Barbieri, o culto e o oculto do Rock Brasileiro - Entrevista concedida em outubro de 2017 para o site Arte Condenada
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Antonio Celso Barbieri. Foto: Andrea Falcão. (2017)
Barbieri, o culto e o oculto do Rock Brasileiro
Entrevista feita por Luis Carlos para o site Arte Condenada
Se eu tivesse que entrevistar o Barbieri mais uma, duas, três vezes, ainda assim faltariam muitas histórias para contar.
Produtor, radialista, jornalista, essa figura incansável segue em frente com seu legado de amor pela arte.
Vamos ao papo!
Luis Carlos: Quem era o Barbieri antes de tornar-se essa pessoa multifacetada na música?
Barbieri: Bom, acho que sempre fui uma pessoa multifacetada. Já explico! É que minha vida desde que me entendo por gente foi multifacetada. Sempre fui um sonhador, o que hoje em dia o povo conhece como “nerd”. Fazer meu universo mental coexistir com a minha realidade física sempre foi muito difícil. Na escola prestar atenção nas aulas era uma tarefa quase impossível. Agora, aprofundar-me nos assuntos de meu interesse, quase uma obsessão. Para, caminhar da ficção científica à exploração espacial, filosofia da ciência, discos voadores, todo tipo de arte incluindo obviamente o rock, para mim, sempre fez muito sentido. A verdade é que meu jeito de ser causou-me desde criança um conflito com meu pai que não entendia o porquê das minhas notas baixas na escola. Então, muito cedo, adaptei-me e encontrei meu jeito de viver no meio dos “normais”. Me apelidei de “o mestre da corda bamba” e virei um “expert” em design, quero dizer, tudo para mim é a mesma coisa, texto, desenho, música, etc. Eu adoro, no computador, reagrupar coisas, juntar palavras e criar um conteúdo novo. Da mesma forma adoro juntar imagens já existentes e agrupa-las para transmissão de uma nova mensagem. Por exmeplo, geralmente gravo um improviso na guitarra ou no piano e depois picoto tudo e reagrupo criando algo totalmente diferente. Então, quando crio música, entendo que o rock é um grande camaleão que me permite de forma livre reagrupar vários elementos para criar o novo. Eu chamo isto de “colagem digital”.
Imagine, que com todas essas limitações, cheguei a ser um Chefe de Divisão, administrando a Divisão de Cadastro do Banco Noroeste do Estado de São Paulo. Neste período tinha que ter duas identidades. No banco usava terno e gravata e administrava uns 30 funcionários. Lá pelo começo dos anos 70 coloquei um brinco na minha orelha esquerda. Era fã da série de TV do pesquisador marítimo francês Jacques Cousteau e quando percebi que alguns de seus marinheiros usavam um brinco achei o máximo. Para mim era como se fossem símbolos de liberdade. Então, a roupa que usava para ir trabalhar, o terno e gravata eram apenas meu uniforme, considerava como se fossem parte da minha identidade falsa. Quando saia do banco imediatamente tirava a gravata e colocava o meu brinco bem pequeno, de ouro, formato argola que, quando colocado, ficava exatamente igual à dos marinheiros do programa de TV. Obviamente, quando colocava o brinco assumia imediatamente a minha outra identidade; a de roqueiro. Sabia que era apenas um brinquinho, mas, para mim era como tivesse assumido uma nova persona.
Sempre que podia, na hora do almoço ou quando saia do trabalho, fazia o circuito dos sebos de disco buscando por vinis raros. Cabe lembrar que, me refiro a sebos de disco porque, no começo, eram mesmo. Espalhados pelo centro velho de SP, um sebo de disco era apenas uma salinha, perdida em algum andar de um prédio velho, quase sempre sem muita mobília ou decoração e em alguns casos extremos, apenas com uma cadeira para o dono sentar sempre cercado de pilhas de vinis pelo chão. Este sim foram tempos emocionantes onde podíamos sair destas lojinhas com um álbum absurdamente raro debaixo do braço, mas, pago com um preço absurdamente barato.
Dentro da minha “patologia” colecionar coisas sempre foi uma constante: tampinhas garrafa, marcas de cigarro, figurinhas, gibis e mais tarde vinis, CDs, mp3, vídeos e sempre muitos livros...
Sempre me interessei por música, então, em 1974, mesmo trabalhando no banco abri em parceria com meu irmão Jorge uma lojinha de discos no Bairro do Limão chamada Stocking Music Center (Stocking significa “meia de seda” e era uma referência à androgenia de Alice Cooper, David Bowie e Marc Bolan). A loja durou apenas aproximadamente um ano, mas fiz amizades que duram até hoje. Anos depois abriria outra lojinha chamada Rocker. (Eu fui o primeiro a lançar as camisetas de rock no Brasil. A minha marca chamou-se Rocker e fui o primeiro revendedor da Galeria do Rock).
Foi só lá pelo começo dos anos 80 que tive a oportunidade de aprender tocar um pouco de piano. Foi com Enny Parejo, hoje uma renomada especialista no ensino musical. Na época nós éramos apenas namorados e nossa relação professor/aluno nunca foi fácil porque, sempre fui um estudante difícil para estudar e seguir normas e convenções. Entretanto, como percebi que Enny e seu amigo Vado (Oswaldo Mori, hoje falecido) faziam uma excelente dupla musical, logo estava produzindo vários show deste duo no Teatro Lira Paulistana, Centro Cultural e outros teatros.
Neste período, também virei o empresário da banda Avenger, uma das primeiras bandas 100% Heavy Metal de SP. Também levei-a para tocar no Teatro Lira Paulistana. O show do Avenger no Lira praticamente deu a partida para o Projeto SP Metal que rolou neste mesmo teatro em duas temporadas, durando vários meses. Com o início do Projeto SP Metal no Teatro Lira Paulistana “a pedra começou rolar” e logo eu estaria fazendo o Projeto Metal, Rock & Cia. no Sesc Pompéia, acabaria sendo convidado para ser o apresentador da Praça do Rock no Parque da Aclimação e como resultado, me tornado uma figura conhecida na cidade e principalmente na Galeria do Rock.
Evidentemente, existem muitos “Barbieris” dentro da minha cabeça. Existe o roqueiro, o músico, o político, o artista gráfico, o crítico musical, o jornalista, o escritor, o homem que se casou três vezes, etc. Cada um destes personagens daria material para um livro.... Portanto, fico por aqui e vamos para a próxima pergunta!
Luis Carlos: Você que viveu a década de 70, quando falamos de música, qual a diferença daquela época para hoje?
Barbieri: Os anos 60 e 70, foram anos de profundas mudanças sociais e políticas. Foi uma época revolucionária em muitos aspectos e naturalmente o rock, de forma espetacular, refletiu isto. As centenas e centenas de bandas deste período não estavam apenas tocando, elas estavam criando um estilo, discutindo a realidade e mudando os costumes deste período para sempre. Os resultados destas mudanças são sentidos até hoje!
Hoje em dia raramente existe uma banda nacional ou mesmo internacional pesquisando algo novo e tomando riscos. A meu ver, a realidade é que, independentemente do nosso gosto musical ou em termos de estilo o último artista nacional que criou algo realmente novo e sofisticado foi Arrigo Barnabé. Nos anos 70, no Brasil, a única banda que realmente estava inovando e ao mesmo tempo sintonizada com o que acontecia no mundo, foi Mutantes. Isto não significa que estou diminuindo a qualidade das nossas bandas do período! Muito pelo contrário! Segui de perto além de Mutantes, Terço, Som Nosso de Cada Dia, Terreno Baldio, Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Peso, Casa das Máquinas e muitas outras, todas excelentes.
Luis Carlos: Você que trabalhou com nomes importantes do Rock Brasileiro, indicaria alguém hoje que pudéssemos dizer que futuramente será um destaque na música Brasileira?
Barbieri: Uma vez, muitos anos atrás, aqui em Londres, bati um papo com o então editor chefe da lendária revista Metal Hammer. Na conversa perguntei para ele:
“Sabendo de antemão que o rock é um grande camaleão e uma vez que o senhor está no topo da coisa, recebendo centenas e centenas de pacotes semanais com material novo de bandas, qual acha que será a nova tendência do momento? Que estilo está por vir?” Sua resposta foi:
“Meu filho, seu eu soubesse, montava uma banda e ficava rico!”
Então, respondendo a sua pergunta, se soubesse quem é o grande nome da música brasileira, mais precisamente do rock brasileiro que fará sucesso, procuraria aproximar-me dele! Tendo dito isto recentemente tem gente dizendo que Yohan Kisser filho de Andreas Kisser (guitarrista da banda Sepultura) com seu projeto Lusco Fusco e também participando do projeto do seu pai o Kisser Clã, tem muito futuro pela frente. Aliás, como dizem “...filho de peixe peixinho é”. Em 2015, na 89FM, fui entrevistado por Andreas & Yohan no programa Pegadas do Andreas Kisser e na ocasião o rapaz me pareceu bem eclético musicalmente. Só espero que ele não seja tão cabeça dura quanto seu pai! :-)
Barbieri com Arnaldo Batista do Mutantes. Foto: Lido Valente (1985).
Luis Carlos: Ao se decepcionar com a política enquanto candidato, isso foi um fator importante para que você resolvesse ir embora do Brasil?
Barbieri: Sim, como resultado do falecimento recente de Ricardo Zarattini, fiz este comentário no facebook:
“Faleceu hoje (15/10/2017) o companheiro Ricardo Zarattini, militante histórico da esquerda brasileira. Ricardo Zarattini em 1986 fez uma parceria comigo onde, imediatamente após a legalização do PCB, nós saímos juntos para concorrer nas eleições daquele ano. Ele para Deputado Federal e eu para Deputado Estadual (por SP). Já sabíamos de antemão que ganhar seria muito difícil, porque a ditadura da direita tinha tido 30 anos para mexer os pauzinhos e, entre outras coisas, mudar a lei eleitoral, criando o voto de legenda. De qualquer forma para mim foi uma experiência emocionante e ao mesmo tempo muito difícil. Algumas portas se abriram, mas muitas se fecharam! Depois destas eleições minha desilusão foi muito grande, tanto com alguns amigos como com a própria política e acabaria sendo uma das razões porque, a primeira chance que tive, saí do país. ”
Ricardo Zarattini e Barbieri.
Luis Carlos: Durante todo esse tempo morando em Londres, qual a grande diferença daí pro Brasil e o que você destacaria como bom e como ruim na cena Inglesa? Pensa em voltar algum dia?
Barbieri: Cheguei em Londres, atravessando o Canal da Mancha em Calais na Franca em direção à Dover já na Inglaterra. Só tinha uma nota de 100 dólares que usei para pagar no barco pela travessia. Recebi de troco, já convertido, aproximadamente 40 libras. Era tudo o que eu tinha! Cheguei preparado para dormir na rua se necessário. Tive sorte e fui ajudado por um exilado político chileno comunista. Só aí entendi porque é que eu fui parar no PCB! Tudo tinha sua razão de ser!
Estou com 65 anos e até os 50 a coisa foi muito difícil. Por um período fiquei ilegal no país. A coisa melhorou bastante quando consegui meu passaporte italiano e mais ainda quando consegui minha cidadania britânica. Que fique claro, não estou rico, mas, hoje em dia, não tenho mais problemas financeiros e, portanto, vivo com dignidade. No momento, estou aposentado e posso dedicar-me apenas à minha vida conjugal, à busca do saber e todo tipo de atividade artística.
Para mim, a diferença, os motivos de estar aqui em Londres são: econômico, segurança, estar longe da minha família (família para mim é só competição e problema), estar mais perto do futuro, estar no topo do mundo, liberdade individual (posso ser criança para sempre) e por aí vai...
Quanto ao Brasil nem vou falar nada.... Todo mundo sabe que o sistema político e social brasilerio está muito ruim e as pessoas estão cada vez mais egoístas, consumistas e desumanizadas. O povo de São Paulo a cada ano que visito fala mais “caipira” e a cidade está mais feia e descuidada com o centro tomado por uma legião de zumbis drogados e comandada por mais um prefeito, como os anteriores, cheio de atitudes populistas, saqueando os cofres públicos com a única intenção de se eleger Presidente. Mas, voltando a cena inglesa, depois do chamado Britpop dos anos 90, fraquinho por sinal, nada aconteceu que me surpreendesse. Na minha opinião um dos momentos mais emocionantes foi a volta para apenas alguns shows no O2 Arena da banda Led Zeppelin em 2007. Infelizmente não pude assistir pois os ingressos esgotaram-se em apenas 10 minutos (e custavam uma fortuna).
Uma vez um amigo de uma gravadora aqui de Londres, frustrado me confidenciou que “hoje em dia para gravar aqui em UK o artista ou tem que ser gay, black ou formado por garotas ou garotos tipo bimbos. Na parada musical só dá dance, happers, girl bands e boy bands! Comparado com isto até o Britpop era bom!”.
Sinceramente, atualmente em dia a Suécia e os países escandinavos em geral estão dando de 10 nos ingleses! A BBC virou uma TV de puro saudosismo e só é salva pelas transmissões ao vivo dos festivais de verão, com destaque para o Festival de Glastonbury.
Quanto a voltar a viver definitivamente no Brasil, acho difícil, se ganhasse na loteria talvez achasse uma praia maravilhosa, com acesso à uma conexão Internet banda larga para viver todo dia olhando para o mar e estar ao mesmo tempo conectado com o mundo!
Luis Carlos: Mesmo morando fora do Brasil, existe uma conexão muito forte entre você e com o que é feito aqui no Brasil, inclusive de bandas que tiveram seus trabalhos divulgados no exterior e com Bandas que foram tocar em Londres. Conte-nos um pouco sobre isso.
Barbieri: Não sou religioso, mas, dizem que Jesus disse: “aquele que vir na minha direção eu irei me encontrar com ele no meio do caminho”. Eu acredito muito nesta ideia. Todas as bandas que, vieram na minha direção, bateram na minha porta ou tentaram se comunicar comigo, de alguma forma, na medida do possível, tentei ajudar.
Logo que cheguei em Londres passei a ser Correspondente Internacional da Revista Dynamite pertencente ao meu amigo André “Pomba” Cagni. Além de cobrir shows, exposições, lançamentos de bandas, tinha também minha coluna chamada London Calling e, nesta coluna, mencionava sempre meu endereço e naturalmente, literalmente bandas começaram a bater na minha porta e a dormirem pela sala e corredor. Cheguei até a ter um livro de visitas onde o povo deixava seus agradecimentos e até caricaturas.
Durante os anos, aprendi a perceber e respeitar as sincronologias, ver aquelas coincidências incríveis que acontecem. Músico que você à vezes nunca viu nem ouviu entrando na sua vida. São como redirecionamentos no meu destino.
Na minha vida, não planejo nada. Quer dizer, se existe um plano, é não planejar e deixar acontecer. Meu barquinho navega livre e estou mais preocupado com o aprendizado durante a viagem do que com o destino final.
Minha esposa, tem os pés mais no chão e me ajuda, questionando minhas atitudes. Ela diz:
“Você faz tudo de graça e por isso ninguém dá valor! Estas bandas brasileiras são todas iguais! Só lembram quando precisam! Usam e depois esquecem! Quantas vezes você já se decepcionou e sofreu por isto?” A minha resposta é sempre a mesma:
“Eu não tenho escolha! É o meu destino! Se fechar a porta para todo mundo vou virar um ermitão! Não podemos fazer as coisas esperando nada! Tudo tem o seu tempo! O que é meu de direito, um dia chegará! ”
A verdade é que tudo está chegando e cada vez mais rápido! Este convite para ser entrevistado aqui é uma prova disto! De que qualquer forma, aprendi que ser bom não é ser bobo! Tenho sido muito mais criterioso nas minhas escolhas!
Como disse, recebi muito músico aqui em casa, entrevistei e assisti vários shows de bandas brasileiras que pisaram aqui na terra da rainha, mas, gostaria de destacar que sou muito orgulhoso de ter produzido o show da banda Korzus no The Marquee Club em 1992 e de que, algumas vezes colaborei assessorado a banda Vulcano quando estiveram tocando por aqui. A colaboração com Vulcano intensificou-se ao ponto de tornar-me responsável pela criação de várias artes e capas de disco para sua banda além de ter recebido, quando escrevi meu livro O Livro Negro do Rock, a orientação de Zhema o lider desta banda.
Barbieri gravando no lendário estúdio Abbey Road. Foto:Marcelo Cavalcante
Luis Carlos: Quase impossível falar de você e não lembrar do Livro Negro do Rock. Fale-nos sobre ele e o que ele representa na sua carreira?
Barbieri: Tudo foi aprte de um processo, Escrevi centenas e centenas de artigos para a Revista Dynamite. Mais tarde criei este website chamado Barbieri - Memórias do Rock Brasileiro que já existe por mais de 10 anos, já passou dos 3 milhões de visitantes e conta com talvez mais de mil artigos escritos por mim. Portanto, acho que escrever um livro acabou sendo uma evolução natural do meu trabalho.
Quanto ao livro, como sempre, não programei nada. Como estava pesquisando sobre a história do porto de Santos pois tinha recebido um e-mail vindo de um músico contando-me que ele se interessou por rock, ainda garoto, quando escondido da família, ia ver as bandas que tocavam nas boates que ficam nas proximidades do porto de Santos, entrei em contato com duas bandas santistas com quem já tinha trabalhado no passado: Vulcano e Santuário. Na conversa que tive com Zhema, o líder do Vulcano fiquei sabendo que ele era um entendido sobre o oculto e muito influenciado pelos pensamentos de um mago muito controverso chamado Aleister Crowley.
Curiosamente, paralelamente, também estava pesquisando sobre Raul Seixas pois, durante a minha vida roqueira tinha cruzado com ele algumas vezes e queria contar estas memórias no meu site. Acontece que pesquisando sobre a sua Sociedade Alternativa descobri que, curiosamente, ela era também influenciado por Aleister Crowley.
Obviamente, vi a “sincronicidade” em ação, obedeci e fui pesquisar Aleister Crowley. Bom, nem preciso dizer que, quando percebi, estava escrevendo O Livro Negro do Rock.
Infelizmente, a realidade do Brasil é sempre pobre. O artista se quiser ver seu projeto lançado, tem que pôr a mão no bolso e lança-lo ele mesmo! Em conversa com meu editor, em resposta ao meu desabafo quanto a situação difícil do escritor brasileiro, ele apesar de dizer que o mercado editorial estava péssimo para todos, tanto escritores como editoras, tentou me incentivar dizendo que “muitas vezes um livro pode não vender bem, mas, em contra partida, ele poderá muito bem abrir portas para novas e inesperadas oportunidades profissionais que, como resultado, poderão até lhe trazer muito mais respeito". É verdade que a tiragem do meu livro foi pequena (está quase no fim), mas, o respeito que recebi foi muito mais do que o que recebi pelo meu trabalho de mais de 40 anos à serviço do Rock Brasileiro.
A capa do O Livro Negro do Rock
Luis Carlos: Diante das milhares de coisas que você fez e faz, ainda tem alguma coisa que gostaria de fazer?
Barbieri: Gostaria muito de ter minha música usada na trilha sonora de um filme ou comercial. Gostaria de um dia conseguir apresentar-me ao vivo tocando guitarra ou piano executando meu material autoral. Gostaria de atuar num filme num papel que eu me identificasse com o personagem e fosse emocionalmente intenso.
Luis Carlos: Qual você acha melhor, o Rock Inglês ou o Norte Americano?
Barbieri: Historicamente o Rock Inglês foi melhor, mas não podemos esquecer que eles foram inicialmente papagaios copiando e se apoderando do Blues Norte Americano. A análise torna-se complicada porque se não fossem os ingleses talvez não conhecêssemos Mud Water, B. B. King, Chuck Berry, além de muitos outros gênios da guitarra.
Os Beatles e os Rolling Stones literalmente colocaram os ingleses no mapa, mas, cabe lembrar que em 1969 o Festival Woodstock, em áudio e filme, com suas bandas a grande maioria Norte Americanas, influenciaram toda uma geração.
Foi no começo dos anos 70 que o Rock Pesado afirmou-se com a chegava de uma trilogia de bandas poderosas: Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple (Eu sei! Tem muito mais!). O Rock Pesado ajudou desviar ainda mais o foco de atenção para a Inglaterra.
Hoje em dia a coisa está bem diferente e já faz tempo que meu único controle é o de qualidade! Só me interessa saber se a banda é boa ou ruim. Infelizmente muita gente no Brasil confunde qualidade com estilo! Eu escuto tudo quanto é estilo de rock! Meu único padrão é competência! Quando se trata de banda brasileira, já ganha de cara um ponto só por ser uma banda nossa. Sempre escuto qualquer banda brasileira do ponto de vista do produtor imaginando como ela seria bem melhor se tivesse acesso à bons estúdios, técnicos e o mesmo suporte que recebem as bandas grandes na Europa e Estados Unidos.
Luis Carlos: Sendo um cara com tantas histórias para contar, quando é que teremos sua biografia?
Barbieri: Para escrever minha biografia, sinto que teria que honestamente abrir meu coração e contar não só os bons momentos como também as dificuldades, mal entendidos e amarguras porque passei:
Músico famoso roubando microfone do teatro durante o show.
Dono de loja se achando dono das bandas e sabotando o meu show.
Bandas achando que tinham 400 pessoas num lugar que só cabiam 200.
Shows acabando e na hora de fazer o acerto com a banda e assim, pegar a minha comissão, ser tratado como um abutre ladrão.
Músico sacaneando músicos de outras bandas ou seus próprios músicos na minha frente.
Músico ligando para dizer que não vai tocar no show que produzi porque ele não toca em show de comunista.
Bandas ficando hospedadas gratuitamente na minha casa por uma semana, mas negando depois uma música para acrescentar na coletânea que estava montando.
Empresário de banda que vai tocar no meu projeto, ligando em meu nome para centenas e centenas de músicos para comparecerem no dia do show que estou produzindo de sua própria banda, dizendo para comparecerem para assinar contrato comigo, criando o maior caos no teatro, etc.
Bom, a lista é grande, mas, infelizmente tenho boa memória. Alguns destes maus agradecidos, desonestos ou simplesmente irresponsáveis já morreram e não quero ficar remexendo neste passado.
Como John Lennon, prefiro dizer que não acredito mais na palavra de ninguém, só acredito em mim e na minha esposa Andrea. O sonho acabou!
Hoje meço todo mundo só pelas suas ações! Só palavras são para políticos! Juro, sempre, na medida do possível, procurei completar minhas palavras com ações. Perdoem-me se pareço-lhes pretencioso ou arrogante, mas, tem gente que fala, eu faço!
Por estas e outras, acho um grande desafio escrever minha biografia. Aliás, se procurarem e juntarem tudo que já escrevi e também nas vídeo entrevistas dadas acho que já daria uma boa biografia. Se fizessem gostaria que o nome fosse: Barbieri: O Sonho do Roqueiro Comunista! :-)
Barbieri agradece: Caro Luis Carlos, agradeço de coração pela oportunidade dada e aproveito para parabeniza-lo pelo teor das perguntas! Pergunta inteligente é assim, a resposta quase vira livro!
Entrevista feita por Luis Carlos para o site Arte Condenada
Dois comentários deixados no site Arte Codenada:
Bruno Maia: Muito massa! O Barbieri é um cara da hora! A luta continua, Barbieri. Saravá!
Luis Carlos responde: Com certeza Bruno, é uma boa parte da história da nossa música, do nosso amado Rock and Roll na mente crativa e batalhadora dele.
Derico Moshilão: Caraca, que entrevista foda meu camarada. Barbieri é uma lenda, Parabéns ao Arte condenada!
Luis Carlos responde: Ele é uma lenda mesmo, inclusive, uma grande influência para mim, que faço esse blog Arte Condenada em prol da música.
Este é o meu álbum gravado, o sétimo! Espero que gostem!