Os Milenares ou como uma geração, sozinha, conseguiu matar a indústria fonográfica.
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Os Milenares ou como uma geração, sozinha, conseguiu matar a indústria fonográfica.
Escrito por Thomas Honeyman traduzido e adaptado por Antonio Celso Barbieri
"Esta matéria é basicamente uma observação da indústria fonográfica Norte Americana mas, acredito, trata-se de uma matéria fundamental para o nosso entendimento das mudanças radicais por que passa esta indústria não só nos Estados Unidos como no Brasil e de forma geral no mundo todo."- Antonio Celso Barbieri Estamos no meio do maior abalo sofrido pela indústria musical nos últimos 100 anos. Uma mudança fundamental ocorreu - uma mudança criada e dirigida pelos Milenares. Pela primeira vez, as vendas de discos não são suficientes para fazer a carreira de um artista, e elas certamente não são suficientes para garantir o seu sucesso. A antiga indústria da música agarrou-se desesperadamente às vendas para sobreviver, mas esse modelo já não funciona à muito tempo. Mesmo os superstares estão achando duro. Pitbull, apesar de ter 50 milhões de fãs no Facebook e quase 170 milhões visualizações no YouTube, vendeu menos de 10 milhões de álbuns em toda a sua carreira. Esta é a realidade da nova indústria da música, cujo sucesso do artista é medido pela atenção "fluídica provida pela Internet" e não pela grande quantidade de vendas. Por quê? Bem, a resposta está com esta nova geração, os Milenares. Eles controlaram a indústria da música, interferindo nas suas características mais importantes: 1. Demanda A indústria da música é como qualquer outro grande negócio: Ela segue o dinheiro. Ao longo das últimas duas décadas, a música tem sofrido com o surgimento de serviços como CD bubble, torrents, Napster, iTunes (com a Apple pegando uma fatia de 30 por cento de tudo) e, agora, com os sempre presente serviços de streaming (broadcast ou transmissão de música online), o que serviu para reduzir as vendas abaixo do nível já baixíssimo que estava. A indústria da música tem sido abalada por novas tendências e ao longo dos últimos anos, sucumbiu a um estado de quase queda livre. Ela está agarrando-se aos últimos "barbantinhos" restantes, em uma tentativa desesperada para salvar e lucrar com os restos mortais de seus modelos de negócios já falidos. Enquanto a música se torna mais e mais enraizada no mundo digital, os Milenares surgiram como os consumidores dominantes. Mais importante, eles dominam o mercado emergente mais promissor para a música que é o mercado dos dispositivos móveis. Eles usam 75% mais aplicativos musicais, de mídia e entretenimento e cerca de 20% mais aplicativos de compartilhamento social e, com mais frequência do que qualquer outro grupo etário. Em poucas palavras, Milenares consomem mais música e comunicam o maior número de pessoas sobre isso. Embora seja óbvio que o consumo é importante, por que é tão importante que nós compartilhemos o que ouvimos? A antiga indústria da música tinha como unidade de medida do sucesso de um artista as vendas de álbuns. Durante anos, as vendas de álbuns vem diminuindo e o crescimento de singles (compactos) tem crescido com os serviços de streaming acelerando esta tendência. Como mudamos para uma economia voltada para a música digital, novas medidas para avaliar o sucesso de um artista tem surgido. Uma nova geração de artistas dominou a cena e eles estão mais preocupados com receber a atenção, do que com as unidades de música que vendem. A atenção tem se tornado tão valiosa como a nossa probabilidade de compra, uma vez que ela leva aos festivais, à presença do público e ultimamente às vendas de merchandising e outras fontes de receita. No entanto, o público ainda não comprará a sua música. |
Algumas curiosidades sobre esta Geração do Milênio: • De acordo com o Censo dos EUA, cerca de 40% da geração do milênio é formada de Africano-americanos, hispânicos, asiáticos ou de gente mestiça. • Uma série de estudos, incluindo um do Centro para o Progresso Americano, antecipa que os Milenares serão a primeira geração Norte Americana que será mais pobre do que seus pais. • Os Milenares são também chamados a geração Net, porque (pelo menos de acordo com algumas pessoas) eles não se lembram da época em que a Internet não existia. • Como resultado crescente da importância da Internet e dispositivos associados, os Milenares são muitas vezes considerados, até o momento, a geração tecnologicamente mais experiente que surgiu. |
As grande marcas de produtos também sabem disso. Empresas como GUESS, Red Bull e Steve Madden vão derramar este ano mais de 1.34 bilhões de dólares em patrocínios de casas de shows, festivais e turnês.
Mais de um bilhão de dólares serão gastos para criar a oportunidade de construir relacionamentos com clientes e fortalecer a marca com os nativos digitais. Em contraste, os 10 mais bem pagos artistas eletrônicos no ano passado, cumulativamente, fizeram pouco mais de 240.000 mil dólares, menos de 20% do que as marcas vão gastar em 2014 para captar a atenção dos Milenares.
O que as marcas entendem é que a música é uma parte importante da identidade dos Milenares. É mais do que entretenimento para eles. A música que eles ouvem pode ser tão importante como a forma como eles se vestem e, ultimamente influenciam quem são seus amigos.
Para eles, frequentar festas e shows são uma expressão de identidade. As grandes marcas sabem que esta geração pode identificar-se com um DJ como Skrillex e sua base de fãs dedicados e, eles terão mais do que apenas uma breve atenção do consumidor. A marca passará a fazer parte do estilo de vida dos fãs.
É por isso que Steve Madden está unindo-se com as DJs femininas que estão aparecendo, tudo é feito para atrair os Milenares.
O resultado final é que a indústria da música e as grandes marcas estão ambos perseguindo a nova geração de artistas; artistas que, em vez de vendas de álbuns, conseguem captar, reter e rentabilizar a atenção, mantendo os Milenares interessados por mais tempo.
2. O Fornecedor
Hoje em dia, tudo que é necessário para fazer uma gravação moderna é um computador e um software de gravação acessível. Uma dos mais poderosos DAWs (digital audio workstation) profissionais que, consiste em um computador rodando um programa de gravação de áudio chamado Logic Pro da Apple, que custa apenas uns 200 dólares (mas que, se você for esperto, será capaz de baixa-lo gratuitamente!). Convém lembrar que o programa mais famoso é o Pro Tools e um dos mais usados e queridos é o Cubase da empresa alemã Steinberg (eu uso este, não importa o que digam Cubase é o bicho!)
Dentro de um DAW encontram-se instrumentos virtuais como pianos, sintetizadores e baterias, bem como todas as ferramentas necessárias para editar e produzir áudio.
A maioria dos equipamentos necessários para criar música tem sido absorvidos dentro do DAW, ao mesmo tempo que o software continua a ficar mais fácil e mais fácil de usar. O resultado final é que os artistas podem criar música de forma mais rápida, mais eficiente e menos cara do que em qualquer outro momento na história.
Gotye criou sua canção “Somebody That I Used to Know” (alguém que eu costumava conhecer) na casa de seus pais perto de Melbourne, na Austrália. Esta faixa autoproduzida alcançou o número um em mais de 23 paradas nacionais e ficou dentro do top 10 em mais de 30 países ao redor do mundo. Até o final de 2012, a canção tornou-se a música mais vendida daquele ano com 11,8 milhões de cópias vendidas, classificando-a entre os singles digitais mais vendidos de todos os tempos.
Um jovem produtor holandês chamado Martin Garrix alcançou o topo das paradas em mais de 10 países com seu hit, "Animals", que ele produziu e lançou aos 17 anos de idade. A canção atingiu o número um no Beatport, tornando Garrix a pessoa mais jovem a receber esta honra.
Os Milenares, que podem simplesmente gravar depois da aula ou do trabalho, são na sua maioria familiarizados com esta tecnologia, mas a atitude deles com relação à não reter nenhum segredo quanto a aprendizagem é muito mais importante.
Procure “How to use Logic Pro” (Como usar o Logic Pro) no YouTube e você vai encontrar milhares de cursos livres. Sites como o Reddit possui comunidades inteiras com dezenas de milhares de membros que se dedicam a aprender sobre produção musical.
A tecnologia é barata e recursos de aprendizagem de alta qualidade são gratuitos. Como resultado, este novos artistas tem conseguido registros sonoros de enorme sucesso sem nunca terem posto os pés em um estúdio de gravação.
3. "Descobrir Música" ganhou mais importância
Bom, a verdade é que a "descoberta de música" e "produção musical" andam de mãos dadas. Assim como a tecnologia tem permitido a produção de música fácil para jovens artistas emergentes, também forneceu-lhes uma maneira de alcançar os fãs de todo o mundo.
É claro que há as histórias clássicas de sucesso como Justin Bieber e Lana Del Rey, mas abaixo do império YouTube repousa toda uma cultura de Milenares que estão descobrindo a música online.
Plataformas como o SoundCloud tem mais de 250 milhões de usuários ativos por mês e os Milenares descobrem a sua música predominantemente através destas plataformas digitais. Aliás, quando os "nativos digitais" produzem novas músicas, eles as liberam primeiro nas plataformas digitais.
Os Milenares estão jogando dos dois lados do campo: Eles estão criando mais música do que nunca e liberando-as para plataformas onde os seus pares irão descobri-las.
O "intermediário" da indústria da música foi cortado e uma interação, uma conversa com a Internet substituiu-o. Claro, grandes estrelas como Katy Perry ainda dominam as vendas, mas Milenares estão a minar esse modelo com um novo modelo de descoberta, de base.
4. Os Milenares estão unindo-se em equipes formadas por músicos para dominar
Equipes de composição e produção apoiam artistas dominantes como Rihanna, Taylor Swift e Katy Perry. Essas equipes de produção são uns dos principais fatores usados para manter os superstares no topo. Trabalhar em equipe permite que esses escritores produzam toneladas de faixas pop altamente escutáveis. Agora, Milenares estão quebrando essa barreira final, também. Serviços como FindMySong estão conectando músicos independentes para que possam formar suas próprias equipes de composição e produção voltadas à dominação. O modelo FindMySong aproveita o fato de que existem mais músicos independentes do que nunca querendo um pedaço do grande sucesso do artista, isto sem as amarrações dos grandes selos e gravadoras.
Com a tecnologia de gravação barata e uma forma eficaz de distribuir a música, estas equipes independentes juntaram-se online para concorrer contra as grandes gravadoras.
Você tem o poder agora. O que você vai fazer com ele? Pela primeira vez na sua longa história, o negócio da música está firmemente nas mãos dos artistas e dos consumidores. Você tem a capacidade de liderar a indústria conduzindo-a na direção que você quiser!
Nota: Enquanto você lia esta matéria escutava a música composta e gravada em 2014, aqui pelo Barbieri no seu estúdio, em um equipamento similar ao descrito na matéria acima. Desde o final dos anos 80 que tenho estado no topo da tecnologia de áudio digital e quero lembra-los que não sou dessa geração acima! :-)
Antonio Celso Barbieri