Sérgio Facci: V Project e o “V” da "Volta"!
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Sérgio Facci. Foto: Ricardo Ferreira.
...foi baterista nas bandas Vodu, Viper e Volkana
2015
Barbieri comenta: Com mais de 30 anos na estrada do Rock Paulista, Sérgio Facci é sem dúvida um dos grandes bateristas do metal brasileiro. Seu profissionalismo e devoção tanto ao seu instrumento como ao rock nacional faz dele um exemplo para as novas gerações de músicos. Conheço Sergio desde os tempo da banda Vodu, banda que com certeza produzi, lá pelo meio dos anos 80, pelo menos 3 shows. Mas foi só quando escutei as gravações que fiz do show ao vivo da banda Volkana no Dama Xoc (incluído nesta página) que realmente percebi o seu virtuosismo como baterista. Sérgio Facci realmente merece o reconhecimento de toda a comunidade roqueira brasileira.
Sérgio Facci: V Project e o “V” da "Volta"!
Escrito por Leandro Nogueira Coppi para BrasilMetalHistoria
Aqueles que acompanharam o cenário metal brasileiro entre as décadas de 80 e 90, certamente se lembram do lendário baterista Sérgio Facci, devido aos seus trabalhos prestados ao lado das bandas, Vodu, Viper e Volkana. Com as três bandas, Sérgio gravou álbuns que até hoje são considerados clássicos. Passados 20 anos desde que lançou seu último registro de estúdio, a paixão pela bateria e pelo Heavy Metal falou mais alto e Sérgio anunciou em 2014 o seu retorno as atividades ao mesmo tempo que lançava um EP que incluia novas versões para músicas das bandas que o consagrou. Conversamos com Sérgio Facci, para sabermos dessas novidades, além de histórias do passado.
O último álbum de estúdio que você gravou foi o “Mindtrips” do Volkana, há exatos vinte anos. O que você fez de lá para cá?
Sérgio Facci: Eu continuei tocando. Com o final da Volkana, fui convidado pelo pessoal do Estúdio Oasis, onde a Volkana ensaiava, para entrar para a banda deles – Os Fenícios. É uma banda de Rock'n'Roll clássico misturado com Blues tradicional/elétrico. Como sempre gostei de Metal e de Blues/Rock'n'Roll, acabei aceitando e fiquei com o pessoal. Neste tempo, paralelamente, realizei alguns trabalhos como músico, integrei uma banda – Radio Café, que começou fazendo eventos e bares, e acabamos inaugurando e tocando na primeira casa Country (e depois sertaneja do Brasil) Country Beer, localizada em São Caetano do Sul. Como éramos a banda da casa, acabamos tocando todos os estilos de música, mesmo. Com isto, acabei participando de eventos grandiosos, como o primeiro Réveillon da Av. Paulista – tocando com a banda Carnasampa para quase 1 milhão de pessoas. Foi uma fase bem diferente, pois vivia – tocando praticamente 4, 5, às vezes 6 noites por semana –exclusivamente de música. Com o fechamento da casa, a banda se desmontou, e acabamos montando uma banda que tocava exclusivamente Rock, Reggae e Pop, Toybox, e continuei fazendo eventos pelo Brasil. Esta foi uma fase um pouco mais difícil (anos 2000) pois, como disse, tocávamos 4 a 5 vezes por semana, e com o final da Radio Café, acabou caindo para uma ou duas ou nenhuma vez na semana... Cada um começou a se virar do modo que podia. Foi quando resolvi a mexer com Direito (havia me formado em 1993, mas nem Carteira tinha tirado). Fui para o lado do Direito Penal, me especializando neste ramo, e acabei pegando uma série de casos que me ajudaram bastante a me manter, e principalmente, não precisei parar de tocar, continuava com os Fenícios e com a Toybox. Em 2007, fizemos um revival do VODU, quase com a formação original – com um show no Manifesto, e depois fizemos a Virada Cultural. A Volkana também chegou a fazer um revival no Blackmore Rock Bar neste meio tempo. Com os Fenícios voltando com força total desde 2008, acabei deixando de lado a advocacia e foquei somente na música. Atualmente continuo com os Fenícios, que se encontra em turnê de divulgação de seu DVD – Gravado ao vivo na Virada Cultural Paulista, e os eventos e bares, toco com um trio de Rock'n'Roll acústico, o 3 In The Box.
O que lhe motivou a esse retorno?
Sérgio: Olha, quem gosta de tocar e ouvir Metal gosta de tocar e ouvir Metal! Não tem jeito! (risos) Mesmo tocando Rock'n'Roll, eu gosto e sinto falta dos riffs de guitarras, da velocidade, do volume, do peso, enfim Metal é Metal! Neste tempo, nunca deixei de acompanhar as bandas que gostava, sempre comprei, CDs, DVDs, etc., e via shows aqui e fora também, e sempre chamava o pessoal da antiga para tocar. Diante disso, pensei: por que não montar uma banda em que possa tocar as músicas que eu gravei? E foi então que comecei a chamar o pessoal para me ajudar.
Sérgio Facci detonando a sua bateria. Foto: Ricardo Ferreira.
"Com a Volkana eu tive o prazer de tocar com garotas guerreiras!" - Sérgio Facci
Você está preparando um EP com músicas que gravou ao lado do Vodu, Viper e Volkana. Fale um pouco sobre esse novo material. Já tem título definido?
Sérgio: Pois é. Como tenho a ideia de levar este projeto para todo lugar, tenho que ter um material para divulgação. Pensei em fazer um EP com uma ou duas músicas de cada banda. O primeiro resultado, 'Darkness', ficou muito bom, então me animei e estou partindo para as outras músicas. Para a regravação de 'Darkness' da Volkana, contei com um amigo que há muito tempo queria gravar com ele – Carlinhos Anhaia, um guitarrista sensacional (tocava no Pozzeidon no início do Metal, e hoje toca na Villa Country Band. Chamei um baixista que tem ensaiado comigo e com o Xinho, o Artur Silveira, e convidei a primeira vocalista da Volkana, a Marielle Loyola. Como tínhamos feito uma gravação de 'Final Conflict' do Vodu em 2007, coloquei a disposição em meu soundcloud, a faixa completa para quem quiser ouvir. A formação da gravação era com os primeiros guitarristas do Vodu – José Luiz Gemignani “Xinho” e o Bruno Bomtempi –, no baixo contamos com Daniel Lima (banda Zero Onze) e nos vocais o Chris Miay. Para 'Living for the Night' (Viper), conto mais para frente o line up completo, mas teremos uma formação bem legal! Ah, o título do EP ainda não está definido.
Por que regravar essas músicas ao invés de lançar um EP totalmente inédito? Seria uma homenagem as bandas que tocou, ou uma forma de apresentar a essa nova geração o legado que você deixou no Heavy Metal Nacional?
Sérgio: Material inédito eu penso em criar quando estiver com a banda formada na sua totalidade. Queria gravar com músicos da época e que hoje continuam tocando (Metal ou não) e alguns atuais para 'homenagear' as bandas em que toquei e que foram pioneiras do Metal, e principalmente gravar com amigos que me acompanham desde o começo.
Curiosamente, as três bandas em que você passou começam com a letra “V”, daí o nome, “V Project”. Sendo assim, podemos imaginar então que o EP seria o único intuito, ou há maiores pretensões futuras, já que você também está gravando nesse material, algumas músicas inéditas?
Sérgio: Legal isso, não? E ainda faltou o Vulcano, pois fiz o show de abertura do Venom e Exciter em 1986! Na verdade, o que eu quero é montar a banda e colocar na estrada... O EP saiu mais por uma necessidade de ter o material para divulgação. Neste projeto, pretendo fazer um show com três ou quatro músicas de cada banda, além de algum cover que elas tocavam na época, como Motörhead, Ramones e Iron Maiden.
"Enfim, um reconhecimento muito grande e muito legal, que muitas vezes não
acredito que seja verdade!" (Sobre tocar com o Viper) - Sérgio Facci
Uma prévia do EP foi mostrada através de “Darkness”, música presente no álbum “First” (1991) do Volkana e nela, você contou com a participação da primeira vocalista da banda, Marielle Loyola (ex-Escola de Escândalo e Cores D’ Flores). Outras participações de ex-integrantes das três bandas marcarão presença no EP?
Sérgio: Sim! Surpresas boas estão por aparecer ainda...
Você gravou verdadeiros álbuns clássicos com essa trinca de bandas, sendo que “Theatre Of Fate” do Viper, obteve sucesso mundial e influenciou muitas bandas mundo afora, principalmente no que passou a ser conhecido como Heavy Metal Melódico. Como foi aquele período no Viper e o que pensa sobre a repercussão desse trabalho?
Sérgio: Na época foi o melhor trabalho que tinha feito, mesmo porque contou com um produtor estrangeiro, que mudou algumas ideias que tinha quando gravava. Foi uma experiência única, que me ajudou muito em termos de gravação e em termos de músico também, pois acabei gravando um disco inteiro sem praticamente ensaiar para isso. Como o Viper tocava muitas vezes com o Vodu, conhecia um pouco o repertório, e acabou facilitando um pouco as coisas, mas foi um negócio bem “louco”... Fiquei somente o período da gravação mesmo. Quanto a repercussão, isso que acho incrível, até hoje o pessoal lembra do disco, sabe quem gravou. Enfim, um reconhecimento muito grande e muito legal, que muitas vezes não acredito que seja verdade!
Porém, foi com o Vodu que você teve uma maior longevidade discográfica tendo lançado três álbuns: “The Final Conflict” (1986); “Seeds Of Destruction” (1988); e “Endless Trip” (1991), além de um EP (“No Way” (1989). Por que a banda encerrou as atividades?
Sérgio: Na época era difícil as coisas, não é como hoje que tem produção, equipamento de qualidade, transporte de qualidade, pagamento dos shows, etc.... O Vodu foi uma banda que tocou muito e em muitos lugares perto e longe de São Paulo e, detalhe, tudo isso de ônibus de linha! Ou seja, tínhamos um show em Teresina/PI, lá íamos nós com equipamento, etc para a rodoviária em São Paulo – dois dias na estrada e várias complicações pelo caminho porque as estradas não eram como hoje e os ônibus também não tinham o conforto de hoje também. (risos) Tocamos em lugares como Teresina/PI, Feira de Santana/BA, Buenos Aires (ARG), Brasília/DF, RJ, MG, tudo isso de ônibus normal... E sem apoio quando chegávamos nos locais, era uma aventura mesmo. Acho que acabamos nos desgastando de tudo aquilo e foi terminando.
Você teve muita visibilidade por ser o único homem tocando ao lado das garotas do Volkana e gravou os álbuns, “First” e “Mindtrips”. Esse último está completando 20 anos de lançamento e foi seu derradeiro registro fonográfico. Passados todos esses anos o que pode falar desses dois álbuns e qual é o seu preferido?
Sérgio: Com a Volkana eu tive o prazer de tocar com garotas guerreiras! Não que com as outras bandas os caras não eram guerreiros, pois passar o que passávamos tínhamos que ser muito guerreiros, mas como eram homens, estávamos acostumados a levar porrada. Na época não existia uma banda de mulheres fazendo o estilo Thrash. As meninas foram as primeiras a aparecer com este estilo de música, ou seja, não tinham frescura! Não tinham medo de nada. Saíram de Brasília/DF com uma mão na frente e outra atrás, chegaram e arrasaram – era Rock mesmo! E isso que impressionava o pessoal quando chegávamos para tocar... Os álbuns são diferentes: 'First' é mais clássico, mais direto, pois logo que chegaram, gravaram. Lembro que a produção foi feita pelo Miranda, que começava a crescer e ficar conhecido nesta época. O 'Mindtrips' já tinha uma experiência de banda diferente, contava com um produtor consagrado, Mayrton Bahia. A vocalista era a Claudia França, com um timbre de voz diferente e a banda contava com uma outra guitarrista, a Selma Moreira. Não posso dizer que gostava mais de um ou de outro (fiquei no muro!!!) mas são álbuns diferentes.
O Volkana até contou com algumas garotas na bateria, como por exemplo, a Patrícia Fox (na época, Pat Carr) que passou pelo Ozone, mas você foi o baterista que seguiu com a banda. Como surgiu o convite e havia alguma diferença em tocar em uma formação constituída apenas por mulheres?
Sérgio: Elas ensaiavam no estúdio que tínhamos (Eric de Haas, André Pomba, Vespasiano Ayala e Eu) no Dynamo Bar. E como eu cuidava mais da parte do estúdio, e praticamente vi as meninas montando as músicas. Elas tiveram alguns problemas com as bateristas que iam tocar com elas e acabaram me convidando para gravar o primeiro disco. Daí, com o final do Vodu, elas me chamaram e aceitei na hora. Quanto à diferença, não existia nenhuma, apenas o visual era um pouco diferente – para melhor (risos). O som era a mesma porrada – como sempre, um som alto literalmente!
"O Vodu foi uma banda que tocou muito e em muitos lugares perto
e longe de São Paulo e, detalhe, tudo isso de ônibus de linha!" - Sérgio Facci
Na época do álbum “Mindtrips”, vocês chegaram a tocar em um festival fantástico no Ginásio do Canindé, ao lado do Korzus, The Mist, Krisiun, P.U.S. e dos alemães do Kreator. Que memórias você guarda desse evento?
Sérgio: Somente boas, fizemos um puta show! Ginásio lotado, público receptivo, enfim um puta show mesmo! Com a Volkana, posso dizer que fiz shows maravilhosos... Nesta época, já existia uma estrutura legal para fazer shows (nada como agora, ok?) mas era bem mais profissional do que na época em que comecei. Um show que para mim ainda é inesquecível foi o da Praça Por do Sol, onde gravamos o clipe de 'Darkness'. Duca o show!
Em qual banda você pode dizer que passou a melhor fase de sua carreira?
Sérgio: Também foram épocas diferentes. Com o Vodu, aprendi a tocar em qualquer lugar e com qualquer equipamento (até conseguir comprar e levar o meu!). Cara, só apareciam baterias ruins, com as peças juntadas de uma e de outra bateria. Som então... Foi uma escola que frequentei e gostei! Com o Viper apenas gravei o LP e com a Volkana conheci o lado mais profissional da coisa. A banda contava com uma exposição muito grande da mídia, tinha uma produção por trás, contava com apoio de uma gravadora, e éramos reconhecidos. Estas duas fases foram boas, mas acho que após o lançamento e do sucesso do LP do Viper, e com minha entrada na Volkana, foi a melhor fase.
De todos os álbuns que gravou qual o seu favorito e qual você não se sente satisfeito por algum motivo?
Sérgio: Você quer me colocar na parede, mas vamos lá. Cada um teve sua importância e seu modo como foi gravado. O 'Final Conflict' foi minha primeira gravação, tenho um carinho muito grande por ele. Foi o primeiro disco de uma banda sozinha. Na época existiam coletâneas e EPs apenas. A música 'Final Conflict' é uma de minhas preferidas. O 'Theatre of Fate' foi o disco de maior sucesso, etc...; e 'Living for the Night' com certeza é minha preferida. O LP 'Seeds Of Destruction' já foi um disco em uma fase mais Slayer (uma de minhas bandas preferidas), o som que consegui tirar da bateria é algo que eu gosto muito até hoje. 'First' também teve uma gravação bem legal e uma repercussão muito boa. 'Mindtrips' tem algumas músicas que eu gosto bastante, o som da bateria que foi tirado também é um dos meus preferidos. O meu favorito? Como o 'Mindtrips' da Volkana tem mais músicas que gosto (Wake up/When 2R1/Same Old/Mindtrips), então ele é o escolhido! Mas gosto muito e fico muito orgulhoso de ter tocado em todos. Por outro lado, o EP 'No Way' que gravei com Vodu ficou um pouco abaixo da média, não curti muito o som que tiramos, e as músicas ao vivo também não ficaram com uma boa qualidade.
Existe mais algum plano ou projeto musical para o futuro?
Sérgio: Continuar tocando e gravando, pois gosto bastante dos dois.
Deixe uma mensagem para os leitores do Brasil METAL História.
Sérgio: Primeiro, gostaria de agradecer a todos que curtiam e que ainda curtem os sons que eu gravei com as bandas Vodu, Viper e Volkana. É muito legal saber que o pessoal não esquece e que ainda continua apoiando, elogiando mesmo após tanto tempo e que gostam do trabalho feito. Obrigado mesmo! Coisas boas estão por vir, podem aguardar! Gostaria de agradecer também aqueles que vem me dando força para o projeto sair do papel: ao Ricardo Batalha (ASE Press) a vocês do Brasil METAL História - Leandro T. Bone, ao Cacá Prates (CP Management), ao Cesar Gavin (que me ajuda muito com o site – sergiofacci.com), aos músicos que estão dando uma força legal gravando as músicas. E, finalmente, aos meus amigos de banda: Tio Há, Almir Amador, Marco Polo Pan, Marcos Canavese, Nilton Rosario e Naná (meu roadie e rapper)! Valeu pessoal, obrigado mesmo!
Barbieri Comenta 2: A minha própria história está conectada com as mesmas bandas que Sérgio Facci tocou. Portanto, pude vê-lo em ação mais de uma vez e posso garantir-lhes que este músico é sem dúvida um dos melhores bateristas brasileiros. Sua história é longa e sei que Sérgio é o tipo de músico que silenciosamente durante todos estes anos, tem marcado presença apenas pela sua técnica e pelo som da sua bateria e nada mais. O fato de ele ainda não estar tocando internacionalmente é incompreensível! Mais absurdo ainda é o fato deste álbum acima, gravado ao vivo aqui pelo Barbieri no Dama Xoc em São Paulo (SP) em 1992, nunca ter sido lançado oficialmente! O Brasil é lamentável! Onde estão todas estas gravadoras que se dizem apoiando o Rock Brasileiro?