Baranga: Quebrando tudo no Blackmore!
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Baranga: Quebrando tudo no Blackmore!
7 de maio 2011
Neste dia, tive o privilégio e satisfação de assistir pela primeira vez um show da banda Baranga. E que show! Foi lá no Blackmore atrás do Shopping Center Ibirapuera em São Paulo.
Foi um show energético e contagiante, cheio de irreverência e alegria. A galera espremida na frente do palco pulou e vibrou do começo ao fim do show. Só me restou então, aqui recomendá-lo ardentemente à todos os roqueiros brasileiros.
Baranga ao vivo no Blackmore. Foto: A. C. Barbieri
Eu só conhecia um dos integrantes da banda, Paulão, o baterista, músico que não via à mais de 26 anos. Paulão, naturalmente, envelheceu fisicamente mas, no palco, competente como nunca, continua o mesmo garoto palhaço e brincalhão dos velhos tempos.
Barbieri e Paulão reencontrando-se após 26 anos! Foto: Andrea Barbieri
Eu cheguei, com Andrea, minha, esposa, um pouco antes do show e, enquanto do lado de fora do clube esperava Paulão, encontrei-me com outra figura lendária do Heavy Metal dos anos 80, o Cachorrão ex vocalista das bandas Aerometal e Santuário. Depois de mais de 20 anos sem nos vermos, foi um encontro indeciso. Foi Cachorrão quem tomou a iniciativa de identificar-me ao mesmo tempo que perguntou: "Você lembra-se de mim?" Com um abraço, minha resposta foi:
"Claro que me lembro! Você é o Cachorrão! Eu fiquei em dúvida se era você mesmo! Imagina se eu paro alguém na rua e pergunto: Você é o Cachorrão? E se a pessoa não fosse? Poderia ficar ofendida! :-)
Cachorão e Barbieri, outro feliz reencontro depois de 26 anos! Foto: Andrea Barbieri
Ali mesmo, naquela esquina, em frente a um bar lotado, durante um bate-papo amigo, Cachorrão lembrou–me de uma história que já havia esquecido.
Disse que a banda Aerometal, em 1985, era uma banda de garotos inexperientes quando foram participar, como banda de abertura, no Projeto SP Metal que organizava no Teatro Lira Paulistana. Na passagem do som, a banda principal, aproximou-se de Cachorrão e disse que o volume do som deles estava muito alto e eles deveriam tocar mais baixo. Evidentemente a banda principal, tinha intenção de prejudicar o som da banda de abertura. Cachorrão, inocentemente, explicou-me o ocorrido pedindo instruções. Eu então, levei-o até o não menos lendário Can Robert, o técnico de som, e deixei claro que desejava que todas as bandas recebessem o mesmo tratamento sonoro. Can Robert já sabia qual era a regra do jogo mas achei importante tranqüilizar o vocalista do Aerometal. Eu sempre fui assim, era parte do meu conceito ético. Sempre achei igualdade no palco, uma coisa obvia que, nem sempre as bandas sabiam, reconheciam ou achavam necessário. O Projeto SP Metal foi para muitas bandas um tipo de Escola do Rock.
Então, escutar isto de um músico, mais 20 anos depois foi realmente muito gratificante. Aliás, cabe lembrar que, em 1985, quando produzi o álbum São Power inclui uma faixa ao vivo da banda Aerometal buscando perpetuá-la para sempre nos anais do Rock Brasileiro.
Baranga ao vivo no Blackmore. Foto: A. C. Barbieri
Mas, voltando ao Paulão e sua banda Baranga, se de um lado foi maravilhoso assistir um show realmente de nível internacional, foi muito triste saber que apesar da banda ter lançado no final de 2010 seu quarto CD, à nível de Brasil, a mesma ainda continua na obscuridade. Paulão confidenciou-me seu desapontamento confirmando-me o que eu já sabia, que a banda toca por prazer e não por dinheiro. O Brasil é assim mesmo, um país onde seus próprios roqueiros não reverenciam suas próprias bandas...
Muito embora, Blackmore seja um clube aconchegante e com um astral muito bom, ele não é muito maior do que era o Teatro Lira Paulistana em 1985. O palco estava cheio de amplificadores Marshall, uma raridade impensável lá atrás nos tempos do Lira Paulistana, mas apesar disso o PA, a amplificação do palco, deixava muito à desejar sendo praticamente impossível entender as letras das músicas cantadas pelo vocalista, exceto nos refrões ou quando o povo cantava junto.
Felizmente Baranga é uma banda tão boa, professional e contagiante que ninguém realmente importou-se. Aliás muita gente já conhecia as letras o que me levou à concluir que todo aquele público presente já era fã da banda à muito tempo.
Paulão quebrando tudo! Foto: A. C. Barbieri
No meio do show uma roqueira louca, usando botas e uma saia escocesa, subiu no palco para mostrar a imensa tatuagem feita numa das suas cochas (e que cochas!). Ela tinha tatuado recentemente a diaba que aparece na capa do último álbum da banda chamado O Céu é o Hell.
Aproveito aqui para congratular o criador do design e logo da banda assim como Dick Siebert, baixista da banda Korzus, pela pintura do pano de fundo do palco mostrando a diabinha. Aliás, esta diabinha lembrou-me a diabinha mostrada na animação do começo show do último tour da banda ACDC.
Sempre achei que banda de rock brasileira, lamentavelmente, nunca entende que uma banda de rock é mais do que a soma de seus integrantes. Que é um produto que tem que ser pensado como um todo, em todos os aspectos. Felizmente, este não é definitivamente o caso do Baranga.
Baranga: Xande (vocal e guitarra), Paulão (Bateria), Soneca (baixo), Deca (guitarra). Fotos: A. C. Barbieri
Desde o design da capa do disco, o pano de fundo, preocupação com a venda de merchandise, a escolha do repertório e a postura de palco, tudo faz sentido! Cada músico faz sua parte, tocando com uma integração admirável com o resto da banda. Está claro que não são apenas músicos mas, também bons amigos. Não existe indecisões, incertezas, as músicas já fazem parte deles mesmos, são orgânicas, estão correndo dentro de suas veias e misturadas com muita adrenalina. Acreditem-me que o CD é apenas metade da experiência! O show é a outra metade obrigatória. O vocalista Xande é carismático e competente, Deca, o guitarrista é completamente louco e judia da sua guitarra sem piedade. Deca prendeu minha atenção o show inteiro pois tocava com o corpo todo, não parando um segundo. Fiquei imaginando que ele ia acabar caindo lá de cima do palco. Soneca o baixista, como o nome sugere tinha uma cara de chapado mas era só a cara porque tinha completo domínio do seu instrumento brindando-nos com ótimos solos e segurando com a bateria o groove da "cozinha" com maestria. E por falar em "cozinha", Paulão parecia uma panela de pressão pronta para explodir. Ele torturou as peles da sua bateria sem dó aproveitando todas as oportunidades possíveis para fazer as caretas e atitudes mais loucas possíveis, com quando encheu a boca de cerveja e babou pela camiseta inteira ou cuspiu o chiclete um metro no ar para catá-lo com a boca novamente. Paulão lembrou-me o saudoso Keith Moon (The Who). Não importava a irreverência e loucura no palco, o som continuava brutal e quebrando tudo, mostrando um entrosamento perfeito. Baranga, pelo seu som cru e urgente, lembrou-me bandas como Stooges, New York Dools ou MC5. Banda brasileira, só posso compará-la com o som da banda Made in Brazil no seu primeiro álbum, assim mesmo eu diria que mais parecia uma banda Made in Brazil movida a barbitúricos :-)
Para aqueles que ainda não conhecem o som da banda, disponibilizo aqui para escuta o último álbum do Baranga chamado O Céu é o Hell (O Céu é o Inferno). Este álbum foi lançado no final do ano passado e assim como os anteriores foi produzido por Heros Trench (Korzus) e gravado no Estúdio Mr. Som.
Antonio Celso Barbieri