pessoalmente me receber na porta do teatro e assistimos o show da banda de abertura juntos. Ele aproveitou para gravar no meu gravador uma mensagem para o programa que o Leopoldo Rei fazia numa rádio de Guarulhos. Entrevistei o público e gravei parte do show que depois, em casa, editei e mandei para o programa. A chamada de rádio com a voz do Max foi usada a semana toda e o programa fez tanto sucesso que teve que ser repetido duas vezes. Para minha decepção Leopoldo Rei omitiu o meu nome da matéria e ninguém ficou sabendo que foi eu quem fiz. Bom, nem preciso dizer que minha colaboração com Leopoldo Rei terminou alí.
Barbieri e Max dentro do Teatro Hammersmith Odeon.
Mais tarde, por sorte, não demorou muito de pude visitar o Brasil novamente. Desta vez, a mãe de Max foi até a casa do meu pai, onde estava hospedado, levar as cartas pessoais e as correspondências dos fans para que eu entregasse ao Max no Teatro Hammersmith Odeon. Nem preciso dizer que fui Max me recebeu muito bem, me levou para dentro do teatro onde pude até assistir o “sound check”. Bom, do meu ponto de vista, parecia que minha relação com o Max estava indo muito bem.
Então, quando o Silvio do Korzus pediu minha ajuda para levar a banda para tocar em Londres, imediatamente fui ao Marquee. Infelizmente, nem fui atendido, não passei nem da porta. Fui informado que The Marquee Club não agendava shows diretamente com as bandas e sim apenas atravéz das gravadoras e produtoras.
“Sepultura vai estar em Londres no mesmo período que o Korzus. E sê Max subisse no palco e fizesse uma jam com o Korzus? Recentemente Silvio Golfetti guitarrista do Korzus tocou no lugar do Andreas Kisser na Alemanha. Certamente Max não vai negar esta troca de favores.” A idéia saiu da minha boca quase sem pensar.
Os olhos do dono da Shades iluminaram-se e o homem abriu o jogo explicando que, na verdade, ele tinha um projeto chamado American Dream Promotions que acontecia todas quartas-feiras justamente no Marquee. Então, se tudo desse certo, Sepultura tocaria em Londres no sábado dia 16 de maio no Town and Country e o Korzus três dias antes, na quarta-feira, dia 13, no Marquee.Disse também que, nos seus projetos, as bandas não recebiam pagamento pois os shows eram sempre organizados atravéz das gravadoras e com um sorriso ele acrescentou:
“O Korzus é uma banda americana. Não é?
Imediatamente, fomos para os fundos da sua loja no seu escritório particular. Lá ele começou fazer um monte de ligações.
Primeiro entramos em contato com a produtora Phil McIntyre responsável pelo show do Sepultura no Town and Country que, nos informou que todos os ingressos para aquele show já estavam vendidos (Sold Out) e que não se opunham com um show uma semana antes do deles desde que Sepultura e Korzus fossem amigos.
Então o dono da Shades ligou para os escritórios da Roadrunner inglesa que também falou que não se opunham desde que o Sepultura e o Korzus fossem amigos. Aliás, já aproveitou para indicar as bandas de abertura para o evento.
Em seguida foi feita uma ligação para a sede da Roadrunner na Holanda. Queríamos contatar a então Gloria Bujnowski empresária do Sepultura. Fomos informados que Gloria estava em trânsito de um país à outro e incomunicável. A gravadora em princípio não via nenhum problema desde que fossem todos amigos.
Bom, sem uma segurança maior parecia que o show do Korzus não ia acontecer.
O destino prega suas peças e, por coincidência, alguns dias depois fui informado pela Shades que os músicos do Sepultura estavam hospedados em Londres no Hotel Holiday In para uma série de entrevistas. Imdeditamente, liguei para o hotel buscando por Max mas ele não estava. Conversei então com seu irmão Igor Cavaleira. Basicamente expliquei para ele que eu estava tentando fechar um show para o Korzus e que se eu não confirmasse a presença de alguém da sua banda no show a coisa não ia acontecer. Ele foi muito cordial, pediu para eu esperar um momento enquanto ele falava com o seu Tour Manager que estava no quarto. Quando ele terminou a conversa em inglês ele informou-me que eles estariam tocando em Moscou e que chegariam em Londres na manhã do dia do show do Korzus no Marquee. Disse também que o Tour Manager havia informado que neste dia eles não tinham nenhum compromisso agendado e portanto eles estariam livres. Igor terminou a conversa dizendo que eu podia ir em frente acrescentando:
“Não esquenta não que nós vamos estar lá!”. No quarto com o Igor também estava Ana Maria Lemos que era a repórter da revista Bizz.
Alguns meses antes Sepultura tinha feito um show secreto num Pub. O show de Londres no Town and Country era o último show daquela turnê do Sepultura e chamava-se Third World Posse Tour então a Kerrang anunciou: Boys from Brasil – KORZUS - With a “posse” of third world friends. Nem preciso dizer que “para bom entendedor meia palavra basta”.
Entrei em contato com o Silvio que aceitou as condições. Quer dizer, Silvio sabia muioto bem, de antemão, que a banda não receberia nenhum cachê para tocar no Marquee! Aliás, tinha gente que pagaria para tocar em um lugar lendário como este. À meu ver, o importante não era um cachê e sim conseguir um contrato de distribuição internacional. Silvio também enviou-me alguns LPs do álbum Pay For Your Lies, alguns negativos de fotos promocionais da banda, os dados dos passaportes de todos os integrantes do grupo para que fossem providenciados os vistos de trabalho. Além disso, enviou também uma fax que ele tinha recebido de Gloria Bujnowski para confirmar para Shades o grau de amizade da banda com Sepultura.
Korzus chegou em Londres um dia antes do show, no dia 12, atravessando de barco o Canal da Mancha em Dover. Eles vinham da Itália numa perua alugada. Cheguei de manhã no porto de Dover com as visas de trabalho mas a banda só chegou no fim da tarde. Foi uma longa e nervosa espera. A turnê era composta pelos 5 integrantes da banda mais uma pessoa responsável pelo merchandise além de Salvatore e sua namorada. Portanto foram 8 pessoas para serem hospedadas de forma muito precária na minha casa.
Na época, eu era um "squatter" e morava numa casa invadida na periferia de Londres. O lugar era tão inseguro que tive que contratar uma pessoa para tomar conta da casa no dia do show e assim garantir contra roubo os pertences da banda que ficaram lá.
A lista dos equipamentos que eu pedi para o show banda não poderia ser melhor: 3 amplificadores Marshall de dois andares com cabeçotes de 300 watts para as guitarras (1 Marshall seria usado pelo Max ou Andreas) e um amplificador Ampeg para o Baixo além de, é claro, uma bateria de qualidade.
O Show
Quando chegamos ao Marquee já encontramos uns garotos do lado de fora perguntando se era verdade que o Sepultura iria aparecer. Logo depois chegou a repórter da revista Bizz, Ana Maria Lemos perguntando por Igor pois ela tinha sabido do Korzus junto com o Igor no Hotel Holiday Inn e, segundo ela, eles tinham marcado para encontrarem-se no show. Eu por, minha vez, comecei ligar sem parar para o Holiday Inn mas, apesar da portaria do hotel transferir a ligação para o quarto de Max, infelizmente ninguém atendia.
A fila lá fora do teatro foi aumentando. Muita gente usando camisetas do Sepultura. A produção veio informar-me que tinham sido vendidos mais de 140 ingressos antecipadamente. O tempo passava e todo mundo queria saber onde estava Sepultura. As 3 bandas de abertura começaram a tocar uma atrás da outra enquanto eu corria no telefone público, na rua, perto da porta do teatro. Um responsável pelo teatro veio me informar que tinham recebido uma ligação da Roadrunner dizendo que o Sepultura não viria. Uns 10 ou 15 minutos antes de Korzus subir no palco Max atendeu o telefone.
Sua voz era dura, e falava demonstrando que não estava de bom humor. Disse para ele que a casa estava cheia, que tinha um monte de gente querendo ver a banda e que eu mandaria um táxi busca-lo se fosse necessário. Ele protestou que Igor só lhe tinha informado no avião quando estava vindo para Londres e que ele estava cansado. Nada que disse foi suficiente para convence-lo. Voltei para o teatro derrubado porque sabia que aos olhos de muita gente pareceria uma mentira minha.
Quando voltei ao teatro encontrei na porta do Marquee o pessoal da Rede Globo que, previamente tinha convidado mas que não achava que realmente viriam ao show. Dei 100% de atenção para o pessoal da Globo porque se nós conseguíssemos aparecer no Fantástico ia ser uma grande conquista para a banda.
O show do Korzus aconteceu sem incidentes. O volume estava altíssimo e o poder da banda devastador! Salvatore usou sua câmera para filmar o show inteiro. À bem da verdade, desde o começo Salvatore se mostrou um pouco deslocado e até parecia com inveja porque, certamente em Londres quem mandou foi eu. Depois do show, já de volta à minha casa, Salvatore exigiu, uma contribuição para a gasolina. Eu não tinha dinheiro pois já tinha gasto bastante com ampliação fotográfica, correio, comida, transporte, contratado um garoto para fazer a segurança da casa, etc. Então, No outro dia fomos à Shades tentar pegar algum dinheiro mas a Shades estava fechada (e ficou fechada para sempre pois faliu).
Obviamente Salvatore achou o motivo que buscava para fazer a cabeça da banda contra mim. A verdade é que, eu ainda teria que “engolir um sapo enorme” e ir no hotel falar com Max para garantir que Korzus abrisse o show do Sepultura. Um show com lotação esgotada significava umas 3.000 pessoas e, além disso, toda a imprensa especializada estaria lá. Então, e se existia uma chance de Korzus assinar um contrato internacional este seria a melhor oportunidade para a banda mostrar o seu poder de fogo.
Quando, juntamente com o Silvio, chegamos ao quarto de Max fui recebido por um Max “com cara de quem comeu e não gostou” e sem direito a aperto de mão. Eu nem tinha entrado no quarto e Gloria que estava lá perguntou imediatamente quem era Antonio. Identifiquei-me e prontamente fui bombardeado de acusações. Ela dizia que poderia me processar. Acusou-me de ter colado cartazes pela cidade colocando o nome do Sepultura (mentira absurda!), de ter mencionado o nome do Sepultura na imprensa (outra mentira). Tentei explicar que não era o produtor do evento, mostrei o cartão com o nome do dono da Shades. Disse que eu não tinha recebido dinheiro algum, que só queria ajudar mais uma banda brasileira a conseguir o reconhecimento que merecia. Chamei Igor e pedi em português que ele confirmasse a nossa conversa telefônica. Ele ficou todo gaguejante e Gloria nos interrompeu dizendo que ele não tinha nada que falar comigo.
Basicamente Silvio ficou neutro. Igor ficou neutro e, fiquei tentando me defender como podia. Lamentavelmente meu inglês não era bom o suficiente para responde-la à altura. Por outro lado, não podia arriscar uma briga física com Max dentro do hotel. Quer dizer, tive que responder o ataque verbal de Gloria com diplomacia. Até Ana Maria Lemos na matéria da Bizz que publicou, preferiu dizer que Sepultura não estava em Londres.
Quer dizer, todo mundo ficou em cima do muro. Neste dia com Gloria no quarto do Max eu percebi que havia uma relação mais do que Professional no ar. Meses depois, minhas suspeitas confirmaram-se com Gloria Bujnowski mudando de nome para Gloria Cavalera. Esta mistura de negócio com relação pessoal foi ultimamente responsável pelo fim da banda Sepultura na sua formação original.
Nesta confusão toda, nem tudo parecia perdido porque Gloria confirmou que Korzus ia abrir o show do Sepultura no Town and Country. Voltamos para a casa para descobrir que o resto da banda tinha saído para passear.
Sem podermos nos comunicar com a banda, o tempo foi passando. Esperamos um tempão e como ninguém apareceu, fomos direto para o Town and Country. Lá nós ganhamos passes para a festa, depois do show, que comemoraria o final da turnê. Lamentavelmente, o resto da banda não chegou à tempo para passar o som e, como Gloria falou "banda que não passa o som não toca".
No meio do show do Sepultura Max chamou alguns membros do Korzus no palco para tocar um cover improvisado do Black Sabath que, só serviu como autopromoção para Max mostrar como ele é um pessoa amiga. Está claro que ninguém iria contratar o Korzus nestas condições.
Não pude nem assistir o show do Sepultura porque tinha ido outra vez na Shades para ver se encontrava alguém e assim conseguir uma verba para a gasolina de Salvatore. Não encontrei ninguém! Quando voltei ao Town and Country encontrei os membros do Korzus rodeados de fans e vivendo seu 5 minutos de gloria como se aquele show tivesse sido o deles.
Korzus, uma banda de rock brasileiro, sem disco lançado no exterior, tocando em Londres e cercado de garotos ingleses pedindo autógrafos e repetindo sem parar que o som deles era bem melhor que o do Sepultura. Certamente dá para entender porque eles estavam sentindo-se como "stars".
Salvatore já tinha feito a cabeça deles e eu fui intimado pelo pessoal do Korzus a mostrar o contrato do show do Marquee. Porque segundo eles, eu nunca poderia ter feito um show no Marquee sem um contrato. Com desgosto, a ficha caiu, e percebi que de herói, agora depois de tudo que tinha feito pela banda, minha honestidade estava sendo questionada. Para completar a humilhação Salvatore disse que Max ia dar o dinheiro da gasolina para ele. Dali mesmo do teatro a perua do Korzus se foi novamente de volta para Dover.
Honestamente quando voltava para casa chorei. Estava exausto e carregava nas minhas costas vários adjetivos: mentiroso, desonesto, aproveitador, ladrão. Tinha perdido meu tempo, dinheiro e dignidade. Tinha decepcionado-me profundamente com Max porque ingenuamente pensei que ele era meu amigo e com a banda Korzus porque não conseguiu ver a importância do momento e não agiu com o profissionalismo necessário. Quer dizer “engoli um sapo monstruoso” por nada.
Dias depois meu contato na Globo informou-me que “o pessoal no Rio de Janeiro achou a matéria desinteressante e não autorizou a transcodificação via satélite para o Brasil”. Num desabafo o meu contato disse que infelizmente a Globo só queria saber de corrida de de carros e futebol. Disse que, iria copiar para mim, as tomadas de câmeras numa fita VHS e que, poderia fazer o que quisesse com ela.
Bom, a verdade é que, queira ou não queira, Korzus nunca teria tocado no Marquee sem o gancho do Sepultura. E, mesmo que por um milagre tivesse conseguido agendar o show, a banda teria tocado para não mais que meia dúzia de “gatos pingados”.
A realidade é que este show foi resultado de um trabalho de cinco anos e só aconteceu porque eu estava no lugar certo e na hora certa.
Certamente este show foi um dos mais importantes da carreira da banda e também um dos show que em orgulho muito de ter participado da produção.
Matéria da Folha de São Paulo fala do tour europeu. (27/04/1992) | Revista Bizz comenta o show de Londres. (07/1992) |
Capa do album "Private Place" da banda Mosh |
De volta ao Brasil Korzus sofreu uma pequena implosão com o baterista Roberto Sileci saindo para tocar na banda MOSH e logo lançando o CD Private Place. Marcello Nicastro também logo saiu da banda para, segundo informações que tive na época, formar o Nica do Cavaco.
Quanto à Max, está claro que ele ficou com o seu karma para pagar porque, mais para frente, ele saiu do Sepultura e nunca mais conseguiu o mesmo nível de sucesso.
Eu, por mim, não guardo rancor do Korzus. Apenas lamento que tenhamos perdido uma chance tão boa. Anos atrás quando conversei com Pompeu, o vocalista da banda, de uma forma indireta ele desculpou-se dizendo que a banda tinha mudado muito e que agora o povo estava casado, com filhos e como resultado disto, com um maior senso de responsabilidade.
De qualquer forma, persistência é o que não falta para Pompeu e Dick os dois músicos fundadores ainda no comando das coisas. Com nova formação já à um bom tempo na estrada, a cada novo álbum, Korzus tem superado-se em sonoridade e qualidade de procução. Korzus é sem dúvida uma das bandas pesadas mais respeitadas do Brasil. Korzus e Barbieri? "Who knows!" Quem sabe o que o futuro nos reserva mais lá para frente...
Fazem 21 anos que vivi estas emoções intensas. A banda Korzus completa este ano 30 anos de atividade. Então, achei por bem, editar esta fita rara, este documento histórico, que aqui torno público para que todos possam ver este show na íntegra e assim ter uma idéia de como foi o show da banda Korzus no Marquee em Londres em 1992.
Antonio celso Barbieri