Porcas Borboletas: Banda lança seu terceiro álbum!
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Arte: Antonio Celso Barbieri
Porcas Borboletas: O terceiro álbum!
Escrito por Hélio Flanders
Fui finalizar as gravações do terceiro álbum do Vanguart no Estúdio El Rocha, lá descobri que os Porcas Borboletas também haviam acabado de gravar seu terceiro álbum. Fui tomado por um acesso de ansiedade para saber o que viria daqueles caras, justamente por nunca saber o que esperar deles. Tomado por outro acesso, desta vez de corrupção artística, sempre perdoada pelos fins, menti a Fernando Sanches:
“Acabei de falar com Danislau por telefone e ele disse que você poderia me passar uma cópia do disco pra eu ouvir”. Então recebi um CD-R com 12 canções fresquinhas e corri para casa como um ladrão de chocolate de supermercado. Quando as músicas começaram a pular daquele playlist, tive certeza de que estava ouvindo o melhor álbum do Porcas Borboletas até hoje. Mais certeiros e espertos, mais maduros e fortes do que nunca, e com a personalidade de sempre.
Porcas Borboletas entrando em "Warp Drive" e voltando no tempo para para o final dos anos 80!
It’s only life but I like it, poema de Paulo Leminiski musicado pela banda e gravado no álbum, é um trocadilho com Stones que me remete à Dylan quando em 65 disse: “It’s life and life only” (“Isso é a vida e só a vida”) – o que diz muito sobre o que esses caras vieram dizer, uma espécie de “a vida está diante de nós e vamos vivê-la”. Bowie, Titãs, Arrigo, citados oficialmente ou não, estão dançando em volta deles mas não no palco, algo que mostra como a banda consegue espelhar influências sem deixar de ter sua própria persona, louca e em metamorfose constante. Do soturno ao doce, percebo a banda flutuando cada vez mais entre o fantasioso mundo que habita com propriedade mas também vagando pelo caminho do homem comum, e essa equalização sempre foi uma tarefa difícil para qualquer artista. O mesmo personagem beatnik de “Go to Cuyaba” é o de “Tudo Que Tentei Falhou”, talvez tomado por mais consciência após sessões de tudo que a própria letra desta última sugere. A mente do nosso herói volta a nublar-se em “Aninha” – talvez seja Aninha ele mesmo? A impressão é que o personagem e o que ele vê são a mesma coisa, numa mistura de ego e distanciamento desse próprio ego.
A grande sacada que faz o Porcas tão ímpar é que quando o clima começa a pesar, musical ou poeticamente, eles vem com algo mais certeiro ainda. A última canção mostra exatamente isso: coloquial e brilhante, “Infelizmente”, assim como todo o álbum, traz uma eterna confusão de risadas e lágrimas, essa combinação que pode se dizer ser a melhor de toda a vida, essa poética que após esse álbum se torna praticamente um patrimônio dos Porcas Borboletas… riso e choro, sorriso em lágrima, ou em outras palavras, festa-terror.
Helio Flanders,
Fã confesso.
Porcas Borboletas fazendo pose! Foto: Roberto Chacur
Barbieri Comenta:
Escutar esta banda foi como tomar um "chá" de nostalgia. Voltei mentalmente ao velho Teatro Lira Paulistana e "ouvi" as bandas Língua de Trapo, Premeditando o Breque e Arrigo Barnabé. Além destas referências, este terceiro álbum, como os anteriores, esbanja também referências à banda Titãns e até às primeiras bandas punks brasileiras justamente quando algumas delas açucararam seu som e começaram "plantar" o New Wave no mercado. Muito bem diluído, também "escutei" até Raul Seixas e Eduardo Dusek. O álbum anterior, chamado A Passeio, para mim, foi mais impactante por soar, na época, como algo mais novo (se é que podemos chamar esta música de nova) e até necessário. No A Passeio a música Menos já nasceu um clássico e as faixas Nome Próprio, A Passeio, Tem Gente, Super-herói Playboy são ótimas e sozinhas já valem o álbum! (escutem abaixo!)
Este terceiro lançamento, é muito bem gravado e seus músicos são excelentes mas, acredito que beira pejorativamente o MPB no sentido de que, em termos instrumentais, não toma nenhum risco.
No passado não ter um estílo, em si só, já era um estilo. Hoje, não ter um estilo definido, não ser exatamente pop, não ter a distorção, mixagem e atualidade das novas bandas inglêsas, tocar um rock diluído e um reggae que na verdade não é nem reggae nem ska para mim, é um ato de auto exclusão do mercado musical. Titãns pelo menos tinha sempre uns petardos guardados para satisfazer até os roqueiros mais radicais. Sinto muito mas, brincar com o "kitch" e ironizar o "brega" para fazer um comentário social já foi explorado de forma até mais inteligente pelo grande Arrigo Barnabé. Quer dizer, não me entendam mal, este último álbum é bom, mas me parece mais uma continuação do anterior e "suas piadas" já não são tão engraçadas, especialmente nestes dias incertos, confusos e caóticos em que vivemos. Acredito que o povo brasileiro já está, à muitos anos, anestesiado pelo futebol e as novelas. Ele está é precisando de um pouco mais de "energia" e "volume" para acordar!
Há! Agora entendi! Já estou na quinta escutada e o álbum está crescendo na minha cabeça! Acho que este é o segredo! Você tem que ouvi-lo várias vezes, ser menos crítico e simplesmente deixar-se embriagar pelas suas texturas, belos arranjos e ideias! :-)
Antonio Celso Barbieri
Porcas Borboletas - A Passeio
Outra arte do Barbieri.