Made in Brazil: Falece Cornélius Lúcifer o vocalista que participou do primeiro álbum lançado em 1974
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Cornélius Lúcifer, no começo dos anos 70, ensinando para o Kiss como que se faz maquiagem!
Mensagem colocada na página da banda Made in Brazil no Face Book |
Homenagem à Cornélius!
escrito por Antonio Celso Barbieri
Infelizmente, só hoje, 08 de agosto de 2013, que fiquei sabendo da morte de Cornélio de Aguiar Neto, o "Cornélius do Made".
Cornélius Lúcifer, como era conhecido no universo do Rock Brasileiro, foi o vocalista do primeiro álbum da banda Made in Brazil, lançado em 1974. Cornélius, com sua voz rouca e rasgada, para mim, foi sempre uma lenda, uma referência obrigatória quando falamos de vocalistas de rock no Brazil.
A primeira vez que vi uma apresentação do Made com Cornélius nos vocais foi, no comecinho dos anos 70, durante um dos, hoje lendários, festivais acontecidos no Parque do Ibirapuera (SP). Recordo-me que sua performance de palco impressionou-me e era perfeita para uma banda que, assim como os Rolling Stones, na época, causava reações extremas. O Made era o tipo de banda que, ou você amava ou odiava. Com o Made não havia meio termo!
No começo dos anos 70, o rock mundial estava sendo influenciado pelo som e visual Glitter de muitas bandas como Alice Cooper, Marc Bolan, David Bowie, Slade, etc. Neste período pós hippie, pós Woodstock, todo mundo exibia uma certa androgenia e, de Edgar Winter à Led Zeppelin todo mundo ostentava algum "brilho" nas suas vestimentas.
É o Super Homem? É a Mulher Maravilha? Não! É Cornélius Lúcifer, no começo dos anos 70, quebrando tudo!
No Brasil, vivíamos a Ditadura Militar e qualquer atitude de rebeldia, mesmo que fosse sexual era considerada um ato político e de coragem. A banda Made in Brazil neste período mostrava um tipo de rebeldia que só o Punk traria muitos anos mais tarde.
Cornélius no palco lembrava outro andrógeno perigoso, o Madame Satã do Rio de Janeiro. Dizia a lenda que Madame Satã só andava de tamanco, carregava uma navalha presa à um elástico que ele nas brigas jogava no inimigo. Nas brigas, o tamanco virava arma e quando ele jogava a navalha, ela voava na direção do inimigo, abria, fazia o estrago e já voltava fechada na sua mão. Madame Satã acabou virando o nome de uma casa noturna controversa onde rolou muito show de rock em São Paulo.
Mas, voltando ao Cornélius, ele estava à frente do seu tempo! Ele era magro e pequeno mas, no palco virava um demônio, era provocador, crescia e parecia ser ameaçador. Nunca quis saber se ele carregava uma navalha ou não! :-) Tem gente que jura que Cornélius, na verdade, era uma pessoal muito equilibrada, calma e amiga!
Suas roupas criadas e costuradas por ele mesmo sempre chocavam e sua postura de palco totalmente andrógina faria Ney Matogrosso e sua banda Secos e Molhados, que só apareceriam mais tarde parecerem brinquedos de criança. Hoje, certamente vocês verão alguns vídeos da época e possivelmente não ficarão tão impressionados mas, fiquem certos de que, naquela época, a sua voz rouca, suas vestimentas, sua postura de palco e sua atitude eram bem avançadas para a sociedade daquele período. Acreditem que, esse verdadeiro ícone do Rock Brasileiro, com uma garganta inigualável, surpreendia até aos mais ousados daquela época.
Depois do lançamento do primeiro álbum do Made em 74, que ficou mais conhecido como "Made da Banana", Cornélius em 1975 afastou-se do grupo e lançou seu trabalho solo, mesclando rock, soul, discotheque e outras influências. Em 1976, com o nome Cornélius lançou o álbum Santa Fé, que contava com arranjos muito modernos usando orquestra e uma base roqueira sob o comando de Otavio Basso. No final dos anos 70, durante o apogeu da discotheque, obteve grande sucesso no Brasil com a canção Eu perdi o Seu Amor, de Paulinho Camargo, produção de Cesare Benvenutti e também arranjos de Otavio Basso. Em 1985 quando organizei o Projeto Metal, Rock & Cia, Osvaldo Vecchione juntou alguns músicos excepcionais para este evento e aproveitou para convidar Cornélius para executar várias músicas que podem ser ouvidas com exclusividade aqui nesta página. Escutem e perceberão que Cornélius estava afiadissimo como sempre! Ao longo das décadas de 1980, 1990 e 2000, Cornélius voltou a cantar com o Made in Brazil em várias ocasiões. Antes do seu falecimento Cornélius estava acertando a sua participação nos shows comemorativos de 40 anos do lançamento do primeiro álbum da banda. Realmente, fiquei muito triste com esta notícia, o Brasil novamente perdeu a oportunidade de redimir-se e reconhecer um grande artista do Rock Brasileiro! Que vergonha! Acorda Brasil!!! Antonio Celso Barbieri |
Made in Brazil ao vivo no Projeto Metal, Rock & Cia
acontecido no Teatro Sesc Pompéia (SP) em 1985
Participação especial de Cornélius Lúcifer