Made in Brazil
A história contada por Leopoldo Rey

São trinta e oito anos de uma banda MADE IN BRAZIL só para tocar Rock ’n’ Roll, completados em 2007.

A rebeldia jovem existe desde que o mundo é mundo. No entanto, a trilha sonora para essa rebeldia surgiu nos anos 50, quando a mistura de country (em sua variante mais caipira, o hillbilly) com o negro Blues começou a ser tocada em rádios dos EUA pelo DJ pioneiro em música jovem, Alan Freed, que a batizou com o nome de Rock ‘n’ Roll. Essa palavra ele criou para definir música feita especialmente para jovem. Uma palavra de duplo sentido que tanto podia significar ‘divirta-se’ quanto ‘deite e role’, ou ainda, ‘transe para valer’. Essa música acompanhou nos últimos 40 anos todos os movimentos de protesto jovem, desde os tempos dos cabelos brilhantinados e com topete , até as roupas coloridas, ou extravagantes, de hoje em dia. O que era no inicio apenas moda, ritmo para dançar e namorar acabou virando comportamento, estilo de vida escolhido pelos jovens para demonstrar suas insatisfações para com uma sociedade que não sabia para onde ir após uma grande guerra.

No Brasil a coisa não foi diferente, embora com outras proporções. E com o Made in Brazil, tudo começou na Meca do Rock paulistano, o bairro da Pompéia, em 1967, quando os irmãos Oswaldo e Celso Vecchione, apaixonados pelo Rock ‘n’ Roll, se juntaram a alguns amigos para formar um grupo do estilo.

De lá até aqui, a banda teve muitas formações e atravessou os mais variados movimentos como o ‘pop’, ‘beat’, ‘flower power’, ‘glitter’, ‘tropicalismo’, ‘psicodelismo’, ‘punk’, ‘hard’, ‘heavy’, entre outros. Também enfrentou os muitos modismos como ‘discotheque’, ‘dance’, ´ lambada ´, ‘house’, ‘techno’, etc. E nunca se prostituiu, sempre esteve fiel ao Rock.

Em seu repertório sempre constaram músicas influenciadas, ou ‘covers’, de gente como Animals, Rolling Stones, Chuck Berry, Bill Haley, Muddy Waters, Howlin Wolf e tantos outros Blues rockers.

Ali por 1973, o Made passou a fazer shows com repertório totalmente cantado em português, especialmente com composições próprias.

Em 74 foram contratados pela RCA Victor, que os manteve sob contrato até 1980.

Capa do primeiro album (frente)
Nesse período lançaram seus primeiros álbuns, sempre de muita aceitação do público rockeiro, o que acabou por lhes angariar enorme número de seguidores: ”Made in Brazil” (74), “Jack. O Estripador” (76), “Paulicéia Desvairada” (78), “Minha Vida é o Rock ‘n’ Roll” (80) e participação na coletânea de 75, “Implosão do Rock”.

 Em 85, o grupo passou para a RGE, onde lançou mais três álbuns: - “Deus Salva e o Rock Alivia” (85), “Made Pirata- Volumes I e II (86); e fez uma participação super especial na coletânea” “Metal Rock” 85”.

Em 92, os Vecchione Brothers, Celso e Oswaldo, resolveram resgatar suas origens, calcando suas composições e shows, outra vez, no Rhythm ’n’ blues e no Blues tradicional, Lançando de forma independente o álbum “In Blues”, totalmente gravado ao vivo no Sesc/Pompéia, em São Paulo, que foi relançado em CD no final de 98.

Ainda em 92, sua antiga gravadora, a BMG (ex RCA), lançou então um CD coletânea “Rock” Série Acervo com vários artistas e seus sucessos e lógico o MADE. A dose foi repetida em 94 com o CD “MADE IN BRAZIL da mesma série contendo 14 sucessos, dos quatro primeiros álbuns da década de 70.

Em 97, a RGE relançou em CD “MADE - Pirata, juntando em um mesmo CD os dois discos. Até então foram 10 álbuns, participações em antologias e coletâneas, 13 discos no total. .

Em 98 para comemorar todos esses anos de estrada, o Made lançou pelo seu próprio selo, o Made in Brazil Records, seu 10º álbum , o CD “Sexo Blues & Rock ‘n’ Roll”. Foram dois anos de gravações, 250 horas em estúdio de 24 canais. Tudo digital. São 14 novas composições do mais alto nível, sempre contando com letras que tem sido a marca registrada do estilo de vida de todos que tem passado pela banda. Com especial destaque para “Rock da Pompéia”, “Remédio Para Dormir”, “Blues da Madrugada”, “Comi Uma Sereia”, “Sexo, Timão e Rock ‘n’ Roll”, “Um Beijo”, “Vai Trabalhar Vagabundo” (com letra do crítico Leopoldo Rey) e “Novamente na Estrada”.
O álbum traz a formação atual do Made:- Oswaldo ‘Rock’ Vecchione - vocal, baixo, gaita e guitarra; Celso ‘Kim’ Vecchione - guitarra, baixo e teclados; Deborah Carvalho - percussão e back vocal e Rick Vecchione - bateria (filho de Oswaldo).

Nas gravações o grupo contou ainda com as colaborações guitarrísticas de Serafim Buontempi, Antônio MedeirosBabalú”, (um membro especial do grupo) e Alejandro Marjanov. Atuaram também Wander Issa Mafra nos teclados e baixo e Octavio Lopez o “Bangla” no sax.  O disco traz ainda a participação de muitos convidados, entre eles Sérgio Dias Baptista, Charles Gavin, André Christóvam, luiz Carlini, Nasi, Roger, Clemente, ao todo, participaram 23 amigos, verdadeiras “feras” do Rock nacional !!!!!!!!!

E com esse disco, o Made in Brazil caiu na estrada novamente com a turnê “Heróis do Rock’ (onde também participam varias bandas dos anos 70 como O Terço, Tutti Fruti, Pholhas ,Bicho da Seda ,Blindagem ,Patrulha do Espaço, Casa das Máquinas e outros ...) e com o show ”Sexo, Blues & Rock ´n´ Roll “ pelo Brasil .
Capa do primeiro album (verso)
 
Em Fevereiro de 99 o MADE começou as gravações ao vivo de seu novo trabalho o CD Acústico na cidade de Campinas. Em março a gravadora BMG relançou dois CD com os quatro primeiros álbuns da década de 70, no formato dois LPs em um CD. Até então foram 10 álbuns e mais a participação em 3 coletâneas, 13 discos no total, sendo que só o disco “Deus Salva, o Rock Alivia” (85) ainda não foi relançado em CD.
Em Setembro de 2000, o MADE completou as gravações do novo CD “Fogo na Madeira” - Acústico, gravando o show realizado com muito sucesso no Bourbon Street em São Paulo, um dos mais importantes espaços dedicados ao Blues no Brasil. O lançamento oficial aconteceu no mês de outubro de 2000, e rapidamente vendeu duas prensagens, já estando na terceira fornada.

O sucesso e a repercussão foram tão grandes que o MADE gravou um 2o volume no Teatro SESI, também ao vivo, com a participação especial de vários amigos como: Netinho (Incríveis), Wander Taffo (ex: Made, Ex: Rádio Táxi), Hélcio Aguirra e Paulo Zinner (ambos do Golpe de Estado),Caio (Velhas Virgens), Edu Ardanui (Dr. Sin), Roberto Lazarrini (ex: Made), Luiz Carlini (Tutty Fruti) , Cornelius , Caio Flavio e outros grandes músicos que aturaram no passado na banda . O CD Fogo na Madeira vol. 2 foi lançado em dezembro de 2001 com uma ótima aceitação por boa parte dos críticos de Rock brazucas e com uma tiragem inicial de 3000 CDs .
Capa álbum Minha Vida é Rock'n'roll (frente)

Em 2005 o MADE IN BRAZIL viajou pelo Brasil – Tour 2005 com dois shows diferentes, o show  tradicional no  formato elétrico e também com o Show “FOGO NA MADEIRA” no formato Acústico.
Ainda em 2005 mais precisamente no final do ano,o MADE lançou oficialmente o CD “MASSACRE”, o disco que foi gravado em 1977 e que havia sido proibido pela “Censura” na época da Ditadura Militar. O que seria o terceiro disco na discografia oficial do MADE , agora se concretiza quase 30 anos depois como o 13° disco da banda, fora às participações em coletâneas.
Agora em 2007 com nova formação (depois de 10 anos sem mudanças de músicos, um fato raro no MADE) a banda cai na estrada com seu novo show “Rock de Verdade!” e se prepara para gravar mais um disco com o mesmo titulo  com 16 músicas inéditas.       

Pelo MADE passaram mais de 80 músicos de altíssimo nível “rockeiro & musical”,em quase 140ª formações oficiais.

Capa álbum Minha Vida é Rock'n'roll (verso)

O MADE é com certeza o grupo de maior atividade na área. Sempre manteve acesa a chama do Rock e do Blues no Brasil, e em toda a América latina.
Os jovens brasileiros sempre tiveram nos “Bad Boys” da Pompéia um exemplo de rebeldia e a resposta de suas questões de inconformismo. Tudo sempre acompanhado por um som visceral e pulsante.

Periga ver que o público que tem assistido o Made in Brazil não é só formado por velhos seguidores. Há um interesse muito grande de boa parte da juventude atual pelo som dos anos 70 e pelo MADE, alias essa tendência de valorização de tudo o que era feito nos anos 70 é mundial , e não acontece só no Brasil, e a renovação de publico tem sido rigorosa e constante nos últimos anos , não só em São Paulo , mas em todo o pais.
Afinal de contas, é uma banda Made in Brazil, feita para tocar o puro Rock ’n’ Roll com muita adrenalina, muita garra, e muito tesão. E se “Deus Salva, o Rock Alivia...”, quem gosta de “Rock de Verdade”  dificilmente envelhece na cabeça.
Por Leopoldo Rey
Leopoldo Rey é Radialista, jornalista, crítico musical e obviamente fã do Made in Brazil


Memórias do Barbieri
Trabalhei com o Made lá pela primeira metade dos anos 80.

Tudo começou um dia no início de 1981 quando inesperadamente o Oswaldo apareceu na Rocker que era a minha lojinha que vendia discos e camisetas lá no Itaim Bibi em São Paulo. Como não fazia muito tempo que havia patrocinado uns cartazes para um show da banda Patrulha do Espaço, me pareceu que ele tinha vindo para sondar o território.

Acabei fazendo iluminação e efeitos especiais para vários shows da banda ao mesmo tempo que minha vida passava por uma reviravolta tremenda onde, a Rocker falia deixando-me numa crise financeira danada ao mesmo tempo que vivia minha primeira separação matrimonial. Foi diante deste cenário que entrei de sola na produção de shows.


Alguns momentos significativos que tive com o Made:
Rock Horizonte (Minas Gerais) no Estádio do Cruzeiro em Belo Horizonte com a participação de muita gente boa destacando-se Raul Seixas e Jorge Benjor. Estive lá apenas para, eletronicamente, detonar uma explosões de palco e acender uns fogos de artifício. Foi a primeira vez na minha vida que viajei de avião e também a primeira vez que aproveitei um pouco as mordomias reservadas aos artistas.
Rock Capital (Santa Catarina) festival para mais de 20.000 pessoas num estádio de futebol no final de 1985 em Florianópolis (na ilha) onde levei o Made e também a banda Excalibur. A banda RPM encerrou o show do sábado precedida pelo Excalibur e o Made encerrou o show do domingo. O show do sábado da banda Excalibur foi tão bom que foi convidada a abrir os shows de domingo (recebendo dois pagamentos). Neste evento, surpreedentemente, acabei liderando a coisa e virando o apresentador do evento.
Cometa Rock Festival (São Paulo) no Clube Radar Tantan com as bandas Made in Brazil, Alta Tensão, Platina e Karisma. As três primeiras bandas lançavam albuns simultaneamente neste show. Um evento tão raro no Brasil quanto a passagem que acontecia do Cometa Halley.
Metal, Rock & Cia (São Paulo), festival que produzi
Barbieri e Monica Lisboa
(ex empresária da Rita Lee)
no palco do Rock Horizonte

no Sesc-Pompéia envolvendo 19 bandas em dois fins de semanas acontecido em agosto de 1985. Este foi o último evento que estive envolvido com o Made.

Para quem não sabe, O Made in Brazil e o Oswaldo Vecchione, baxista e vocalista, são a mesma coisa. É indivisível.

No meu tempo, o Made carregava uma aura de maldito. Tinha sido sempre uma banda que despertava extremas emoções. Era a típica banda que, ou se amava ou se odiava. Me parece que esta imagem ainda perdura entre parte do público antigo e principalmente na comunidade musical. Eu nunca tive nenhum problema sério com o Oswaldo. Talvez simplesmente porque desde o principio coloquei minhas condições de trabalho:

• Sempre viajei no mesmo carro que o Oswaldo.
• Sempre tive minhas refeições juntamente com ele.
• Nos hotéis e hospedarias sempre dormi em quarto separado.
• Sempre recebi valor fixo e pago imediatamente depois do show em dinheiro.

O Oswaldo sempre foi um roqueiro 100% do tempo. Para viver exclusivamente de rock no Brasil ele teve que fazer um "malabarismo" danado e muitas vezes agiu de uma forma, que considero, questionável com os outros músicos da banda. Não é àtoa que o Made é a banda que mais teve trocas de integrantes no Brasil.

Eu sempre me perguntei como era possível que mesmo depois de situações muitas vezes totalmente inaceitáveis os músicos sempre acabavam voltando para o Made. Bom, à meu ver, vários podem ser os motivos:

• Naquele tempo o Made era uma das únicas bandas de rock que conseguiam tocar várias vezes por mês. Se o músico não tinha a satisfação financeira pelo menos tinha a profissional!
• Os shows do Made do ponto de vista de quem estava no palco tocando eram hipnóticos e viciantes.
• Todo show era rock'n'roll como deveria ser e com boa receptividade de público.
* A personalidade do Oswaldo, forte e carismática, fazia você sentir-se sempre como parte da melhor banda de rock do país.

O Oswaldo sempre foi Sex and Rock'n'roll. Nunca vi um cara tão enrolado com as mulheres. Sempre com mais de uma e criando a maior confusão. Mais de uma vez sobrou até para mim que tive que salvar a situação distraindo uma enquanto ele estava com a outra. Quando davamos por nós estavamos todos envolvidos com os problemas sentimentais do lider da banda :-)

Na minha opinião, não obstante os problemas "off stage", a banda Made in Brazil deve ser lembrada pela sua consistência e legado roqueiro, perseverança e poder de fogo. O Oswaldo com todas as suas imperfeições está na minha lista das 10 mais importantes figuras do rock nacional.

Não deixe de visitar nossa Radio 2bStar (clique aqui) onde você encontrará que exclusividade gravações do show feito pelo Made in Brazil no Sesc-Pompéia no dia 03 de agosto de 1985 numa apresentação surpreendente.

Por A. C. Barbieri