UEIC-SP: NOITE QUENTE - Um conto policial centrado em SP, contendo muito rock brasileiro - por A. C. Barbieri
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Índice Abertura Parte 01 Parte 02 Parte 03 Parte 04 Parte 05 Parte 06 Parte 07 Parte 08 Parte 09 Parte 10 Parte 11 Saiba Mais! |
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UEIC-SP
"NOITE QUENTE"
Escrito por Antonio Celso Barbieri
Abertura
Ao som da música Jardim Elétrico sendo executada pela banda Mutantes vemos tomadas aéreas noturnas mostrando vistas panorâmicas do centro da cidade de São Paulo.
A noite está quente e o céu estrelado e sem nuvens. A cidade vista lá de cima, toda iluminada nos mostra uma calma ilusória e uma beleza urbana típica das grandes metrópoles. Somos presenteados com uma visão distanciada de sua realidade dura e estressante e do seu corre-corre frenético de todo dia.
Vemos o Hotel Hilton, o Edifício Copam, o Viaduto do Chá, o Vale do Anhangabaú, o Teatro Municipal e a Catedral da Sé. Tudo aparece, em câmera lenta, em sequência, pulando agradavelmente de uma vista para outra.
A última destas tomadas, é uma visão aérea de um trem do Metro em movimento. Trata-se da Linha 1, a Linha Azul do Metrô. O trem em questão, está vindo da estação Jabaquara em direção à estação Tucuruvi. Ele caminha por uma linha elevada, apoiada por pilares fortificados de concreto e, está aproximando-se da Estação Santana. Abaixo da linha do trem, no pé destes pilares, dos dois lados do mesmo, caminham, paralelamente, as pistas da Avenida Cruzeiro do Sul.
O som dos carros do Metro em movimento vai crescendo ao mesmo tempo que o som da música de fundo vai diminuindo até desaparecer exatamente quando o trem chega na estação e abre suas portas.
Com os passageiros saindo, começa tocar a música São Paulo City executada pela banda Patrulha do Espaço.
Este trem que acaba de chegar é o último da noite. São meia noite e 20 minutos. O próximo trem só virá às 4:40 horas da manhã.
Muita gente sai da estação. Todos caminham rapidamente. Alguns desaparecendo pelas ruas transversais, outros entram em veículos particulares à espera ou caminham na direção de seus veículos estacionados não muito longe dali. Uma minoria corre para o ponto de táxi enquanto a maioria do povo vai mesmo para os pontos dos ônibus. Para muita gente o dia ainda não acabou. São trabalhadores e estudantes. Na verdade, vários destes passageiros são trabalhadores que, no final do expediente, ainda foram à noite para a faculdade. É a luta por um diploma na esperança de uma vida melhor.
A Estação Santana, no passado chegou à ser uma estação terminal mas, mesmo depois da expansão desta linha com o acréscimo de mais 3 estações terminando na estação Tucuruvi, esta estação continuou sendo uma das estações mais movimentadas, ainda mais porque, integra-se com o Terminal de Ônibus Urbano local.
Naturalmente esta estação é cercada por vários bares, botecos e assim como a Estação terminal Tietê, é conhecida como ponto de batedores de carteira, malandros e aproveitadores de todo tipo. Principalmente à noite, toda atenção é pouca!
O últimos passageiros nem saíram e o pessoal da limpeza mais os seguranças do Metrô já estão ativos preparando-se para fecharem as portas da estação.
Este ato é como um chamado para que os “vampiros da noite” saiam das suas tocas. O lugar vira o território dos bêbados, das prostitutas, dos traficantes de drogas e dos ladrões baratos.
Nas altas horas da noite, na Avenida Cruzeiro do Sul, aparentemente os sinais vermelhos recebem licença para serem transgredidos. Todos os motoristas sabem que parar num sinal vermelho é pedir para ser assaltado. Assim que o Sol se põem motociclistas passam a significar perigo, principalmente se eles estiverem levando outro homem na sua garupa. Isto porque um pilota enquanto o outro aponta a arma.
Sim, em Sampa a noite pode ser bem perigosa e os paulistanos sabem muito bem disto.
Acrescentando um tom ainda mais sinistro, vários grafiteiros conseguiram permissão para grafitarem 58 dos pilares que sustentam esta linha elevada do Metro. Durante a madrugada, alguns destes murais, ao caminhante já preocupado com sua própria segurança física, podem sugerir imagens assustadoras e fantasmagóricas.
Grafites nas colunas da linha elevada do metro próximo à estação Santana.
De pano de fundo, o som de rock continua tocando e tomadas de câmeras mostram a estação fechando, o tráfico diminuindo, e bêbados apoiando-se pelas paredes procurando um lugar para passar a noite.
Segue-se uma sequência de imagens destes pilares grafitados caminhando até parar em um deles. Este pilar, em particular, encontra-se entre as duas pistas da Avenida Cruzeiro do Sul em algum lugar do quarteirão entre os cruzamentos da Rua Alferes de Magalhães e Rua Alfredo Guedes.
Ali exatamente debaixo da linha do Metrô, num cruzamento abandonado e esquecido, cheirando à urina, vê-se, à frente deste pilar, uma calçada suja, onde um mendigo tenta aconchegar-se cobrindo-se com sacos de estopa, trapos e um pedaço enorme de papelão que provavelmente serviu como a proteção para a embalagem de um refrigerador. Bem próximo está seu carrinho de mão, cheio de latas e pedaços enferrujados de metais que ele espera vender. Um cordão amarrado às rodas do carrinho termina amarrado ao seu pulso. Mesmo no mundo dos sem nada, ainda existe o roubo. Sua mulher e seus dois filhos pequenos, esta noite não o verão. Isto significa que ele não fez nenhum dinheiro para trazer para casa e que, amanhã, para ela e suas crianças será outro dia terrível. Outro dia de fome e desespero.
O homem ali tentando dormir, naturalmente tem plena consciência da situação. Ele acha sua vida muito injusta mas, seu cansaço mostra-se maior do que a sua preocupação. Ele encontra uma posição aparentemente satisfatória, aquieta-se e, quase que imediatamente, cai em um sono profundo. A música de fundo termina.
Um silêncio sinistro toma conta.
A música chamada Violência executada pela banda AntiOxidante começa tocar ao mesmo tempo que, um homem usando máscara (bala clava) rapidamente joga gasolina naquele pobre homem ali deitado, coloca fogo e sai correndo para um carro próximo onde o seu comparsa, com o motor ligado, o aguarda. O carro, cantando os pneus, parte em disparada.
O coitado, em chamas, em vão, grita e se bate em agonia. São 4 horas da manhã. A fogueira continua queimando por um bom tempo.
Desde as primeiras luzes do dia, muita gente já passou pelo local, alguns motoristas buscando por um bom lugar para estacionar, pessoas atrasadas correndo para pegar o Metrô. Ninguém notou nada.
Lá pelas 9 da manhã um limpador da prefeitura, um senhor com pouco mais de 50 anos mas já parecendo ter 70, com seu enorme esfregão vai chegando lentamente no local.
Este senhor, com barba por fazer, mostrando uma expressão cansada e marcada pelo trabalho duro, caminha como um zumbi empurrando seu esfregão. Ele começa limpar uma pilha de lixo queimado quando, parecendo sair de um transe acorda para algo alarmante. Do meio daquele lixo surge uma cabeça humana parcialmente carbonizada. Parte do rosto carcomido apresenta uma expressão de dor e terror.
O homem afasta-se, deixando cair o seu esfregão ao mesmo tempo que faz o sinal da cruz.
Parte I
Mais tarde, na cena deste crime, ali debaixo do elevado do Metro, viaturas de polícia e soldados bloqueiam a passagem de veículos e pedestres.
Dr. Colombo, usando luvas cirúrgicas, de cócoras na frente do cadáver, faz seus exames preliminares. Ele é um médico patologista especializado em trabalho de campo e grande interessado no estudo do perfil psicológico dos criminosos, particularmente dos criminosos seriais.
Em pé atrás dele está Tenente Lobo:
"Crime?"
"Definitivamente Lobo! Este pobre coitado foi cremado vivo! Pela intensidade do fogo certamente usaram algum tipo de combustível! É absurdo a que ponto chegou a maldade humana! Não posso ainda dizer muito mas, acredito que este infeliz tinha a cor de pele parda e era do sexo masculino. Tudo indica era um catador de lixo. Como pode ver, parte do seu carrinho de mão também foi consumido pelas chamas..."
"Luana, como nos casos anteriores, faça a coleta de algumas amostras para ver se determinamos que combustível foi usado!" Comanda Lobo.
"Luana, de rosto sério, concorda com um gesto de cabeça, ao mesmo tempo que, coloca suas luvas e, rapidamente vai pegar a sua caixa de trabalho."
Bacio, olhando com desconforto, na expressão de dor e terror do morto, usando o seu já conhecido estilo politicamente incorreto diz:
"Chefe este já é o terceiro churrasquinho! Está sendo um churrasquinho por mês!"
Dr. Colombo, ainda de cócoras, olha pra trás diretamente nos olhos de Bacio e dá-lhe uma dura:
"Sargento, mostre respeito! Este coitado era um ser humano como eu e você. Certamente deixará algum familiar sofrendo sem saber o que lhe aconteceu ."
Bacio engole seco só para notar que o Tenente está ao lado dele olhando-o quase cara-a-cara.
"Perdoe-me, esta é a, um, (gagueja) a forma como lido com imagens assim tão violentas!"
"BACIO!"
É o Tenente Lobo gritando bem na sua orelha.
"SIM TENENTE?" Responde quase em posição de sentidos.
Lobo não diz nada e fica esperando que ele deduza o que tem que fazer.
"Fazer uma varredura de campo buscando alguma coisa deixada para trás pelo criminoso ou criminosos?" Bacio pergunta.
Lobo não responde, só fica com os olhos arregalados e expressão de quem quer lhe dar um tapa na cabeça.
“… e fotografar a cena do crime! Claro! Sim Tenente! Já estou indo!" Bacio sai correndo e passa perto da Dra. Maia em tempo de ouvi-la dizer com um sorriso irônico:
"Toma!"
Não muito longe dali, Bacio nota umas marcas de pneus que caminham por baixo de um veículo policial ali estacionado. O policial afasta mais o carro e, percebe-se exatamente onde o carro de fuga estava estacionado e que direção tomou.
Bacio mostra as marcas para o Tenente Lobo e comenta:
"Chefe, a banda do pneu é larga e pela distância entre os pneus da frente e de trás, pode ser que tenha sido uma perua ou uma caminhonete..."
"Pode ser um dos nossos! Pode ser uma perua da polícia!" Comenta o Tenente.
"Porca miséria Tenente! O senhor acredita nisso?"
"Eu não acredito em nada! Simplesmente vejo as evidências e faço as perguntas que precisam serem feitas, só isto? Gente ruim existe em todos os lugares! Verifique quem esteve de patrulha nesta área à noite passada. No momento, sabemos apenas que um veículo, em disparada, partiu deste local para talvez a Marginal, quem sabe o centro da cidade ou mesmo, pode ter feito um retorno mais à frente. As possibilidades são muitas mas, as marcas deixadas pelo pneu são bem claras. Fotografe estas marcas para compara-las com outros crimes e quem sabe possamos confirmar que estamos realmente tratando com um caso envolvendo assassinatos seriais.”
"Sim chefe! Já tomei a liberdade de fotografar" Foi a resposta de Bacio.
"Ja lhe disse para não me chamar de chefe! Quem tem chefe é índio!"
"Ok Boss!" Foi sua resposta com um sorriso malandro.
Bacio, enquanto caminha com uma expressão maliciosa em direção a viatura preta do UEIC percebe que a Dra. Maia está olhando seriamente para ele. Ela é jovem e bonita. Sua expressão séria só serve para deixa-la ainda mais atraente.
"Que foi "bella"?"
"Eu escutei a sua conversa com o Tenente! Você é muito malandro!"
"Malandro não, malandrinho! Meu pai é que era malandro!"
"Você sabe muito bem que o Tenente não gosta de ser chamado de chefe! Você além de provoca-lo ainda chamou-o de Boss. Pensa que eu não sei que Boss significa chefe em inglês."
Bacio sorri ainda mais.
"A coisa é séria!" Ela fala mostrando desapontamento ao que Bacio responde:
"Acredite-me, que por trás deste homem bonito e inteligente existe também uma pessoa muito séria e responsável!"
"Você é o homem mais pretensioso que já conheci!"
"E você é a bióloga mais bonita e sexy que já conheci!"
"Vê se me esquece!" Ela afasta-se dele e caminha em direção ao Dr. Colombo que acompanha dois soldados que carregam para o porta mala da perua do UEIC uma longa sacola plástica preta contendo o cadáver recém encontrado.
Bacio fica meio sem graça e percebe que Luana escutou tudo e está balançando a cabeça negativamente mostrando que ela também desaprova a sua conduta. Gesticulando com a mão, ele desabafa:
"Ma que? Você também? Lá no Bixiga as minas não são assim!"
Todos entram na viatura e partem...
Parte II
Uma semana depois...
Começa tocar a música Tormented executada pela banda Vulcano. Esta música foi retirada do álbum Wholly Wicked lançado em 2014.
No bairro do Bom Retiro, na Rua Rodolfo Miranda fica a casa de shows HANGAR 110. Nesta noite é a vez da banda santista Vulcano detonar o seu rock extremo de excelente qualidade. A casa está lotada. Headbangers balançam suas cabeças freneticamente. Muitos dos fãs presentes estão com seus celulares levantados gravando o show. Vulcano é uma banda lendária e muito respeitada. Para aqueles envolvidos com o rock brasileiro, isto não é nenhuma surpresa pois, esta banda liderada pelo guitarrista Zhema já conta com mais de 30 anos de carreira.
Depois do show, um grupo de roqueiros, todos usando camisetas da banda, ainda com os ouvidos apitando, caminham excitados em direção ao Metrô Armênia quando, um som à distância lhes chamam a atenção. Observam ao longe um veículo, cantando pneus, partindo em disparada e deixando atrás de si uma enorme fogueira.
Quando aproximam-se, percebem um corpo em meio às chamas. Os rapazes lutam para tentar apaga-lo. O fogo está muito forte e eles não estão equipados para esta tarefa. O máximo que podem fazer é tentar puxar o corpo inanimado para fora do fogo usando os pés e pedaços de pau.
Enquanto tentam isto, uma viatura da polícia chega. Eles tentam explicar-se mas, o fato de todos serem cabeludos, estarem usando camisetas pretas, pulseiras e cinturões de couro cheios de taxas, aliados ao fato de terem tomado muitas cervejas realmente não os ajuda, só complica a situação. Os velhos estereótipos conspiram contra os roqueiros e todos são detidos.
Os policiais parecem eufóricos porque para eles está claro que prenderam o grupo responsável por esta série de crimes bárbaros.
Logo cedo, com a área do crime preservada pela polícia, já podemos ver Dr. Colombo de cócoras novamente sobre o corpo.
"Lobo, felizmente este corpo não está tão queimado como os outros! Trata-se de outro homem mas, de imediato, posso ver que existe algo de muito errado aqui!"
"Fala Colombo!" Cobra o Tenente impaciente.
"Quando um ser humano é imolado vivo seu corpo reage, os músculos involuntariamente contraem-se e podemos notar sua luta contra a dor. Este cadáver já estava morto quando foi incendiado. Tentaram colocá-lo numa posição fetal, talvez para transporta-lo no porta-malas de um carro mas o corpo não reagiu ao fogo. Por outro lado veja esta mão que sobrou intacta. Ela está bem cuidada e não tem sinais de que pertencia à um homem que mora nas ruas. Isto me parece um "copycat"!
"Copycat?" Exclama Lobo.
"Sim Lobo, é um termo que aprendi quando estagiei na Scotland Yard, o quartel general da polícia metropolitana da Inglaterra. Refere-se à um crime feito exatamente para parecer com outro e assim enganar a polícia."
"Colombo, isto significa que podemos estar lidando com dois criminosos totalmente separados."
PORCA MISÉRIA!
Todos buscam por Bacio que, imediatamente, pede desculpas e sai andando rápido com a sua máquina fotográfica nas mãos.
Logo, ele chama o tenente para mostrar as marcas de pneus que encontrou.
"Boss, acho que estas marcas não foram deixadas pelo mesmo veículo. Ainda pode ser uma perua mas a largura da banda do pneu é mais estreita. Poderia ser um carro normal ou talvez uma pequena ambulância. Estou só cogitando."
Enquanto Bacio faz seu comentário o Tenente Lobo parece ignorar o que ele está falando e caminha em direção à uma banca de jornais próxima. Em um dos jornais pendurados, numa grande manchete pode-se ler:
"ASSASSINOS ACUSADOS DE POREM FOGO EM MENDIGOS SÃO CAPTURADOS!
SÃO 4 ROQUEIROS FÃS DE UMA BANDA DE BLACK METAL!"
ABSURDO! Tenente Lobo grita e continua falando:
"Quero saber quem foi que vasou esta notícia para a imprensa!"
"Quero ver este corpo logo na sala de autópsia! Quero ele identificado o mais rápido possível antes que outro apareça. Só falta agora lançarem uma mancha negra no Rock Brasileiro."
Na viatura retornando para a central, Bacio obviamente não poderia ficar calado:
"Desculpe-me Boss mas, o Sr. gosta de Rock?
Banda Made in Brazil: Celso e Oswaldo Vechione. Os lendários irmãos, veteranos do Rock Brasileiro!
"Sim Bacio! Meu pai me levou, acho que tinha uns 12 ou 13 anos para ver um show da banda Made in Brazil. Já não lembro mais com certeza mas, acho que foi no Palmeiras, porque a banda é originária ali do bairro da Pompéia. Foi um show inesquecível e plantou em mim a semente do rock. Meu pai informou-me que a banda era influenciada pelos Rolling Stones e, naturalmente, então fui ouvir Stones também. Depois disto ouvi todo mundo Black Sabbath, Led Zeppellin, Deep Purple, Uriah Heep, Pink Floyd, etc., etc. É claro que no Brasil não fiquei só na banda Made in Brazil, ouvi muito Mutantes, Terço, Som Nosso de Cada Dia, Casa das Máquinas, Peso, etc. Você já ouviu falar da banda Joelho de Porco?"
Banda Joelho de Porco no Mercado Municipal de São Paulo, posando para fotos promocionais em 1971.
Gerson Tatini, Rodolfo, Conrado, Próspero, Tico e o produtor Leon Cakoff
"Não Boss!” Responde Bacio curioso.
“É, eles tinham uma ironia meia louca como a sua!" O Tenente fala meio zombeteiro.
Todo mundo na perua ri! Até Dr. Colombo!
A risada geral surpreende o próprio Tenente que fica meio sem jeito porque, contrario à suas propostas pessoais, percebeu que tinha revelado para todos os seus subordinados algo de natureza muito pessoal.
No período da tarde, na central do UEIC, Bacio conversa com Dr. Gomes, o engenheiro especialista de computação e hacker de primeira.
"Porca miséria, este filtro aqui na Internet não me permite navegar em paz! Você sabe como enganar o sistema?"
"Claro!" Gomes responde sem mostrar muito interesse.
"O seu computador está ligado na mesma rede mas, como é que você tem todas as liberdades e eu não!" Reclama Bacio.
"Há! Porque eu tenho conhecimento e conhecimento é poder!" A resposta de Gomes o deixa mais chateado ainda:
"Gomes para com isto!" Bacio levanta-se e aproxima-se da mesa do engenheiro de computação mas, o rapaz não lhe da tréguas:
"Já sei, você quer entrar na Internet para visitar sites pornográficos!
"Gomes! Gomes! Gomes! Porca Miséria! É isto o que você pensa de mim?" Bacio fala revoltado!
"Sim!" Gomes responde secamente.
"Você está totalmente enganado! Estou apenas querendo baixar um álbum da banda Joelho de Porco!"
"Ha! Também fiquei curioso!" Responde Gomes que, com uma e, expressão séria, todo técnico, começa dar uma aula de informática para Bacio:
"Bom, em computador, tudo é uma questão de ter as permissões corretas. Seu computador tem um endereço, um IP e este endereço não tem permissão para fazer certas atividades. Você já ouviu falar de Proxy?" Gomes olha para o olhar nebuloso de Bacio e, sem esperar uma resposta continua:
"Então, temos que acessar a Internet via proxy e assim fazer com que o server que controla a nossa central pense que o seu computador não é um daqui. Bom, na verdade, tudo é um pouco mais complicado do que isto! Se você não sabe nem programar Unix não dá nem para começar a conversar!"
O celular de Bacio toca:
"Bacio aqui é Lobo. Estou ainda na delegacia onde estavam presos os garotos que encontraram o último corpo. Eles não são culpados! Mandei liberar todo mundo!"
"Mas, Boss! Os caras foram pegos com a faca e o queijo na mão!"
"Eu conversei com eles de roqueiro para roqueiro e, tenho certeza que não foram eles os responsáveis, mesmo porque, o corpo já estava morto antes mesmo de ter sido incendiado. Quero que vá lá na autópsia conversar com Dr. Colombo. Sei que ele não atende celular ou telefone quando está trabalhando. Diga para ele que, quando chegar, precisarei de algo mais definitivo do que simplesmente conjecturas."
No caminho de volta para a central, desta vez, é o celular de Lobo que toca. Ele percebe que é um chamado do seu superior.
Ele estaciona seu carro imediatamente e atende o telefone:
"Pronto?"
“Aqui é Miranda! Lobo você está louco? Perdeu a cabeça? Estamos com 4 mortos e a imprensa está sedenta por informação. Você sabe que aqui onde eu estou é um puxa tapete danado. O Governador está no pé do Prefeito e o Prefeito está no meu pé! É um pega para capar e o que você faz? Solta estes marginais perigosos!" O Capitão Miranda está furioso.
“Calma Capitão!” Fala Lobo.
“Calma nada! Eu quero é que você feche este caso!” Fala o Capitão mas, o Tenente rapidamente se justifica:
“Capitão, acredite-me quando digo, estes rapazes, não são criminosos! Todos tem a fixa limpa! Todos trabalham e estudam! Estes rapazes tiveram a má sorte de depois de assistirem um show de rock, quando retornavam para casa, presenciarem os verdadeiros incendiários em ação. O pior, é que tudo indica que aparentemente, trata-se de um outro grupo...”
Como assim um outro grupo! Isto vai virar o caos! Interrompe o Capitão.
"...sinto muito Capitão, mas neste último caso o corpo já estava morto à algum tempo antes de ser incendiado..." Complementa o Tenente.
“Lobo, não tenho outra escolha, vou segurar as suas pontas mas, não me deixe no escuro por muito tempo! O Capitão, exasperado, desliga o telefone.
Parte III
Na sala de autópsia, Dr. Colombo conversa com o morto:
"Caro amigo, que segredos você tem para me revelar. Sei que tiraram a sua vida muito cedo. Você não deve ter mais do que 20 anos. Mesmo com queimaduras de terceiro grau por quase todo o corpo percebe-se que você tinha uma musculatura de dar inveja. Você praticava esportes?"
"Vai ver que ele era engolidor de fogo!"
Dr. Colombo olha para trás e fala:
"Há! Só poderia ser o Sr. Bacio! Quem mais poderia ser capaz de “desenterrar” um engolidor de fogo!" Dr. Colombo fala como se estivesse fazendo um discurso.
"Caro Doutor a sua escolha da palavra "desenterrar" foi muito apropriada!"
Com um sorriso sem jeito, Bacio fala de longe procurando não olhar para o corpo. O Dr. Colombo percebe e comenta:
"Caro Bacio não tenha medo dos mortos! É com os vivos que temos que nos preocupar."
"Não é o morto que me preocupa mas ver o sangue, as entranhas e principalmente o rosto deformado. Às vezes à noite quando estou tentado dormir, como slides, estas imagens surgem na minha mente. É horrível!"
"Você já procurou um psicólogo?" Aconselha Dr. Colombo.
Bacio procurando evitar falar no assunto, solta uma das suas:
"Este negócio de médico de louco não é para mim! Vai totalmente contra a minha imagem de macho latino!"
Dr. Colombo ignora totalmente este comentário infantil e continua como se nada tivesse acontecido:
"Bacio, como você deve saber, na Índia a cremação dos corpos é uma coisa muito comum. Então, quando eu ainda era um jovem doutor, estive trabalhando como voluntário em Bombay e, uma vez, só por curiosidade fui visitar um crematório. Quando entrei no lugar, descobri que o cremação dos corpos acontecia numa área ao ar livre. Esta área era dividida, por um muro, em duas partes. Uma parte era a área reservada aos ricos e a outra reservada aos pobre. A área reservada aos ricos era bem cuidada e os corpos recebiam mais lenha. A madeira era bem arranjada e os corpos à serem cremados praticamente desapareciam por debaixo delas. O corpo queimava e os familiares não viam nada. Agora do outro lado, no lado dos pobres a quantidade de lenha era mínima e os corpos ficavam quase expostos. Eu não tinha ideia, não estava preparado e logo que olhei para uma fogueira, vi uma mulher com a boca aberta e a cabeça caída para trás enquanto o fogo tomava conta do seu abdômen. Fiquei com esta imagem na cabeça por meses e meses..."
"Porca miséria! Obrigado Dr. Colombo! Agora que não vou conseguir dormir mesmo!" Desabafa Bacio fazendo uma careta.
"Por que é que você não vai conseguir dormir Bacio? É o Tenente Lobo que, com a corda toda, rapidamente invade a sala!
Dr. Colombo com perspicácia salva a situação:
"Caro Lobo, estava explicando aqui para Bacio a situação absurda em que encontra-se o corpo deste jovem. Este cadáver não tem os olhos, o coração e nem os rins..."
Bacio com uma voz de filme de terror interrompe Dr. Colombo:
"Seres alienígenas! Não satisfeitos em roubar os órgãos dos animais agora começaram roubar os órgãos dos humanos! Porca Miséria!!!"
"BACIO!" Grita o Tenente.
"SIM TENENTE!" Fazendo posição de sentido e, de antemão, sabendo aqui aí vem bronca.
"TRÁFICO DE ÓRGÃOS! TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANOS BACIO! Você checou o movimento das viaturas de polícia nos locais dos crimes?"
"Sim Boss! Na verdade, não haviam muitas viaturas na rua nos horários em que o Dr. Colombo acredita que foram cometidos os assassinatos. Apesar de nenhuma delegacia ter gostado da insinuação de que alguns dos seus homens possam estar envolvidos na coisa, ninguém ofereceu resistência e realmente foi fácil de checar. Obviamente ninguém está satisfeito com o fato de que o Sr. liberou os roqueiros."
Lobo suspira e desabafa:
“Tráfico de órgãos humanos! Só me faltava esta! Pelos menos isto prova que eu estava correto em liberar os garotos!“
No Quartel General da Polícia Militar, próxima à sala do Departamento de Imprensa e Relações Públicas (DIRP), Adriana Medeiros, a diretora do departamento, com expressão séria e braços cruzados, encontra-se parada no meio do corredor. Ela está ali para receber Tenente Lobo que caminha na sua direção com cara de poucos amigos. Adriana é uma mulher de meia idade, elegante, atraente, muito experiente e sem papas na língua. Tem gente que diz que ela é divorciada, outros dizem que é viúva mas, a verdade é que ninguém sabe realmente qual é o seu estado civil ou sua situação amorosa.
"Lobo, Lobo, Lobo!" Fala Adriana com aspereza ao que, o Tenente devolve na mesma moeda:
"Adriana, Adriana, Adriana!"
Eles não se cumprimentam e Lobo já vai direto ao assunto:
"Quer dizer que você não conseguiu ficar com a sua boquinha fechada! Tinha que entregar os rapazes para a imprensa! Este seu desespero poderia ter custado a reputação de 4 jovens totalmente inocentes!"
"Você quer dizer 4 marmanjos!" É sua resposta venenosa.
"Você, mais do que ninguém, deveria saber que as aparências podem enganar muito! Olhe só para os nossos políticos!
Adriana aplaude ao mesmo tempo que diz:
"Tuchê!” E completa:
“Meu cargo é político!”
"Como dizem, se a carapuça..." Lobo não consegue terminar a frase porque Adriana o interrompe quase histérica:
"Ao contrário de você, minha função aqui é a de manter o nome e a moral da nossa corporação intacta! Ninguém lembra dos inúmeros policiais que morrem na linha de frente todos os dias! Agora é só alguém dar uma escorregada e os jornais já jogam lama em toda a polícia!" Desabafa Adriana em voz alta.
Lobo parece que gosta da forma como ela fala. Ele a observa atentamente, capta todos os seus detalhes físicos, observa o seu cabelo e a engole com os olhos. Ele faz um silêncio meditativo e com uma voz calma responde:
"Você entendeu bem o que eu disse! Não me leve à mal mas, eu conheço muito bem este teu discurso! Adriana, acredite-me, não sou contra a polícia! Também sou um policial, ou você esqueceu-se disto? Aliás, como sempre, fizemos as nossas pesquisas de forma profissional e sem lançar a culpa em ninguém da polícia. Apenas seguimos as evidências. Obviamente se descobrisse que o criminoso era um dos nossos, ele seria punido rigorosamente e iria apodrecer na cadeia. No entanto, como em casos anteriores, você seria a primeira pessoa à ser informada para que imediatamente pudesse iniciar seu controle de limitação de danos para com a imagem da nossa polícia." Lobo olha bem dentro dos olhos dela e continua.
"Adriana você sabia muito bem que o caso estava nas minhas mãos! Por que que não me deu uma ligadinha?"
"Lobo, não te liguei porque já te conheço de longa data! Você não gosta de falar sobre os seus casos em andamento."
"Admito! Falha minha! Prometo ser mais paciente e aberto com você! Mas entenda que nem sempre tenho liberdade de comentar certos casos. Principalmente enquanto não tenho provas suficientes ou estou ainda no processo de coletar evidências. De qualquer forma, lembre-se que também obedeço ordens!" Adriana respira fundo. Ela percebe que Lobo está negociando um acordo de paz e estende a mão para ele:
"Lobo, prometo que consulto você quando tratar-se de um caso seu!"
Lobo, mais relaxado, continua segurando sua mão, joga um olhar que caminha dos seus olhos aos seus lábios e novamente para os seus olhos, ameaça um sorriso e pergunta:
"Adriana você já almoçou?"
"Não! Porque? Não me diga que você vai convidar-me para um almoço? Vai chover! Tenha em mente que você não será capaz de comprar-me apenas com um almoço!" Adriana fala com um sorriso malicioso.
"Pizza? Pergunta Lobo já mostrando uma pitadinha de impaciência.
"Sim! Faz tempo que não como uma pizza! Conhece algum lugar calmo e tranquilo?" Ela fala com um sorriso maroto.
"Sim! Vamos no meu carro que, depois, te trago de volta!" Fala Lobo.
"Nossa quanta gentileza!" Ela responde toda charmosa. Os dois caminham em direção à saída e, quando chegam na porta do Prédio, ela pega sorrindo no braço dele.
"Este saltos altos são um perigo!" Ela fala sorrindo e com uma voz sensual.
Como bons amigos, os dois descem as escadas de braços dados. Não é a primeira e não será a última vez que estes dois trocam alfinetadas!
O casal atravessa a rua em direção ao estacionamento próximo quando o celular de Lobo toca:
"Pronto?"
"Lobo?"
"Fala Bacio!"
"Boss, porca miséria, acabaram de encontrar outro corpo carbonizado."
"Já sei! Perto de uma estação do Metrô!"
"Sim Boss, perto da Estação Tietê. Como nos primeiros três casos, estava debaixo da linha suspensa do Metrô. Desta vez, entre dois dos pilares. Havia tanto lixo no local que ninguém reparou. Pode ser que este fogo tenha acontecido antes do caso do Metrô Armênia!"
"Bacio, você já sabe o que fazer! Me encontro com vocês no local!"
Lobo olha para Adriana e sua expressão facial já diz tudo.
"Desculpe-me Adriana mas acabam de encontrar outro corpo carbonizado!"
"Querido, você não tem do que se desculpar! Vá! Que o dever lhe chama!"
Lobo sai correndo em tempo de ouvi-la gritar:
Não vá esquecer! Você está me devendo uma pizza!" Sem olhar para trás, fazendo um sinal de positivo, Lobo desaparece dentro do estacionamento. Adriana fica sozinha e lamenta para si mesma:
"É por isso que nunca mais me casarei com um detetive!"
Já no local do crime, Lobo com a sua identificação policial na mão, sai rapidamente do seu carro, passa pelos policiais que isolam a área e, de longe já grita para Dr. Colombo que conversa com Dra. Maia:
"Só pela posição do corpo, já vejo que este também já estava morto quando foi cremado!"
"Infelizmente é verdade! Aparentemente trata-se de um copycat mal feito porque como no caso anterior não conseguiram destruir o corpo inteiro. Já temos as digitais!"
"É Colombo, a coisa está ficando complicada!"
"Sim e não Lobo!" E, puxando Dra. Maia para mais próximo dos dois continuou:
"Maia com a ajuda de Gomes conseguiram identificar o corpo do rapaz encontrado próximo à estação Armênia. Ele começara trabalhar à apenas uma semana numa empresa de importação e exportação." Dra. Maia pega a deixa e continua:
"Gomes checou a lista policial de pessoas consideradas, pelos familiares, como desaparecidas nos últimos 30 dias. Depois, eliminou aqueles considerados fora da faixa etária e também os negros e asiáticos. Restaram 5 nomes. Dois deles usavam próteses dentárias, um era obeso e o outro tinha problemas cardíacos. Só sobrou uma pessoa e o teste de DNA que fiz não deixou dúvidas. O nome dele é João Carlos Benevides, 22 anos, formado em administração de empresas pela GV."
"Vocês estão de parabéns! Da mesma forma, vamos ver se conseguimos identificar este corpo o mais rápido possível! Ele nem termina de falar e sem perceber que Bacio aproximou-se está logo atrás dele, grita:
"BACIO!"
Bacio com seu sorriso irônico responde calmamente:
"Sim Boss! Já chequei tudo! Já fotografei as marcas dos pneus. Aparentemente foi o mesmo veículo utilizado no caso anterior."
"Bom, sigam os protocolos estabelecidos! Já que estou com meu carro, vou na frente para o UEIC porque tenho que fazer um jogo de cintura e ligar para o Capitão Miranda e também para Adriana Medeiros.
Lobo sai correndo e Bacio não perde tempo:
"Adriana Medeiros? Estes dois brigam como gato e rato! Isto está cheirando casamento!"
"Deixa de ser fofoqueiro!" Fala Luana que chega trazendo a bolsa negra para transportar o cadáver.
"Porca miséria! Viram o comandante parabenizando Ariana e Gomes. Ele já parabenizou você Luana?"
"Claro!" Foi sua resposta imediata.
"Caspita! Lobo nunca mostrou apreciação pelo meu trabalho!
Dr. Colombo que, não está muito distante, só para chamar a atenção, limpa a garganta em bom volume. Quando percebe que Bacio está olhando para ele, levanta o dedo indicador da mão direita e, com a imponência de sempre fala:
"Caro Sr. Bacio, recentemente, a semana passada para ser mais preciso, na sala de autópsia, perguntei para Lobo porque é que ele o tolerava tanto. Porque, cá entre nós, O SEU GÊNIO NÃO É FÁCIL..." Colombo dá um ênfase nesta última frase, faz um silêncio e fica olhando atentamente no rosto de Bacio. O resto do grupo, com uma expressão de que querem rir ficam só esperando a reação de Bacio que, entorta a sua boca, faz um bico e ignorando as conotações negativas do que lhe foi dito, com as mãos fazendo um gesto tipicamente italiano diz:
"Ma que? O que foi que o Tenente disse?
"Mister Bacio, Lobo disse que você é um dos melhores atiradores que ele conheceu em toda a sua vida. Que você já salvou a vida dele mais do que uma vez e que seu jeito de pensar meio atravessado às vezes é muito útil e o ajuda a enxergar fora do envelope."
"Porca miséria!" Numa reação totalmente inesperada, Bacio puxa o velho, lhe dá um beijo na testa, manda um gesto banana para todos os seus companheiros e sai todo feliz dando pulinhos! De longe ele grita:
"Porca Miséria! Ele só não me elogia em público que é para não humilhar todos vocês!"
Os outros, entreolham-se, mostrando uma mistura de espanto e desapontamento. É Luana quem quebra o silêncio:
"Dr. Colombo, viu o que o Sr. fez? Foi como jogar gasolina na fogueira!"
Dr. Colombo, sério olha para o cadáver carbonizado e depois fazendo uma cara de desgosto olha para Luana.
Luana percebe o que acaba de dizer e rapidamente faz uma apologia. Ela fala tão baixo que quase só ela mesma pode ouvir o que foi dito:
"Desculpe-me foi um trocadilho de mal gosto totalmente inconsciente..."
Dr. Colombo, ignora sua fala e, já de cócoras enquanto abre o zíper da bolsa negra, como se nada tivesse acontecido, com sua natural imponência comenta:
"Curioso! Eu sempre pensei que porca miséria fosse uma expressão usada apenas em situações ruins!”
Parte IV
Dr. Colombo agora acumula 5 corpos nas gavetas da sua geladeira. 3 corpos queimados vivos e os dois últimos incendiados depois de mortos.
Uma semana se passa sem que sejam encontrados novos corpos. Adriana Medeiros concorda em manter este caso longe da imprensa e Capitão Miranda com a sua natural impaciência promete segurar a bomba por mais algum tempo. Alias, ele não está nem aí desde que a imprensa fique quieta!
Durante a semana a identidade do último corpo é descoberta. Trata-se de outro jovem. Este dois anos mais jovem que o anterior e recém contratado como um dos auxiliares de compras de um supermercado famoso.
É outro dia bem cedo no UEIC.
Bacio chega com um livro de bolso nas mãos tentando lê-lo enquanto anda. Ele está tão interessado à ponto de não cumprimentar Luana que está sentada à apenas alguns metros à sua frente. Ele senta-se na sua cadeira também ignorando Gomes na mesa ao lado. A mesa ao lado de Luana está vazia. Esta é a mesa do Tenente Lobo. A maior parte do tempo ela está vaga porque ele está sempre correndo de um lugar à outro.
Luana e Gomes querem ler o título do livro que Bacio está lendo mas ele não deixa. Percebendo a atenção, ele fecha rapidamente o livro e o joga no fundo da primeira gaveta da sua mesa. Conforme Gomes mostra sinal de que vai levantar-se, em desafio, Bacio com o seu sorriso malicioso, fecha a gaveta.
Lobo chega senta na sua cadeira e comanda:
"Bacio você checou os meninos do rock para saber se eles tinham algum álibi para esta última morte? Você entrou em contato com chefe imediato e também com os companheiros de trabalho dos dois rapazes, infelizmente, hospedados nas geladeiras do Dr. Colombo?
Bacio todo prestativo levanta-se, dá alguns passos até a mesa de Lobo que também fica em pé:
"Os roqueiros, depois da fria que passaram, todos os dias, foram só da casa para o trabalho, do trabalho para a escola e de lá a para casa novamente. O Sr. estava certo não foram eles! Quanto aos chefes e companheiros de trabalho..."
Bacio percebe uma movimentação atrás de si e olha em tempo de ver Gomes abrir a sua gaveta, tirar o livro e levanta-lo no ar para mostra-lo à Luana. Faz isto ao mesmo tempo que sussurra:
"O... Livro... Negro... do... Rock..."
"Hei!" Bacio grita mas, Tenente Lobo ignora a cena e insiste:
"Quanto aos chefes e companheiros de trabalho?"
Bacio com cara de insatisfeito continua:
"Nada de suspeito Boss! Não deu tempo para o pessoal destas empresas conhece-los bem mas, aparentemente eram bons rapazes...
Luana corta a fala de Bacio e complementa:
"Não entramos em detalhes mas todos ficaram genuinamente chocados em saber da morte de Ricardo e Marcelo, como os dois eram conhecidos."
Lobo olha para Gomes e pergunta:
"Tráfico de órgãos, o que você encontrou na Internet?"
"Tenente, nem sei por onde começar!"
"Pelo começo!" Retruca Lobo seriamente. Esta resposta de Lobo deixa Bacio com um grande sorriso no rosto mas o Tenente imediatamente lhe dá uma dura:
"Bacio! Ficou bobo de repente ou você é assim mesmo?
Não senhor! Bacio faz um gesto de que está fechando a boca como se tivesse um zíper e volta correndo para a sua mesa.
Gomes toma a conversa:
"Primeiro é importante saber que existem duas Internets. A que todos conhecemos e a outra chamada Web Profunda (Deep Web). Esta que todos conhecemos e surfamos normalmente é apenas a ponta do iceberg. Segundo o jornal inglês The Guardian a Internet normal acessa apenas 0.03% da Internet. O resto pertence à Deep Web! Bom, a Deep Web pode ser realmente muito perigosa e não é recomendada para principiantes irresponsáveis. Na verdade ela foi criada inicialmente por militares Norte Americanos que queriam total segurança quando trocavam informação confidencial. Coisa para uso do serviço secreto. Quando visitamos a Internet normal, normalmente usamos um navegador (browser). Existem dezenas de navegadores mas, os navegadores mais usados no momento são o Explorer, Firefox, Chrome e Safari. Nestes navegadores, existe a possibilidade de, dependendo do site que você visitar, ele instalar um "cookie" no seu navegador. Como muito dos sites hoje em dia são Sistemas de Controle de Conteúdo (CMS - Content Management System), os "cookies" coletam informações à nosso respeito e é por isso que às vezes quando entramos novamente em algum site eles até sabem até o nosso nome. Bom, só na Deep Web é que o usuário pode ser realmente anônimo! E, obviamente para entrar na Deep Web o usuário ja deve estar anônimo.
Agora, quando alguém quer visitar a Deep Web, obviamente o usuário deverá usar um navegador especial, um "navegador profundo" também conhecido como Deep Browser. O mais famoso destes navegadores é chamado Tor. Somente nos últimos meses depois, que ficou público que os Estados Unidos e o Reino Unido estão espionando literalmente o mundo todo, o número de navegadores Tor que foram baixados aumentou 100%.
Bom, Tor garante a privacidade de toda a sociedade, inclusive bandidos e terroristas! A ideia por trás do Tor é a da "casca de cebola" no sentido de que quando você descobre uma pele tem outra e outra e outra. Quando mais fundo você vai, mais perigoso a coisa fica.
Acredite-me o comercio de tráfico de órgãos é coisa leve. Existem assassinos de aluguel que só gostam de matar velhinhas! Tráfico de crianças! Grupos que incentivam suicídio, canibais, aqueles que gostam de mutilar genitália..."
"Uau!" Lobo interrompe a "aula" com um sinal com de mão e fica em silêncio pensativo. Todos se olham curiosos até que Lobo olhando para Gomes pergunta:
"De 1 a 10 como você avalia a nossa segurança online?"
"Muito pobre! É sua resposta insegura.
"De 1 a 10?" Insiste Lobo.
"Zero!" Responde Gomes que, apertando uma tecla do seu computador pede para Lobo olhar para a tela do seu próprio computador. Lá para todo mundo ver, tomando toda a tela, numa foto obviamente retirada do filme Batman, aparece a foto do ator Jack Nicholson maquiado como sendo o personagem Joker."
"Você fez isto?" Pergunta Lobo indignado.
Desculpe-me tenente mas eu acessei a segurança de todos os computadores daqui e, apertando outra tecla do seu computador, faz com que Jack Nicholson apareça em todos os computadores do UEIC.
"Porca Miséria!" Bacio não resiste a tentação de fazer a sua intervenção.
Sério Lobo pergunta:
"Gomes o que você recomenda?" Gomes respira fundo e com a confiança de quem já tinha preparado esta fala à muito tempo solta a sua receita:
"O UEIC deve ficar ligado na Internet independentemente do resto do prédio. Temos que ter uma conexão Banda Larga de verdade. Isto que vocês chamam de Banda Larga é uma vergonha. Eu instalaria um server UNIX conectado direto com a World Wide Web (www) com firewall e todas as seguranças de ponta necessárias. Gostaria de ter 3 computadores cada um rodando um Sistema Operacional diferente; Windows (PC), OS X (MAC) e Linux. Gostaria também que existisse um telão central aqui na sala onde qualquer computador da rede pudesse acessar e transmitir som, vídeo e imagens para que todos pudessem compartilhar informação de forma grupal sem terem que ficar pulando de mesa em mesa. Dr. Colombo e Dra. Maia poderiam rapidamente fazer teleconferência conosco sem terem que sair de suas salas. Obviamente todos aqui seriam instruídos no uso do navegador Tor e não haveria mais nenhum controle ou filtro que nos impedisse de acessar toda a Internet."
E pala finalizar a sua fala ele aperta novamente uma tecla no seu computador e em todos computadores as telas retornam à suas imagens normais. Lobo percebe a mudança, olha para Gomes e diz:
"Aprovado!" Ele dá uma pausa rápida e completa a frase.
"Quer dizer, não depende só de mim mas, prometo que vou sair atrás do dinheiro! De qualquer forma, desde já tome as providências para tirar todos os filtros e limitações de acesso à Internet. O server está localizado no primeiro andar próximo à sala do Capitão. Se alguém perguntar alguma coisa diga que à partir de agora o server, por motivos de segurança, será administrado por você. Assim que assumir, troque todas as senhas. Depois instale o navegador Tor em todos os computadores. Prepare também um curso sobre hacking e o uso ilícito da Internet. Quero que todo mundo aqui esteja à par do que está acontecendo nesta área. Isto é muito importante para não ficarmos atrás do que está acontecendo."
Gomes abre um sorriso e dá uma piscada rápida para Bacio. Lobo que, não nasceu ontem, imediatamente acrescenta:
"Lembrem-se que com liberdade vem a responsabilidade e aqui no UEIC, mais que tudo, temos que dar o exemplo de conduta ética e moral para o resto da corporação. Estou liberando a coisa porque o nosso serviço exige e vocês conquistaram o meu respeito! Usem vossa liberdade na Internet com inteligência!"
"Todos ficam sérios e confirmam que estão cientes de suas responsabilidades."
"Caros colegas antes que se vão, gostaria de saber quem de vocês tem presença na Internet tipo Facebook, Linked in, Google +, etc.?"
Bacio, Luana e a Dra. Maia levantam as mãos.
"Bom, quero todo mundo fora da rede! Apaguem as suas identidades! Vocês não podem imaginar as informações preciosas que estão passando para os nossos possíveis inimigos!
Assim que instalar o navegador Tor nos seus computadores usem gmail, yahoo, hotmail ou outro sistema para criarem e-mails com nomes falsos. Depois disto, também usando o anonimato do Tor e nomes falsos cadastrem-se novamente nas suas Redes Sociais. Sinto muito mas deixem os seus familiares fora disto. Usaremos este e-mails para nos contatarmos ou então contatarmos com possíveis alvos."
Luana faz uma careta e tenta falar algo mas é interrompida por Lobo:
"Vocês ouviram o Tor! Obedeçam ou eu mesmo apagarei todos vocês da rede!
"Bacio! Que você está fazendo com este livro. Desde quando você é interessado em Rock?" Pergunta Lobo seriamente. Bacio sai da sua mesa e aproxima-se:
"Bom, para começar, o Sr. sabia que a banda Vulcano, foi uma grande influência na criação do Black Metal Norueguês. O pessoal na Noruega levou à sério a capa de um álbum do Vulcano que mostrava uma igreja em chamas e realmente botou fogo em mais de 30 igrejas lá na Noruega!"
"E agora você acha que existe alguma ligação entre os rapazes que foram presos, por engano, perto de um corpo em chamas?" Lobo claramente não gosta da insinuação. Bacio responde:
"Bom, agora sei que não foram eles mas, não deixa de ter uma certa lógica, não acha?"
"Caro Bacio, o perigo da verdade é que ela tem um poder ilusório. Se acreditamos profundamente numa verdade apenas para satisfazer antigos preconceitos ou justificar a nossa ignorância, esta verdade passa a ser fé. Saiba que a fé não é movida pela razão e, o mais trágico é que, não existe nada pior do que a fé cega! Aqui no UEIC buscamos fatos e provas irrefutáveis! Capiche?
Capiche! Responde Bacio.
"Dizem que a palavra 'Capiche?' foi uma gíria criada lá pelos anos 40 e significa 'você entende?'. Você sabia disto Bacio?" O Dr. Colombo que ainda estava por perto e escutou toda a conversa, como sempre, não poderia perder a oportunidade para revelar seu conhecimento enciclopédico.
Bacio não tem tempo de responder porque Lobo intervém:
"Colombo você conseguiu extrair o DNA dos três coitados que foram queimados vivos? Conseguiu alguma identificação?"
"Passei as amostras para Ariana Maia, que fez a extração do DNA mas, infelizmente ainda não temos nada para comparar. Também dentro do possível fiz um levantamento da arcada dentária dos três mortos mas, mesmo que arrumássemos a fixa dentária dos dentistas que trabalharam com este indivíduos não seria fácil fazer uma identificação segura porque o fogo destruiu muito os corpos.
O Dr. Colombo percebe rapidamente que Lobo quer todo mundo focado no caso e, retorna rapidamente para a sua sala que é contígua à sala de autópsia no subsolo.
Lobo olha para Bacio que continua ali parado:
"Mais alguma coisa?"
"Boss, o livro também fala da banda Made in Brazil!" Lobo olha para Bacio interessado. Bacio percebe a deixa e continua:
"Dizem que o primeiro vocalista era uma figura e tanto, chamava-se Cornélius Lúcifer!"
Cornélius Lúcifer vocalista da banda Madei in Brazil no seu primeiro álbum lançado em 75.
"Sim parece que era! Comenta Lobo. Bacio continua:
“O autor do livro diz que a primeira vez que ouviu falar do Diabo no Rock Brasileiro foi em um show ao ar livre no começo dos anos 70 no Parque do Ibirapuera. Imagine que no auge da Ditadura Militar, a banda executou uma versão dos Rolling Stones chamada Simpatia pelo Diabo. Eles literalmente estavam brincando com fogo!"
"Não vá você agora tentar ligar o Made com este crimes?" Fala Lobo já elevando a voz.
"Claro que não Boss! Foi só, como sempre, uma má escolha de palavras!" Justifica-se Bacio.
"Já foi dito que quem fala muito, acaba falando besteira! Obrigado por estas informações! A história do Rock Brasileiro é pouco conhecida pelos próprios roqueiros! Quando terminar de ler este livro, gostaria de dar uma olhada!"
"Claro Boss! Assim que acabar de ler lhe passo o livro." Lobo concorda com a cabeça mas, ja mudou o seu foco de atenção e passou à examinar a fisionomia de Gomes:
"Gomes, você não tem casa?"
"Desculpe-me chefe, digo Boss, quero dizer Tenente mas passei a noite aqui na central pesquisando no Tor. Estou atrás de traficantes de órgãos. É um assunto perigoso e devagarinho estou 'descascando a cebola'."
"Descascando a cebola! Tem gente que vai acabar chorando! Bacio fala baixinho para si mesmo com seu sorriso irônico.
Do outro lado da mesa, sem falar nada, Luana faz um sinal para ele ficar quieto.
Lobo ignora o comentário e, vai saindo da sala ao mesmo tempo que fala:
"Muito bom mas, lembre-se que quero você aqui com 100% da sua capacidade mental. Lembre-se que você precisa dormir. Se perceber que está muito cansado saia mais cedo e vá para cama!".
Quando Lobo sai da sala, Gomes olha para Bacio, faz uma cara de sabe tudo e diz:
“Bacio, desculpe-me mas você é foda mesmo! Caramba!” Bacio, faz de conta que não escuta e com uma expressão forçadamente séria, continua examinando a nova lista dos desaparecidos que chegou pela manhã.
Gomes por sua vez, ignora a sua conduta e diz:
“Bacio! Para provar que não guardo rancor, cheque o desktop do seu computador. Lá você encontrará a pasta Joelho de Porco. Ela contém possivelmente o álbum mais famoso da banda chamado São Paulo 1554/Hoje.”
Bacio que na verdade escutava tudo que Gomes dizia, tira imediatamente o olho da lista de nomes e busca na tela do computador pela pasta. Quando a encontra já clica na primeira faixa chamada Hey Gordão.
"Caro Tor agradeço de coração este seu gesto de amizade! Eu sabia que por trás desta sua cara de nerd existia um coração!" Bacio sorri satisfeito!
"Caro Bacio, por trás desta cara de nerd tem um cérebro privilegiado! O coração esta localizado mais abaixo, para ser mais preciso, no topo do lado esquerdo do meu tórax!"
"Dá-lhe!" É a Luana que fala sorrindo.
Bacio ignora todo mundo, coloca o seu minúsculo fone de ouvido e volta a analisar a lista dos desaparecidos.
Parte V
No outro dia, no começo do expediente, o Tenente Lobo nem chega e Gomes já o aborda:
"Tenente, acho que encontrei uma linha de busca promissora!” Gomes está todo excitado! Seu cabelo está todo desarrumado e parte do seu rosto está marcado com uma enorme mancha avermelhada. Parece que ele dormiu sentado com a cabeça apoiada na mesa, sobre o próprio braço ou em cima de algum objeto.
Parece meio louco. O Tenente observa a sua aparência e comenta:
" Gomes, que aconteceu com você? Você anda metido com drogas?"
"Claro que não Chefe Boss! (ele fala Chefe Boss sem se dar conta) Não consegui voltar para casa, esta noite foi muito excitante e..."
‘...você precisa me contar tudo!" Interrompe Lobo que, olha para Luana:
"Querida traga um café para este louco para deixarmos o rapaz um pouco mais louco ainda!"
Bacio nem acaba de chegar e já vai perguntando:
"Quem é que está louco?"
Lobo puxa sua cadeira para a frente da mesa de Gomes, senta-se, relaxa para trás e com um "meio" sorriso fala:
"Vamos lá Tor!"
Gomes com os olhos quase fechando, beberica uma gota do café que acaba de receber da Luana, faz uma cara de pedido de desculpas e diz:
"De antemão tenho que informar-lhe que a coisa é meia complicada..."
Lobo corta a sua fala novamente:
"Muito bem Tor, você tem 5 minutos!" Lobo cruza os braços e fica à espera. Todos na sala, fingem que estão fazendo algo mas, na verdade estão todos atentos.
"Bando de curiosos! Vocês todos não precisam fingir que estão trabalhando. Algo me diz que o "Mister Tor" aqui deve ter algo muito importante e educativo para nos contar. Portanto fiquem à vontade para escutar!"
"Porca Miséria! Gomes é o Tor! Perfeito Boss!"
"Quieto Bacio! Senão invento um nome para você também!"
A sala fica em silêncio e Gomes começa a sua explanação:
"Bom, como disse anteriormente, para surfarmos na net, usamos navegadores ou Browsers como são conhecidos internacionalmente. Os navegadores mais usados são Explorer, Firefox, Chrome e Safari. Nestes navegadores, para encontrarmos o que buscamos usamos um "motor de busca" (Search Engine). Existem dezenas e dezenas de motores de busca mas, os mais usados são Google e Yahoo. Estes motores de busca não passam de uma database contendo coleções de links para web sites. A forma como estes motores de busca conseguem estas listagens é fazendo uso de um programa de inteligência artificial bem básico conhecido com Web Spider ou Web Crawler (Aranha Web ou Web Rastejador) que é usado para "indexar" estes web sites. Todos os web sites normais, no seu código possuem um SEO (Search Engine Optimization) que significa Optimização do Motor de Busca. Este SEO principalmente, é dividido em duas "METATAGS". Uma é chamada METADESCRIPTION e outra chamada METAKEYS. META DESCRIPTION contem em aproximadamente 25 palavras, uma descrição do site. Este será justamente o texto que aparece depois do nome do site quando ele aparece no Google, Yahoo, etc. METAKEYS, por sua vez, mostram aproximadamente 25 palavras chaves que melhor definem o site. Estas 25 palavras devem ser realmente escolhidas com cuidado porque elas são fundamentais para que o nome do site apareça nos motores de busca, que são como já disse o Google, Yahoo, etc.
Só como exemplo vejamos o site londrino chamado Memórias do Rock Brasileiro cujo URL é http://www.celsobarbieri.co.uk. Se fizermos um hack básico no site descobriremos suas METATAGS:
METADESCRIPTION | Antonio Celso Barbieri compartilha sua experiência como roqueiro, empresário, músico, produtor de shows, jornalista e ex-militante do PCB. Textos, áudio e vídeos raros! |
METAKEYS | Antonio, Celso, Barbieri, Heavy, metal, rock, pop, São, Paulo, Brasil, Brazil, memória, história, música, artista, empresário, produtor, show, teatro, korzus, viper, ratos, porão, PCB, política |
Quer dizer, quanto mais palavras chaves juntas forem usadas numa busca mais o nome do site subirá na listagem. Usando o exemplo acima, busquei apenas usando as palavras 'celso barbieri rock' e, apareceram no Yahoo umas 10 páginas cheias de links falando do site Memórias do Rock Brasileiro. Não é atoa que este site tem quase 3 milhões de visitantes!
Então, por exemplo o Google envia pela Internet sua “aranha” que caminha por toda Web coletando METATAGS. É lógico que o Google e outros motores de busca logo perceberam que poderiam fazer muito dinheiro com a cobrança de uma taxa para que o endereço (URL) de um web site em particular suba na listagem (Rank) e apareça em primeiro lugar no motor de busca.
Depois do que disse, fica claro que se alguém criar um site com a intenção de mantê-lo anônimo, para começar, deverá impedir que o SEO funcione apagando o METADESCRIPTION e o METAKEYS. Desta forma, só terão acesso à este site aqueles para quem for mandado o link do mesmo. Por outro lado, além disto, neste mesmo site poderá ser colocado uma porta com senha e limitação de tempo, onde só aquele usuário que você convidar poderá entrar e, ainda assim, por um tempo limitado. A coisa vai muito mais longe mas vocês já podem ter uma ideia de como a coisa funciona.
Por que disse tudo isto? Porque agora vocês podem entender porque a Google, Yahoo e outros, na verdade, só conseguem listar aqueles 0.03% dos sites na Web. A grande maioria da Internet contém sites quem, não são considerados sites normais. Isto não quer dizer que a maior parte da Internet esteja envolvida em atividade ilegais. Por exemplo, certas universidades ou centros de pesquisa possuem uma forte presença na Internet mas, puramente voltada para o lado científico e não fazem publicidade de forma alguma. Os estudantes e cientistas que interessam à estes órgãos já possuem o endereço (URL) e isto já é suficiente. Em resumo estas organizações não necessitam e portanto não usam ou não aderiram ao SEO."
Gomes parece meio perdido, fala umas palavras baixinho para si mesmo, toma um gole de café e continua:
“Depois desta explicação vem a parte que considero mais interessante para o nosso caso. Usando o navegador Tor (TorBrowser) busquei, nos motores de busca, usando várias palavras chaves (METAKEYS) por tráfico de órgãos. Convém lembrar que no Tor os motores de busca, são diferentes do Google e Yahoo. Estes motores de busca, na verdade são listagens quase que criadas manualmente por hackers ou indivíduos que coletam informação usando outras formas de busca. Portanto na busca por uma listagem que contivesse informação proibida, encontrei dezenas e dezenas de listagens que chamo de DeepLinks. A quantidade de informação que encontrei é enorme, absurda, poderia passar toda a minha vida e não veria 10%. Ja era muito tarde da noite e eu estava até perdendo as esperanças de achar alguma coisa realmente significante quando cliquei por acaso em um link chamado deepweblinks4u.org. Uma página abriu-se mostrando centenas de links, endereços contendo apenas sequências misturadas de números e letras sem nenhum significado claro. Estes endereços terminavam com apenas uma palavra ou duas que geralmente não permitiam que soubéssemos qual era o conteúdo do link em questão. Checando a listagem, nome por nome, deparei-me com um endereço em particular que chamou-me a atenção. Estava escrito http://5asdfgyzjkfs52r4.onion/ - Dr. Sands.
O nome Dr. Sands chamou-me a atenção e ficou presente na minha mente. Sabia que tinha visto este nome em algum lugar mas não lembrava onde. Sabe quando a informação está na ponta da língua mas não conseguimos dar sentido à coisa?"
Gomes está realmente dentro da sua história e nem percebe que Dr. Colombo e Dra. Maia também chegaram já a algum tempo e estão também atentos. Gomes medita por um segundo e continua:
"...a mente é uma coisa incrível! Ela também deve ter o seu motor de busca noturno porque, dei uma cochilada aqui mesmo na mesa e, acordei com a resposta.
“Dr. Sands é o médico envolvido com roubo de órgãos para transplantes na história escrita pelo meu escritor de ficção científica favorito, Phillip K. Dick. Ele era um gênio..." Bacio interrompe:
"Não foi ele quem escreveu o livro de onde foi baseado o filme Blade Runner - O Caçador de Androides?" Gomes não dá tempo e continua:
"Parabéns! Sim foi ele mesmo! Mas, o livro a que me refiro chama-se Fenda no Espaço (The Crack in Space) e foi lançado primeiramente em 1966.
A história se passa no ano 2080. O Planeta Terra está superpovoado e, os desempregados, na sua grande maioria negros e latino-americanos, são adormecidos e armazenados aos milhões em enormes galpões especiais. Lá os "desligados" como são conhecidos, ficam à espera de uma oportunidade que pode nunca realizar-se: a descoberta de um planeta habitável ou outra coisa qualquer...
Esta história é até um pouco profética porque ela conta que em 2080, Jim Briskin concorre à presidência dos Estados Unidos. Se ele fosse eleito, Jim Briskin seria o primeiro presidente negro a ocupar a Casa Branca. É incrível porque em 1966, numa época, nos Estados Unidos, de intensos conflitos raciais, Phillip K. Dick já previa a possibilidade de um Obama!
Mas, voltando à esta história, neste mesmo período vive Dr. Sands. Ele é um médico cirurgião muito rico, famoso e admirado por todos. Neste futuro, a demanda por órgãos humanos para transplante é gigantesca e, Dr. Sands é o herói que sempre consegue ajudar famílias nas quais um ente querido está desesperadamente precisando de um órgão. Ele é uma pessoa com muitos contatos e sempre acaba conseguindo o que muitos outros pensam ser impossível.
Bom, no final deste livro descobrimos que, como Dr. Sands foi um dos responsáveis pela criação deste programa que desliga o pessoal pobre. Ele tem acesso privilegiado aos galpões e tem visitado o lugar secretamente para friamente retirar dos desligados os órgãos que necessita. É lógico que, por debaixo dos panos, ele cobra pelos seus serviços!"
"Nossa que maldade!" Comenta Dra. Maia.
"Na verdade não é muito diferente do caso que estamos investigando! Estão raptando seres humanos para fazer o mesmo!" Adverte Dr. Colombo no seu estilo dramático.
"Por favor Gomes continue..." Lobo mostra que quer chegar logo na parte prática da questão.
"Tenente quando cliquei no link do Dr. Sands o que encontrei foi um lista enorme de mensagens de pessoas desesperadas, escondendo seus nomes atrás de apelidos e implorando por órgãos tipo coração, rins, córneas, etc. Portanto quando acordei do cochilo, imediatamente, imaginando que Dr. Sands fosse um nome falso referindo-se ao conto Fenda no Espaço, postei uma mensagem usando o nome do presidente Jim Briskin. Disse que era brasileiro, residente em São Paulo. Disse que meu filho de 22 anos estava muito doente e precisava imediatamente de um coração. Fiquei realmente surpreso em receber uma mensagem dele quase que imediatamente. Ele pediu para que eu visitasse, no Tor, um outro endereço. Este novo endereço quando clicado, para acessar, pedia para que eu digitasse meu nome do usuário (Jim Briskin) e uma senha. Dr. Sands havia pedido para que eu usasse como senha o "nome da sua esposa". No livro Fenda no Espaço encontrei o nome da mulher do Dr. Sands. A senha funcionou e quando entrei encontrei-me numa sala de conversa, um "chat room" onde pude conversar com Dr. Sands em tempo real. Ele quer 100.000 dólares para fazer o serviço e disse que tenho que esperar duas semanas porque está ocupado com outros dois clientes. Ele pediu também o resultado de vários exames de sangue 'do meu filho' para já poder ir buscando por um doador compatível..." O Tenente Lobo interrompe Gomes:
"Luana! Verifique imediatamente todas as listagens de desaparecidos? Procure por jovens sadios que poderiam encaixar-se como os próximos doadores. Pode ser que tenhamos mais dois casos de raptos terminando em cremação à caminho. Este Dr. Sands pode bem ser o nosso homem! Excelente trabalho Gomes! Pesquisem tudo que puderem porque este caso está pedindo uma Tempestade Mental!"
"Quando?" Pergunta Bacio todo excitado e acrescenta:
"Adoro Tempestades Mentais!"
"Daqui duas horas!" Foi sua resposta ao mesmo tempo que olhando para Gomes ordena:
"No fundo da sala do Dr. Colombo tem uma porta que dá para um quartinho, lá existe uma cama de solteiro. Quero que você desapareça imediatamente por duas horas. Vá tirar uma pestana. Mando te chamar quando chegar a hora da nossa Tempestade Mental."
"Obrigado Boss!" Fala Gomes saindo exausto e sem nem perceber que usou o adjetivo usado pelo Bacio.
Lobo olha para Dr. Colombo:
"Este Dr. Sands, achei o perfil dele meio egocêntrico demais. Que você achou?"
Dr. Colombo concorda com a cabeça e comenta:
"Sim ele se acha muito inteligente. Ele se acha superior aos outros seres humanos à ponto de sentir-se no direito de decidir quem vive e quem morre. Ele acha-se por demais seguro e não acredita que exista alguém capaz de localiza-lo e captura-lo. Ele acha seu plano perfeito e considera-se um gênio. Talvez possamos usar esta sua deficiência contra ele mesmo. Por outro lado, Gomes deve tomar muito cuidado porque ele desafiou a inteligência do Dr. Sands revelando que ele sabe de onde foi que inspirou-se para criar seu apelido. Isto deve tê-lo deixado muito inseguro e, perigosamente curioso."
Parte VI
Dra. Ariana Maia entra na sala do Dr. Colombo em direção à uma porta localizada nos fundos da mesma. Trata-se de uma porta discreta, se estivesse fechada, possivelmente nem seria notada. Dr. Colombo já subiu para a reunião mas, deixou as luzes da sua sala acesas. Como a porta dos fundos não está completamente fechada, um facho de luz consegue iluminar levemente parte do seu interior.
Ariana carrega uma pequena bandeja contendo uma xícara de café, 4 bolachas e um pedaço de bolo. Com cuidado, empurrando com seu ombro, ela abre a porta.
A porta abre-se lentamente e revela à sua frente Gomes, como um garoto, deitado na cama, todo encolhido, agarrado à um travesseiro e dormindo profundamente. Ela fica até com dó de ter que acorda-lo.
Ariana é tão jovem quanto ele e os dois até possuem uma certa compatibilidade física. A jovem, em silêncio, admira o rapaz por alguns instantes e, com uma expressão marota pensa:
"Ali esta o gênio da Internet, o Tor, o mestre da Deep Web...” E completa em voz alta:
"... O mestre do Deep Sleeping, do sono profundo!” Com ele não reage, ela insiste:
"Gomes... Gomes... GOMES!"
Ele abre os olhos meio perdido, tentando localizar-se.
"O Tenente pediu para acorda-lo! Tomei a liberdade de trazer-lhe um café com um pedaço de bolo e umas bolachas. É um bolo de laranjas que eu mesma fiz ontem, está muito gostosinho."
Ele senta-se na cama e meio sem jeito tenta arrumar os cabelos. Gomes, para falar de computação ou trocar alfinetadas com Bacio é perfeito mas, para falar com as mulheres é uma pessoa totalmente diferente. Ele é realmente um nerd. Desde que ele viu Ariana pela primeira vez, gostou do que viu mas, nunca soube direito como expressar-se. Desde então, vive com medo de estragar tudo antes mesmo de começar. Não sabe como lidar com a rejeição e nem como reverter esta situação se ela acontecer. No fundo, ele admira Bacio porque para o seu companheiro de trabalho, mulheres foram feitas para serem conquistadas. Ele, tentando aprender algo, sempre observa sua conduta atentamente. Sabe que Bacio está sempre cruzando a linha do que seria de bom gosto mas, isto nunca o impediu de sempre estar namorando alguém. Na teoria de Bacio, o máximo que pode acontecer é a garota dizer não. Gomes olha para Ariana, nota a sua beleza e diz:
"Ariana, que coincidência! De todas as pessoas aqui, a única pessoa que gostaria que um dia me acordasse seria você." Ele não consegue ficar muito tempo olhando nos olhos dela e usa o pedaço de bolo como desculpa. Toma um golezinho de café e dá uma mordida no pedaço de bolo ao mesmo tempo que escuta Ariana falar com uma voz doce:
"Porque você gostaria de ser acordado por mim?"
Gomes, engasga-se com o pedaço de bolo e quase derruba a bandeja.
"O bolo está tão ruim assim?” Pergunta Ariana preocupada.
"Não! Claro que não! Ele está delicioso." Maia, digo Ariana, posso te chamar de Ariana?
"Claro que pode! Como gostaria de ser chamado? Posso chama-lo de... (fala insegura) posso chama-lo de Tor? Acho legal, combina com você! Sabe, sempre fui interessada em informática e já até conhecia o navegador Tor de nome.
Gomes, devorando o bolo, sorri e concorda com a cabeça.
"Vou subir! Deixe-me ver (ela olha no seu relógio), você tem 10 minutos para terminar seu café, dar uma lavada no rosto e subir para a reunião."
Ela retira-se mas antes de sumir de vista olha para trás e lhe dá um sorrido acompanhado de um leve aceno de mão.
Gomes com a boca cheia de bolo fala incrédulo:
"UAUUUU!"
Enquanto isto todos estão entrando na sala especial de reuniões. A sala parece uma sala convencional de reuniões de diretoria. Possui uma grande mesa oval com 10 cadeiras à sua volta. Nas paredes existem grandes lousas brancas e em um dos lados uma grande televisão de tela plana. No centro da mesa existem uns 4 telefones e uma bandeja com copos, água, café e uns biscoitos. Na frente de cada pessoa existe um pequeno monitor de tela plana e um teclado. Todos tem acesso a Internet.
Todos estão meio silenciosos, sombrios. Eles sabem que vidas estão em jogo e que o tempo está correndo. Todos trazem fotocópias de documentos, listas e anotações.
Lobo, sentado numa cadeira na cabeceira da mesa, mantendo os cotovelos sobre a mesma, pensativo, apoia a cabeça nas próprias mãos.
O último à chegar é Gomes. Lobo olha para ele e pergunta:
A pestana ajudou?
"Sim senhor, ajudou muito! Obrigado!" E, com uma aparência de quem acabou de acordar, mostrando um leve sorriso busca Ariana:
"Se não fosse por ela, ainda estaria dormindo!"
Lobo fica em pé, olha para todos e começa:
"Como sempre, quero lembra-los que chamo isto de Tempestade Mental porque aqui vocês estão livres para jogar na mesa qualquer ideia, por mais absurda que seja, que ajude a ou desperte na mente de algum de nós uma solução para o nosso caso atual. Acredito que o ditado 'uma andorinha só não faz verão' cabe bem nesta situação. Pessoal vamos juntar os nossos cérebros e salvar umas vidas!
Todos, em silêncio, concordam com a cabeça e Lobo continua:
Acredito que não estou errado se disser que todos nós gostamos de assistir na TV um bom episódio de alguma série policial. Tendo em vista a natureza do nosso trabalho, nos identificamos com os personagens e as situações... Não é mesmo?
"Sim Boss! Responde Bacio. Parece que ele fala por todos.
Então, neste seriados policiais, vocês já devem ter percebido que, no Direito Penal Norte Americano as palavras meios, motivo e oportunidade representam dentro da cultura popular daquele país os três aspectos de um crime que precisam ser estabelecidos antes que a culpa de um indivíduo possa ser determinada em um processo criminal.
Meios refere-se à capacidade do acusado de cometer o crime, motivo refere-se a razão pela qual o réu sentiu a necessidade de cometer este crime e finalmente com a oportunidade, procura-se saber se o réu teve a chance de cometer o crime. Oportunidade é mais frequentemente desmentida pela utilização de um álibi, que pode revelar que o acusado não poderia ter cometido o crime, provando que o acusado não preencheu o conjunto correto de circunstâncias para cometer o crime em questão, da forma que ele aconteceu. Motivo não é um elemento de muitos crimes mas, provando o motivo muitas vezes pode tornar mais fácil de convencermos um júri dos elementos que devem ser provados para uma condenação. De qualquer forma, estabelecer a presença desses três elementos não são, por si só, suficientes para condenar com certeza absoluta. É preciso provar que uma oportunidade foi apresentada, que foi de fato tomada pelo acusado e resultou no crime a que ele está sendo acusado.
Gostaria que soubessem que, ao contrário das descrições populares apresentadas nos livros policiais e nos seriados da TV, os tribunais Norte Americanos não podem condenar apenas baseados nestes três elementos famosos, mas sim, devem fornecer provas convincentes, e mostras que a oportunidade realmente foi posta em prática pelo réu ou acusado. Por exemplo, se um criminoso baleou uma pessoa com um revólver e levou o dinheiro dela enquanto a vítima estava numa área isolada à noite, o meio seria a arma, o motivo seria financeiro (ou seja, o dinheiro que roubou) e a oportunidade, o fato de que seria improvável que alguém mais poderia testemunhar o crime e detê-lo. Para a maioria dos crimes, meio e oportunidade são os mais fáceis de provar. No entanto, para alguns crimes (como estupro ou assassinato serial), o motivo pode ser difícil de ser definido.
Bom considerem esta exposição que acabei de fazer apenas como um injeção de ideias...
Bacio pensativo interrompe:
"Meios, motivo e oportunidade! No nosso caso, certamente o motivo como em muitos casos foi financeiro. Vocês concordam?
Todos parecem concordar e Dr. Colombo acrescenta:
"Se é que este é o nosso homem, Dr. Sands, está pedindo 100.000 dólares por um coração humano e, considerando-se que hoje em dia tem gente matando para roubar um iPhone, considero 100.000 dólares um motivo muito bom para o assassinato destes jovens..."
Luana interrompe:
"Sendo assim falta sabermos quais são os meios e a oportunidade."
É a vez de Gomes:
"Recentemente, Falei muito sobre a Internet, de como nela tudo parece resumir-se em obedecer certas regras, ter certas permissões, estar adequado ao sistema para poder utiliza-lo. Vejam bem, uma pessoa para poder ser doadora não precisa obedecer certas regras, estar compatível com o paciente?"
Dra. Miranda Maia toma a palavra:
"Sim, obviamente um coração, um rim ou uma córnea são órgãos totalmente distintos e podem ser afetados por várias doenças, algumas de ordem genética outras não. Portanto o doador tem que provar que seus órgãos estão sadios"
Dr. Colombo complementa dizendo:
"Sim testes precisam ser feitos para confirmar a compatibilidade do doador com o paciente. Nestes testes incluem-se certamente exames de sangue, Raio X e muito provavelmente um destes dois tipos de scans, o Magnetic Resonance Imaging (MRI) ou o Computerized Axial Tomography (CAT). Estes dois últimos exames são caros e não são todos hospitais ou clínicas que estão equipados para faze-los. Além destes testes o doutor teria que ter toda a história médica do doador...
"Lobo pega o fio da meada e continua:
Nós temos dois jovens de 20 e 22 anos, que começaram trabalhar, à pouco tempo, em boas empresas de ramos diferentes e sem nenhum contato uma com a outra. Também pelo que pudemos descobrir, nenhum dos dois se conheciam.
Bacio comenta:
"Se os dois rapazes trabalhassem na mesma empresa mas em filiais ou departamentos totalmente diferentes. Ainda assim, alguém do Departamento Pessoal conheceria os dois e poderia estar implicado."
Dra. Miranda Maia e Dr. Colombo emocionados querem falar ao mesmo tempo. Miranda percebe e educadamente dá a palavra ao Dr. Colombo:
"Vejo uns certos dados comuns entre este dois rapazes. Fora o fato obvio de serem do mesmo sexo, os dois fisicamente eram muito sadios e tinham praticamente a mesma idade..."
Dr. Miranda Maia rapidamente acrescenta:
"Certamente a mesma pessoa teve acesso à fixa médica dos dois. Para que precisamos fazer exames?"
Lobo que estava sentado, levanta-se com os punhos cerrados e olhos luminosos:
Precisamos fazer exames para mostramos que estamos aptos para um trabalho.
Bacio puxa imediatamente um telefone ao mesmo tempo que diz:
"Boss, vou ligar para o Departamento Pessoal da empresa de importação e exportação e perguntar se pedem exames médicos." Ele está falando e Luana já puxou outro telefone e informa que ligará para o departamento pessoal do supermercado."
Os dois, ao telefone, praticamente falam ao mesmo tempo. Cada um anota um nome e endereço no seu bloco de notas. Os dois agradecem, despendem-se, desligam o telefone, se olham e falam ao mesmo tempo:
"Laboratório de Análises Clínicas Metrópole"
Lobo ao telefone já está requisitando imediatamente viaturas do Grupo de Intervenção Rápida (GIP), um tipo SWAT brasileira formado apenas por soldados de elite.
Em menos de meia hora um enorme sobrado, uma mansão de luxo, tomando toda uma esquina é cercado. Duas viaturas fecham a entrada do local. Atrás de uma delas estaciona a perua preta do UEIC. Os seguranças, dois senhores idosos, são pegos de surpresa. Na verdade parecem não entender o que está acontecendo. O Lugar é todo cercado por muros altos. Lobo dá um sinal para Luana correr em volta do muro para ver se não existe alguma saída de emergência na virada da esquina.
Lobo com os policiais correm para dentro da clínica. Funcionários são imobilizados e as salas do térreo, uma a uma, são checadas. O acesso ao andar acima está fechado com uma porta com segredo. Lobo pede o número mas a secretária diz não saber e informa que, as únicas pessoas que possuem acesso são o Dr. Homero e seus dois auxiliares.
Lobo olha para o comandante do GIP, olha para a porta e não precisa dizer mais nada. A porta é colocada abaixo quase que imediatamente.
Enquanto isto, do outro lado da esquina, quase no final do muro, do lado de dentro, no quintal da casa, alguém luta para abrir uma portinha de metal estreita, toda enferrujada que parece que faz um tempão que não é usada. A porta abre-se rangendo e dela sai um tipo enorme, careca e com cara de poucos amigos. Ele tenta fechar a porta mas a porta resiste e ele decide deixa-la aberta. Ele vira para esquerda e dá de cara com Luana de braços cruzados:
"Onde você pensa que você vai!" Ela vai tomando posição porque o cara é grande.
"Polícia! Mãos na cabeça!" Ela fala mostrando determinação.
O homem olha para ela de cima à baixo sem dar nenhum crédito. Faz uma cara de escárnio e diz:
"Sabe o que é pior do que uma policial negra? É uma policial negra lésbica!"
Ele nem termina de falar e uma rasteira derruba-o no chão. Ele tenta levantar-se mas, só tem tempo para ver um rápido ballet de pernas terminando em um enorme pontapé bem no meio da cara.
"Sabe o que é pior do que uma policial negra? Luana pergunta e já responde:
“É uma policial negra pondo você na cadeia!”
Do lado de trás da casa, um homem com muita dificuldade tenta descer do andar de cima agarrando-se à uma tubulação que, das calhas recolhe e canaliza a água das chuvas. Para surpresa dele, lá de baixo, Bacio grita:
"É, nos filmes parece bem mais fácil, você não acha? Porca miséria! Veja se desce logo porque não tenho todo tempo do mundo?"
Lá no andar de cima da casa, que é dividida em várias salas, Lobo encontra uma sala de cirurgia bem montada e no fundo encontra outra porta, esta com uma tranca pelo lado de fora. Quando aberta percebe-se que esta sala é uma UTI toda equipada e com 4 camas. Em duas destas camas, dois jovens aparentemente drogados dormem profundamente. Estão cobertos por lençóis brancos mas, por baixo estão nus e presos às suas camas por correias de couro. Os dois estão recebendo soro intravenoso e estão ligados à vários aparelhos.
Depois de verificar que não existe mais ninguém neste andar, ao mesmo tempo que Lobo desce as escadas, pega seu celular e chama Dr. Colombo e Dra. Adriana Maia que estão esperando, em segurança, na perua do UEIC, para que chequem os rapazes.
Na porta da casa encontra-se com os dois doutores, indica o caminho e continua em direção as viaturas militares.
Lobo chega e vê os dois auxiliares do Dr. Homero sentados no banco de traz de uma delas. Um deles tem o nariz todo ensanguentado e bem inchado.
"Luana!"
"Sim Tenente?"
"Foi você? Não foi? Você tinha que bater nele?
"Ele me ofendeu! Me chamou de negra lésbica!
Lobo olhou para o preso e disse:
"É meu filho! Racismo é coisa séria!"
"Não tenente! Não foi porque ele me chamou de negra! Eu sou negra e com muito orgulho! Foi porque me chamou de lésbica! Ele quis dizer que pareço homem!
Eu sou é muito mulher!" Ela falou olhando para o preso e mostrando os punhos!
Bacio que estava próximo não perdeu a chance:
"Luana, você é mulher? Puxa eu não sabia!"
"Bacio você também quer ganhar um nariz de batata?"
Lobo interrompe o bate-boca:
"Bacio, algum sinal deste tal de Dr. Sands, Homero ou quem quer que seja?"
"Não Boss! Ou ele tem bola de cristal, é um fantasma ou tem muita sorte! Fique tranquilo vamos pegar este vagabundo!" Bacio fala confiante.
"Não tenho dúvidas Bacio! Lobo fala com determinação ao mesmo tempo que, dando as costas, caminha novamente para dentro do casarão. Ele sobe as escadas para o andar superior e quando chega na sala de UTI, os dois doutores ainda estão examinando os rapazes. Minutos depois, Dr. Colombo dá o seu parecer:
"Lobo, nenhum órgão foi retirado e, considerando-se a situação, aparentemente os dois jovens estão em boas condições. O soro que estão tomando é provavelmente uma purificação dos rins. Exames que usam algum tipo de contraste injetado na veia podem sobrecarregar os rins e exigem que o paciente beba muita água o que torna lógico o fato dos dois, além de estarem recebendo soro, estarem também usando sondas ou cateteres passando pelo canal uretral, inseridos diretamente nos seus pênis . Aliás, fato muito comum em UTIs. A urina quando examinada também ajuda a revelar os estado de saúde do doador. Vou providenciar a transferência deles para um hospital imediatamente."
Colombo percebe que Lobo não está satisfeito e fala:
"Mas o que é isto Lobo? Acabamos de Salvar duas vidas e só Deus sabe quantas mais!"
"Sim! Mas não acabou! Não pegamos Dr. Sands ou melhor dizendo Dr. Homero Martello di Montagna! Esperteza ou não, ele conseguiu escapar!
"Você disse Homero Martello? Se é quem estou pensando, agora é que a coisa vai realmente pegar fogo!" Dr. Colombo parece realmente alarmado e desabafa:
"Mexemos num ninho de vespas!"
Lobo que geralmente está atento à várias coisas ao mesmo tempo olha para Dr. Colombo com aquele seu olhar típico de quem quer saber mais.
“Lobo, como você bem sabe, apesar das coligações com o PT, a Prefeitura de São Paulo está nas mãos da direita. A direita por sua vez tem dentro dela várias facções, algumas mais liberais e outras mais conservadoras e até de ultradireita. Homero Martello durante os anos tem sido coordenador de várias comissões ligadas às questões de saúde e também as ligadas às questões relativas à descriminalização das drogas. Aliás ele é contra a descriminalização mas, os defensores desta ideia o acusam de estar trabalhando à serviço do Primeiro Comando da Capital, o famigerado PCC. Aparentemente se a descriminalização das drogas acontecesse, seria cortado o intermediário e, muitos acreditam que a criminalidade seria muito reduzida. Mas não é só isto!
"Ainda tem mais?" Exclama Lobo.
"Muito, muito mais! Este Dr. Homero vem de uma família de italianos que chegaram aqui no final da Segunda Guerra Mundial. Dizem que seu pai foi figura importante no governo do ditador Mussolini. Os judeus tentaram prender-lo mas, nunca conseguiram provas suficiente. Basta dizer que segundo falam ele foi amigo do falecido Presidente Getúlio Vargas que aliás, nunca escondeu sua predileção pelos fascistas. Não faz muito tempo que o nome dele esteve associado com uma facção do Black Bloc."
"Black Bloc? Colombo você não deveria ser médico, deveria ser um sociólogo ou analista político!" Comenta Lobo.
"Caro Lobo, na verdade comecei estudar sociologia mas, naquela época a Ditadura estava comendo solta! Estudar sociologia era muito perigoso e para falar a verdade, não via prospectos profissionais de sobrevivência como sociólogo." Ariana Maia aproveita a deixa para informar que ambulâncias estão à caminho para recolher os jovens.
"Obrigado querida, tire as correias que os prendem! Ficaremos aqui até que eles sejam levados para o hospital. Veja se acha suas roupas e seus pertences pessoais! Talvez consigamos encontrar algum documento que os identifiquem! Sabemos seus nomes mas não exatamente quem é quem!" Ariana sai rapidamente em direção as camas.
Dr. Colombo olha para a janela e continua falando como se fosse para si mesmo:
"Bom, lobo, voltando ao Black Bloc, a palavra Black como você deve saber significa negro mas a palavra Bloc geralmente é confundida com Block. Block é apenas uma bloco de madeira sólida mas Bloc é na verdade um agrupamento de pessoas movidas para uma ação conjunta ou propósito comum. Então, Black Bloc é o nome dado a uma tática de ação direta, de tendência anarquista, empreendida por grupos ligados por algum tipo de afinidade que se reúnem, mascarados e vestidos de preto, para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem. Black Bloc é basicamente uma estrutura efêmera, informal, não hierárquica e descentralizada. Unidos, seus integrantes pretendem adquirir força suficiente para confrontar as forças da ordem."
"A tática surgiu na Alemanha, nos anos 80, como tática utilizada por autonomistas e anarquistas para a defesa de squats (ocupações) contra a ação da polícia e os ataques de grupos neonazistas. Posteriormente, em 1999, suas atividades ganharam atenção da mídia fora da Europa, durante as manifestações contra o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Seattle, quando grupos mascarados destruíram fachadas de lojas e escritórios do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de grandes empresas."
"Ao contrário do modus operandi de outros grupos anticapitalistas, os integrantes do Black Bloc realizam ataques diretos à propriedade privada, como forma de chamar a atenção para sua oposição ao que consideram símbolos do capitalismo - as corporações multinacionais e os governos que as apoiam."
"As roupas e máscaras pretas - que dão nome à tática e, por extensão, também aos grupos que dela se utilizam - tanto visam proteger a integridade física dos indivíduos quanto garantir seu anonimato, caracterizando-os, em conjunto, apenas como um único e imenso bloco."
"Inicialmente as grandes redes de comunicação de massa difundiram o entendimento de que o Black Bloc seria uma organização internacional. Mais recentemente, ficou claro que Black Bloc não é uma organização ou grupo mas uma tática utilizada por vários indivíduos anticapitalistas, que não mantêm muitas conexões entre si. Na mesma manifestação, podem formar-se diversos blocos negros, com diferentes objetivos e ações. Esses blocos podem até mesmo entrar em confronto entre si, a exemplo do que ocorreu em 2001 nos protestos contra o G8, em Gênova e, em 2007 em Montebello (Quebec), durante a Cúpula de Líderes da América do Norte, coma participação dos Estados Unidos, México e Canadá. Neste encontro, também conhecido como Three Amigos Summit ou "Cúpula dos Três Amigos" alguns policiais infiltraram-se no Black Bloc. A polícia negou que os agentes tivessem atuado como provocadores, mas um dos policiais infiltrados foi filmado com uma grande pedra na mão."
"Lobo, como é sabido, no principio, as manifestações contra o governo aqui em São Paulo foram espontâneas e legítimas! Realmente não há como não estar a favor do fim da corrupção governamental, punição aos culpados, restituição do dinheiro público roubado e investimento maciço na saúde, segurança e educação. No entanto, logo percebemos o movimento Black Bloc em ação. Conforme as semanas foram se passando o Black Bloc foi sendo contaminado por elementos comprados pelo pessoal da ultradireita com a única finalidade de desestabilizar o sistema democrático brasileiro. A verdade é que o nosso governo eleito popularmente é muito lento para reagir, tanto às denúncias de corrupção quanto aos ataques da direita. 12 anos se passaram mas, parece-me que o governo ainda não aprendeu à fazer "o discurso do poder", ainda continuam no passado fazendo "o discurso da oposição"."
"Bom, os poucos que tiveram coragem de falar alguma coisa à respeito deste assunto, a maioria na Internet , nas redes sociais apontaram o dedo para Dr. Homero Martello di Montagna como o cabeça de uma rede de extrema direita que inclui políticos, juízes, advogados corruptos e, pasmem, até o próprio PCC. Quando foi que você ouviu falar que a Ordem dos Advogados do Brasil caçou a licença de um destes juízes. Você, mais do que ninguém, está cansado de prender bandido para eles serem soltos no outro dia."
"Mundialmente o Black Bloc geralmente é formado por anarquistas e integrantes de movimentos formados por grupos anticapitalistas ou de antiglobalização mas, no Brasil, como sabemos, tinha que ser diferente. Aqui, o Black Bloc está infiltrado de capitalistas racistas e preconceituosos que não piscariam duas vezes se pudessem dividir o nosso país em dois. O povo brasileiro desesperadamente quer fazer parte do Primeiro Mundo mas está forrado de contradições!"
Lobo comenta:
"É, ainda recordo-me vivamente que, no começo dos anos 80, os Skin Heads em São Paulo estavam aterrorizando o pessoal do Rock. Na periferia estavam até matando gente. A imprensa só ficava calada. Um dia num show um bando de Skin Heads armados de machadinhas arrumaram a maior briga. No meio deles pude ver um dos seus líderes, ele era negro! Nunca vi tanta ignorância na minha vida porque, sabia muito bem que o movimento Skin Head em que este povo se inspirava era um movimento Neonazista originário da Alemanha responsável por perseguir os imigrantes Turcos, ciganos, ser contra os negros, homossexuais e qualquer minoria. Um Skin Head negro é uma impossibilidade a maior das contradições possíveis! Bom que dizer? O Brasil é assim mesmo! Por causa das últimas eleições, no momento, vivemos uma situação tão absurda que até nordestino odiando nordestino! Bom, este é um assunto complexo e em constante mutação... Desculpe-me Colombo, estou até divagando... Por favor, Continue!"
Dr. Colombo, com uma expressão intensa, continua:
"Veja estes abaixo assinados e passeatas pedindo o impeachment da nossa Presidente. A mulher acaba de ser reeleita pela maioria da população. É certo que não foi uma vitória esmagadora. Ela ganhou raspando mas, ganhou de acordo com as leis eleitorais em vigor. Agora, aqueles que perderam estão acusando o governo de fraude. Diga-me quantas vezes neste Planeta os perdedores não aceitaram a sua derrota nas urnas? Dos Estados Unidos à Índia, todos os que perderam reclamaram. Veja bem, um país com as nossas dimensões e importância geopolítica, inserido dentro de um contesto multinacional que o coloca entre os países com tudo para ser em um futuro próximo uma potência de respeito, que esta lutando por uma cadeira na ONU, iria correr o risco de ser pego numa fraude eleitoral destas proporções? Por outro lado, acusar neste exato momento a Presidente de corrupção é muito oportunismo não acha? Quer dizer, este impeachment só tem uma finalidade, desestabilizar o governo na tentativa de criar um clima de guerra civil. Eu lhe pergunto, além da classe média, quem mais está sendo usado como massa de manobra? O Black Bloc é claro! Isto cria uma situação difícil porque a atuação do Black Bloc destruindo propriedades particulares é claramente ilegal e, portanto, exige intervenção policial mas, por outro lado, a intervenção policial pode servir aos propósitos da direita que é radicalizar o povo. Só falta agora, numa manifestação matarem uma dona de casa ou um estudante para que sejam carregados na frente da passeata. Acho que já vi esta história antes! Lobo, se prendermos este homem eu duvido que ele passe uma hora na cadeia! Será mais fácil nós sermos presos!"
Lobo olha para Dr. Colombo aproxima-se da sua orelha e sussurra:
Temos que pega-lo com a mão massa e esperar que ele reaja! Quero que este Doutor Homero acabe terminando na sua mesa de autopsia!
Parte VII
Lobo nem chega no UEIC e seu celular toca. É Adriana Medeiros a Chefe do Departamento de Imprensa.
"Aqui é a Adriana! Lobo estou muito decepcionada! Pensei que tínhamos feito um acordo..." Lobo a interrompe:
"Não sei do que você está falando..." Agora é ela que o corta:
"Não sabe é? Acabei de receber uma ordem vinda diretamente do gabinete da prefeitura dizendo que estou proibida de passar qualquer informação para imprensa sobre o seu caso!"
"Cara Adriana, acabei de chegar da rua, depois de uma ação importante onde descobrimos que tem gente poderosa envolvida nesta história... "Enquanto ele fala, seu chefe, o Capitão Miranda, aparece na porta da sala. Sua expressão é muito tensa. Antes de desaparecer, ele com o dedo indicador aponta para o andar de cima, intimando Lobo para uma reunião imediata."
"Adriana a coisa está brava! O Capitão Miranda quer falar comigo imediatamente! Tenha paciência, falo com você assim que for possível!" Lobo, sem dar chance para resposta, desliga o telefone e, andando rápido, caminha atrás do Capitão. Ele o alcança no final da escada. O Capitão abre a porta da sua sala e já aponta para a cadeira em frente da sua mesa. Ele trava a porta por dentro e caminha para o outro lado da mesa. Senta-se na sua enorme cadeira estofada e, por alguns instantes, olha atentamente para Lobo que, impaciente já tem uma ideia do que está por vir.
"Lobo, à quantos anos nos conhecemos?" Começa o capitão.
"À muito tempo, desde os tempos da academia..." Lobo nem tem tempo de terminar a frase e o capitão já está falando novamente:
"É, eu devia ter feito como você e não aceitado a minha promoção. Não nasci para a política! Este cargo só tem me dado dores de cabeça! Veja bem, acabo de receber uma ligação anônima. A pessoa do outro lado da linha, um homem que não quis identificar-se, dizendo apenas que era um dos assessores do prefeito alertou-me que minha carreira está por um fio e que eu deveria pensar na segurança física da minha família. Ele disse que você está brincando com explosivos e que eles não só explodirão na sua cara como também na minha. Disse que gostaria de deixar bem claro que o Dr. Homero Martello di Montagna é uma pessoa intocável e qualquer tentativa de leva-lo à justiça terminará com muitas mortes..." Lobo interrompe:
"Miranda, o que é isto! Já tivemos ameaças de morte outras vezes!"
"Lobo, o filho da puta, sabia o endereço da minha casa e até o nome da minha esposa e meus filhos, onde estudam... Ele disse que não posso nem confiar na própria polícia!"
"Miranda, você já ativou nosso plano de emergência!"
"Sim, já convoquei nosso pessoal de confiança, nossos companheiros desde o tempo da academia. Já tem uma viatura parada lá na porta de casa. Me conta como foi lá na clínica e o que este tal de Doutor Homero tem à ver com isto?"
Lobo faz uma exposição detalhada de tudo o que aconteceu até aquele momento. No final ele repete o mesmo que disse para Dr. Colombo, dizendo que acredita que a única solução para o problema seria flagrar Doutor Homero cometendo uma ação criminal, esperando que ele reaja para que ele seja eliminado de uma vez por todas. O capitão que escutava tudo com a máxima atenção comanda:
"Estes dois auxiliares do Doutor Homero precisam ficar presos aqui conosco, isolados um do outro e em segurança máxima. Vamos manter a coisa em sigilo até que consigamos fazer estes canários cantarem e entregarem todo mundo!"
"Como estes canários pensam que são águias, coloquei-os para meditar, encapuçados, amarrados em cadeiras, isolados lá no porão, em completo silêncio. Vamos começar com um pouco de limitação sensorial, mais tarde, pela madrugada, colocamos aquelas gravações de gente gemendo e gritando. Amanhã, faremos umas ameaças e deixamos eles sentados mais umas horas nas suas próprias fezes. Até agora nunca falhou!" Informa Lobo.
"Lobo, poupe-me destes detalhes, apenas dê um jeito de eliminar este tal de Homero e, rapidamente vá fundo e pegue todo mundo! Se não der para pegar todo mundo espero que, pelo menos os que sobrarem fiquem com medo e sosseguem o rabo." O capitão, pega na sua mesa um pequeno porta-retratos da sua família, aprecia a foto e comenta quase para si mesmo:
"Acho que está na hora do meu povo tomar aquelas férias que venho prometendo à muito tempo." E com um sorriso forçado diz:
"Vou mandar todo mundo para a Disneylândia! A criançada vai adorar!"
"Miranda, estava até esquecendo de informar-lhe que, acabei de receber uma ligação da Adriana Medeiros. Ela estava muito brava porque tinha acabado de receber uma ligação da prefeitura proibindo-a divulgar este caso!"
"Você ainda tem contato com o nosso amigo Pacheco do Estadão?" Pergunta Miranda.
"Claro!" Responde Lobo.
"Sugiro que convide Adriana Medeiros e Pacheco para um encontro sigiloso. Veja se vocês armam para soltar tudo no Estadão como se alguém tivesse vazado a história sem a nossa permissão!" Miranda conclui o encontro, levantando-se e conduzindo Lobo até a porta. Miranda aperta a mão de Lobo ao mesmo tempo que diz:
"Caro amigo desejo-lhe sorte!" No que, Lobo responde usando o lema de ação da academia:
"Tudo por São Paulo!"
Parte VIII
Gomes, está vivendo um redemoinho de emoções. Este é o primeiro caso que, como parte da equipe, participa ativamente. Em um curto espaço de tempo ele conseguiu ganhar o respeito de todos. Até Bacio que, apesar de ser o chato de sempre, agora quando lhe dirige a palavra já mostra um pouco mais de respeito.
Gomes, com seu rosto gordinho, cabelos curtos e cara de garotão crescido sente-se esgotado emocionalmente.
Na sua exaustão, como num sonho, visualiza numa balança, na bandeja de um lado, o bem, representado pela "doutora do seu coração", a bela Ariana Maia e, na outra bandeja, o mau representado pela figura do Doutor Homero que, como nas histórias em quadrinhos, para ele, transformou-se no grande vilão, seu arqui-inimigo. Neste seu universo mental, que mistura fantasia com realidade, ele é Tor, o gênio da Internet que salvará o dia e ficará com a princesa.
Ele entra no seu quarto, cansado mas, com um ar de determinação no seu rosto, tira seu laptop da sua bolsa colorida que mais parece uma bolsa de surfista e coloca-o sobre a mesinha. Puxa uma cadeira, levanta a tampa do seu laptop. O mesmo já estava ligado e ele só aperta a tecla barra de espaço para acorda-lo.
Surpreendentemente, ele ignora o seu navegador Tor e abre o FireFox. Com dificuldade, ainda sentado, enfia a mão no bolso de trás da sua calça jeans e retira um pedaço de papel. Desdobra-o sobre a mesa. Nele está escrito o endereço URL da sala de conversa, do chat do Doutor Sands. Sem usar Proxy, Firewall ou qualquer tipo de proteção ele faz o seu login digitando o seu Nome do Usuário e sua Senha. Ele entra no chat:
Jim Briskin: Dr. Sands? |
Quase cinco minutos se passam até que Dr. Sands responda:
Dr. Sands: Olá Presidente! |
Numa sala iluminada apenas pela luz emanada por cinco telas planas Doutor Homero trabalha freneticamente. Numa das telas está rodando o chat e nas outras, simultaneamente, vários programas de hacking. Todos com o único objetivo "crackear" e descobrir quem realmente é Jim Briskin. Ele digita com uma velocidade impressionante.
Sua expressão parece fria e calculista.
O mundo está desmoronando à sua volta mas, Doutor Homero parece não perceber e continua achando que mantém o controle da situação. Ele parece estar gostando do desafio.
Numa das telas, uma barra e progressão começa avançar ao mesmo tempo que surge uma contagem regressiva de 30 segundos. Quando ela termina, numa pequena janela flutuante aparece escrito:
Endereço do IP de Jim Briskin: 82.120.196.276 |
Enquanto isto Gomes (Jim Briskin) já respondeu à última mensagem de Homero (Dr. Sands)
Jim Briskin: Quem sou eu para questionar suas escolhas? Eu sou mais do que o Detetive Deckard, mais do que um Blade Runner! Sou o próprio escritor, eu sou Phillip K. Dick, eu sou o Deus que criou você e agora vai apagá-lo! Dr. Sands: Muito inteligente! Mas, tenha cuidado com o que deseja! |
Doutor Homero, responde rapidamente e, no teclado ao lado, do outro computador, digita a sequência numérica do IP de Gomes. Em outra tela uma busca complexa inicia-se imediatamente.
Jim Briskin: Não vejo a hora de poder transplantar todos os seus órgãos numa... minhoca! Dr. Sands: Meu filho, você não tem a mínima ideia de com quem está brincando, seu fim será mais rápido do que você imagina! Jim Briskin: Continue sonhando! |
Em um dos computadores de Dr. Homero a busca é completada. Na sua sala uma das telas dá uma piscada e, imediatamente abre-se uma página cheia de informações:
Endereço IP: 82.120.196.276 Registro do IP: Luiz Alberto Gomes Host do IP: cpc14-dals18-2-0-cust215.20-2.cable.future.net Organização: Futuro Comunicações ISP: ProvedorFuturo Sistema Operacional: Mac OSX Navegador: Mozilla Firefox Endereço do IP: Avenida Arnaldo Baptista, número 17. CEP: 04019-052 Cidade: São Paulo Estado: São Paulo País: Brasil Zona de Tempo: América do Sul/São Paulo Data e Hora Local: 10.11.2014 19:37:58 Proxy: Nenhuma Proxy Detectada |
Doutor Homero dá uma enorme gargalhada e, em voz alta fala para si mesmo:
"Tinha certeza que este maledetto era apenas um amador barato!"
Dr. Sands: Caro Mister Gomes, não tenho mais tempo para as suas infantilidades. Fique certo de que o nosso próximo encontro será pessoalmente! Jim Briskin: Não vejo a hora... |
Gomes não consegue digitar toda a mensagem pois, o chat é interrompido abruptamente e a página sai do ar.
Gomes fecha o seu laptop. Levanta-se, enfia a mão no bolso da frente da sua calça e tira a sua carteira, de uma das divisórias retira um minúsculo saquinho plástico contendo apenas um pequeno comprimido. Lembra das últimas palavras de Dr. Colombo:
"Gomes, entendo que você não esteja conseguindo dormir. Acredite-me quando digo que entendo as suas razões. Por outro lado, normalmente, não gosto de prescrever medicação mas neste seu caso farei uma exceção. Lhe darei apenas um comprimido. Acredite-me, ele está proibido tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido mas aqui no Brasil, que mais parece a casa da sogra, não! Este comprimido é bom mesmo, o bicho é poderoso mas, é perigoso porque vicia. Por isso estou lhe dando apenas um! Tome e dormirá tão profundamente que, nem estes estúpidos que gastam dinheiro soltando fogos nos dias de jogo de futebol conseguirão acorda-lo!"
Parte IX
Gomes é filho único e desde que seus pais morreram continua morando na mesma casa, não só a casa em que ele nasceu, como também a que nasceu seu próprio pai. Primeiro faleceram seus os avós e, depois, um a um seus pais. Ele acabou ficando só mas, sente-se bem nesta casa antiga e mau cuidada. Para ele, não existe lugar mais acolhedor.
Como um nerd que se preza, dentro de sua casa reina o caos organizado. Pilhas de revistas, jornais, manuais técnicos e livros estão por todos os lados. Velhos e obsoletos hard drives servem como peso para papeis e, carcaças de velhos computadores, alguns abertos, mostrando pedaços da placa mãe aparentemente carbonizados estão empilhados num canto da sala. Nesta sala, duas grandes caixas acústicas, uma velha vitrola e muitos vinis deixam claro que a casa ouviu muita música no passado. Um violão velho parece adormecido sobre um sofá todo empoeirado e mais velho ainda. Certamente, a presença de uma mulher ajudaria à por ordem na casa.
É uma fria madrugada, e um cortador de vidro, faz uma marca circular no vidro de uma das janelas da sala. Com o círculo completo uma mão usando luvas negras ainda usando o cortador de vidro corta o círculo em várias direções. O círculo fica parecendo uma pizza transparente. Então, usando uma larga fita adesiva, a mão cola-a por cima de todo o círculo. Na sequência, percebemos quando Dr. Homero, usando um martelo de borracha, dá uma rápida más precisa martelada no círculo. O círculo parte-se exatamente como se fossem pedaços de pizza mas, para surpresa, não caem para dentro da casa. Ficam todos presos na fita adesiva.
Com cuidado, Dr. Homero retira a fita adesiva que vem com todos os fragmentos de vidro grudados nela. Ele enfia a mão pelo buraco do vidro e puxa o fecho da janela. Então, abre a janela cuidadosamente e entra na casa. Da sua bolsa primeiro tira uma pequena lanterna e depois uma arma, trata-se de uma antiga pistola Luger alemã com silenciador.
Uma pistola Luguer com silenciador.
Ele caminha cautelosamente, como se estivesse andando sobre um campo minado. Vai lentamente, quarto a quarto, com paciência, fazendo o reconhecimento da casa ate que chega ao quarto de Gomes.
Numa cama de solteiro, está Gomes todo encolhido e coberto da cabeça aos pés.
Dr. Homero aponta a sua arma para aquele corpo e diz:
"Eu presenciei coisas que vocês do povo não acreditarão. Vi naves de ataque pegando fogo nos ombros de Orion. Vi Raios-C brilhando no escuro, perto de Tannhäuser Gate." Seus olhos loucos, com sabor de vitória, brilham na penumbra. Ele balança sua cabeça fazendo um sinal de negação e continua:
"Todos estes momentos, serão perdidos no tempo como lágrimas... na chuva. É tempo de morrer!" Doutor Homero aperta o gatilho ao mesmo tempo que grita:
"Maledetto! Maledetto! Maledetto!"
Suas palavras coincidem com o som de três tiros mofados pelo silenciador. As balas perfuram a coberta que cobre totalmente Gomes. Do lado de fora da janela, três rápidos clarões silenciosos iluminaram o quarto.
Quase simultaneamente com o terceiro tiro, de um canto escuto do quarto, parte um quarto tiro, desta vez, sem silenciador. Ele acerta Doutor Homero na cabeça. Ele cai ao chão imediatamente. A luz se acende. Em pé ainda com uma mão no interruptor está Lobo empunhando a sua arma. Ele aproxima-se e chuta mais para longe a arma de Homero.
Homero ainda está vivo. Ele tenta balbuciar alguma coisa. Lobo afasta-se do corpo até a posição onde ele estava antes e, de lá despede-se dizendo:
Adeus Homero! O seu tiro de misericórdia o acerta bem no peito. É fatal!
Como Lobo havia deixado o seu celular com Bacio, vai até a janela e pisca sua lanterna para um carro parado não muito distante dali. Rapidamente chegam Bacio e Luana.
Lobo pergunta:
"Os microfones funcionaram? Vocês ouviram o que ele falou? Que loucura foi aquela?
Bacio que, como Luana, está contemplando o corpo responde:
"Porca miséria Boss, o senhor não assistiu o filme Blade Runner? Pelo que entendi, Dr. Homero identificou-se com o personagem Roy Batty representado maravilhosamente no filme pelo ator Rutger Hauer. Neste filme Roy Batty é um Replicante, um ser humanoide criado em laboratório, inteligente forte, ótimo soldado, mas que só vive 4 anos. Roy Batty volta à Terra para localizar o seu criador e assim tentar prolongar a sua vida. Então, Doutor Homero identificou Gomes, o nosso Tor, como sendo o detetive Deckard vivido no filme pelo ator Harrison Ford. Deckard é um Blade Runner, nome dado aos exterminadores de Replicantes! O que Homero falou para Tor antes de atirar, foi justamente o mesmo que Roy Batty falou para o detetive Deckard no final do filme! Aliás, não só atuação de Rutger Hauer foi fenomenal mas, é de conhecimento público que este diálogo famoso foi criado e sugerido pelo próprio Rutger durante as filmagens! Blade Runner depois do filme 2001 Uma Odisseia no Espaço é meu filme de Ficção Científica preferido!"
Estou vendo! Lobo responde e continua olhando Bacio em silêncio, totalmente incrédulo.
Boss, loucura ou não, este Homero aí no chão, terminou exatamente como Roy Batty no filme... bem morto!
Lobo, parecendo sair de um estado de transe, de repente parece acordar:
Bacio, vamos deixar o Dr. Colombo dormir esta noite. Fotografa a cena e coloca uma viatura na porta desta casa até amanhã bem cedo. Bom, vocês já sabem o que fazer! Bacio quero que assuma tudo por aqui. Tenho que retornar para o UEIC imediatamente. Esta morte vai dar o que falar e eu tenho que preparar o circo! Minha noite ainda não acabou!
Lobo sai correndo e Bacio olha para Luana, todo imponente:
"Agora quem é o Boss aqui?"
"Você Bacio!" Mas não folga não, porque você pode sair com um nariz de batata! Depois, não diga que não te avisei! Capiche?
Bacio ignora a dura, retorna para o carro e, do rádio pede uma viatura, depois, pega sua câmera e sai fotografando tudo!
Parte X
Algumas horas antes...
Vemos o interior de um apartamento. Ele é pequeno mas bonito e moderno. O lugar é mobiliado com bom gosto e sem exageros. Escutam-se barulhos de chaves, a maçaneta da porta movimenta-se e a porta abre. Ariana Maia entra ainda com as chaves nas mãos acompanhada por Gomes que entra todo sem jeito.
"Tor, sinta-se em casa!" Ela parece alegre e feliz.
"Ariana, desculpe-me por esta invasão de privacidade! Foi muita gentileza sua oferecer-se para abrigar-me por esta noite!"
"Querido, esta e outras noites se forem necessárias! O jantar foi bom, não foi?" Ela pergunta.
"Foi ótimo! Não conhecia aquele restaurante! Você vai sempre lá?" Ele pergunta.
"Sim, fica próximo aqui de casa, tem qualidade, preço bom e é acolhedor. Só faltava uma boa companhia! Agora completou!"
"Você é muito gentil...(bocejando) onde vou dormir, desculpe-me mas foi um dia e tanto!"
"Junto comigo ali, na cama de casal..." Ela aponta para a porta do quarto que está aberta falando com um suave sorriso malicioso. Gomes, nunca fez amor, ele fica travado e nem sabe o que dizer...
"O dois entram no quarto que, na verdade, é uma suíte. Ela discretamente pega rapidamente algumas peças de lanjery e, chutando os sapatos, caminha para o banheiro dizendo:
"Como disse, fique à vontade que vou me preparar."
Gomes senta-se na beira da cama, da sua bolsa tira uma garrafa de água, pega o comprimido fornecido por Dr. Colombo, coloca-o na boca e, manda-o para baixo com um gole d'água.
Enquanto isto, dentro do banheiro, Ariana veste um baby-doll preto muito sexy e perde tempo embelezando-se, maquiando-se, perfumando-se, acertando o cabelo. Na verdade, ela nem precisava de nada disto pois ela já é naturalmente muito atraente.
Ela dá uma última olhada no espelho e, ao mesmo tempo que abre a porta em direção ao quarto, fala toda sensual:
"Está preparado querido?"
Para sua surpresa e decepção, Ariana encontra Gomes deitado na cama, ainda todo vestido, encolhido e agarrado ao travesseiro como um bebe. O homem está num sono profundo e até ronca.
Desapontada ela olha para ele e fala para si mesma:
"Paciência, ainda não será hoje! Mas amanhã ele não escapa!"
Parte XI
No outro dia bem cedo, na central do UEIC, o dia ainda nem bem começou e todos ja estão muito exaustos.
Bacio e Lobo ainda usando as roupas do dia anterior conversam:
“Boss tudo está correndo de acordo com os planos?" Pergunta Bacio.
"Já colocamos o Homero na geladeira do Dr. Colombo, os canarinhos estão cantando como nunca e ordens de prisão estão sendo emitidas aos montes. Já tive uma reunião de emergência com Adriana Medeiros juntamente com meu amigo Pacheco do Estadão. A hora que a bomba estourar na imprensa a única reação que espero é o silêncio total por parte deste bando de corruptos!" Fala Lobo.
Haja cadeia Boss! Complementa Bacio.
"É mas, não podemos baixar a guarda porque eles ficarão de tocaia como hienas esperando um oportunidade para vingarem-se." Comenta o Tenente.
“Mardito fiapo de cana!” Bacio fala, sorrindo, com um sotaque caipira.
Lobo olha para ele surpreso:
"Parabéns Bacio! Andou escutando a banda Joelho de Porco!"
“Sim Boss! Realmente os caras são bons! Porque será que eles não são mais conhecidos?” Pergunta Bacio.
Lobo olha para Bacio, balança a cabeça e responde:
“Porque isto aqui é Brasil!”
Luana e Dr. Pacheco aproximam-se dos dois. Em pé ali no meio da sala, cada um com um copo de café nas mãos, todos ficam discutindo os fatos da noite passada quando Gomes e Ariana Maia entram na sala. Ela parece muito feliz mas Gomes mais parece um bobo, ele caminha com um sorriso estampado na face que vai de orelha a orelha.
"Porca miséria Boss! Olha só a cara do Tor!" Bacio como sempre não poderia deixar passar...
Todos olham para ele e riem, inclusive Ariana e o próprio Gomes que parece não entender o que está acontecendo. Ariana fala:
"Tor querido, vou pegar um café você quer um?"
Ele procura fazer uma cara séria, concorda com a cabeça, aproxima-se de Lobo e pergunta:
"Boss, você pegou Homero?"
"Sim este não incomoda mais ninguém mas, infelizmente por segurança, seria bom você não dormir em sua casa por alguns dias."
Ele olha para Ariana que está aproximando-se trazendo seu café e com um sorriso no rosto fala:
Boss não tem problema!
Começa tocar a música São Paulo executada pela banda 365.
No dia seguinte
O dia nem começou e vemos uma perua de entregas descarregar uma pilha de jornais em frente de uma banca. Na capa do Estadão lê-se:
DR. HOMERO MARTELLO DI MONTAGNA MORTO |
• O Dr. foi responsável pelo assassinato de 5 pessoas cujos corpos foram encontrados queimados próximo à estações do Metro.
• Médico comandava quadrilha de traficantes de órgãos humanos. • Laboratório de Análises Clínicas Metrópole era a fachada. |
• O grupo foi financiado com dinheiro conseguido com assaltos à bancos.
• O grupo mantinha relações com grupos de ultradireita e também com PCC. • Gente de muito poder e dinheiro estão envolvidas. As prisões já começaram! |
(continua nas páginas 5 e 6) |
Voltam as tomadas aéreas da cidade de São Paulo, desta vez, feitas de dia. Vemos o Parque do Ibirapuera seguido por uma visão da Avenida Paulista que é seguida por uma visão do Pico do Jaraguá mostrando ao longe o centro de São Paulo formado por milhares de prédios formando um enorme paredão de concreto. Desta cena, pulamos para uma vista das marginais do Tiete ao anoitecer. A cena muda para o interior de um clube onde a banda Made in Brazil está fazendo um show. Entre a plateia vemos Bacio, Luana, Tor, Ariana e Dr. Colombo. Todos com copos de cerveja nas mãos, felizes e descontraídos. A cena muda novamente, e estamos dentro de uma cantina tipicamente italiana, num cantinho, apenas iluminado por velas, Lobo e Adriana Medeiros conversam intimamente. A imagem congela-se quando eles, sorrindo, levantam seus copos de vinho e fazem um brinde.
Fim
NOTA IMPORTANTE Esta história é uma obra de ficção! Qualquer semelhanças com pessoas ou fatos reais da realidade brasileira são meras coincidências! |
Vistas da cidade de São Paulo à noite.
Fique sabendo mais sobre esta história e seus personagens
Ideia Central: | UEIC/SP - Unidade Especial de Investigações Criminais - Time Especial do Departamento de Polícia da capital de São Paulo. Soluciona crimes usando as mais avançadas técnicas de campo e criminalística. Programa inspirado na série Norte Americana NCSI. | |
Personagens Principais: | Tenente Lobo (O Comandante do grupo) Sargento Bacio (Detetive) Sargento Bello (Detetive) Dr. Colombo (Patologista) Dra. Maia (Bióloga especialiada em testes de DNA e outras técnicas avançadas) Dr. Gomes (Engenheiro especialista de computação e hacker) |
Roberto Vicente Lobo Marco Francesco Bacio Luana Bello Montalbano Colombo Ariana Maia Luiz Alberto Gomes |
Personagens Secundários: | Capitão Miranda (Comandante Geral da Polícia)
Adriana Medeiros (Chefe do Departamento de Imprensa e Relações Públicas da Polícia Militar - DIRP) |
|
Visual: | A capital de São Paulo, uma grande metrópole com todos os seus problemas e vícios. | |
Sons: | Os sons da cidade com seus vendedores ambulantes, tráfico, etc. Musicalmente dando prioridade para Rock Brasileiro dentro de um contexto urbano. | |
Inter-relacionamento dos Personagens: |
A química interpessoal dos personagens principais é fundamental para mantém a história coesa. É o Comandante Lobo com seus muito anos de experiência que mantém o grupo focado. Sempre durante ou antes das discussões técnicas a vida particular e os conflitos de cada um dos integrantes se misturam com a história dando um tempero único, todo brasileiro. Longe de discutir política em termos partidários, o programa pretende de forma sutil apoiar conceitos de ética e moral sem ser paternalista mostrando com exemplos as lutas e mesmo as tentações colocadas no dia-a-dia do seu trabalho. |
Conheça melhor o Tenente Lobo
Papel na História: | Lidera, coordena, ensina e é referência moral para os seus homens. |
Ocupação: | É comandante do grupo especial que resolve casos referentes à crimes seriais, de terrorismo ou que envolva policiais da Polícia Militar ou Militares do Exército. É o único membro do grupo com acesso direto aos serviços de inteligência do Exercito Brasileiro. |
Descrição Física: | Pouco mais de 40 anos. Estatura normal. Bronzeado de tanto trabalhar na rua. Usa óculos de grau apenas para leitura próxima ou examinar alguma coisa. Raramente usa óculos de sol. Geralmente usa calça jeans sobre um coturno preto sempre brilhando. Veste sempre uma camisa social branca, sem gravata. Usa bigode e um cavanhaque imaculadamente cortado. Está sempre bem barbeado. |
Personalidade: | É muito sóbrio e procura nunca dividir seus problemas particulares com seus subordinados. Aliás, ele é sempre um pouco distante. Recusa-se sempre à tomar uma cerveja com o grupo depois do expediente. Aliás, expediente este que geralmente nunca obedece horários e coloca sempre seus subordinados em situações difíceis com a família e amigos. Extremo senso de justiça mas, facilmente irritável. Não gosta de se explicar quando determina uma tarefa. Expressão séria, riso controlado, quase inexistente. Solitário e triste. Não aceitou oferta de promoção pois não gosta de burocracia, ficar sentado atrás de uma mesa e nem a politicagem que venha com o cargo. De forma educada mas direta fala sempre o que pensa para os seus superiores. Entretanto com seus subordinados às vezes pode ser bem duro. |
Hábitos/Maneirismos: | De vez em quando deixa transparecer pequenas falhas humanas, incoerências e estranhos hábitos. Exemplo: Não é religioso mas, em certa circunstâncias, é capaz de acender uma vela, dentro de uma igreja para alguém. Tem uma visão científica mas não brinca com religião. |
Conflitos Internos: | Deus é uma ilusão porque, se existisse, porque permitiria tanta maldade e violência? Não acredita no conceito religioso do livre arbítrio. Tenta entender o porque da maldade no ser humano. |
Conflitos Externos: | Lobo é viúvo do seu segundo casamento. Tem uma filha do primeiro que não fala com ele. Sua segunda mulher morreu acidentalmente durante um roubo numa agência bancária. Uma bala perdida causada pelo confronto entre os bandidos os seguranças da agência, atravessou um dos seus olhos e foi alojar-se no seu cérebro, sua morte foi instantânea. Os estudos de balística provaram que a bala que matou sua esposa não veio dos seguranças e sim dos bandidos que, infelizmente, nunca foram presos. Lobo guarda esta bala num pequeno frasco e confronta-a com todas as balas que colhe durante o seu trabalho. Seus subordinados sabem disto mas não comentam. Lobo quer encontrar o bandido que matou sua esposa mas ao mesmo tempo tem medo de sua reação quando isto acontecer. Ele sabe que não pode fazer a lei com as suas próprias mãos mas, acredita no seu íntimo que em certos casos a prisão é pouco! Seu pai foi militar do exército e participou de operações de conteúdo questionável. Ele ama seu pai mas não consegue conciliar o fato dele, um homem tão culto e amoroso para com a família, desobedecer as leis mais básicas da ética e moral torturando outros seres humanos. Ele de certa segue a carreira do seu avo e pai mas, procura fazer a diferença, interrompendo o círculo vicioso da violência gratuita. Esta tarefa é sempre difícil e questionada pela sua consciência o tempo todo onde mais de uma vez, por circunstâncias contra a sua vontade, ele acredita ter cruzado a linha entre o que é certo e o que é errado. |
Gosto Musical: | Gosta do rock brasileiro e sua banda preferida é a banda Made in Brazil. Ele gosta também do Blues e do Hard Rock internacional, principalmente do rock inglês. |
Listagem das bandas desta trilha sonora
Nº | Nomes das Bandas | Nomes das Músicas | ... dos Álbuns |
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 |
Mutantes Patrulha do Espaço AntiOxidante Vulcano 365 Jair Oliveira Mutantes Mutantes Terço Peso Azul 29 Olho Seco Inocentes Made in Brazil Ira! Patrulha do Espaço Cólera Prime Mover Joelho de Porco Homem com Asas Som Nosso de Cada Dia |
Jardim Elétrico São Paulo City Violência Tormented São Paulo São Paulo, Fim Do Dia Cidadao da Terra A Hora e a Vez do Cabelo Nascer Lagoa das Lontras Lúcifer Metrópole Nada Pânico em SP Paulicéia Desvairada Pobre Paulista Sai Dessa Vida São Paulo São Paulo Sao Paulo by Day Sao Paulo City Bicho do Mato |
Jardim Elétrico ComPacto AntiOxidante Wholly Wicked 1987/1997 Coletânea Sampa Nova Coletânea Tudo Foi Feito Pelo Sol Mutantes e Seus Cometas… Terço Em Busca do Tempo Perdido Compacto Botas, Fuzis e Capacetes Pânico em SP Paulicéia Desvairada Geracao Pop Patrulha do Espaço Tente Mudar o Amanha My Experience São Paulo 1554 - Hoje Tributo a Patrulha do Espaço Snegs |