alice_cooper.jpg
Barbieri entrevista Alice Cooper em 1997

O legendário rockeiro esteve em Londres para o lançamento do seu novo álbum gravado ao vivo no México, chamado A Fistfull of Alice, e aproveitou a oportunidade para, no Rock Circus o museu de cera do rock, deixar suas mãos perpetuadas em concreto. (O Rock Circus infelizmente fechou suas portas jea faz tempo)

hand_on_plaster.jpg
Alice com a mão no gesso e as câmeras... Foto: A. C. Barbieri

Foi lá no Rock Circus que Alice, com as mãos afundadas no gesso, enquanto aguardava pacientemente para que o mesmo enrijecesse para criar a forma onde seria aplicado o cimento, respondeu a uma bateria de perguntas feitas pelos repórteres credenciados. Barbieri estava lá para conferir que o homem tinha a dizer:

Barbieri: "Agora que você já está conquistando sua terceira geração de fãs e vem com novo álbum e tour, o que lhe passa pela cabeça quando você se lembra dos velhos tempos, do começo da sua carreira?"

Alice Cooper: "No começo, eu só queria não ter um emprego. Tocar numa banda e não precisar buscar trabalho. Eu acho que o que acontece é que, se você para, você acaba virando somente um pedaço da história. Eu não permiti isto e continuamos gravando mais discos. Muita gente acha que o rock’n’roll mudou, mas eu não acho que mudou muito no final das contas."

Barbieri: "Você disse que o rock não mudou, mas na verdade ele virou uma indústria."

Alice: "Eu posso perceber que o lado empresarial do rock mudou, mas o que me preocupa hoje em dia é que as bandas não se importam mais em fazer uma carreira. Nós, quando começamos, pensávamos em gravar discos até quando o público quisesses. Você vê algumas bandas realmente boas acabarem logo depois do primeiro ou segundo álbum. Quando eu acho uma banda que realmente gosto, eles se separam. O Zodiac Mindwarp é apenas um exemplo, eu os achava muito bons! Parece até que uma banda para fazer sucesso assim que faz um bom disco e vende bem, tornando-se grande, não é mais aceita e é obrigada a desfazer-se, tendo que começar tudo de novo. Eu não vou cair no erro de dizer, como fazem uns veteranos, que não tem gente fazendo boa música lá for a. A verdade é que existe muita gente boa. Eu só queria que eles continuassem mais tempo juntos."

Barbieri: "Você trabalhou com Frank Zappa bem no começo. Você guarda alguma recordação do homem?"

Alice: "O estranho era que ele não tomava nenhuma droga, somente umas cervejas de vez em quando. Quer dizer, toda aquela insanidade.. era dele mesmo! Ele era um gênio. Assim como ele, eu tenho um grande senso de humor e nos demos muito bem. Naquela época, em Los Angeles, ninguém conseguia competir com a nossa banda porque todo mundo era só “paz e amor” e nós éramos “laranja mecânica” (referência ao famoso e violento filme do diretor Stanley Kubrick). Ele foi um dos únicos que se aproximaram da gente. Eu gostava muito dele."

Barbieri: "Tem alguma coisa de impacto acontecendo?"

Alice: "O negócio de chocar anda meio morto. A gente não consegue chocar mais do que a CNN, mais do que o noticiário da TV. Cinqüenta pessoas mortas alinhadas na calçada, abuso de crianças.. isto para mim é realmente chocante. Nós não começamos nada disso. Nós não começamos nada disso. No começo o povo parecia que estava adormecido,meio drogado, neste negócio de “paz e amor” e de repente encontrou a nossa banda, que não tinha nada a ver com isto. Nós éramos realmente chocantes, éramos o futuro. A gente queria carros rápidos, muita grana e tudo o que vinha com isto. No topo disso, acrescentamos um pouco de teatro, umas decapitações e isto impressionou muita gente…"

Barbieri: "Você acha que uma nova banda ainda tem condição de chocar?"

Alice: "Eu não sei. Acho que hoje em dia o único jeito de chocar é através dos boatos e rumores. Eu não sei se eu acredito ou não mas, se tudo que dizem do Michael Jackson é verdadeiro, ele deve ser a pessoa mais bizarra deste planeta! (risos). A cada cidade que eu toco sempre tem um monte de rumores e boatos a respeito de coisas que eu fiz no palco. Algumas são até bem criativas (risos). No momento Marilyn Manson está passando por esta fase, a Madonna já passou por isto e agora aparece todo dia um boato novo à respeito do Oasis. Quer dizer, se o rumor for bem chocante, vende bem."

Barbieri: "Antigamente você parecia mais ameaçadora e perigoso. Agora, você é mais “show business”. Isto é reflexo de você mesmo ou da indústria fonográfica?"

Alice: "A verdade é que se você tirar esta questão do choque visual de lado, o que sobra é o melhor show que pode ser feito. A provável razão por que Alice ainda funciona é porque existem 14 ou 15 músicas que a galera quer ouvir toda noite. Se eu não tocar, por exemplo, “School’s Out”, “Poison”, “No More Mr. Nice Guy”, “Under My Wheels” e “Elected”, é meu fim (risos). Quando termina o show o povo sai satisfeito."

Barbieri: "Dá para você falar alguma coisa sobre o Fistfull of Alice?"

Alice: "Nós não fazíamos um álbum ao vivo desde 1977, e se fazia necessário atualizar nossa audiência. Nós não queríamos gravar algo num grande estádio tipo Wembley. Preferimos um clube pequeno, um pouquinho maior do que este lugar aqui, com umas 300 pessoas na audiência. Quer dizer, dá para escutar tudo o que está acontecendo no palco. Eu queria que o som batesse na cara do ouvinte. Foi super legal gravar nesta cidadezinha no México, onde parecia que todo mundo da cidade estava presente (risos). O Slash apareceu. Eu tinha convidado ele para vir tocar uma música, mas ele disse que só apareceria se pudesse tocar umas quatro! Cool! Rob Zombie também apareceu e contribuiu numa música. Outro participante foi o Sammy Hagar. Aliás, o show foi gravado na sua cantina chamada Cabo Wabo situada na cidade Cabo San Lucas."

Barbieri: "Quem você acha que vai comprar o novo álbum?"

Alice: "Primeiramente, o fã verdadeiro. Eu penso que, quando um garoto pergunta para uma banda da nova geração quais foram as suas influências, e a resposta é Led Zeppelin, Ozzy, Alice Cooper, Kiss, obviamente este garoto ficará interessado em ouvir as origens e é por isso que nós sempre vendemos bem."

hand_on_plaster_01.jpg
Alice Cooper no Rock Circus em 1997. Foto: A. C. Barbieri

 

numero_30.jpg

Esta matéria é de autoria do Barbieri e foi originalmente escrita para a Revista Dynamite, tendo sido publicada na sua edição de janeiro 1998.

 

Copy Desk

Andrea Falcão

 

Diagramação, Revisão e Atualização

A. C. Barbieri

Comments (0)

There are no comments posted here yet

Leave your comments

  1. Posting comment as a guest.
Attachments (0 / 3)
Share Your Location
Type the text presented in the image below

Comentários

jayme firro posted a comment in Rock Brasileiro (1974/1976): Parte III
Oi Gil. Boa lembrança !. O Alpha Centaury era formado pelo Edu Rocha - percussão , (Ex Brasões), pelo Sergio Bandeira - Violão e voz (ex Albatroz) e mais duas vocalistas. ( Creio que atuaram no grupo a Clarita , Walkíria e Vera Lúcia mas não lembro a ordem de participação delas.) Assisti uma apresentação do grupo em 73 ou 74 levado pelo Edu Rocha. Eles tocavam música progressiva de altíssima qualidade entre elas lembro de uma chamada "Tunel dos Ventos" Na época eu frequentava um restaurante e antiquário chamado " Solar Dom João V " no Itaim Bibi, onde o Edu Rocha ir jantar com a Bibi Vogel que era sua parceira em um trabalho paralelo de música sul americana. Tinha um palco com piano e instrumentos onde os clientes podiam tocar após o jantar. Além da bateria e percussão ele tocava violão e assisti canjas dele nessa casa e apresentações em casas noturnas do Bexiga. Seu trabalho individual era também de altíssima qualidade assim como o do Sergio, enfim, vamos pedir para que a música deles não se perca na névoa do tempo e surja algum registro da época. Um abraço a você e a todos.
Joomla Article about 2 years ago
Barbieri, querido! Muito obrigado pelas palavras de incentivo. Super abraço do amigo Pevê.
Joomla Article about 3 years ago
Excelente lembrança Barbieri! Apesar de minha geração ter sido “a próxima da fila” sinto me beneficiado pelo movimento pro rock que esta discussão causou. Pra galera que curte as histórias e desdobramentos, e pq não dizer “desbravamentos” desta época vale recomendar o seu livro auto biográfico e o obviamente, o Livro Oculto do Rock.
Joomla Article about 3 years ago
Legal a matéria, mas Baribieri toquei no Kafka de 85 a 90 não eramos "pop rock" e nem tinhamos amigos influentes ...rs ! abrx
Joomla Article about 3 years ago
o pepe melhorou muito (TSC!) essa semana ele estava propagando (sim, de propaganda) que o talibá é a grande força anti-imperialista e revolucionária de toda história moderna... um verdadeiro fantoche de neo-fascistas euroasianos. Só uma pessoa desonesta intelectualmente defende talibã para contrapor imperialismo americano. e ele faz isso porque recebe muito bem de seus patrões de mídias estatais chinesas. Que não passam de um outro império, e este tem campos de concentração e vigilância digital totalitária sem precedentes
Joomla Article about 3 years ago
Jefferson Ribeiro Basilio posted a comment in Soul of Honor
Muito muito louco esse som amigos,tenho o cd que comprei numa loja de CDs usados a uns 20 anos atrás,nunca cansei de escutar essa sonzeira mano, que que isso cara !!! Sem palavras para esse cd,som pensarão guitarra arrastada,bateria empolgante , vocal show muito show mesmo....
Joomla Article about 4 years ago
O cd "As cores de Maria" veio num lote de cd´s misturados... como brinde. Escutei hoje e achei sensacional esse trabalho.
Joomla Article about 4 years ago
Gostei muito da história dela, cheguei até essa página porque achei o tarot dela na rua, e fui investigar de quem era. Parabéns
Joomla Article about 4 years ago
Dimensões parelalas podem existir, estamos mais perto de descobrir do que nunca
Joomla Article about 4 years ago
Penso muito parecido com voce. Sempre bom de ouvir e ler!
Joomla Article about 4 years ago
Muito bom esse material sobre essa grande banda brasileira!!! Goste muito,sensacional!! longa vida ao rock progressivo brasileiro!!!
Joomla Article about 4 years ago
Roberto Giovani posted a comment in Karisma
Um sonho so e bom quando se sonha junto. Ola Heli! Ola Rudi! Realmente vocês foram the best! Beijos e abraços de seu eterno amigo Roberto!! Rock & Roll jamais morrera pois o Karisma é uma das bandas que não deixam isso acontecer ! PAZ & AMOR SEMPRE!!!!
Joomla Article about 4 years ago
Gil Souto posted a comment in Rock Brasileiro (1974/1976): Parte III
Muito bom ! Quero ler e reler . Importantíssimos registros! Tava procurando algo sobre o Sérgio Bandeira ( do Bexiga e me deu o primeiro ácido! ) e de uma Banda que se chamava Alpha Centauri !!! Bons tempos de intensa e prazerosa loucura!
Joomla Article about 4 years ago
Caras.... estudei com ele no início dos anos 90 e com certeza um grande músico e mestre , tive a honra de acompanhar algumas sessões de gravação de seu primeiro CD e foram lições de profissionalismo e talento!!!!! Abraço Indio Manuel Marquez Prior
Joomla Article about 5 years ago
Rodolfo Ayres Braga posted a comment in Raimundo Vigna: Memórias de um b(r)oqueiro
Querido Irmão Vigna conterrâneo,amigo desde 1970...Superb batera!
Joomla Article about 5 years ago
Ouvi pela primeira vez aos 16 anos ( em uma fita k-7 que foi copiada pela molecada roqueira da cidade de Cataguases, no começo dos anos 90). Quatro anos depois consegui um CD também pirata... somente hoje aos 44 anos consegui o CD original ( presente atrasado do dia dos pais - meu filho tem 17 anos)... Simplesmente fantástico, talvez o mais rock and roll de tudo que já foi lançado no Brasil...
Joomla Article about 5 years ago
Nathan Bomilcar posted a comment in Scarlet Sky
Saudoso primo Guto Marialva. Deixou sua marca!
Joomla Article about 5 years ago
Eliana posted a comment in Tony Osanah: Um argentino bem brasileiro
Olha só... A Internet é uma mãe... Eu era superfã da Banda Raíces de América... Sou coetânea do Tony. Não sabia que ele tem essa história de vida tão linda. Eu gostaria de desenvolver um projeto desse tipo mas não sou boa o suficiente nisso. Fiquei emocionada com a história dele dando aula de música para os jovens presos. A música faz esse milagre. É por isso que amo uma boa música e, se eu pudesse, seria uma... Deus o abençoe!
Joomla Article about 5 years ago
Matéria bacana! Uma pena perder material das bandas e do evento...
Joomla Article about 5 years ago
Meu nome é Sérgio, eu sou o baterista da banda Vienna ( atualmente BLACK VIBE) e gravamos a música Sexo Arrogante, que foi feita 2 horas antes de entrarmos na sala de gravação.
Joomla Article about 5 years ago
Articles View Hits
3909816

We have 41 guests and no members online