Sopa do Rock
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Barbieri tem a receita!
Tudo na vida é um processo. Quer dizer nada acontece do nada. O rock pesado de São Paulo começa mesmo tomar forma em 1984. Obviamente, as nossas bandas iam na crista da onda inglesa chamada New Wave of Heavy Metal (NWHM) onde bandas como Judas Priest, Saxon, Def Leppard, entre muitas outras, estavam no topo das vendas.
Deixando o ego em casa e criando um Movimento
Genericamente falando, o músico brasileiro, por natureza, é um grande egocêntrico. Raramente, você verá um músico pagando ingresso para assistir o show de outra banda brasileira do mesmo estilo. O que acontece é que a banda, sem referência, vive numa “bolha” e acha que é a melhor banda do momento, que vai gravar e acontecer.
Já foi dito que “uma andorinha só não faz o verão”. Do jeito que eu vejo, dentro da realidade brasileira, o único jeito de quebrar o gelo e conseguir alguma forma de divulgação na imprensa, é criando um “movimento”.
Lá pelo meio dos anos 80, o lançamento dos álbuns SP Metal 1 & 2 pela gravadora Baratos Afins capitaneada pelo Luiz Calanca foram fundamentais para a formação de uma idéia de movimento organizado. Estes dois lançamentos combinados com vários outros lançamentos de álbuns ou compactos de bandas como Karisma, Vulcano, Mammoth, Viper, Patrulha do Espaço, Made in Brazil, etc., assim como as minhas produções através da Devil Discos dos álbuns São Power e Korzus ao Vivo ajudaram muito e criaram um momento de efervescência no rock de São Paulo.
A Sopa de Pedra
Quem já ouviu falar desta fábula onde um viajante chega num vilarejo com fome e sem dinheiro. Ele pega uma pedra e, bate na porta da primeira casa e pede ajuda para fazer uma “sopa de pedra”. A pessoa fica curiosa e arruma o caldeirão, e alguns temperos. O viajante bate na porta da segunda casa e pede umas batatas para a sopa de pedra. O viajante continua visitando todas as casas da vila. No final todo mundo participa. Quando a sopa fica pronta o viajante tira a pedra fora do caldeirão e o que resta é uma sopa fantástica que é dividida com todo mundo. Esta fábula prega a idéia de coletivismo e ajuda mútua.
A sopa do Rock do Barbieri
Como eu não tinha dinheiro nenhum para produção, tinha que fazer tudo de forma muito econômica. Tinha que fazer mágica. Meu primeiro contato com o Teatro Lira Paulistana foi produzindo o show da banda Avenger. Percebi imediatamente o potencial do espaço. Eles já tinham o P.A. (aparelhagem de som) e a iluminação. Eles já tinham um técnico de som e um iluminador. O lugar era pequeno, todo pintado de preto. Mais tarde, descobri que o teatro fechava nas segundas e terças pois, não dava lucro. Então propus para a direção do teatro, organizar eventos à preços bem populares onde pagaria o teatro com 50% do resultado da bilheteria. Como nenhuma banda que participava da temporada de shows pagava ingresso, metade do teatro ficava cheio só com a presença dos músicos. Por outro lado, os músicos assistindo os shows percebiam que tinham bandas muito boas tocando no projeto e procuravam melhorar cada vez mais o nível de suas apresentações. O fato de que as bandas podiam tocar duas vezes seguidas era importantíssimo pois lhes dariam mais experiência de palco. A obrigatoriedade de ter sempre uma banda abrindo geralmente desconhecida da banda principal era também importante no desenvolvimento profissional dos grupos (tanto para quem abria como para quem fechava o show). A Banda que chegava atrasada não passava o som. Eu sei que muitas vezes eu era tido como arrogante e ditatorial mas, à meu ver, este era o único jeito de criar algo sério e profissional.
Para divulgação, dependia das lojas de discos e portanto tinha que fazer uma média com todo mundo. Mais tarde descobri como utilizar os serviços da Secretaria de Cultura que tinha, toda semana, uma mala direta para toda a imprensa. O projeto São Power foi todo divulgado desta forma.
A primeira temporada serviu para sacudir as bandas. Vários vocalistas perderam o seu posto, guitarristas foram trocados, etc. Já na segunda temporada o nível das bandas estava muito bom. Algumas bandas já começavam descobrir o seu próprio estilo e tudo parecia promissor.
Devil Discos & Barbieri
Eu freqüentava diariamente as Grandes Galerias (Galeria do Rock) e sabia das ambições do Chicão, o dono da Devil Discos. Enquanto o Luiz da Baratos Afins era mais conservador, o Chicão era mais corajoso e rebelde. O Chicão era um típico hippie velho mas com uma atitude anárquica. Ele era aberto à qualquer estilo, do punk ao metal, passando pela MPB. Ele não estava envolvido com nenhum movimento em particular mas era atraído pelos sons mais extremos das bandas que não faziam parte de nenhuma panela. Ele queria produzir discos mas não sabia como. Como eu tinha gravado o show de muitas bandas propus o lançamento do álbum São Power que foi um tipo de registro histórico de bandas que já haviam acabado. Aproveitei para incluir uma faixa do Avenger, banda que eu tinha empresariado e que achava que as duas músicas gravadas na coletânea SP Metal não tinha conseguido capturar o poder de fogo da banda. O Korzus já estava engavetado na Baratos Afins por quase um ano enquanto o Luiz dava preferência às bandas menos radicais, e menos pesadas. Não foi difícil convencer o Chicão a produzir o álbum Korzus Ao Vivo também baseado nas minhas gravações ao vivo. Até o selo da gravadora que mais tarde virou o logo da loja foi minha criação.
Comentários Finais
Lamentavelmente, eu sinto que na essência nada mudou no cenário do rock brasileiro.
Se por um lado nós temos melhores equipamentos, nós temos melhores estúdios e produtores e os preços da gravação e produção de um CD baixaram consideravelmente, por outro lado com exceção das poucas revistas especializadas e com distribuição limitada, a atitude da imprensa em geral não mudou nada, a mentalidade do roqueiro brasileiro continua de reverência cega ao rock internacional e desprestígio ao rock brasileiro. O único lugar onde vejo o rock brasileiro sendo tratado com respeito é na Internet através de websites, blogs e rádios. Pelo menos de uma forma meia anarquica a coisa está caminhando. Só espero que o povo da media online mantenha o ego em cheque e continue mantendo o alto nível.
A grande realidade do rock é que as bandas sobrevivem mesmo é com o dinheiro feito com shows e principalmente com a venda nestes concertos de camisetas, pôsteres e CDs. No Brasil isto parece ser uma tarefa impossível. A verdade é que cada Estado brasileiro tinha que ter nas suas capitais pelo menos uma arena ou teatro de rock. As bandas então lançariam seus CDs e embarcariam numa verdadeira tour nacional suportada por uma publicidade direcionada envolvendo jornal, radio e TV.
Como vocês podem ver, estamos ainda muito longe desta realidade e nossas bandas continuam “nadando contra a correnteza”
Cantar em Português ou Inglês?
Trata-se de uma pergunta antiga que tem mais a ver com liberdade de expressão do que qualquer coisa. Do ponto de vista do produtor, eu diria que tudo depende do mercado que a banda pretende atingir.
Qual a chance de lançar-se no mercado internacional?
Limitadíssima! Sempre foi muito difícil para qualquer banda invadir o mercado Norte Americano e Europeu (principalmente na Inglaterra) e agora com as gravadoras passando por uma crise com o pessoal baixando músicas da Internet a coisa ficou ainda mais difícil.
Novos horizontes
Estamos vivendo um momento interessante com um certo "revisionismo", com um certo interesse e redescobrimento das raízes do rock brasileiro e, com isso, redescobrindo o rock cantado em português de bandas seminais como Mutantes, Patrulha do Espaço e Made in Brazil. Certamente existe um mercado bom para o rock cantado na nossa língua, só falta as gravadoras e a imprensa perceberem...
Como sempre, com o monopólio de certas emissoras de TV, como sempre, se um dia acontecer o rock no Brasil não será surpresa que as bandas de sucesso sejam todas do Rio de Janeiro, Brasília ou Salvador. São Paulo como sempre será relegado ao esquecimento.
Desculpem-me se pareço pessimista, mas sinto que é a pura realidade. No momento o rock brasileiro precisa unir-se e criar um novo “movimento” . Precisa ser revitalizado com uma visão maior cujo objetivo é o de conquistar todo o Brasil.
Rock Hard, Rock Heavy, Rock Brazil!
Sopa de Pedra – A fábula
Esta fábula que é encontrada com pequenas variações pelo mundo todo, sugere a necessidade de cooperação para a concretização de uma tarefa.
Conta a história que alguns viajantes chegaram à um vilarejo carregando nada mais do que um caldeirão vazio. Já na chegada, os residentes do lugar negaram-se a dividir sua comida com os viajantes. Então, os viajantes encheram o caldeirão com água, colocaram uma grande pedra no meio e, o puseram em cima de uma fogueira no meio da praça central.
Um dos moradores ficou curioso e perguntou-lhes o que eles estavam fazendo. Um dos viajantes respondeu que estava fazendo uma “sopa de pedra” e, acrescentou que o gosto era fantástico, muito embora estivesse faltando alguns condimentos. O morador não importou-se em ceder um pouco de farinha para engrossar o caldo. Outro residente aproximou-se e perguntou sobre o caldeirão e foi informado que estavam fazendo uma sopa de pedra mas que a mesma ainda não tinha todos os ingredientes necessários. O residente ajudou fornecendo mais algumas coisas. Mais e mais moradores do local foram aproximando-se e colaborando com os viajantes até que, finalmente um caldeirão cheio de uma sopa saborosa e nutritiva ficou pronto e foi compartilhado com todos.
Na versão francesa desta história os 3 viajantes são soldados retornando para casa depois das Guerras Napoleônicas.
Outra versão
Um estranho, velho e bondoso estava caminhando por uma terra quando chega até um vilarejo. Quando ele começou aproximar-se, os moradores correm para dentro das suas casas trancando portas e janelas. O estranho sorriu e perguntou porque é que todo mundo estava tão assustado dizendo que ele era um simples viajante buscando por um lugar para passar a noite e um prato de comida. “Não existe nada para comer em toda a província”. Foi a resposta e acrescentaram. “Nós estamos fracos e nossas crianças estão passando fome. É melhor você continuar andando”.
“Não importa! Eu tenho tudo que é necessário!” Foi a resposta do viajante que continuou. “Na verdade, eu estava planejando fazer uma sopa de pedra e dividir com vocês todos!”. Ele tirou um caldeirão que carregava numa enorme mochila, encheu d’água e começou preparar uma fogueira embaixo dele. Depois, com grande cerimônia tirou uma pedra absolutamente normal de dentro da mochila e colocou-a dentro da água.
Neste momento, muitos dos residentes da vila ouvindo os murmúrios falando de comida já tinha saído das suas casas ou observavam das janelas. O viajante, por sua vez, cheirou o caldeirão e lambeu os dedos em antecipação. A fome começou ser maior que o medo dos residentes. O viajante falou bem alto para si mesmo: “Ha, eu gosto muito de sopa de pedra mas sopa de pedra com repolho é imbatível!”
Logo um residente aproximou-se hesitante com um pequeno repolho nas mãos que ele tinha colhido da sua plantaçãozinha escondida e colocou no caldeirão.
Maravilhoso! Gritou o estranho e continuou: “Você sabe, uma vez eu tomei uma sopa de pedra com repolho com pedacinhos de carne salgada e foi um banquete feito para um rei!” O açougueiro do vilarejo conseguiu arrumar um pedaço de carne salgada para ser colocado na sopa de pedra.
A coisa continuou com moradores acrescentando batatas, cebolas, cenouras, cogumelos, etc., até que, existia uma refeição deliciosa para dividir com toda a vila. Mais tarde, depois que todos mundo tinha comido, o senhor mais velho do vilarejo tentou comprar a pedra oferecendo um bom dinheiro para o viajante que negou-se à vende-la e, continuou sua viagem no dia seguinte.
Enquanto o viajante abandonava a vila, no caminho, encontrou-se com um grupo de crianças na beira da estrada. Ele então, deu a pedra para a criança mais jovem ao mesmo tempo que falando em voz baixa disse: “Não foi a pedra mas os residentes do vilarejo que fizeram a mágica”.
A tradição Portuguesa
De acordo com a tradição portuguesa os eventos descritos como a “sopa de pedra” aconteceram realmente perto de um lugar chamado Almeirim em Portugal. Hoje em dia, muitos dos restaurantes em Almeirim servem “sopa de pedra”.
Na versão portuguesa, o papel do viajante é representado por um monge.
Sopa de prego e Sopa de machado
Esta história também é conhecida com sopa de pregos pelos países Escandinavos. Nesta versão o caráter principal é tipicamente um vagabundo buscando por comida e um lugar para ficar que, convence uma velhinha que ele fará uma sopa de pregos para os dois na qual ela só precisará acrescentar alguns poucos ingredientes.
Nos países do norte da Europa fala-se da sopa do machado (Axe Soup) com o machado (só a parte de metal) sendo o catalisador dos acontecimentos.
Nos Estados Unidos
Outra variação da história é Norte Americana que conta que durante a Grande Depressão, as famílias não conseguiam por comida na mesa todos os dias e portanto, colocavam no fundo da panela uma grande pedra porosa. Então, nos dias que havia comida, a pedra absorvia um pouco do sabor da refeição e, nos dias que não havia nada para comer a pedra era cozida e liberava na água o sabor resultando, numa sopa fraquinha que era melhor do que a perspectiva de ficar sem comer nada. Teoricamente esta história é similar às contadas na China e no Japão onde a comida é cozinhada em potes de barro ou cerâmica e acabam absorvendo os sabores depois de muito tempo de uso.
Tradição moderna
Existe uma tradição que está crescendo em popularidade onde a sopa de pedra é feita e servida entre um grupo de amigos que encontram-se mais ou menos regularmente. A sopa realmente contém uma pedra e aquele dos presentes que encontrá-la no seu prato será o que cozinhara no próximo encontro.
Lembranças do Barbieri
Escrevendo esta matéria, lembrei-me de quando era pequeno, ainda morando na cidade de Botucatu no interior de São Paulo, vivendo num tempo que ainda não existia TV, onde o rádio, na cozinha, dominava a casa e minha mãe era a contadora de histórias.
Minha mãe, a falecida Dona Helena contava esta história que falava de uma mulher muito pobre que tinha dois filhos pequenos, um menino e uma menina. A senhora, trabalhava na casa de uma família rica. Ela fazia pão todo dia e nunca lavava as mãos na saída. Ela chegava em casa com as mãos grudadas cheias de farinha, colocava água na panela, colocava sua mão dentro e dissolvia a farinha na água fazendo uma sopa rala para os filhos. Eu sempre pedia para minha mãe repetir esta história que terminava com a dona da casa descobrindo o truque da empregada, ficando com dó e permitindo que a senhora levasse para casa sempre comida para as crianças.