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Neil Young está certo: Pirataria é a nova rádio!
Escrito por Mathew Ingram (31/01/2012)
Traduzido por Antonio Celso Barbieri
Sendo um artista que provavelmente recebe muito dinheiro licenciando sua música, você poderia pensar que Neil Young seria contra a pirataria e compartilhamento de documentos. Tudo indica que, este não é o caso pois, conforme sua entrevista dada na conferência Dive into Media em Los Angeles, em vez de ir contra o compartilhamento de documentos, Neil Young definiu a pirataria como sendo "a nova rádio" porque ela "faz a música circular". Seus comentários colocaram toda esta histeria sobre quebra dos direitos autorais dentro de uma nova perspectiva pois, "compartilhamento de documentos" e "fazer dinheiro" não são coisas separadas como, autores, músicos e até criadores de jogos eletrônicos estão descobrindo. A verdade é que, em muitos casos uma certa quantidade de pirataria pode, muito bem, ajudar nos negócios.
Comparar a pirataria com a rádio foi uma maneira esperta de abordar este assunto porque, no princípio da indústria musical, quando os shows ao vivo e as vendas de discos eram os geradores principais de renda para artistas e editores, a própria rádio foi vista como uma forma de pirataria (da mesma forma que a partitura foi). Os músicos ficaram revoltados por saberem que as estações de rádio estavam tocando suas músicas gratuitamente e, até algumas gravadoras fizeram seus artistas assinarem contratos estipulando que eles não poderiam apresentarem-se nas rádios. No final, naturalmente, a rádio transformou-se em um enorme catalizador de rendimento para a música. Convém lembrar, é claro, que isto só aconteceu porque as gravadoras e os editores forçaram a criação da cobrança de taxas de licenciamento por execução musical.
Quer dizer, a rádio foi vista também como pirataria mas, no final, transformou-se em um motor publicitário. Mas, mais do que simplesmente ser uma fonte de coleta de taxas, a rádio, igualmente transformou-se em um enorme veículo para publicidade musical e, eventualmente, a coisa tornou-se tão óbvia que chegou ao ponto das gravadoras, para promoverem suas músicas, começarem pagar "jabaculê" (payola) para as estações de rádio e Disc Jockeys (DJs). E agora, com o comentário de Neil Young, fechamos o circulo e, a coisa toda até acaba fazendo sentido: "Eu vejo a Internet como o novo rádio! Eu vejo a rádio como uma coisa que já era! A pirataria é novo rádio! É assim que a música agora circula!"
Esta ideia da pirataria como sendo a forma “como um conteúdo circula” não apenas aplica-se à música. No ano passado, em um vídeo comentário sobre pirataria gravado com o escritor britânico Neil Gaiman - o escritor que eu entrevistei recentemente sobre sua oposição às leis federais antipirataria SOPA e PIPA - disse que costumava ficar irado porque as pessoas pirateavam seu trabalho, mas que, acabou eventualmente percebendo que justamente vendia mais cópias de seus livros físicos naqueles países onde a pirataria era a mais elevada. O escritor brasileiro Paulo Coelho também descobriu a mesma coisa, e até começou realmente colocar na Internet, seu próprio trabalho nos locais de compartilhamento, isto, sem falar nada para o seu editor.
Alguns criadores de jogos eletrônicos - de várias maneiras, o equivalente nesta era digital aos compositores e autores - igualmente acabaram vendo a pirataria como sendo um mal necessário e, em muitos casos, uma força positiva. Markus Persson, o colaborador sueco do jogo incrivelmente popular chamado Minecraft, disse que agora vê a pirataria de seu jogo como uma forma de marketing. E, em uma recente conferência da indústria musical na Europa, o CEO da mundialmente famosa companhia de jogos eletrônicos chamada Rovio, criadora do jogo Angry Birds disse que a pirataria “não pode ser uma coisa má porque aumenta a demanda para a versão oficial dos produtos da empresa. Se você faz com que a coisa seja fácil de baixar e pagar então, pirataria passa a não ser um problema."
Mesmo Bill Gates, o grande CEO da Microsoft acabou vendo as virtudes de um pouquinho de pirataria, especialmente nos mercados em desenvolvimento como a China. O fundador da Microsoft fez este comentário sobre esse mercado: “Uma vez que eles vão roubar mesmo, prefiro que roubem da gente. Eles ficarão dependentes, viciados no nosso produto e então, algum dia, na próxima década, nós descobriremos alguma forma de como coletar o pagamento.” Bill Gates claramente viu pirataria como um tipo de perda que, eventualmente criará uma demanda de mercado.
Uma das razões pelas quais os usuários acabam violando os direitos do autor é porque certos distribuidores complicam muito para a compra da versão oficial do produto que o cliente está buscando. Como, deixou claro o investidor Fred Wilson que, num comentário recente queixou-se, admitindo que pirateou uma transmissão de um jogo de basquetebol. Mas, o exemplo do comediante Louis CK, que, permitiu que qualquer um baixasse seu vídeo de humorismo por apenas 5 dólares, sem nenhuma proteção ou direitos reservados, vendeu 1 milhão de dólares em vídeos em menos do que uma semana e, mostra que ainda há espaço para que os criadores façam dinheiro com suas criações, isto, desde que facilitem ao máximo o acesso ao seu trabalho.
Como Andrew Weissman da Union Square Ventures recentemente comentou, "a informação quer ser livre" - não necessariamente livre no sentido de que não deve custar nada, mas livre no sentido de ser livre de atritos e complicações para alcança-la. E se você não deixar sua música, texto ou o outro conteúdo fácil para baixar e “circular" (como foi dito pelo Neil Young) então, a pirataria tomará conta disto para você.
Nota do Barbieri: É interessante notar que em inglês a palavra "free" tem duplo sentido podendo significar tanto "livre" como "grátis" portanto a frase "information wants to be free" poderia também ser interpretada como "informação quer ser grátis"