Computação gráfica e animação criada com um computador ATARI no começo dos anos 90
Tendo chegado em Londres no começo de 1987, já em 1988 comprava meu primeiro computador, um Atari 520 ST FM.
Eu já conhecia Atari desde o Brasil pois eles ficaram famosos por laçarem aquelas caixinhas que eram ligadas aos monitores de TV e que permitiam uns joguinhos eletrônicos bem primitivos para os padrões de hoje.
MIDI (Musical Instrument Digital Interface)
Se no Brasil a Atari era conhecida unicamente como uma fábrica de jogos eletrônicos, em Londres, Atari foi, por um período, o computador que todo músico, produtor musical e dono de estúdio sério tinha que ter. Atari, até hoje, foi a única fabricante de computadores que incluiu saídas de MIDI IN e MIDI OUT instaladas diretamente nos seus produtos.
Já naquela época todo teclado semi pro ou profissional, além de possuír multi-timbralidade (a capacidade de tocar vários timbres ou instrumentos de uma vez só) vinha também equipado com saídas MIDI IN e MIDI OUT.
Quer dizer, usando-se o programa certo, neste caso um sequencer, podia-se, plugando um teclado musical em um computador Atari, gravar-se todas as partes e arranjos de uma música e depois fazer com que o computador obrigasse o teclado a tocar todas as partes ao mesmo tempo e em sincronismo.
Como desejava fazer música, naturalmente adquiri um Atari.
Atari assim como a Apple hoje em dia, arregimentou uma legião de fãs. Mensalmente haviam 3 publicações alimentado o mercado, fornecendo diskets cheios de programas gratuitos, demos e tutoriais.
Atari era um computador limitadíssimo para os padrões de hoje. Não possuía disco rígido (Hard Drive). O OS (Sistema Operacional) que, por exemplo, nos PCs é chamado Windows e é um software que pode ser reinstalado, nos Ataris, já de fábrica vinham gravados num microship soldado na placa mãe e não podiam ser trocados ou melhorados.
Além disso, o tamanho da memória RAM era mínimo e todos os programas tinham que ser carregados de diskets com capacidade de somente 520 Kilobytes (pouco mais que a metade de 1 Megabyte).
|
Atari 520 STFM Especificações Técnicas
|
Processador |
8Mhz Motorola 68000 |
RAM |
512kB |
Drive |
Single sided 3.5" floppy |
Outputs |
V, MIDI In/Out, RS232, Printer, Monitor (RGB and Mono), Extra Disk drive port, Joystick and Mouse ports |
Sistema Operacional |
TOS (The Operating System) with the GEM (Graphic Enviroment Manager) GUI |
Monitor |
320x200 (16 colour), 640x200 (4 colour), 640x400 (mono) |
|
Mesmo com todas estas limitações técnicas ou, talvez justamente por isto, surgiu uma legião de programadores concorrendo para mostrar quem era o melhor em criar os efeitos gráficos e animações mais espetaculares. Não demorou muito para ser lançado no mercado um pacote voltado para as pessoas interessadas em explorar as possibilidades gráficas do computador Atari. Surgiu então o STOS. Um outro Sistema Operacional que rodava emulado dentro TOS do Atari para, usando uma linguagem similar ao Basic, permitir manipulação gráfica.
Eu fiquei fascinado pelas possibilidades. Muitas animações apareciam nos diskets dados pelas revistas e muitas delas vinham acompanhadas com páginas de texto contendo a programação para que pudéssemos ver os códigos e assim criar nossas próprias bibliotecas de códigos para tarefas diferentes.
STOS não era para qualquer um! O sistema não possuia um interface gráfico. Tinha-se que editar o código diretamente dentro do editor e depois, salvar e executar o código para ver o resultado. O tempo perdido com “tentativa e erro” era muito grande. Perdia-se muito tempo tentando-se driblar as limitações do computador que na maioria das vezes não conseguia “dar conta do recado”.
Cheguei passar um dia e uma noite, trabalhando sem parar, hipnotizado por metros de código. Também pudera, pois para mim, o estase conseguido com as pequenas vitórias era muito grande para ser desprezado e valia todo o esforço. A processo era viciante e eu sentia um grande orgulho pessoal. Chegar em Londres sem dinheiro, sem falar a língua e em tão pouco tempo estar “programando” era para mim uma grande vitória pessoal.
Logo mudei para um Atari mais potente, um STE e fiz todas as modificações possíveis e inimagináveis no mesmo. Acabei conhecendo o bichinho por dentro e por fora. Fui seduzido pelo sequencer Cubase e fiz muita música com ele. Joguei muito Lamatron, Xenon II e Robotz.
Hoje em dia, à mais de 10 anos que uso Macs. Computadores Macintosh tornaram-se para mim, como diria o pensador e filósofo Marshall McLuhan, "uma extensão dos meus cinco sentidos". O fato de usar Macs não quer dizer que abandonei meu Atari. Tenho um carinho todo especial por ele e nunca o venderei!
Abaixo segue uma pequena lista de algumas das minhas animações que acho merecem ser vistas:
|
KORZUS (Animação, 1992) |
Quando, em 1992, produzi o show da banda Korzus no legendário Marquee Club, de tanto ouvir o álbum Mass Illusion, acabei fazendo uma animação para a música Pay For Your Lies.
Nunca tive a oportunidade de mostrar este trabalho para a banda. Espero que eles gostem! |
NESS (Animação, 1994) |
Quando, lá por 1985, produzi o Projeto Não São Paulo no Teatro Sesc Pompéia ganhei uma camiseta da banda Ness. A camiseta tinha um desenho do monstro Escocês estampada. Eu gostava tanto que acabei trazendo a camiseta comigo para Londres. Bom, esta camiseta, depois de muitos anos já estava toda desbotada e furada. Antes de “aposentá-la” coloquei um papel vegetal por cima e copiei o desenho. Este desenho acabou virando uma animação intitulada Ness - The Psychedelic Experience. Minha idéia para a animação era a de que o Ness era um monstro que tinha uma certa caída pelas drogas. O nome The Psychedelic Experience foi uma homenagem ao Jimi Hendrix. A música usada chama-se Juno Reactor Version (Beyond the Infinte Mix) pertencente à banda LAIBACH retirada do single Final Countdown lançado em 1994.
|
IN THE NURCERY (Animação, 1994) |
A banda In the Nurcery (ITN) que tive o privilégio de conhecer seus integrantes e até assistir um show, foi uma grande influencia no meu próprio trabalho musical com sua mistura de poesia com percussão militar, música clássica, música étnica e eletrônica. Sua música, para mim, sempre soou como uma trilha sonora para um filme que está por ser lançado. Em 1994 a banda lançou o álbum Anatomy of a Poet. Neste álbum, uma música em particular, chamada Hallucinations? (Dream World Mix) despertou-me a atenção de tal forma que não sosseguei até criar uma animação meia surrealista para a mesma.
Todos os trabalhos acima citados, obviamente são limitados e primitivos mas curiosamente possuem uma qualidade “retro psicodélica” que é difícil de ser conseguida nos dias de hoje onde, com o poder dos computadores atuais, o resultado é sempre muito perfeito.
Através da ciclagem das cores era possível criar-se uma ilusão de movimento e psicodelia que, para muitas pessoas, claramente poderia ser associado com o efeito causado pelas drogas.
|
Por A. C. Barbieri |