A Chave do Sol
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A Chave do Sol. Arte: Barbieri
Na minha opinião a história da banda A Chave do Sol, grupo de rock formado em 1983 na cidade de São Paulo pelos músicos Rubens Gióia (guitarra), Luiz Domingues (baixo) e Zé Luiz (bateria) foi a história de uma banda buscando, em vão, pelo vocalista certo.
A Chave com seu som, que na falta de uma definição mais adequada, só poderia ser definido como "fusion", isto é, a mistura de rock com elementos do jazz, sempre encontrou muita dificuldade para achar um vocalista que se encaixasse com o som da banda. Muito embora, como disse antes, a banda fizesse um tipo de Jazz-Rock, eu diria que era um Jazz-Rock com a parte Jazz menos cansativa ao mesmo tempo que com a parte Rock mais voltada para o Hard Rock do que o Heavy Metal tradicional da época.
Nunca achei que A Chave precisasse de um vocalista, mesmo porque, um vocalista “Jazzy” com uma voz limpa e um talento tipo, vamos dizer, Sting ou Peter Frampton nunca seria fácil de ser encontrado em São Paulo. Os vocalistas convidados para participar desta banda, não tinham nem o timbre de voz, nem a postura de palco, nem o gosto musical que combinassem com o seu som clássico. Estes vocalistas não combinaram e, até acabaram forçando a banda à mudar de estilo ou até o nome (The Key)
Acho que com um pouco de esforço e dedicação o guitarrista Rubens preencheria muito bem a função de vocalista. Quer dizer, na Chave o instrumental sempre falaria mais alto de qualquer forma.
Fran, Rubens Gioia, Zé Luiz e Luiz Domingues
Barbieri e A Chave
A Chave do Sol começou como um power trio em 83 mas foi só em 85 que comecei trabalhar com esta banda. Em 1985 produzi vários shows, sendo alguns no Teatro Lira Paulistana (Projeto SP Metal e Metal Tribo), um no Sesc Fábrica Pompeia (Metal, Rock & Cia) e outro já, no ano seguinte, no Teatro Mambembe (Projeto São Power).
A Chave do Sol - Luz (1985)
A Chave do Sol ao vivo, gravado pelo Barbieri no Projeto SP Metal (1985)
A Chave do Sol com o vocalista Fran
Fran
Durante o projeto Projeto SP Metal convidei a banda Ano Luz para abrir o show da banda Avenger no Teatro Lira Paulistana. O vocalista da banda Ano Luz era o Fran, um grande vocalista que, infelizmente, faleceu anos depois. Para mim, foi uma surpresa, mais tarde descobrir que Fran agora era o vocalista da Chave. Digo isto porque achava a sua voz gutural e sua postura de palco, muito hippie para a banda. No Ano Luz, Fran era perfeito mas para A Chave tinha minhas dúvidas. Bom, na música tudo é uma questão de gosto… não é mesmo?
A Chave do Sol com o vocalista Roberto Cruz
Roberto Cruz
Quando produzi A Chave no Espaço Mambembe, no Projeto São Power a banda já tinha subsitituido Fran por Roberto Cruz. Roberto Cruz, também era guitarrista, tinha muito mais experiência do que Fran e era uma pessoa com uma personalidade forte, com um gosto mais voltado ao rock norte americano e, sua participação na banda, conduziria a mesma para uma nova direção longe do virtuosismo "fusion" que tanto me agradava.
A verdade é que à cada álbum a banda mudou um pouco mais seu estilo, desgastes internos surgiram e a banda acabou deixando uma pequena discografia paltada pela busca de um estilo definitivo que nunca foi encontrado. Já fazem muitos anos que Roberto Cruz mora nos Estados Unidos. Nesta fase "Roberto Cruz", uma música pertencente ao álbum The Key, chamada Sun City marcou a história da banda por denunciar a política racista de segregação racial praticada pela Africa do Sul, que foi conhecida por "Apartheid". Neste período, o lider Nelson Madela ainda estava preso e existia neste país sul africano, uma praia chamada Sun Sity. Esta praia era usada pela elite branca onde a presença dos negros era proíbida. Na época, fiquei muito satisfeito em ver (e ouvir) mais uma banda mostrando que o rock brasileiro não vivia com a cabeça enfiada na areia.
18 Horas. Um clássico!
Descupem-me mas, muito embora cada álbum da Chave tenha seu valor, eu sempre gostei mesmo foi da primeira formação. Para mim, a música 18 Horas será para sempre um dos grandes clássicos da História do Rock Brasileiro. Esta música foi o veículo certo para estes 3 grandes músicos mostrarem todo seu virtuosismo.
Uma banda exemplar
No palco, raramente vi um entrosamento musical tão perfeito quanto o mostrado pelos este trio virtuoso. A Chave sempre foi muito diferente das outras bandas dos anos 80 que produzi. A chave era uma banda exemplar. O profissionalismo da banda sempre foi perfeito. Nos muitos shows que produzi, seus músicos nunca me faltaram com respeito, nunca deixaram de estar na hora para a passagem do som, nunca questionaram minha honestidade ou levantaram qualquer dúvidas quanto ao resultado da bilheteria. Por mais precário que fosse o sistema de som, estes músicos de forma tranquila, sempre conseguiram miraculosamente tirar o melhor do equipamento à disposição e sempre agradeceram-me, ao vivo, durante os shows.
Um outro aspecto interessante é que se não bastasse a boa aparência dos integrantes da banda, a moçada sempre mostrou muito bom gosto e elegância na escolha das roupas usadas nos shows. Talvez por isto mesmo, A Chave do Sol foi uma das primeiras bandas a trazer o público feminino para os concertos.
A Chave, pela qualide como músicos e atitude respeitosa para com as outras bandas, sempre gozou do respeito geral dos outros músicos da época, A Chave foi uma das únicas bandas deste período que a imprensa “poposa” não teve como chamar pejorativamente de “metaleira”.
Coloquei aqui para escuta o álbum Luz lançado pela gravadora Baratos Afins do grande Luiz Calanca e também duas músicas gravadas ao vivo no Teatro Lira Paulistana dentro do Projeto SP Metal numa noite em que o vocalista Fran não pode comparecer porque estava doente. Nesta noite, para minha satisfação, a Chave desfiou o seu repertorio antigo. O Técnico de som foi Can Robert. Como sempre a qualidade do som é pobre pois foi tirado um saída para retorno de palco.
Vejam abaixo vídeo da música "18 Horas" gravado ao vivo na Fabrica do Som lá pela metade dos anos 80 onde A Chave do Sol de forma tranquila e carismática mostra seus músicos com total controle do palco, imenso poder de fogo e um virtuosismo igual ou melhor do que muita banda internacional.
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