Ratos de Porão (RDP) em Londres |
Data: 23/08/1998
Foi um dia difícil pois tive que sair correndo do interior da Inglaterra onde estava cobrindo o V98 Festival. Quando cheguei no The Garage, um espaço de show meio underground perto da estação do metrô de Highbury & Islington, ainda tinha a minha credencial VIP do V98 no pulso.
Toda correria valeu a pena porque, encontrei o Gordo feliz, satisfeito e bem humorado, pois já tinham tocado para casas lotas em Sheffield, Manchester, Birmingham, Bristol e agora fechavam com chave de ouro em Londres. Aliás a Patricia, minha filha, tinha chego antes e tinha ido com a banda tomar alguma coisa no “pub” da esquina.
O Gordo estava visivelmente emocionado com esta tour que, segundo ele, tinha sido muito especial, pois além de ser a primeira vez que se apresentavam no Reino Unido ainda tinha se apresentado no Festival Sudoeste em Portugal para 32.000 pessoas e dividido o palco com nada mais nada menos que PJ Harvey, Sonic Youth, Therapy? E The Cure. Outro acontecimento importante foi a participação na Festas de Bilbao no país Basco (Espanha) onde foram consagrados por 7.000 pessoas e tratados como superstars.
O Show (RDP + Verukers + Restart + Hatreds);
|
Muito embora eu não classifique o som do Ratos como punk, pelo menos em espírito a coisa estava brava, com um público bem barra pesada tipo “marcou dançou”.
O Show da banda Restart passou despercebida, apesar de energética. Já a próxima banda The Hatreds era muito boa e prendeu minha atenção com um som pesadíssimo, bem trabalhado, mais para o thrash do que qualquer coisa e um vocalista competente. Já a banda veterana The Verukers mostrou que infelizmente seu punk rock está totalmente defasado e a banda realmente estava precisando de ensaio. Teve até um momento que o baixista esqueceu a sua parte.
De qualquer forma, a atitude anarquista e relaxada da banda somada à uma platéia completamente chapada e cheia de amigos fez tudo misturar-se com naturalidade e ninguém notou nada.
|
|
|
Verukers
|
O Rato Detona
|
|
Eu tinha visto o Gordo e sua turma em ação duas vezes.
Uma abrindo para o Sepultura e Napalm Death e, anos depois, abrindo para o Helmet.
Na época fiquei decepcionado com a performance do Gordo abrindo para o Helmet, muito certinha, diferente e comportada em comparação com a paulada que foi o show abrindo para os Seps e Napalm Death.
|
|
João Gordo
|
|
Desta vez, foi diferente e a banda botou 100% no palco com o Gordo superando-se numa apresentação impecável. Foram umas 30 músicas onde o povo agitou o tempo todo. O Gordo mostrou todo o seu carisma e, percebendo que haviam muitos espanhóis além de portugueses e italianos na platéia, ainda achou tempo para soltar uns palavrões em espanhol para deleite dos fãs. |
|
|
Boca
|
|
|
No final, depois de voltar duas vezes ao palco já nos camarins, tive a oportunidade de bater um papo com o Gordo que suava bicas e não conseguia enxugar-se completamente pois, quando acabava de enxugar as costas, o rosto e os peitos já estavam escorrendo novamente.
|
|
Jão
|
Fralda
|
|
Barbieri: “-Quantas vezes vocês já vieram para a Europa?”
João Gordo: “-Acho que esta é a sétima ou oitava. Há dois meses atrás nós fizemos 50 shows passando por Portugal, Espanha, França, Bélgica, Alemanha onde fizemos 19 shows, depois Áustria, Eslovênia, Croácia e Itália. Na Itália nós só tocamos em casas invadidas.”
|
|
|
Barbieri e João Gordo no The Garage
|
Barbieri: “-Qual foi a melhor turnê?”
João Gordo: “-Acho que só agora é que as coisas estão realmente começando a acontecer. Que a gente está começando a pegar um nome. Nosso disco novo está sendo lançado pela Alternative Tentacles dos Estados Unidos com distribuição na Europa. Nós temos colocado muito público onde temos tocado principalmente na Alemanha, na Bélgica... Quer dizer, já tem um monte de gente que conhece o RDP.”
Barbieri: “-Que você achou desta sua primeira tour pela Inglaterra?" João Gordo: “- Para mim foi um sonho de punk rock. Conheci todos os ídolos da minha juventude... absolutamente todos!” Começando que toquei com o pessoal do The Varukers e depois encontrei-me com o baterista do Doom além de mais de 10 músicos de um monte de bandas do passado. O meu show de Bristol estava cheio de gente importante da antiga. Para mim que passei a minha vida curtindo este tipo de som, é realmente uma glória, um presente que eu nunca pensei receber.”
Barbieri: “-E o futuro?" João Gordo: “-Bom, no Brasil não pega nada. A gente continua tocando, mas é aquela merda de sempre. Acho que vamos fazer uma tour com o GBH, mas estou até com medo pois vai ser um inverno bravo pela Polônia e Checoslováquia... nós vamos pegar uns “300” abaixo de zero! Nós também obviamente pretendemos voltar em breve para tocar na aqui na Inglaterra.”
|
Barbieri: “-Recentemente você foi brindado com uma foto na capa da revista Dynamite..."
João Gordo: “-Bateu legal! A Dynamite foi a única revista que me deu uma capa.
Na Rock Brigade eu tive que dividir com o Max. O Ratos de Porão nunca foi capa de porra nenhuma no Brasil. Nunca foi convidado para tocar em nenhum festival. Lá no Brasil ninguém nos deu o devido valor, o valor que o povo europeu nos dá, onde já fazemos parte da história do hardcore punk mundial." |
|
|
|
|
Revista Dynamite
|
Metal Forces Magazine
|
|